quarta-feira, 7 de julho de 2010

A HISTÓRIA DE MINHA VIDA - Introdução






































Auto Retrato/2008


CAPITULO I - O Começo de Tudo

Hoje tenho quarenta e quatro anos. E apesar de dizerem que não parece, sei que os tenho. Por muito tempo tive medo ou receio de envelhecer. Era terrível imaginar que ficaria um “velho gagá” dependente de todos. Que as rugas invadiriam meu rosto e que a beleza, pelo menos a que imagino ter se tornaria perecível. Não que tenha complexo de Dorian Gray, mas não posso negar meu lado narcísico. Também não penso em recorrer aos infindáveis recursos tecnológicos da medicina moderna. Primeiro, porque não anseio a eterna juventude; e segundo, por concordar com a Fernanda Montenegro que sabiamente acredita que cada ruga conta um pouco de nossa história. Desta forma, só me resta apelar aos céus para que tenham piedade de mim e me possibilitem uma velhice digna e justa.

Hoje prefiro acreditar que estou apenas amadurecendo. Não sei se muda muita coisa, mas acredito que a vida tem seus propósitos e como tudo no mundo tem um começo, meio e fim. Não sei se estou no meio, já que a estimativa de vida do brasileiro aumentou consideravelmente. A única coisa que posso dizer que tenho certeza é que não estou no começo e muito menos no fim. Acho que começamos a morrer quando abandonamos nossos ideais e sonhos, e confesso não ser meu caso.

Posso começar dizendo que cresci ouvindo que todo ser humano deve marcar sua passagem na terra, e que para isso, seriam necessárias três coisas fundamentais: plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Não necessariamente nesta ordem. Também nem sei se isso faz mais sentido. Conheço muita gente que marcou sua passagem sem escrever livros ou ter filhos. Muitos até se tornaram personagens famosos e ilustres sem nunca mesmo redigir uma única linha.

Mas, seguindo essa lógica, gosto de pensar nas árvores que plantei durante minha infância vivida num subúrbio, a poucos quilômetros do Recife. Em especial, lembro de uma jovem mangueira que em certa ocasião se abriu ao meio, e que, eu e meu pai amarramos os dois grandes galhos com fios de plástico amarelos (daqueles que eram usados para cobrir as “cadeiras de ferro” que enchiam os antigos terraços. Sim, sou da época em que as casas tinham terraços enormes). Talvez essa tenha sido minha primeira ação responsável com o mundo. Não sei se fui eu quem plantou a tal mangueira, mas sei que foi uma as das coisas mais importantes que já tive na vida. Tornara-me responsável por algo que tinha vida e que como qualquer outro ser, precisava de cuidados e carinho. Acredito até, que ali começava meu processo de humanização.

Quanto aos filhos, confesso que já os desejei. Criei nomes mirabolantes, meio hollywoodianos, que coitados, sofreriam muito para aprender a pronunciar, e que por isso, com certeza, se tornariam alvo de muitas gozações. Penso sinceramente que nome de filho é coisa séria. Nomear alguém pode significar interferir ou até definir uma vida de sucesso ou fracassos. Lembro que na escola (e acreditem, também fui da época em que se fazia primário, ginásio e curso superior, ao invés de fundamental, curso técnico e faculdade) sofria por não gostar de meu próprio nome. Não sei se verdadeiramente do nome ou do “apelido carinhoso” pelo qual me chamavam. E logicamente porque, como toda criança, não tinha o direito de reclamar. Era meu nome e pronto. Não temos o direito de escolha. Somos o que nos nomeiam, e isto é fato.

Assim, eu era uma espécie de diminutivo de meu pai, que logicamente herdou o nome do meu avô. Questionava inclusive por meu primeiro irmão homem não tinha o meu nome, já que ele era o primogênito. Não entendia porque meus pais resolveram me eleger o herdeiro de uma dinastia familiar, cujos antepassados eu nem conhecera. Bom, só sei que cresci diminutivo e ainda gago. Era o meu fim. Uma criança feia, com um nome feio e uma fala estranha. Não deu outra, me tornei motivo de gozação e piedade. Tive todos os tipos de doenças e dizem até, que ainda recém nascido caí nas águas de uma grande cheia que inundou Recife. Não creio que de fato tenha acontecido, mas confesso que gosto de pensar que sim, afinal de contas, tem um toque de tragédia que torna a história mais atraente. Não deixa de ser um ato heróico. Eu era um sobrevivente. Uma criança determinada a contrariar até as leis da natureza.

Mas de volta aos filhos, ou melhor, aos nomes dos filhos, acho que alguns pais deveriam mesmo ser obrigados a se desculpar diante de suas proles. Penso que deveriam até instituir um curso de formação de pais. Afinal, o que um pai ou uma mãe despreparada pode fazer com a vida de um filho? Digo com propriedade que um nome mal escolhido pode acarretar prejuízos incalculáveis. Sou vitima disso e sei o que é sofrer por não se reconhecer em uma identidade que não me cabia.

Sempre quis ser Renato, Roberto, Thiago, Bruno, como muitos amigos meus. Mas não era. Tinha o nome de meu pai. Nome que as pessoas achavam difícil, para não dizerem estranho, e que mal sabiam pronunciar. Bom, mas o importante é que pela segunda vez em minha vida, consegui sobreviver. E hoje agradeço por não ter que me desculpar diante de meus filhos pelas escolhas erradas que com certeza teria feito. Acho também que meus filhos em potencial foram mais felizes com outros pais reais que porventura conseguiram. Com o tempo descobri não ter equilíbrio emocional para ser pai. Seria no mínimo nocivo a eles. Sou possessivo como todo bom canceriano (até parece que acredito em horóscopo) e não os saberia criar para o mundo. Resumindo, seria um fracasso nesse quesito, e não saberia dizer se meus filhos sobreviveriam a mim.

Desta forma, só me resta escrever um livro. E neste sentido tranquilizo-os que não o farei agora. Talvez estes escritos sirvam apenas como exercício. Uma brincadeira que nem sei onde vai dar. De qualquer forma, confesso ser inquietante imaginar que alguém poderá lê-los e a partir daí começar a imaginar toda uma vida, que como muitas, não têm nada de especial. Talvez até o que escrevo só tenha sentido real para mim. São minhas histórias, emoções, dores, amores e dissabores, que só eu vivi. E por mais que compartilhados tenham sido esses momentos, apenas eu consigo entender em essência o significado de cada palavra e de cada linha traçada.

Também se deve considerar que a escrita nunca corresponde à verdade. Uma vez floreada, arrumada ou organizada literariamente, demarca uma espécie da história de uma história. Mas nunca a história real. Assim, acredito que não existe autor fiel, pois sempre nos tornamos prezas fáceis dos subterfúgios romancistas ou romancescos que tem como principal objetivo emocionar ou formar opiniões perante o leitor. Por isso, alerto que escreverei do meu jeito. Sem lógica, métrica ou rima. E de antemão peço clemência aos críticos de carteirinhas como eu. Afinal de contas, isso não é uma obra literária. É apenas a história de uma vida, que com certeza não mudará a sua. Ou talvez até mude, mas não por conter receitas de como fazer as coisas certas, mas apenas por conter relatos com os quais, em alguns momentos, podem provocar identificação, ou pelo menos reflexão. Assim espero.

Um comentário:

  1. Historia da minha vida - todos nós temos uma historia de vida, ou da vida, poucos são os que deixam revelado a sua passagem por aqui. Plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro é o desígnio de cada ser que se presa. Bem logo então cumpri meu fadário, e, exatamente uma auto biografia: Historia da Minha Vida, não como historiador, mas apenas para relatar, principalmente para meus netos alguma coisa dos ancestrais. Li o texto acima, dou nota 10.

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