sábado, 16 de agosto de 2014

PERNAMBUCO DE LUTO

A morte é sempre uma incógnita para o homem.  Um grande mistério que assombra e, de certa forma, nos tira do eixo. Talvez por evidenciar de forma intransigente e soberana a fragilidade da própria vida, talvez por nos frustrar diante da impossível eternidade. Fato é, que quando anunciada, a morte exige sobriedade e nos possibilita o preparo e adaptação necessária perante o inevitável. Porém, quando se anuncia de forma repentina e abrupta nos impõe a resiliência e nos obriga ao conformismo. Em qualquer uma das situações nos revela o quanto de “insignificantes” somos diante de algo desconhecido que aprendemos a chamar de destino. Mas a morte também é, sempre, um bom motivo e oportunidade para reavaliarmos nossas próprias convicções diante da própria vida e do coletivo. Acima de tudo, serve a apropriada reflexão sobre o comportamento humano.

Apesar das diferenças ideológicas e políticas não posso negar o estarrecimento diante da fatalidade que comoveu milhares de pessoas esta semana. A trágica morte de Eduardo Campos, direta ou indiretamente mexe com os pernambucanos, e em menor proporção com os brasileiros em geral. Acredito que o sentimento de comoção não se relaciona especificamente ao candidato a presidência da república em si, mas à pessoa, ao homem, ao pai de família, ao filho, ao homem que em nome de um sonho ou ilusão se arriscou a voar mais alto. Obstinado ou presunçoso, determinado ou extremamente vaidoso, não restam dúvidas quanto ao seu caráter e estilo empreendedor. E neste ponto, torna-se um sujeito admirável, digno de respeito.  Diferenças a parte, lastimo a perda inesperada e prematura do homem, que acima de tudo parecia acreditar e se guiar pela verdadeira ideologia política, algo essencial ao fazer político, e logicamente inexistente para a maioria dos politiqueiros brasileiros.

Apesar da exploração e da tendenciosidade da mídia sobre a tragédia, creio ser importante considerar e registrar que com o acidente fatídico não morre apenas o político, mais também seis trabalhadores, pais de famílias, filhos, esposos, amigos. Sujeitos que em pleno exercício profissional tiveram suas vidas interrompidas. Homens que independentemente dos interesses ou motivos pessoais ou ideológicos que os moviam também merecem respeito e consideração. Penso que não é só com a representação politica ou com o quanto se perde eleitoralmente com a morte do candidato que deveríamos nos preocupar neste momento. Mas acima de tudo com a apuração transparente dos fatos que provocaram o acidente. Erro humano, falha mecânica, inadequação dos aeroportos, condições inadequadas de trabalho, mal tempo. Seja lá o que for é preciso ser apurado como forma de se evitar futuras tragédias em iguais proporções. Inquestionavelmente essa é uma resposta que se deve primeiramente as famílias e depois a sociedade. Não se pode permitir que, mais uma vez, nosso funesto fascínio pelo espetáculo encubra as responsabilidades devidas. Não estamos diante de uma fatalidade, de algo incontrolável ou imprevisto, mas diante de mais um acidente aéreo, que como qualquer outro tem motivos lógicos e que podem ser identificados. Não estamos falando da morte de um candidato, mas da morte abrupta de sete pessoas que foram vitimas de algo que precisa ser devidamente esclarecido.

Há de se considerar, que assim como os feitos do candidato, os dos demais passageiros também precisam ser louvados ou ao menos evidenciados. Um piloto que consegue controlar uma aeronave, aparentemente, em pane e em queda a ponto de evitar uma tragédia de maiores proporções, precisa no mínimo ser respeitado enquanto homem, ou alçado a condição de herói. À sua família também se deve satisfação e honrarias. Em síntese, não deixemos que essa tragédia figure apenas como pano de fundo ao cenário ou as estratégias politiqueiras, independente do oportunismo dos partidos. Não é hora oportuna para substituir os mortos, é hora de luto, de reflexão e revisão de propósitos. Uma campanha eleitoral não pode ser maior que a vida de sete pessoas e do sofrimento de tantas outras envolvidas ou implicadas no acidente. A vida humana não pode ter menos valor que interesses políticos, pois isso seria no mínimo indigno. Assim, que estejamos de luto não pelo fantástico do espetáculo trágico veiculado gratuitamente pela mídia, muito pelos pelo oportunismo dos ganhos ou possíveis favorecimentos ou conchavos políticos, mas especialmente pela vitimas. Estejamos em luto pela mais pura essência do pesar, do respeito ao próximo, da solidariedade às famílias e do exercício civilizado da cidadania.


A todas as vítimas fatais meus mais puros sentimentos. Que fiquem em paz. Aos familiares, meu respeito.