quarta-feira, 26 de novembro de 2014

HISTÓRIAS DE UM PROFESSOR EM VIAGEM PELO SERTÃO PERNAMBUCANO

"POR CAUSE DE QUE" SÃO AS HISTÓRIAS DE NOSSO POVO!

Há exatamente um ano aceitei o desafio de lecionar no interior de estado, mais precisamente no sertão pernambucano. Apesar do cansaço devido à viagem prolongada por uma média de seis horas em estradas maltratadas e que maltratam o corpo, arremessado a cada novo solavanco, não posso deixar de registrar a riqueza da experiência vivida. Em um sentido mais amplo, as diferenças entre a cidade grande e o interior não são apenas geográficas, mas principalmente culturais. O sotaque mais arrastado e cantado, a quase inocência no olhar cabisbaixo, a recepção calorosa, a consolidação das crenças ou crendices populares, o contato com a seca e o sol escaldante, me fazem, muitas vezes, duvidar que sejamos ou que pertençamos, ou ainda, habitemos um mesmo país. Do sertão tudo parece distante, e a capital parece apenas uma referência distante, difícil de alcançar. Algo que muitos não conhecem, e que outros tantos nem desejam faze-lo. Uma cidade, onde se diz que se avista o mar, repleta de altos prédios, engarrafamentos quilométricos e violência urbana. Tudo em Recife parece ser grande demais. Uma metrópole, repleta de coisas que não chegam ou passam por aqui.

Durante este tempo tenho aprendido, sobretudo, que a melhor forma de se conhecer  verdadeiramente um povo é escutando suas histórias e contos. E é exatamente o que tenho feito, todas as semanas, durante as longas viagens, que aqui classifico como “histórias de viagens de um professor pelo sertão pernambucano”, e que passo a relatar como forma despropositada de registro de um pouco de nossa cultura.

Depois de um mês nas estradas, confesso que a paisagem torna-se monocromática e monótona. O sertão é quase melancólico. Com o tempo a vegetação rasteira, os pequenos arbustos, a terra vermelha, os magros gados e as algarobas provocam certo ar de mesmice enfadonha. Da janela do ônibus, costumo observar vilarejos, povoados, ruas e pequenas cidades que correm diante de meus olhos como um filme em preto e branco. Tudo parece bucólico demais para um ser genuinamente metropolitano como eu. Busco então por novidades, mas a visão esbarra em altos paredões rochosos, que em determinados momentos ou trechos da viagem parecem formar uma imensa cratera de vulcão. A única alternativa parece recorrer aos céus. Porém a rotina paisagística se repete de forma incômoda em um azul nítido e vivo que se estende para além dos horizontes. Não dá para contar carneirinhos ou imaginar monstros porque não existem nuvens. É tudo muito límpido. Uma espécie de manto celeste que encobre uma espessa camada de barro seco, que parece fervente, e em alguns pontos inabitável.

De inicio duvidei que suportasse tão extensa viagem. Como ninguém consegue ler por tanto tempo, precisei urgentemente encontrar algo interessante com que pudesse ocupar o tempo. Algo que pudesse me anestesiar e abreviar o sofrimento. Porém, depois de projetar ou arquitetar alternativas, todas rejeitadas quase de imediato, encontrei no sono a saída que tanto buscava. Hoje, tudo funciona como um passe de mágica. Durante o percurso, o ônibus realiza pelo menos três paradas obrigatórias e estratégicas, o que tem me garantido pelos menos três longos sonhos. Minha cabeça começou a funcionar como se fosse uma televisão. A cada parada mudo de canal e novas imagens surgem e me levam para longe. Assim, às vezes durmo dormindo, às vezes, durmo acordado. Entre um sono e outro, ainda encontro tempo para ouvir as histórias alheias. E são essas histórias, muitas vezes de vida, outras de morte, de dores, dissabores, amores e desamores, desassossegos e desalentos, que fazem das minhas viagens um verdadeiro laboratório, onde presunçosamente me pego a fazer analises estabelecer conjecturas ou construir interpretações sobre fatos e atos corriqueiros e aparentemente banais.

As viagens em si tem se transformado também em espaços de constantes aprendizagens. Aprendi principalmente a ouvir, sobretudo as histórias, pelas quais as pessoas contam gratuitamente suas vidas, suas relações, suas concepções de mundo, e às vezes suas experiências mais intimas. Assim, descobri, por exemplo, que nos dias muito quentes é preciso aguar a cabeça das galinhas “por cause de que” pode dar nordeste nas danadas e “por cause disso”, elas podem morrer. Também descobri, que por essas terras, que vacina boa para animal é a que serve para curar dezessete doenças. Não importam quais, desde que sejam dezessete. Nem mais, nem menos. Também não importa o animal. Se grande ou pequeno, o negócio é acertar a dosagem de acordo com o tamanho do bicho. E uma coisa é certa, se ele não morrer, fica curado rapidinho.

Dizem que de conto em conto, a galinha enche o papo. Pois, digo que conto em conto povoou minha mente e liberto minha imaginação e criatividade. O fantástico se confunde com o real e faz a viagem passar mais depressa que minha própria vontade. Quando a viagem finda, um novo dia recomeça em terras escaldantes e repletas de histórias loucas para ganhar o mundo. Creio que esse é meu papel. E é a isso que me disponho aqui. Registrar e replicar as histórias de nossa gente. Histórias de chegadas e partidas, de despedidas, de amores desfeitos, de sonhos. Histórias de gente, de estratégias de sobrevivência. Acima de tudo, histórias de luta e resistência. Histórias de um povo! Do nosso povo!

Bem vindo as minhas histórias de viagens!


segunda-feira, 22 de setembro de 2014

ONDE HOUVER ÓDIO, QUE EU LEVE O AMOR!



ONDE HOUVER ÓDIO, QUE EU LEVE O AMOR!

Onde houver ódio, que eu leve o amor... Com o coração aberto e o espírito de paz, mais de oitenta mil cidadãos atravessaram a Avenida Beira Mar, em Boa Viagem, na tarde de ontem, durante a Parada da Diversidade 2014. Do alto se via a variedade de cores, rostos, estilos, que formava uma massa homogênea em defesa da igualdade, direito constitucional e fundamental a consolidação da democracia. A criminalização da homofobia é uma questão de saúde coletiva. No Brasil, milhares de pessoas, crianças, jovens e adultos, homens e mulheres, ainda são diária e cotidianamente discriminadas, violentadas das mais diversas formas. Muitas são barbaramente agredidas física e moralmente, mutiladas, assassinadas. Segundo dados divulgados pela mídia, os crimes de caráter homofóbico cresceram 216% nos últimos anos. Em um país marcado pela impunidade e pela educação conservadora e sem qualidade como o nosso, evidentemente a violência de gênero tende a mostrar-se como resultado direto de uma sociedade intolerante e insensato que ainda se guia por um modelo limitante, conservador e restrito quanto à vivência e exercício da sexualidade.

É preciso lembrar e ressaltar, que as pessoas como orientação homossexual e bissexual, seja estas, gays, lésbicas, travestis ou transgêneros, são professores, advogados, artistas, médicos, políticos, empresários, gestores, donas de casa, garis, vendedores, policiais, assim como as pessoas de orientação heterossexual. A diferença não estar no caráter ou no direito a cidadania, mas no objeto de desejo. E isso é do campo do individual, do privado e não do público. O que tem que se tornar público é o direito a igualdade, o respeito às diferenças e a obrigatoriedade de uma convivência pacifica. A grande questão consiste no fato de sermos uma sociedade mal educada, alienada da capacidade crítica e reflexiva. Respaldamo-nos ainda por regras, costumes, tradições e dogmas, que, muitas vezes, não conhecemos bem em origem, essência ou profundidade. Guiamo-nos ainda por comportamentos condicionados, comuns aos animais irracionais.

A intolerância as diferenças que respaldam os crimes e violência de gênero precisa ser combatida. E isso não é exclusivamente papel do Estado, mas da sociedade como todo. Já tive amigos, amigas e pessoas conhecidas covardemente assassinadas, sem a menor possibilidade ou mínima condição de defesa. É preciso entender e disseminar junto à população que tradição não é sinônimo de intolerância, e muito menos fator que respalde para a violência e crimes. A tradição configura-se apenas como um conjunto de regras acordadas pelo coletivo. E tudo que é acordado e construído socialmente pode logicamente ser revisto, revisitado e reformulado, a fim de atender as novas demandas da própria sociedade. Neste sentido, nenhuma regra ou normatização pode ser maior, superior ou mais importante e fundamental do que o direito a vida e a liberdade. Até porque, uma sociedade que julga e condena pelas próprias mãos beira a barbárie.

Pessoas com orientação sexual homossexual ou bissexual, seja gay, lésbica, travestis ou transgêneros, trabalham, produzem e pagam impostos igualmente as pessoas de orientação heterossexual. São igualmente filhos, esposas, esposos, pais, mães, tios, tias, amigos e amigas, cidadãos brasileiros. E como tais precisam que seus direitos sejam efetivados e respeitados. A vida privada pertence única e exclusivamente ao sujeito. Assim, ao invés de nos preocupar com o que os outros fazem na cama ou entre quatro paredes, vamos refletir sobre nossos próprios desejos reprimidos ou frustrados. A sexualidade deve ser vivida plenamente e o corpo utilizado, da melhor forma possível, e em toda a sua potencialidade, em prol do prazer. Quem nega o prazer, nega a própria essência e motivo de existência. 

Vamos dirigir nossas energias para combater o que realmente deve nos incomodar – a corrupção, a intolerância e impunidade. Criminalizar a homofobia é tão importante e urgente, quanto criminalizar e responsabilizar politiqueiros que usurpam nossos bolsos, que desviam verbas públicas ou que se mostram oportunistas e comprometem o desenvolvimento do país. A única intolerância aceitável deve ser com a impunidade e a corrupção. E viva a democracia! Viva a liberdade de expressão, inclusive sexual! Abaixo os políticos profissionais!

Onde houver ódio, que eu leve o amor. Até porque toda forma de amar vale e pena!

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

GUIA ELEITORAL - A MELHOR COMÉDIA DO ANO.

CLONAGEM, MILAGRE TECNOLOGIA POLITIQUEIRA?

Minha mãe nos ensinava que a cópia é sempre pior que o original. Repentinamente, durante o horário gratuito de propaganda eleitoral me peguei refletindo sobre tal ensinamento. Pude então constatar o quanto de verdadeiro existe em tal ditado. Sentado diante da televisão, automaticamente lembrei-me de um grande amigo, que sempre afirma que a campanha política na televisão brasileira se caracteriza como o melhor programa de humor. E não é de se admirar diante de tal fato, uma vez que os candidatos se mostram como verdadeiros fanfarrões, formados na arte de enganar, objetivo principal da interpretação. No cenário dramatúrgico politiqueiro, todos os candidatos tendem a representar o mesmo personagem cômico – o palhaço. Apesar dos retoques ou requintes de produção, o que muda em verdade é apenas o nome do interprete, até porque a forma e o conteúdo frágil se mantem intocáveis. Assim, podemos nos divertir com os cotidianos e corriqueiros “Fulanos do Gás”, “Sicranos da Prestação”, “Beltranas do Tempero”, “Marias dos Passes”, “Josés do Trem”, e assim por diante. São milhares de homens e mulheres tentando convencer a população geral sobre temáticas, direitos e bandeiras de lutas, nas quais nem eles mesmos acreditam.

Na verdade a maioria dos candidatos e candidatas é tão ruim como interpretes de um único personagem, antigo e já bastante desacreditado, que ninguém pode depois reclamar de estar sendo ludibriado. O tom da chacota e da “canastrice” são tão evidentes que só nos causa risos. Os textos são sempre os mesmos e os roteiros utilizados beiram mesmo a galhofa. Tudo não passa de um grande show de humor de qualidade duvidosa, onde as piadas são repetidas ao esgotamento. É o espetáculo de sempre, e logicamente, com as consequências de sempre. De forma resumida tudo cheira a mofo. Um velho espetáculo já visto por milhares de vezes, que se prolonga por décadas, onde se muda os atores, mas se mantém os tradicionais personagens e suas histórias de enredos enfadonhos. Nesse contexto, o discurso da necessidade e da oportunidade torna-se recorrente. Um candidato é pobre, outro é paupérrimo, outro é ainda mais miserável, enquanto outro é totalmente lascado. Em comum, todos prometem lutar por um povo que permanece e permanecerá “fudido”, para garantir a manutenção desse grande show de horrores.

Tem candidato até que se vangloria pelos quatro ou cinco mandatos consecutivos. Penso sinceramente que estes são os piores, até porque se tornaram profissionais. São os políticos de carteirinhas, que descobriram na política a forma fácil de dar-se bem na vida. E a lógica fica tão consolidada que a política se torna coisa de pai para filhos. É mais ou menos como ocorre nos morros e favelas, onde filho de malandro, malandro se torna. Como a tecnologia anda cada vez mais avançada, inevitavelmente tornou-se recurso fácil e fundamental ao entretenimento do grande público. E por entreter, entenda-se enganar, ludibriar, forjar, mentir e sacanear o público, que neste caso especifico é o povo, ou melhor, o eleitor. Falo isso, porque em determinado momento tive a nítida impressão de estar sofrendo um surto alucinatório diante da TV. A situação da atual corrida eleitoral pelo governo de Pernambuco tem se mostrado tão hilária que cheguei mesmo a duvidar se não estava diante de um espírito. Era como, se por milagre, tivessem ressuscitado Eduardo Campos. Logicamente me espantei e logo pensei que tudo não passava de alucinação, delírio ou fantasia. Para minha surpresa não era. Então pensei se tratar de truque tecnológico. Uma espécie de holograma, como os utilizados atualmente nos megas shows, onde artistas que já não existem surgem diante do público saudoso mais vivo do que nunca.

Mas especificamente no caso da sucessão ao governo do estado, a tecnologia utilizada é outra. Na tentativa de manutenção do poder recorre-se a velha estratégia da imitação, ou da cópia barata e descabida, para se criar um candidato clone. O que se ver é uma espécie de “Avatá” ou “ego auxiliar” do político falecido na recente tragédia aérea. Logicamente, o que resta disso tudo é a indubitável e sábia constatação popular de que se o original já era ruim, a cópia não poderia se sair melhor. É realmente lastimável e desrespeitosa a situação, onde pelo poder se evoca inclusive os mortos. É deplorável também, até porque o candidato perde o precioso tempo, pelo qual poderia se consolidar perante a população enquanto possível referencial de mudança. Não seria este o verdadeiro e fundamental papel do político? Pena que os clones não pensem dessa forma. Pior ainda é constatar, que enquanto reproduções mal feitas nem mesmo tenham autonomia para tal. Afinal de contas, a criação por mais que se rebele não consegue fugir dos objetivos de seu criador. As criaturas tem sempre um fim específico. E logicamente, quem nasceu para ser cópia, nunca será matriz.

No âmbito da política, ou melhor, da politicagem brasileira, a coisa se torna tão absurda que esta semana voltaram a reeditar uma cena que marcou o inicio da campanha de Eduardo Campos a Presidência da República. Na cena original ele conversava com sua candidata a vice-presidência. Ambos sentados em poltronas brancas fingiam um discurso uníssono e coligado, que na verdade só enganava aos leigos ou aos puros e inocentes. Na atual remontagem Campos é substituído pelo clone, que logicamente tenta gesticular, se vestir, falar e se comportar da mesma forma. Devido aos truques de câmeras, cenografia e iluminação, se têm até a nítida impressão de que se estar diante do ex-governador. Neste contexto, é inquestionável a competência dos marqueteiros de plantão. Contudo, no campo das promessas de mudanças e inovações a situação é tão insólita e insustentável que beira a farsa e ao grotesco. É inquestionável a força e a contribuição de Eduardo Campos para a política local e nacional, mas não seria o caso de deixa-lo descansar em paz?

Com este tipo de espetacularização, perde o povo, perde o candidato e perde a política brasileira, que ceifada de originalidade e transparência se caracteriza como uma grande chanchada. Mas, como todo espetáculo depende de bilheteria, só nos resta esperar a contagem dos ingressos populares. Cada povo tem o governo que merece. Eleger cópias, seja no âmbito federal, estadual ou municipal, é amargar uma vida de figurante. E o objetivo do voto é o protagonismo social. Por isso, pensem bem antes de pagar pelo espetáculo que viveremos pelos próximos quatro anos. Porque quem vota mal, paga pelos malfeitos de seus candidatos.


Ainda que cópias ou legítimos, os candidatos precisam entender que política não é profissão e sim ideologia. Por isso, não desperdice seu voto. Abaixo aos políticos profissionais!

sábado, 16 de agosto de 2014

PERNAMBUCO DE LUTO

A morte é sempre uma incógnita para o homem.  Um grande mistério que assombra e, de certa forma, nos tira do eixo. Talvez por evidenciar de forma intransigente e soberana a fragilidade da própria vida, talvez por nos frustrar diante da impossível eternidade. Fato é, que quando anunciada, a morte exige sobriedade e nos possibilita o preparo e adaptação necessária perante o inevitável. Porém, quando se anuncia de forma repentina e abrupta nos impõe a resiliência e nos obriga ao conformismo. Em qualquer uma das situações nos revela o quanto de “insignificantes” somos diante de algo desconhecido que aprendemos a chamar de destino. Mas a morte também é, sempre, um bom motivo e oportunidade para reavaliarmos nossas próprias convicções diante da própria vida e do coletivo. Acima de tudo, serve a apropriada reflexão sobre o comportamento humano.

Apesar das diferenças ideológicas e políticas não posso negar o estarrecimento diante da fatalidade que comoveu milhares de pessoas esta semana. A trágica morte de Eduardo Campos, direta ou indiretamente mexe com os pernambucanos, e em menor proporção com os brasileiros em geral. Acredito que o sentimento de comoção não se relaciona especificamente ao candidato a presidência da república em si, mas à pessoa, ao homem, ao pai de família, ao filho, ao homem que em nome de um sonho ou ilusão se arriscou a voar mais alto. Obstinado ou presunçoso, determinado ou extremamente vaidoso, não restam dúvidas quanto ao seu caráter e estilo empreendedor. E neste ponto, torna-se um sujeito admirável, digno de respeito.  Diferenças a parte, lastimo a perda inesperada e prematura do homem, que acima de tudo parecia acreditar e se guiar pela verdadeira ideologia política, algo essencial ao fazer político, e logicamente inexistente para a maioria dos politiqueiros brasileiros.

Apesar da exploração e da tendenciosidade da mídia sobre a tragédia, creio ser importante considerar e registrar que com o acidente fatídico não morre apenas o político, mais também seis trabalhadores, pais de famílias, filhos, esposos, amigos. Sujeitos que em pleno exercício profissional tiveram suas vidas interrompidas. Homens que independentemente dos interesses ou motivos pessoais ou ideológicos que os moviam também merecem respeito e consideração. Penso que não é só com a representação politica ou com o quanto se perde eleitoralmente com a morte do candidato que deveríamos nos preocupar neste momento. Mas acima de tudo com a apuração transparente dos fatos que provocaram o acidente. Erro humano, falha mecânica, inadequação dos aeroportos, condições inadequadas de trabalho, mal tempo. Seja lá o que for é preciso ser apurado como forma de se evitar futuras tragédias em iguais proporções. Inquestionavelmente essa é uma resposta que se deve primeiramente as famílias e depois a sociedade. Não se pode permitir que, mais uma vez, nosso funesto fascínio pelo espetáculo encubra as responsabilidades devidas. Não estamos diante de uma fatalidade, de algo incontrolável ou imprevisto, mas diante de mais um acidente aéreo, que como qualquer outro tem motivos lógicos e que podem ser identificados. Não estamos falando da morte de um candidato, mas da morte abrupta de sete pessoas que foram vitimas de algo que precisa ser devidamente esclarecido.

Há de se considerar, que assim como os feitos do candidato, os dos demais passageiros também precisam ser louvados ou ao menos evidenciados. Um piloto que consegue controlar uma aeronave, aparentemente, em pane e em queda a ponto de evitar uma tragédia de maiores proporções, precisa no mínimo ser respeitado enquanto homem, ou alçado a condição de herói. À sua família também se deve satisfação e honrarias. Em síntese, não deixemos que essa tragédia figure apenas como pano de fundo ao cenário ou as estratégias politiqueiras, independente do oportunismo dos partidos. Não é hora oportuna para substituir os mortos, é hora de luto, de reflexão e revisão de propósitos. Uma campanha eleitoral não pode ser maior que a vida de sete pessoas e do sofrimento de tantas outras envolvidas ou implicadas no acidente. A vida humana não pode ter menos valor que interesses políticos, pois isso seria no mínimo indigno. Assim, que estejamos de luto não pelo fantástico do espetáculo trágico veiculado gratuitamente pela mídia, muito pelos pelo oportunismo dos ganhos ou possíveis favorecimentos ou conchavos políticos, mas especialmente pela vitimas. Estejamos em luto pela mais pura essência do pesar, do respeito ao próximo, da solidariedade às famílias e do exercício civilizado da cidadania.


A todas as vítimas fatais meus mais puros sentimentos. Que fiquem em paz. Aos familiares, meu respeito.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

BRASIL X ALEMANHA

SETE É CONTA DE MENTIROSO.

Primeiro gol, tristeza. Presságio de um jogo difícil. Segundo gol, surpresa. Silenciaram-se as ruas. Teríamos chances? A dúvida estampava rostos. Terceiro gol, incredulidade. O desalento aflorou as primeiras lágrimas. Quarto gol, derrota confirmada. Desilusão, frustração e abatimento. Quinto gol. Aquilo era indigno e causava confusão. Um massacre histórico diante de olhos estarrecidos. O amargor da derrota causou dor e sofrimento. Fomos abatidos impiedosamente em público, desonrados. A nação sentiu-se inerte, indefesa, fragilizada, perplexa diante da catástrofe. Esvaziaram-se as ruas. Torcedores acuados, calados, caminharam como sem rumo certo. O grito estrangulado incomodou e apagou os sorrisos. Que sensação estranha, inexplicável. Era um misto de dor com desamparo e sentimento de vazio.

Sexto gol. A vergonha virou piada de bar. Sétimo gol. Conta de mentiroso. E a mentira maior era nossa. Nunca tivemos verdadeiramente grandes chances. Sofremos com os patos mortos, apostamos forças, investimos pesado na emoção e redescobrimos a crença insana e utópica que nos transforma no país do futebol. O primeiro e único gol do Brasil contra a fortaleza alemã soou como espasmo de um paciente terminal. Livramos a buchuda em sinal de agonia antes de cerrar os olhos. A certeza de não sermos suficientemente fortes como pretendíamos, ou tentaram nos convencer, nos provocou a sensação de impotência. Fomos lubridiados por uma seleção milionária, moleque, ou pela mídia maquiavélica?

Não importa as respostas ou justificativas sobre o fracasso. Saber perder é parte do jogo, revela sabedoria e superioridade. Mas perder feio desse jeito é indigno. Sete eram os jogos para o campeonato. Sete foram os gols! Sete é conta de mentiroso! Simplesmente inaceitável! Terceiro lugar é consolo para tolo. Não somos os melhores do mundo, e uma pretensa vitória sobre a Argentina sábado não aliviará nossa frustração. Para mim a Copa Acabou ontem com a merecida vitória da Alemanha. Vou voltar a pensar e refletir sobre a Eleição que se aproxima para não ser ludibriado novamente. Até porque de engodo já estamos fartos. Mais importante do que torcer por uma seleção é escolher de forma consciente um postulante a Presidência da República. E isso sim, nos faz brasileiros. Até porque o orgulho ou vergonha que sentiremos pelos próximos quatro anos dependerá única e exclusivamente de cada um de nós. Assim, vamos investir energia no que realmente interessa. Os jogadores, patrocinadores e cartolas da Copa já estão com o futuro garantido. Agora é hora de garantirmos o nosso.


Eleições 2014. Mostra tua força Brasil.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

A MELHOR COPA DO MUNDO.



BOLA PRA FRENTE BRASIL!

Dia 28 de junho de 2014, meio dia de um sábado e tudo em cima da hora. Depois de uma noite de insônia, assistir ao jogo do Brasil contra o Chile não parecia uma alternativa, mas obrigação. Na cabeça apenas a certeza de que aquele seria o melhor jogo da copa do mundo! Nas ruas uma procissão de camisas amarelas seguia em frente, como pronta para a guerra. Com certeza uma das cenas inesquecíveis, considerando o clima de harmonia e felicidade que parecia invadir a cidade. O ronco do estômago, que exigia providências urgentes, não era menor do que o som das centenas de estridentes trombetas e cornetas bicolores. O relógio gritava o atraso. Dez minutos me restaria para atravessar ilhas interligadas por pontes intermináveis, encontrar um bom local e assistir ao jogo. Recife estava lindamente diferente. Havia vida no ar, a alegria substituía os contratempos do cotidiano de um centro urbano conturbado e desorganizado.

De frente ao Paço Alfandega milhões de pessoas se espremiam e se agitavam. A cada susto ou ameaça, um novo uivado coletivo. A bola passava longe, batia na trave, e as mãos se apertavam em preces. A religiosidade se fazia presente em suas diferentes formas e expressões. Não importava a doutrina, apenas o objetivo. Alguns se ajoelhavam em orações, enquanto outros oferendavam bebidas aos santos. Era a certeza e convicção de que Deus é brasileiro, e pelo jeito torce pela seleção canarinha. Religião, bebidas e futebol, temas complexos e que despertam emoções afloradas, às vezes descabidas, mas permitidas. A harmonia reinava nas diferenças fossem étnicas, raciais, de classes ou de identidades de gênero. Estranhos e desconhecidos se abraçavam, choravam, reclamavam, xingavam a mãe do juiz. A prorrogação provocou lamentos receosos. Mãos nas cabeças, murros no ar, gritos de desespero e lágrimas exprimiam a aflição generalizada. Um apito final nos condenava a uma espécie de mata-mata perigoso.

Como havia previsto, e temido, terminaríamos nos pênaltis. Defendemos o primeiro e o segundo. Erramos o terceiro e o quarto, para somente finalizarmos no ultimo e derradeiro chute. Um grito animalesco, que parecia preso em milhões de gargantas, me atravessou como uma onda de calor capaz de provocar arrepios. Era a vitória mais sofrida que já vivi em toda minha vida de leigo torcedor. Era belo e assustador ao mesmo tempo. Não representava apenas uma vitória no futebol, mas a energia investida de um povo. Era a catarse de uma gente guerreira, que acredita no país e em suas possibilidades de sucesso. Era uma expressão de raça, digna dos lutadores que vencem os próprios limites. Havia admiração e respeito nos rostos dos gringos. Havia uma alegria histérica que se transformava em festa. Aquele momento, que para mim será inesquecível, é a melhor representação visual do brasileiro.

Dia 04 de julho, faltando apenas dois dias para meu aniversário, uma nova empreitada. Brasil e Colômbia, a seleção de melhor campanha no mundial. O receio de ser derrotado era evidente na nova procissão que seguia determinada rumo ao Recife Antigo. A festa voltava às ruas e a cidade novamente se coloria de verde e amarelo. Impossível ao morador da Boa Vista ficar indiferente às manifestações da cidade. As pontes estavam tomadas, apinhadas de gente. Parecia uma nova versão do Galo da Madrugada. A diferença é que o verde e amarelo não parecia apenas fantasia, mas uniforme, roupa de guerra. A seleção estava também nas ruas com seus milhões de atacantes. Eram todos técnicos, eram todos capitães, comentaristas especializados, estrategistas e paliteiros. Eram todos guerreiros.

Na Fan Fest não havia mais espaço, não havia chão. Apenas centenas, milhares de pés enfiados em sapatos coloridos ou descalços. A frente outra centena de cabeças de diferentes formatos, cabeludas ou carecas, penteadas, desajeitadas, fantásticas, inquietas. A luta pelo melhor ângulo parecia estratégia de sobrevivência. No meio daquela multidão não vi o primeiro gol. Entendi que não veria os demais. O Recife Antigo estava totalmente tomado pela multidão. Na impossibilidade de permanência, resolvi buscar por um aparelho de televisão qualquer, em um bar qualquer, em uma rua qualquer. Na Madre de Deus um grupo de torcedores vibrava em frente a uma pequena tela. Um balcão serviu de abrigo e apoio. Aos poucos outros tantos frustrados se juntaram, formando uma torcida digna de um jogo de decisão. E lá estava eu novamente em meio a desconhecidos, gritando e vibrando com cada lance, cada nova tentativa de furar o bloqueio. Lá estavam novamente os gritos desesperados, os socos no ar, os aplausos do Neymar e os suspiros pela bunda do Hulk. Era o Brasil irreverente que espantava e fascinava estrangeiros ao mesmo tempo.

O mais belo gol foi do David Luiz e a prorrogação de cinco minutos a mais interminável do mundo. A contagem se tornou regressiva até o levantar do braço por parte do juiz, e mais uma vez o grito de alivio invadia a cidade. Impossível não se contagiar. Impossível não se sentir participante, não se sentir coletivo. Impossível não se emocionar diante da imagem dos jogadores enfileirados em campo, do hino nacional em lapela e na boca do maior couro popular do mundo. Certo ou errado, todos cantam, expressam o amor à pátria e a sua identidade. Nunca assisti uma copa no Brasil e não vou negar que o slogan “Somos Todos um Só” mexe comigo. Desperta o sentido de brasilidade, de nacionalismo ou nacionalidade. Afinal de contas, toda demonstração de patriotismo é sempre bela, mesmo quando bem exercido apenas nos momentos festivos. Assim, porque não me deixar alienar um pouco e seguir em frente, engrossando um cordão humano pra lá de barulhento, pra lá de festivo, pra lá de guerreiro?


Amanhã é Brasil contra Alemanha, a maior barreira do mundial de 2014. Vou sair pras ruas, me misturar ao povo. Vou ser, mais uma vez, povo também. Vou vestir verde e amarelo, buzinar, beber e me divertir. Vou me revigorar para enfrentar a próxima disputa, a próxima batalha em prol das mudanças necessárias. Sem sombra de dúvidas a mais importante para o Brasil, e que se fará nas urnas.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

A UTÓPICA SENSAÇÃO DE SEGURANÇA

15 DE MAIO DE 2014: O DIA EM QUE O RECIFE SE TRANCOU COM MEDO!

O Recife amanheceu diferente nesta quinta-feira! Como se a cidade não tivesse acordado, ou não quisesse levantar. O tempo parecia nublado, como anunciando algum pressagio, algo ruim, que não se sabia o que. A cidade parecia acuada e indefesa. A sensação de medo se estampava nos rostos dos que caminhavam intranquilos. Um cochicho, um lamento, um zumbido indecifrável. Um zum-zum-zum medonho. Pequenos grupos apreensivos buscavam noticias. Os boatos se espalhavam. Nunca vi recifense tão inquieto. Era a cara do medo.

As nove e trinta, tento voltar prá casa. Os alunos correram das faculdades, o comercio fechou, a praia esvaziou abaixo do sol quente. O transito na Beira Mar congestiona novamente, mas dessa vez é diferente. Há certa apreensão no ar. Alarmes sobre falsos arrastões se espalham e tiram o sossego. Motoristas buzinam o pânico que ameaça se tornar coletivo. O que fazer em uma situação de emergência? E se houver perseguição, bala perdida? Onde está a segurança prometida? A tranqüilidade vendida nos comerciais de governo? Quem mal cuida de um Estado, não consegue cuidar do Brasil!

Às onze horas alcanço a Boa Vista. As lojas mantêm as portas semi-abertas.  Muitas estão fechadas, repletas de funcionários acuados. Até o comercio ambulante desapareceu. Poucas pessoas transitam nas ruas, o que poderia ser sinal de paz. Mas ao contrário, os olhos se espicham ao longe, como se algo fosse esperado. Existe apreensão e angustia. As pessoas se olham desconfiadas, como se com medo da própria sombra. Um ruído maior e se acelera o passo. A sensação que tenho é que se alguém peidar mais alto o povo corre. Pequenos grupos comentam os saques na cidade vizinha e temem pelo improvável. Recife é rodeada por favelas. Corre o risco de ser invadida, depredada por vândalos. Não seria a primeira vez. Olho para o contingente de câmeras de monitoramento e penso na falsa segurança vendida nos discursos políticos. Quem não consegue garantir a ordem de uma cidade, não pode ser prepotente em achar que o fará no país.

Uma hora da tarde e a Conde da Boa Vista é tomada por motos, que gritam no asfalto. Centenas de homens e mulheres levantam as mãos em protesto aos baixos salários e as insatisfatórias condições de trabalho. São policiais exigindo segurança, reconhecimento, dignidade e respeito. A tensão toma conta da cidade e as pessoas correm para casa. O exercito desfila interditando passagens. A polícia bloqueia, agora é bloqueada nas ruas do Recife. O que esperar da falta de dialogo sempre marcou o governo? Quem não consegue se comunicar com seus conterrâneos, não saberá dialogar com a diversidade ideológica nacional.

Dezessete horas e os prédios se mostram repletos. Não é a primeira vez que o recifense se tranca acuado em casa. As grades estão em suas portas e janelas, mas a violência galopa nas ruas e avenidas estreitas e esburacadas, nos sinais fechados, nas esquinas e becos mal iluminados, coisas que não se monitora. A cidade é rodeada de desigualdades e em casos de rebeldias não se tem como fugir. Não há onde ou como se proteger. Assim, se fica a mercês da sorte ou se reza pra santo, porque proteção aqui, só divina. Não vem como deveria, como resultados dos altos impostos que pagamos. O recifense vive a utopia de um pacto pela vida que não se concretiza, insuficiente em divisão de renda, em educação e saúde de qualidade, redutores de violência. Mas, quem só conhece e se guia pela repressão e opressão, não contribuirá para a redemocratização de um país.

Dois dias de greve da polícia e bombeiros é mais que suficiente para fazer Pernambuco tremer, pois que nossa segurança é insólita e não real. Rotinas alteradas, economia comprometida, saques, assaltos, tumulto e tiroteio. Confusão, apreensão e medo são reflexos da fragilidade de algo que não se efetiva, a não ser na produção de números estatísticos que não revelam a realidade vivida e sentida. Estamos entre as dezesseis cidades mais violentas do Brasil, e entre as cinquenta mais violentas do mundo. Temos um dos maiores contingentes de população carcerária e presídios frágeis e insipientes, que em nada favorecem a [re]socialização. Temos câmeras nas ruas, grades em portas e janelas, mas não temos um dos fundamentais direitos constitucionais, o de ir e vir, livres e sem medo.


Por isso, chega de indigestão. De indigesta gestão. Tapioca com Açaí não combina, não rima, não afina, e muito menos alimenta uma nação de famintos por direitos como o Brasil!