quarta-feira, 26 de novembro de 2014

HISTÓRIAS DE UM PROFESSOR EM VIAGEM PELO SERTÃO PERNAMBUCANO

"POR CAUSE DE QUE" SÃO AS HISTÓRIAS DE NOSSO POVO!

Há exatamente um ano aceitei o desafio de lecionar no interior de estado, mais precisamente no sertão pernambucano. Apesar do cansaço devido à viagem prolongada por uma média de seis horas em estradas maltratadas e que maltratam o corpo, arremessado a cada novo solavanco, não posso deixar de registrar a riqueza da experiência vivida. Em um sentido mais amplo, as diferenças entre a cidade grande e o interior não são apenas geográficas, mas principalmente culturais. O sotaque mais arrastado e cantado, a quase inocência no olhar cabisbaixo, a recepção calorosa, a consolidação das crenças ou crendices populares, o contato com a seca e o sol escaldante, me fazem, muitas vezes, duvidar que sejamos ou que pertençamos, ou ainda, habitemos um mesmo país. Do sertão tudo parece distante, e a capital parece apenas uma referência distante, difícil de alcançar. Algo que muitos não conhecem, e que outros tantos nem desejam faze-lo. Uma cidade, onde se diz que se avista o mar, repleta de altos prédios, engarrafamentos quilométricos e violência urbana. Tudo em Recife parece ser grande demais. Uma metrópole, repleta de coisas que não chegam ou passam por aqui.

Durante este tempo tenho aprendido, sobretudo, que a melhor forma de se conhecer  verdadeiramente um povo é escutando suas histórias e contos. E é exatamente o que tenho feito, todas as semanas, durante as longas viagens, que aqui classifico como “histórias de viagens de um professor pelo sertão pernambucano”, e que passo a relatar como forma despropositada de registro de um pouco de nossa cultura.

Depois de um mês nas estradas, confesso que a paisagem torna-se monocromática e monótona. O sertão é quase melancólico. Com o tempo a vegetação rasteira, os pequenos arbustos, a terra vermelha, os magros gados e as algarobas provocam certo ar de mesmice enfadonha. Da janela do ônibus, costumo observar vilarejos, povoados, ruas e pequenas cidades que correm diante de meus olhos como um filme em preto e branco. Tudo parece bucólico demais para um ser genuinamente metropolitano como eu. Busco então por novidades, mas a visão esbarra em altos paredões rochosos, que em determinados momentos ou trechos da viagem parecem formar uma imensa cratera de vulcão. A única alternativa parece recorrer aos céus. Porém a rotina paisagística se repete de forma incômoda em um azul nítido e vivo que se estende para além dos horizontes. Não dá para contar carneirinhos ou imaginar monstros porque não existem nuvens. É tudo muito límpido. Uma espécie de manto celeste que encobre uma espessa camada de barro seco, que parece fervente, e em alguns pontos inabitável.

De inicio duvidei que suportasse tão extensa viagem. Como ninguém consegue ler por tanto tempo, precisei urgentemente encontrar algo interessante com que pudesse ocupar o tempo. Algo que pudesse me anestesiar e abreviar o sofrimento. Porém, depois de projetar ou arquitetar alternativas, todas rejeitadas quase de imediato, encontrei no sono a saída que tanto buscava. Hoje, tudo funciona como um passe de mágica. Durante o percurso, o ônibus realiza pelo menos três paradas obrigatórias e estratégicas, o que tem me garantido pelos menos três longos sonhos. Minha cabeça começou a funcionar como se fosse uma televisão. A cada parada mudo de canal e novas imagens surgem e me levam para longe. Assim, às vezes durmo dormindo, às vezes, durmo acordado. Entre um sono e outro, ainda encontro tempo para ouvir as histórias alheias. E são essas histórias, muitas vezes de vida, outras de morte, de dores, dissabores, amores e desamores, desassossegos e desalentos, que fazem das minhas viagens um verdadeiro laboratório, onde presunçosamente me pego a fazer analises estabelecer conjecturas ou construir interpretações sobre fatos e atos corriqueiros e aparentemente banais.

As viagens em si tem se transformado também em espaços de constantes aprendizagens. Aprendi principalmente a ouvir, sobretudo as histórias, pelas quais as pessoas contam gratuitamente suas vidas, suas relações, suas concepções de mundo, e às vezes suas experiências mais intimas. Assim, descobri, por exemplo, que nos dias muito quentes é preciso aguar a cabeça das galinhas “por cause de que” pode dar nordeste nas danadas e “por cause disso”, elas podem morrer. Também descobri, que por essas terras, que vacina boa para animal é a que serve para curar dezessete doenças. Não importam quais, desde que sejam dezessete. Nem mais, nem menos. Também não importa o animal. Se grande ou pequeno, o negócio é acertar a dosagem de acordo com o tamanho do bicho. E uma coisa é certa, se ele não morrer, fica curado rapidinho.

Dizem que de conto em conto, a galinha enche o papo. Pois, digo que conto em conto povoou minha mente e liberto minha imaginação e criatividade. O fantástico se confunde com o real e faz a viagem passar mais depressa que minha própria vontade. Quando a viagem finda, um novo dia recomeça em terras escaldantes e repletas de histórias loucas para ganhar o mundo. Creio que esse é meu papel. E é a isso que me disponho aqui. Registrar e replicar as histórias de nossa gente. Histórias de chegadas e partidas, de despedidas, de amores desfeitos, de sonhos. Histórias de gente, de estratégias de sobrevivência. Acima de tudo, histórias de luta e resistência. Histórias de um povo! Do nosso povo!

Bem vindo as minhas histórias de viagens!


segunda-feira, 22 de setembro de 2014

ONDE HOUVER ÓDIO, QUE EU LEVE O AMOR!



ONDE HOUVER ÓDIO, QUE EU LEVE O AMOR!

Onde houver ódio, que eu leve o amor... Com o coração aberto e o espírito de paz, mais de oitenta mil cidadãos atravessaram a Avenida Beira Mar, em Boa Viagem, na tarde de ontem, durante a Parada da Diversidade 2014. Do alto se via a variedade de cores, rostos, estilos, que formava uma massa homogênea em defesa da igualdade, direito constitucional e fundamental a consolidação da democracia. A criminalização da homofobia é uma questão de saúde coletiva. No Brasil, milhares de pessoas, crianças, jovens e adultos, homens e mulheres, ainda são diária e cotidianamente discriminadas, violentadas das mais diversas formas. Muitas são barbaramente agredidas física e moralmente, mutiladas, assassinadas. Segundo dados divulgados pela mídia, os crimes de caráter homofóbico cresceram 216% nos últimos anos. Em um país marcado pela impunidade e pela educação conservadora e sem qualidade como o nosso, evidentemente a violência de gênero tende a mostrar-se como resultado direto de uma sociedade intolerante e insensato que ainda se guia por um modelo limitante, conservador e restrito quanto à vivência e exercício da sexualidade.

É preciso lembrar e ressaltar, que as pessoas como orientação homossexual e bissexual, seja estas, gays, lésbicas, travestis ou transgêneros, são professores, advogados, artistas, médicos, políticos, empresários, gestores, donas de casa, garis, vendedores, policiais, assim como as pessoas de orientação heterossexual. A diferença não estar no caráter ou no direito a cidadania, mas no objeto de desejo. E isso é do campo do individual, do privado e não do público. O que tem que se tornar público é o direito a igualdade, o respeito às diferenças e a obrigatoriedade de uma convivência pacifica. A grande questão consiste no fato de sermos uma sociedade mal educada, alienada da capacidade crítica e reflexiva. Respaldamo-nos ainda por regras, costumes, tradições e dogmas, que, muitas vezes, não conhecemos bem em origem, essência ou profundidade. Guiamo-nos ainda por comportamentos condicionados, comuns aos animais irracionais.

A intolerância as diferenças que respaldam os crimes e violência de gênero precisa ser combatida. E isso não é exclusivamente papel do Estado, mas da sociedade como todo. Já tive amigos, amigas e pessoas conhecidas covardemente assassinadas, sem a menor possibilidade ou mínima condição de defesa. É preciso entender e disseminar junto à população que tradição não é sinônimo de intolerância, e muito menos fator que respalde para a violência e crimes. A tradição configura-se apenas como um conjunto de regras acordadas pelo coletivo. E tudo que é acordado e construído socialmente pode logicamente ser revisto, revisitado e reformulado, a fim de atender as novas demandas da própria sociedade. Neste sentido, nenhuma regra ou normatização pode ser maior, superior ou mais importante e fundamental do que o direito a vida e a liberdade. Até porque, uma sociedade que julga e condena pelas próprias mãos beira a barbárie.

Pessoas com orientação sexual homossexual ou bissexual, seja gay, lésbica, travestis ou transgêneros, trabalham, produzem e pagam impostos igualmente as pessoas de orientação heterossexual. São igualmente filhos, esposas, esposos, pais, mães, tios, tias, amigos e amigas, cidadãos brasileiros. E como tais precisam que seus direitos sejam efetivados e respeitados. A vida privada pertence única e exclusivamente ao sujeito. Assim, ao invés de nos preocupar com o que os outros fazem na cama ou entre quatro paredes, vamos refletir sobre nossos próprios desejos reprimidos ou frustrados. A sexualidade deve ser vivida plenamente e o corpo utilizado, da melhor forma possível, e em toda a sua potencialidade, em prol do prazer. Quem nega o prazer, nega a própria essência e motivo de existência. 

Vamos dirigir nossas energias para combater o que realmente deve nos incomodar – a corrupção, a intolerância e impunidade. Criminalizar a homofobia é tão importante e urgente, quanto criminalizar e responsabilizar politiqueiros que usurpam nossos bolsos, que desviam verbas públicas ou que se mostram oportunistas e comprometem o desenvolvimento do país. A única intolerância aceitável deve ser com a impunidade e a corrupção. E viva a democracia! Viva a liberdade de expressão, inclusive sexual! Abaixo os políticos profissionais!

Onde houver ódio, que eu leve o amor. Até porque toda forma de amar vale e pena!

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

GUIA ELEITORAL - A MELHOR COMÉDIA DO ANO.

CLONAGEM, MILAGRE TECNOLOGIA POLITIQUEIRA?

Minha mãe nos ensinava que a cópia é sempre pior que o original. Repentinamente, durante o horário gratuito de propaganda eleitoral me peguei refletindo sobre tal ensinamento. Pude então constatar o quanto de verdadeiro existe em tal ditado. Sentado diante da televisão, automaticamente lembrei-me de um grande amigo, que sempre afirma que a campanha política na televisão brasileira se caracteriza como o melhor programa de humor. E não é de se admirar diante de tal fato, uma vez que os candidatos se mostram como verdadeiros fanfarrões, formados na arte de enganar, objetivo principal da interpretação. No cenário dramatúrgico politiqueiro, todos os candidatos tendem a representar o mesmo personagem cômico – o palhaço. Apesar dos retoques ou requintes de produção, o que muda em verdade é apenas o nome do interprete, até porque a forma e o conteúdo frágil se mantem intocáveis. Assim, podemos nos divertir com os cotidianos e corriqueiros “Fulanos do Gás”, “Sicranos da Prestação”, “Beltranas do Tempero”, “Marias dos Passes”, “Josés do Trem”, e assim por diante. São milhares de homens e mulheres tentando convencer a população geral sobre temáticas, direitos e bandeiras de lutas, nas quais nem eles mesmos acreditam.

Na verdade a maioria dos candidatos e candidatas é tão ruim como interpretes de um único personagem, antigo e já bastante desacreditado, que ninguém pode depois reclamar de estar sendo ludibriado. O tom da chacota e da “canastrice” são tão evidentes que só nos causa risos. Os textos são sempre os mesmos e os roteiros utilizados beiram mesmo a galhofa. Tudo não passa de um grande show de humor de qualidade duvidosa, onde as piadas são repetidas ao esgotamento. É o espetáculo de sempre, e logicamente, com as consequências de sempre. De forma resumida tudo cheira a mofo. Um velho espetáculo já visto por milhares de vezes, que se prolonga por décadas, onde se muda os atores, mas se mantém os tradicionais personagens e suas histórias de enredos enfadonhos. Nesse contexto, o discurso da necessidade e da oportunidade torna-se recorrente. Um candidato é pobre, outro é paupérrimo, outro é ainda mais miserável, enquanto outro é totalmente lascado. Em comum, todos prometem lutar por um povo que permanece e permanecerá “fudido”, para garantir a manutenção desse grande show de horrores.

Tem candidato até que se vangloria pelos quatro ou cinco mandatos consecutivos. Penso sinceramente que estes são os piores, até porque se tornaram profissionais. São os políticos de carteirinhas, que descobriram na política a forma fácil de dar-se bem na vida. E a lógica fica tão consolidada que a política se torna coisa de pai para filhos. É mais ou menos como ocorre nos morros e favelas, onde filho de malandro, malandro se torna. Como a tecnologia anda cada vez mais avançada, inevitavelmente tornou-se recurso fácil e fundamental ao entretenimento do grande público. E por entreter, entenda-se enganar, ludibriar, forjar, mentir e sacanear o público, que neste caso especifico é o povo, ou melhor, o eleitor. Falo isso, porque em determinado momento tive a nítida impressão de estar sofrendo um surto alucinatório diante da TV. A situação da atual corrida eleitoral pelo governo de Pernambuco tem se mostrado tão hilária que cheguei mesmo a duvidar se não estava diante de um espírito. Era como, se por milagre, tivessem ressuscitado Eduardo Campos. Logicamente me espantei e logo pensei que tudo não passava de alucinação, delírio ou fantasia. Para minha surpresa não era. Então pensei se tratar de truque tecnológico. Uma espécie de holograma, como os utilizados atualmente nos megas shows, onde artistas que já não existem surgem diante do público saudoso mais vivo do que nunca.

Mas especificamente no caso da sucessão ao governo do estado, a tecnologia utilizada é outra. Na tentativa de manutenção do poder recorre-se a velha estratégia da imitação, ou da cópia barata e descabida, para se criar um candidato clone. O que se ver é uma espécie de “Avatá” ou “ego auxiliar” do político falecido na recente tragédia aérea. Logicamente, o que resta disso tudo é a indubitável e sábia constatação popular de que se o original já era ruim, a cópia não poderia se sair melhor. É realmente lastimável e desrespeitosa a situação, onde pelo poder se evoca inclusive os mortos. É deplorável também, até porque o candidato perde o precioso tempo, pelo qual poderia se consolidar perante a população enquanto possível referencial de mudança. Não seria este o verdadeiro e fundamental papel do político? Pena que os clones não pensem dessa forma. Pior ainda é constatar, que enquanto reproduções mal feitas nem mesmo tenham autonomia para tal. Afinal de contas, a criação por mais que se rebele não consegue fugir dos objetivos de seu criador. As criaturas tem sempre um fim específico. E logicamente, quem nasceu para ser cópia, nunca será matriz.

No âmbito da política, ou melhor, da politicagem brasileira, a coisa se torna tão absurda que esta semana voltaram a reeditar uma cena que marcou o inicio da campanha de Eduardo Campos a Presidência da República. Na cena original ele conversava com sua candidata a vice-presidência. Ambos sentados em poltronas brancas fingiam um discurso uníssono e coligado, que na verdade só enganava aos leigos ou aos puros e inocentes. Na atual remontagem Campos é substituído pelo clone, que logicamente tenta gesticular, se vestir, falar e se comportar da mesma forma. Devido aos truques de câmeras, cenografia e iluminação, se têm até a nítida impressão de que se estar diante do ex-governador. Neste contexto, é inquestionável a competência dos marqueteiros de plantão. Contudo, no campo das promessas de mudanças e inovações a situação é tão insólita e insustentável que beira a farsa e ao grotesco. É inquestionável a força e a contribuição de Eduardo Campos para a política local e nacional, mas não seria o caso de deixa-lo descansar em paz?

Com este tipo de espetacularização, perde o povo, perde o candidato e perde a política brasileira, que ceifada de originalidade e transparência se caracteriza como uma grande chanchada. Mas, como todo espetáculo depende de bilheteria, só nos resta esperar a contagem dos ingressos populares. Cada povo tem o governo que merece. Eleger cópias, seja no âmbito federal, estadual ou municipal, é amargar uma vida de figurante. E o objetivo do voto é o protagonismo social. Por isso, pensem bem antes de pagar pelo espetáculo que viveremos pelos próximos quatro anos. Porque quem vota mal, paga pelos malfeitos de seus candidatos.


Ainda que cópias ou legítimos, os candidatos precisam entender que política não é profissão e sim ideologia. Por isso, não desperdice seu voto. Abaixo aos políticos profissionais!

sábado, 16 de agosto de 2014

PERNAMBUCO DE LUTO

A morte é sempre uma incógnita para o homem.  Um grande mistério que assombra e, de certa forma, nos tira do eixo. Talvez por evidenciar de forma intransigente e soberana a fragilidade da própria vida, talvez por nos frustrar diante da impossível eternidade. Fato é, que quando anunciada, a morte exige sobriedade e nos possibilita o preparo e adaptação necessária perante o inevitável. Porém, quando se anuncia de forma repentina e abrupta nos impõe a resiliência e nos obriga ao conformismo. Em qualquer uma das situações nos revela o quanto de “insignificantes” somos diante de algo desconhecido que aprendemos a chamar de destino. Mas a morte também é, sempre, um bom motivo e oportunidade para reavaliarmos nossas próprias convicções diante da própria vida e do coletivo. Acima de tudo, serve a apropriada reflexão sobre o comportamento humano.

Apesar das diferenças ideológicas e políticas não posso negar o estarrecimento diante da fatalidade que comoveu milhares de pessoas esta semana. A trágica morte de Eduardo Campos, direta ou indiretamente mexe com os pernambucanos, e em menor proporção com os brasileiros em geral. Acredito que o sentimento de comoção não se relaciona especificamente ao candidato a presidência da república em si, mas à pessoa, ao homem, ao pai de família, ao filho, ao homem que em nome de um sonho ou ilusão se arriscou a voar mais alto. Obstinado ou presunçoso, determinado ou extremamente vaidoso, não restam dúvidas quanto ao seu caráter e estilo empreendedor. E neste ponto, torna-se um sujeito admirável, digno de respeito.  Diferenças a parte, lastimo a perda inesperada e prematura do homem, que acima de tudo parecia acreditar e se guiar pela verdadeira ideologia política, algo essencial ao fazer político, e logicamente inexistente para a maioria dos politiqueiros brasileiros.

Apesar da exploração e da tendenciosidade da mídia sobre a tragédia, creio ser importante considerar e registrar que com o acidente fatídico não morre apenas o político, mais também seis trabalhadores, pais de famílias, filhos, esposos, amigos. Sujeitos que em pleno exercício profissional tiveram suas vidas interrompidas. Homens que independentemente dos interesses ou motivos pessoais ou ideológicos que os moviam também merecem respeito e consideração. Penso que não é só com a representação politica ou com o quanto se perde eleitoralmente com a morte do candidato que deveríamos nos preocupar neste momento. Mas acima de tudo com a apuração transparente dos fatos que provocaram o acidente. Erro humano, falha mecânica, inadequação dos aeroportos, condições inadequadas de trabalho, mal tempo. Seja lá o que for é preciso ser apurado como forma de se evitar futuras tragédias em iguais proporções. Inquestionavelmente essa é uma resposta que se deve primeiramente as famílias e depois a sociedade. Não se pode permitir que, mais uma vez, nosso funesto fascínio pelo espetáculo encubra as responsabilidades devidas. Não estamos diante de uma fatalidade, de algo incontrolável ou imprevisto, mas diante de mais um acidente aéreo, que como qualquer outro tem motivos lógicos e que podem ser identificados. Não estamos falando da morte de um candidato, mas da morte abrupta de sete pessoas que foram vitimas de algo que precisa ser devidamente esclarecido.

Há de se considerar, que assim como os feitos do candidato, os dos demais passageiros também precisam ser louvados ou ao menos evidenciados. Um piloto que consegue controlar uma aeronave, aparentemente, em pane e em queda a ponto de evitar uma tragédia de maiores proporções, precisa no mínimo ser respeitado enquanto homem, ou alçado a condição de herói. À sua família também se deve satisfação e honrarias. Em síntese, não deixemos que essa tragédia figure apenas como pano de fundo ao cenário ou as estratégias politiqueiras, independente do oportunismo dos partidos. Não é hora oportuna para substituir os mortos, é hora de luto, de reflexão e revisão de propósitos. Uma campanha eleitoral não pode ser maior que a vida de sete pessoas e do sofrimento de tantas outras envolvidas ou implicadas no acidente. A vida humana não pode ter menos valor que interesses políticos, pois isso seria no mínimo indigno. Assim, que estejamos de luto não pelo fantástico do espetáculo trágico veiculado gratuitamente pela mídia, muito pelos pelo oportunismo dos ganhos ou possíveis favorecimentos ou conchavos políticos, mas especialmente pela vitimas. Estejamos em luto pela mais pura essência do pesar, do respeito ao próximo, da solidariedade às famílias e do exercício civilizado da cidadania.


A todas as vítimas fatais meus mais puros sentimentos. Que fiquem em paz. Aos familiares, meu respeito.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

BRASIL X ALEMANHA

SETE É CONTA DE MENTIROSO.

Primeiro gol, tristeza. Presságio de um jogo difícil. Segundo gol, surpresa. Silenciaram-se as ruas. Teríamos chances? A dúvida estampava rostos. Terceiro gol, incredulidade. O desalento aflorou as primeiras lágrimas. Quarto gol, derrota confirmada. Desilusão, frustração e abatimento. Quinto gol. Aquilo era indigno e causava confusão. Um massacre histórico diante de olhos estarrecidos. O amargor da derrota causou dor e sofrimento. Fomos abatidos impiedosamente em público, desonrados. A nação sentiu-se inerte, indefesa, fragilizada, perplexa diante da catástrofe. Esvaziaram-se as ruas. Torcedores acuados, calados, caminharam como sem rumo certo. O grito estrangulado incomodou e apagou os sorrisos. Que sensação estranha, inexplicável. Era um misto de dor com desamparo e sentimento de vazio.

Sexto gol. A vergonha virou piada de bar. Sétimo gol. Conta de mentiroso. E a mentira maior era nossa. Nunca tivemos verdadeiramente grandes chances. Sofremos com os patos mortos, apostamos forças, investimos pesado na emoção e redescobrimos a crença insana e utópica que nos transforma no país do futebol. O primeiro e único gol do Brasil contra a fortaleza alemã soou como espasmo de um paciente terminal. Livramos a buchuda em sinal de agonia antes de cerrar os olhos. A certeza de não sermos suficientemente fortes como pretendíamos, ou tentaram nos convencer, nos provocou a sensação de impotência. Fomos lubridiados por uma seleção milionária, moleque, ou pela mídia maquiavélica?

Não importa as respostas ou justificativas sobre o fracasso. Saber perder é parte do jogo, revela sabedoria e superioridade. Mas perder feio desse jeito é indigno. Sete eram os jogos para o campeonato. Sete foram os gols! Sete é conta de mentiroso! Simplesmente inaceitável! Terceiro lugar é consolo para tolo. Não somos os melhores do mundo, e uma pretensa vitória sobre a Argentina sábado não aliviará nossa frustração. Para mim a Copa Acabou ontem com a merecida vitória da Alemanha. Vou voltar a pensar e refletir sobre a Eleição que se aproxima para não ser ludibriado novamente. Até porque de engodo já estamos fartos. Mais importante do que torcer por uma seleção é escolher de forma consciente um postulante a Presidência da República. E isso sim, nos faz brasileiros. Até porque o orgulho ou vergonha que sentiremos pelos próximos quatro anos dependerá única e exclusivamente de cada um de nós. Assim, vamos investir energia no que realmente interessa. Os jogadores, patrocinadores e cartolas da Copa já estão com o futuro garantido. Agora é hora de garantirmos o nosso.


Eleições 2014. Mostra tua força Brasil.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

A MELHOR COPA DO MUNDO.



BOLA PRA FRENTE BRASIL!

Dia 28 de junho de 2014, meio dia de um sábado e tudo em cima da hora. Depois de uma noite de insônia, assistir ao jogo do Brasil contra o Chile não parecia uma alternativa, mas obrigação. Na cabeça apenas a certeza de que aquele seria o melhor jogo da copa do mundo! Nas ruas uma procissão de camisas amarelas seguia em frente, como pronta para a guerra. Com certeza uma das cenas inesquecíveis, considerando o clima de harmonia e felicidade que parecia invadir a cidade. O ronco do estômago, que exigia providências urgentes, não era menor do que o som das centenas de estridentes trombetas e cornetas bicolores. O relógio gritava o atraso. Dez minutos me restaria para atravessar ilhas interligadas por pontes intermináveis, encontrar um bom local e assistir ao jogo. Recife estava lindamente diferente. Havia vida no ar, a alegria substituía os contratempos do cotidiano de um centro urbano conturbado e desorganizado.

De frente ao Paço Alfandega milhões de pessoas se espremiam e se agitavam. A cada susto ou ameaça, um novo uivado coletivo. A bola passava longe, batia na trave, e as mãos se apertavam em preces. A religiosidade se fazia presente em suas diferentes formas e expressões. Não importava a doutrina, apenas o objetivo. Alguns se ajoelhavam em orações, enquanto outros oferendavam bebidas aos santos. Era a certeza e convicção de que Deus é brasileiro, e pelo jeito torce pela seleção canarinha. Religião, bebidas e futebol, temas complexos e que despertam emoções afloradas, às vezes descabidas, mas permitidas. A harmonia reinava nas diferenças fossem étnicas, raciais, de classes ou de identidades de gênero. Estranhos e desconhecidos se abraçavam, choravam, reclamavam, xingavam a mãe do juiz. A prorrogação provocou lamentos receosos. Mãos nas cabeças, murros no ar, gritos de desespero e lágrimas exprimiam a aflição generalizada. Um apito final nos condenava a uma espécie de mata-mata perigoso.

Como havia previsto, e temido, terminaríamos nos pênaltis. Defendemos o primeiro e o segundo. Erramos o terceiro e o quarto, para somente finalizarmos no ultimo e derradeiro chute. Um grito animalesco, que parecia preso em milhões de gargantas, me atravessou como uma onda de calor capaz de provocar arrepios. Era a vitória mais sofrida que já vivi em toda minha vida de leigo torcedor. Era belo e assustador ao mesmo tempo. Não representava apenas uma vitória no futebol, mas a energia investida de um povo. Era a catarse de uma gente guerreira, que acredita no país e em suas possibilidades de sucesso. Era uma expressão de raça, digna dos lutadores que vencem os próprios limites. Havia admiração e respeito nos rostos dos gringos. Havia uma alegria histérica que se transformava em festa. Aquele momento, que para mim será inesquecível, é a melhor representação visual do brasileiro.

Dia 04 de julho, faltando apenas dois dias para meu aniversário, uma nova empreitada. Brasil e Colômbia, a seleção de melhor campanha no mundial. O receio de ser derrotado era evidente na nova procissão que seguia determinada rumo ao Recife Antigo. A festa voltava às ruas e a cidade novamente se coloria de verde e amarelo. Impossível ao morador da Boa Vista ficar indiferente às manifestações da cidade. As pontes estavam tomadas, apinhadas de gente. Parecia uma nova versão do Galo da Madrugada. A diferença é que o verde e amarelo não parecia apenas fantasia, mas uniforme, roupa de guerra. A seleção estava também nas ruas com seus milhões de atacantes. Eram todos técnicos, eram todos capitães, comentaristas especializados, estrategistas e paliteiros. Eram todos guerreiros.

Na Fan Fest não havia mais espaço, não havia chão. Apenas centenas, milhares de pés enfiados em sapatos coloridos ou descalços. A frente outra centena de cabeças de diferentes formatos, cabeludas ou carecas, penteadas, desajeitadas, fantásticas, inquietas. A luta pelo melhor ângulo parecia estratégia de sobrevivência. No meio daquela multidão não vi o primeiro gol. Entendi que não veria os demais. O Recife Antigo estava totalmente tomado pela multidão. Na impossibilidade de permanência, resolvi buscar por um aparelho de televisão qualquer, em um bar qualquer, em uma rua qualquer. Na Madre de Deus um grupo de torcedores vibrava em frente a uma pequena tela. Um balcão serviu de abrigo e apoio. Aos poucos outros tantos frustrados se juntaram, formando uma torcida digna de um jogo de decisão. E lá estava eu novamente em meio a desconhecidos, gritando e vibrando com cada lance, cada nova tentativa de furar o bloqueio. Lá estavam novamente os gritos desesperados, os socos no ar, os aplausos do Neymar e os suspiros pela bunda do Hulk. Era o Brasil irreverente que espantava e fascinava estrangeiros ao mesmo tempo.

O mais belo gol foi do David Luiz e a prorrogação de cinco minutos a mais interminável do mundo. A contagem se tornou regressiva até o levantar do braço por parte do juiz, e mais uma vez o grito de alivio invadia a cidade. Impossível não se contagiar. Impossível não se sentir participante, não se sentir coletivo. Impossível não se emocionar diante da imagem dos jogadores enfileirados em campo, do hino nacional em lapela e na boca do maior couro popular do mundo. Certo ou errado, todos cantam, expressam o amor à pátria e a sua identidade. Nunca assisti uma copa no Brasil e não vou negar que o slogan “Somos Todos um Só” mexe comigo. Desperta o sentido de brasilidade, de nacionalismo ou nacionalidade. Afinal de contas, toda demonstração de patriotismo é sempre bela, mesmo quando bem exercido apenas nos momentos festivos. Assim, porque não me deixar alienar um pouco e seguir em frente, engrossando um cordão humano pra lá de barulhento, pra lá de festivo, pra lá de guerreiro?


Amanhã é Brasil contra Alemanha, a maior barreira do mundial de 2014. Vou sair pras ruas, me misturar ao povo. Vou ser, mais uma vez, povo também. Vou vestir verde e amarelo, buzinar, beber e me divertir. Vou me revigorar para enfrentar a próxima disputa, a próxima batalha em prol das mudanças necessárias. Sem sombra de dúvidas a mais importante para o Brasil, e que se fará nas urnas.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

A UTÓPICA SENSAÇÃO DE SEGURANÇA

15 DE MAIO DE 2014: O DIA EM QUE O RECIFE SE TRANCOU COM MEDO!

O Recife amanheceu diferente nesta quinta-feira! Como se a cidade não tivesse acordado, ou não quisesse levantar. O tempo parecia nublado, como anunciando algum pressagio, algo ruim, que não se sabia o que. A cidade parecia acuada e indefesa. A sensação de medo se estampava nos rostos dos que caminhavam intranquilos. Um cochicho, um lamento, um zumbido indecifrável. Um zum-zum-zum medonho. Pequenos grupos apreensivos buscavam noticias. Os boatos se espalhavam. Nunca vi recifense tão inquieto. Era a cara do medo.

As nove e trinta, tento voltar prá casa. Os alunos correram das faculdades, o comercio fechou, a praia esvaziou abaixo do sol quente. O transito na Beira Mar congestiona novamente, mas dessa vez é diferente. Há certa apreensão no ar. Alarmes sobre falsos arrastões se espalham e tiram o sossego. Motoristas buzinam o pânico que ameaça se tornar coletivo. O que fazer em uma situação de emergência? E se houver perseguição, bala perdida? Onde está a segurança prometida? A tranqüilidade vendida nos comerciais de governo? Quem mal cuida de um Estado, não consegue cuidar do Brasil!

Às onze horas alcanço a Boa Vista. As lojas mantêm as portas semi-abertas.  Muitas estão fechadas, repletas de funcionários acuados. Até o comercio ambulante desapareceu. Poucas pessoas transitam nas ruas, o que poderia ser sinal de paz. Mas ao contrário, os olhos se espicham ao longe, como se algo fosse esperado. Existe apreensão e angustia. As pessoas se olham desconfiadas, como se com medo da própria sombra. Um ruído maior e se acelera o passo. A sensação que tenho é que se alguém peidar mais alto o povo corre. Pequenos grupos comentam os saques na cidade vizinha e temem pelo improvável. Recife é rodeada por favelas. Corre o risco de ser invadida, depredada por vândalos. Não seria a primeira vez. Olho para o contingente de câmeras de monitoramento e penso na falsa segurança vendida nos discursos políticos. Quem não consegue garantir a ordem de uma cidade, não pode ser prepotente em achar que o fará no país.

Uma hora da tarde e a Conde da Boa Vista é tomada por motos, que gritam no asfalto. Centenas de homens e mulheres levantam as mãos em protesto aos baixos salários e as insatisfatórias condições de trabalho. São policiais exigindo segurança, reconhecimento, dignidade e respeito. A tensão toma conta da cidade e as pessoas correm para casa. O exercito desfila interditando passagens. A polícia bloqueia, agora é bloqueada nas ruas do Recife. O que esperar da falta de dialogo sempre marcou o governo? Quem não consegue se comunicar com seus conterrâneos, não saberá dialogar com a diversidade ideológica nacional.

Dezessete horas e os prédios se mostram repletos. Não é a primeira vez que o recifense se tranca acuado em casa. As grades estão em suas portas e janelas, mas a violência galopa nas ruas e avenidas estreitas e esburacadas, nos sinais fechados, nas esquinas e becos mal iluminados, coisas que não se monitora. A cidade é rodeada de desigualdades e em casos de rebeldias não se tem como fugir. Não há onde ou como se proteger. Assim, se fica a mercês da sorte ou se reza pra santo, porque proteção aqui, só divina. Não vem como deveria, como resultados dos altos impostos que pagamos. O recifense vive a utopia de um pacto pela vida que não se concretiza, insuficiente em divisão de renda, em educação e saúde de qualidade, redutores de violência. Mas, quem só conhece e se guia pela repressão e opressão, não contribuirá para a redemocratização de um país.

Dois dias de greve da polícia e bombeiros é mais que suficiente para fazer Pernambuco tremer, pois que nossa segurança é insólita e não real. Rotinas alteradas, economia comprometida, saques, assaltos, tumulto e tiroteio. Confusão, apreensão e medo são reflexos da fragilidade de algo que não se efetiva, a não ser na produção de números estatísticos que não revelam a realidade vivida e sentida. Estamos entre as dezesseis cidades mais violentas do Brasil, e entre as cinquenta mais violentas do mundo. Temos um dos maiores contingentes de população carcerária e presídios frágeis e insipientes, que em nada favorecem a [re]socialização. Temos câmeras nas ruas, grades em portas e janelas, mas não temos um dos fundamentais direitos constitucionais, o de ir e vir, livres e sem medo.


Por isso, chega de indigestão. De indigesta gestão. Tapioca com Açaí não combina, não rima, não afina, e muito menos alimenta uma nação de famintos por direitos como o Brasil!

quarta-feira, 9 de abril de 2014

QUEM TIVER SEUS BODES QUE OS EDUQUE!

Quem tiver suas cabritas que prenda, porque meu bode está solto! É incrível pensar que o famoso ditado popular, comum em minha infância, ainda seja repetido e ensinado como regra de comportamento em muitas cidades Brasil. O conceito em si, prega que os meninos têm por “natureza” um ímpeto sexual, quase insaciável, e logicamente incontrolável, que pode colocar em risco a integridade das meninas. Cabe então, exclusivamente a elas tomarem os devidos cuidados e se resguardarem, a fim de conservarem a tão cobiçada honra, o que lhes garantiria uma vida plena enquanto mulheres causadouras e honestas. Sem honra a menina será automaticamente destituída da condição de mulher. Diria que há quatro décadas tal modalidade de violência moral e nefasta seria até compreensível [e não entenda justificável], considerando a falta de informação e o não acesso a educação de qualidade durante os anos da ditadura militar. Naquela época mulher realmente não tinha vez, e nem mesmo era reconhecida como sujeito de direito. Porém, estamos em pleno século XXI, e é incrível que os costumes pareçam inalterados, consolidando uma falsa e hipócrita superioridade dos homens sobre as mulheres. 

Mais incrível ainda é constatar que as próprias mulheres [principais alvos e vitimas da violência de gênero], principalmente na condição de mães, e por extensão de educadoras, perpetuam a lógica da violência através da educação de seus próprios filhos, futuros agressores. Os meninos podem tudo, inclusive violar as meninas. As cabritas dos outros deixam de ser vistas como meninas e passam a condição de assanhadas ou safadas, alvos naturais dos potenciais garonhões que tanto orgulharão suas genitoras. Mas se há de pensar: triste da filha dessa mãe, que for vitima do garanhão alheio. Até porque, como salienta outro ditado popular: pimenta nos “olhos” dos outros é refresco. Tristes também das mães brasileiras que de tão violentadas em sua moral e cidadania incorporaram a cruel sentença machista, principal motivo das várias mortes no país. Considerando nossa realidade cultural, que representa um atraso e entrave para o estabelecimento de uma sociedade mais democrática e igualitária, e, consequentemente, para o desenvolvimento do país, não é de se estranhar os resultados da ultima pesquisa publicada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, divulgada no ultimo dia 27 de março, sobre a tolerância social do brasileiro sobre a violência contra as mulheres. E se o fato não é de se estranhar, é com certeza de temer, pois revela uma tolerância nefasta e indigna com a violência. Os resultados do estudo revelam um retrato cruel de nossa sociedade, principalmente considerando que 65% dos entrevistados eram mulheres, muitas delas mães que estão educando seus filhos para serem futuros violadores dos direitos das próprias mulheres. 

Considerando ainda que o Brasil sempre foi, e continua sendo, um dos países que mais mata mulheres no mundo; e que, a cada cinco minutos uma mulher brasileira é vitima da violência cometida pelos machões de carteirinhas, talvez possamos começar a reavaliar urgentemente nossos conceitos relativos as diferenças de gênero. Não dá para pensar em mudança de comportamento sem acesso a educação de qualidade, e aí, logicamente cabe ao Estado garantir tal direito. Não apenas com políticas públicas de proteção e combate a violência, mas principalmente com políticas de prevenção, e neste caminho a educação é a única solução. É fundamental entender que a punição é o resultado da ineficiência política que assola o país, pois que só será aplicado depois de cometido o delito. Mas, como nos diz mais um dito popular, “aí é tarde, a Inês é morta!”. Ou seja, “Não adianta chorar por leite derramado”. A violência tem que ser combatida em sua base, e esta está na formação do cidadão comum. É na escola, durante os primeiros anos que a criança, independente do sexo, e da orientação sexual, deve aprender e incorporar os princípios de civilidade e principalmente das noções de direitos e respeito às diferenças. Mas a escola é complementar da família. Logo, cabe aos pais primar pela educação dos filhos, iniciando-o na convivência social. 

A educação transforma, inclusive os velhos costumes. No cotidiano, é preciso inverter a lógica nos atos práticos e cotidianos, ensinando a nossos filhos, sobrinhos, netos, que homem que bate em mulher não é machão, mas sim marginal. E todo delinquente precisa ser severamente punido e responsabilizado por seus atos. Na mesma lógica, precisamos ensinar que mulher que apanha de marido ou de companheiro, namorado, parentes, não é safada, e sim vítima de uma sociedade machista. Do sistema sociopolítico e sexista que nós mesmos construímos. É inadmissível constatar, por exemplo, que nos dias atuais mais de 26% dos brasileiros concordem que mulheres que usam roupas decotadas ou que mostram partes do corpo mereçam ser atacadas. Assim como também é inaceitável que 58% da população acreditem que se as mulheres soubessem se comportar haveria menos estupros. Esse tipo de posicionamento só revela a força da tradição [ou contradição]. Mas se roupa fechada fosse impeditivo de estupro, as muçulmanas não eram violentadas sexualmente. Se comportamento adequado [estabelecidos secularmente pelos homens como forma de coerção as mulheres] fosse impeditivo de violência, crianças e adolescentes não eram abusas ou exploradas sexualmente por seus pais, avôs, tios, irmão, primos... 

Então o problema não está nas roupas ou comportamentos sedutores e/ou convidativos das mulheres, mas única e exclusivamente na cultura. O corpo é um bem privado, cabendo a cada um fazer bom uso do mesmo. Mas isso só é possível com autonomia, direito de todo ser humano. Mulher com perna de fora ou decote saliente não está pedindo para ser estuprada ou assediada moral ou sexualmente. Assim como quem sai com um relógio caro, uma joia valiosa ou um carro do ano não está pedindo para ser assaltado ou morto. Pensar sob a culpabilidade da vítima é abdicar dos direitos, das próprias responsabilidades, e pior ainda, banalizar a violência. É preciso considerar que a tradição se configura como um conjunto de regras e normas, que se tornam costumes definidos coletivamente para possibilitar a harmoniosa convivência social. Neste sentido, um costume só se torna tradição quando deixa de ser questionado pelo grande grupo social. Um conjunto de tradições forma a cultura de um povo. Logo, nada é natural, mas apenas reflexos ou resultados de construções sociais. A violência também é uma construção humana. E toda construção pode e deve ser desconstruída, dando espaço a novas [re]construções que atendam as novas demandas e anseios da sociedade. E é exatamente isso que estamos fazendo com a violência contra as mulheres. Deixando de questionar e rever velhos conceitos e regras que já não atendem ao coletivo, mas apenas a um segmento da população – os homens ultraconservadores, que não conseguem se enxergar ou se firmar enquanto homens de verdade longe do poder da coação e da força bruta. 

Uma sociedade que afirma que existe mulher para casar e mulher para cama; assim como afirma que a mulher deve atender aos desejos sexuais do homem mesmo contra sua vontade, não pode ser vista ou entendida como civilizada, e muito menos como democrática. Este é o retrato da barbárie e da selvageria, caracterizado pelo silencio imposto diante do estupro domiciliar, cometido cotidianamente pelos próprios maridos no privado dos lares. Subjugação não é amor ou demonstração de carinho ou afeto, é violência! Se deixar ser penetrada ou mexida sem vontade não é devoção, respeito ou obrigação para com o companheiro, mas sim, estupro! Violência contra mulher não é natural, é animalesco, um dos crimes mais hediondos contra a humanidade. O silenciar diante da violência não pode mais ser visto ou tolerado como estratégia de sobrevivência, pois quem cala termina por consentir, mesmo que involuntariamente. Denunciar é a única forma de combate eficiente. Por isso, essa história de que “em briga de marido e mulher não se mete a colher” é balela. Até por que omissão também é crime! Sociedade civilizada é que s utiliza de seus direitos para combater suas próprias mazelas. E a violência, em todas as suas modalidades e expressões, é uma mazela que vem se alastrando pelo país e contaminando populações. 

Só se transforma uma cultura, quando transformamos primeiro a nós mesmos. Só se muda costume, quando refletimos sobre eles e percebemos sua inutilidade ou falta de aplicabilidade sensata e justa. E aí vale uma excelente reflexão, pois mais curta do que as roupas das mulheres devem ser nossa vergonha e tolerância diante da violência. Até porque mais indecente do que suas vestes ou comportamentos é o ato de contribuir, mesmo que de forma inconsciente, para a manutenção de uma sociedade injusta e desigual, respaldada no machismo ultraconservador e perigoso. Mudemos então nossas próprias atitudes, para depois pensar em mudar o mundo! Combater a violência contra as mulheres e as minorias não é um papel exclusivo do Estado, mas de cada um de nós. Transforme você mesmo a educação dos seus filhos, netos, sobrinhos.., para que num futuro não tão distante possamos alcançar definitivamente a civilização. As mulheres não podem mais ser destituídas de sua condição ou essência, comparadas a cabritas, santas ou putas, pois que estas rotulações são por demais limitantes e preconceituosas. As mulheres precisam, e têm o direito de serem reconhecidas enquanto mulheres, enquanto sujeitos de direitos e donas de suas autonomias, inclusive para usar ou mostrar o corpo sem o risco de serem violadas ou ultrajadas. Assim, quem tiver seus bodes garanhões e irracionais que os eduque de forma correta, pois que violência é crime, e a irracionalidade somente deve ser permitida aos animais.

sábado, 15 de março de 2014

CORRUPÇÃO, MENSALÃO, ELEIÇÃO E EDUCAÇÃO - VERGONHOSAS ABOMINAÇÕES BRASILEIRAS


A EDUCAÇÃO E A CORRUPÇÃO NO BRASIL

Enquanto José Dirceu e companhia comemora a absolvição do crime de formação de quadrilha no esquema do mensalão, uma professora declara que precisa utilizar os matos que rodeiam a unidade escolar, onde trabalha, por falta de banheiro. - Os garotos vão atrás da escola e as meninas utilizam o matinho. Nós também utilizamos o mato - Diz ela revelando a vergonha comum aos indignados e impotentes. Mas vergonha mesmo, não deveriam sentir todos nós brasileiros diante de tais situações de permissividade danosa e nefasta? Enquanto os corruptos do mensalão são beneficiados pelos conchavos políticos, os estudantes brasileiros são punidos e alienados de seus direitos básicos. Sem educação não há desenvolvimento. Sem educação não há consciência política e muito menos autonomia cidadã. Sem educação não se combate a corrupção. Disso, os políticos já sabem e se aproveitam. Mas, será que o mesmo é sabido pela população em geral?

A situação das escolas públicas no estado do Maranhão citada acima, não é menos degradante do que a vivenciada por professores e alunos do estado de Pernambuco. Apesar das campanhas panfletárias e politiqueiras que tentam camuflar uma situação que já ultrapassa os limites da tolerância e da vergonha, a escola pública continua abandonada e os alunos tratados como cidadãos de segunda classe. Enquanto os políticos corruptos envolvidos no maior escândalo de desvio de verbas para financiamento de campanhas políticas poderão em menos de um ano estar de volta a suas casas, em Jaboatão dos Guararapes, cidade vizinha de Recife, capital do Estado, crianças precisam ser carregadas nos braços para chegar às unidades de ensino devido às dificuldades de acesso. Na frente das escolas públicas do município, valas a céu aberto escoam o esgoto contaminado e fétido, comprometendo a saúde da população; enquanto no Brasil inteiro o dinheiro do cidadão escoa pelo ralo da roubalheira política.

Enquanto nas unidades de ensino fundamental a água da chuva alaga as ruas, abrindo crateras que se transformam em verdadeiras lagoas de lama; na Suprema Côrte, a sujeira e o lamaçal da corrupção se configuram na vergonhosa impunidade cotidiana. A água também invade as salas de aulas repletas de cadeiras quebradas e sem a mínima condição de conforto ou segurança. Nestas, os banheiros danificados, impróprios, imundos e emporcalhados, mais parecem cenários de filmes de terror; mas, no Complexo Prisional da Papuda, onde os mensaleiros passam férias, as instalações mais parecem com as de um hotel de luxo. Enquanto os espertos surrupiadores reclamam a falta de água quente nos chuveiros; crianças e adolescentes das escolas públicas bebem água contaminada em copos improvisados que compartilham entre si. Os próprios profissionais da educação do município de Jaboatão reconhecem e denunciam a procedência da água impura e perigosa, que diariamente é servida aos alunos que insistem em frequentar a escola. E para não se dizer que se trata de um caso isolado, em Petrolina, a Secretaria de Educação tentou evitar a exposição calamitosa e vergonhosa da educação pública municipal, trocando, às pressas, as cadeiras das salas de aula, três dias depois da reportagem do Fantástico, programa apresentado em nível nacional aos domingos pela Rede Globo.

Esses são apenas pequenos exemplos da situação caótica e abominável da educação pública no Brasil, e principalmente no Nordeste. Não sei se minha indignação é maior enquanto cidadão ou enquanto professor. Educação Básica de qualidade é direito fundamental, previsto na nossa Constituição Federal, Estatuto da Criança e Adolescente, além de constar como premissa e princípios fundamentais ao desenvolvimento saudável, seja em importantes acordos ou tratados internacionais. Mas nada disso parece suficientemente importante aos políticos, que ainda vêm no analfabetismo uma forma de controle do voto, e consequentemente do poder. Apesar da retórica politiqueira, o descompromisso e descaso com a educação é uma moléstia nacional. Uma praga que se alastra e se propaga por todas as regiões, estados e municípios. Educar para quê? Povo educado é povo esclarecido, autônomo e consciente de seus direitos. Povo educado não vota em bandido, corrupto ou demagogo. Povo educado vai às ruas e exige mudanças através das urnas. Povo educado derruba governos. Disso, os políticos corruptos já sabem e se aproveitam! Mas, será que o mesmo é sabido pela população em geral?

Igualdade de justiça também é um direito estabelecido pela Constituição Federal e em todos os códigos jurídicos. Mas quem acredita em sua prática? E em sua eficácia, neutralidade e imparcialidade? Quais exemplos temos tido como referência no país? Sem educação não existe justiça, isso é certo. Mas, sem justiça séria não existe educação de qualidade. E se no Brasil, a primeira não cumpre com seu papel fundamental, que é o da transparência e legitimidade, não se pode pensar em garantia de educação de qualidade para todos. Em um país onde a justiça é cega, não falando metaforicamente, a educação oferecida só reforça as desigualdades sociais e as exclusões. Reforça-se também, as vantagens dos apadrinhados, do corporativismo, da malandragem, da esperteza e do voto de cabresto.

Não é contraditório, por exemplo, distribuir tablets e enviar alunos ao exterior enquanto as escolas não cumprem com seu papel básico, que é o de ensinar e preparar o sujeito para o mundo? De que adianta tanta tecnologia moderna, exaustivamente divulgadas em propagandas eleitoreiras, se não é ensinado o exercício da reflexão e os princípios e direitos de cidadania? Nossa educação continua, mesmo depois da ditadura, única exclusivamente voltada ao preparo do aluno para o mundo do trabalho. Ainda não tem pretensões verdadeiras de educar o aluno para o desenvolvimento intelectual e pessoal. O foco é única e exclusivamente o mercado do trabalho, que exige cada vez mais qualificação, e logicamente o desenvolvimento de competências e habilidades, principalmente cognitivas, que vão muito mais além de saber escrever o nome, ou decorar que 2+2 é igual a 04. Para que servem Tablets e computadores de ultima geração em escolas que apenas produzem analfabetos funcionais? Também não é contraditório verificar que os próprios profissionais da educação não sabem utilizá-los? Também não se tornam motivos de gozação quando as escolas não dispõem de internet, fato bastante comum no interior e áreas rurais dos estados nordestinos? Mas se nas escolas falta acesso, na Papuda, os mensaleiros continuam se comunicando a vontade através dos recursos tecnológicos. Da mesma maneira que os traficantes continuam comandando seus negócios atrás das grades. Muitas vezes, esses mesmos recursos servem como moeda de troca para quem não tem o que comer em casa, e muito menos nas escolas, porque provavelmente a verba da merenda foi desviada. Também não é raro que professores repassarem seus equipamentos aos filhos, sobrinhos, netos, quando não os utilizam em escambos.

Em minha humilde concepção sociopolítica, o faz de conta é sempre tão abominável quanto o não fazer nada. O enganar é tão ou mais prejudicial do que negar. Neste cenário de mentiras e hipocrisias éticas e morais em que vivemos tirar de quem tem para favorecer os pobres seria até plausível, considerando as premissas hobinhoodianas. Mas, roubar de quem já não tem nada para favorecer e enriquecer quem já mama as custa de nossos altíssimos impostos, é no mínimo vergonhoso e abominável. É realmente ultrajante o descompromisso e ineficiência com que se administra e gere o dinheiro público no Brasil. A falta de vergonha na cara dos políticos corruptos é reflexo e resultado direto do péssimo nível de qualidade da educação brasileira, assim também como os são os sentimentos de inercia e a impotência da população diante dos sucessivos escândalos envolvendo desfalques nos cofres públicos. Sem educação de qualidade não há autonomia, muito menos intolerância aos descasos. Disso os políticos corruptos já sabem e se aproveitam. Mas será que o mesmo é sabido pela população em geral?

Negar direitos fundamentais ao desenvolvimento saudável da população é condenar milhões de pessoas ao atrofiamento intelectual. E isso não é menos terrível do que a tortura física, pois que se condena aos poucos a morte. E viva a ditadura da democracia atual! Viva a politicagem do Pão e Vinho! Viva a Copa do Mundo no Brasil! Corrupção 10 x 0 na educação! Mensaleiros, 10 x 0 na Justiça!

quinta-feira, 6 de março de 2014

O MAIOR CARNAVAL DO MUNDO


 
FINALMENTE ACABOU!

Era quarta-feira e faltavam três dias para a abertura oficial do carnaval quando grupos fantasiados começaram a se aglomerar em frente à velha Igreja da Imperatriz. Mulheres com vestidos vermelhos e azuis e com bordados dourados desfilavam sem pressa. Graciosas senhorinhas pareciam bailar indiferente a grande desorganização da cidade, que nunca se prepara para o grande baile popular. O saudosismo invadiu o ar e, logicamente, me contagiou por completo. Aos poucos a folia transformava a Praça Maciel Pinheiro em um grande palco a céu aberto. Soaram os clarins e em pouco tempo centenas de foliões abriam o cortejo pela Rua da Imperatriz. Uma vontade louca de chorar me invadiu o peito. O Bloco da Saudade mais uma vez me condizia pelas ruas de minha cidade. Ruas por onde passei em seguidos carnavais entoando os mais belos e antigos frevos canções, através dos quais sempre afirmei “que o Recife tem o carnaval do meu Brasil”. Em macha lenta cruzamos a ponte velha rumo ao bairro do Recife Antigo, onde nos perdemos na multidão.

Quinta-feira, uma volta pelas ladeiras ensolaradas de Olinda me revigorou. Como todo bom pernambucano, esperei um ano para cair na brincadeira, e finalmente havia chegado a hora. Uma tapioca no Alto da Sé, uma água de coco na Praça do Carmo, um almoço rápido. Um banho, um chapéu de palha e novamente a disposição para brincar o maior carnaval do mundo. O Bloco do Miolo Mole estava na Rua da Moeda fazendo suas palhaçadas magistrais. Caboclinhos atravessavam avenidas e os maracatus percussivos estrondavam nos becos. A multiculturalidade dava o tom da festa. Havia samba, havia cores, havia festa. A noite parecia sorrir enquanto a lua majestosa e prateada parecia impressa nas águas mansas dos rios que nos divide em ilhas, mas nunca nos separa. As mesmas águas que nos isolam nos unificam. Assim é o Recife, belamente poética e contraditória ao mesmo tempo.

Sexta-feira é dia do Galo cantar na Boa Vista. Ninguém dorme mais. Da Ponte Duarte Coelho, apesar dos atrapalhos da prefeitura, é sempre inegável sua imponência. A decoração acanhada e mal finalizada passaria despercebida. Não é a primeira vez que a gestão pública erra. Isso virou tradição! E quem precisaria de iluminação artificial quando se tem luz própria? E se o Pálio não veio, o camarote do Gilberto Gil invadiu quase toda a Avenida Guararapes. Qualquer dia não se tem mais espaço para brincar. Que diga o camarote da Rede Globo, que agora não só se apossa totalmente da Praça da República, como também invade parte da Avenida Dantas Barreto. Até parece que o carnaval de rua do Recife virou coisa exclusiva de rico. Será? O importante mesmo é que apesar do brilho do carnaval, que parece fazer-se por si mesmo, independente dos gostos ou [d]eficiência dos gestores, a cidade estava mais escura do nunca. E olha que o apagão nem chegou por aqui. Talvez a ordem fosse economizar pra não faltar, o que justificaria aproveitar a pífia iluminação do natal, que mais parecia restos de algo que não funcionou. Neste sentido, alguém pode explicar o que significava aquelas redes de pisca-pisca na Ponte Mauricio de Nassau? Penso que se a ideia era homenagear os pescadores da cidade, faltaram os peixes. Mas se as ruas estavam extremamente escuras, o céu se iluminou com a queima de fogos na abertura do Marco Zero. Disso ninguém pode reclamar. Só precisavam avisar ao apresentador a hora certa da contagem regressiva. Para não dar a nítida ideia da desorganização que se revelou insistente durante todo o período festivo.

Sábado de Zé Pereira, finalmente o Galo estava de pé chamando seu séquito de seguidores. As ruas fervilhavam sob um sol escaldante que não deu trégua. Na Avenida Dantas Barreto, a tranquilidade de um camarote simples me possibilitou ver o desfile de um anglo diferente. Diria mesmo que é algo inexplicável. O povo ri como bobo. As diferenças parecem amenizadas e todos se abraçam e festejam independentes de raça/etnia, credo, identidades ou condições socioeconômicas. É a democracia da diversidade que nos transforma em um grande bloco de brincantes inconsequentes. Essa é a ideologia do carnaval. É o escape popular. Outro banho. Troca-se a fantasia, mas não o desespero. É chegada a hora de lutar por um taxi que nos leve a Olinda. É noite do Afoxé Oxum Pandá no Largo do Guadalupe, e lá vamos nós de ladeira abaixo, e também acima, em um sobe e desce incessante e elétrico. O povo se espreme, o cortejo força passagem e tudo vira festa. Não há desavença, não há tempo para mal humor. A tarde cai, a noite chega e a multidão se mantém indolente. Ninguém descansa. É preciso fôlego para aguentar mais três dias. O carnaval está apenas começando.

No Domingo, uma Mínie abraçada a Mulher Maravilha, brinca com o Zorro e a La Ursa. Um grupo de melindrosas passa correndo em minha frente. Colegiais dançam ciranda no alto da Misericórdia. Super-Heróis se espalham enquanto passistas saltitantes bailam no ar. É preciso firmeza para não derrapar nas pedras escorregadias de Olinda. O ruge-ruge da multidão provoca o roça-roça, muitas vezes involuntário. A erotização está no ar. É Baco na festa da carne novamente. Mais uma tarde se vai e a desorganização do transito se mostra recorrente. Os taxistas escolhem passageiros. Ninguém entende nada. Anda-se quilómetros em busca de condução. No Pátio do Terço, novo desfile do Oxum Pandá. É o encontro dos Afoxés em homenagem a religiosidade africana. O ritual é solene e o ritmo contagia. A energia provoca certa espécie de transe e corpo se embala na música que mais parece um lamento. Uma passada rápida em casa. O banho de água fria revigora. À noite, o Recife ferve em polos espalhados. As tribos se concentram. A essa altura, uma mesa com cadeira é tudo o que se pede. Um caldinho de feijão para animar. Outro em seguida. Depois uma acarajé. A barriga estufa, avisando que é melhor se mover. Os pés doem, as pernas latejam, o corpo reclama, mas a loucura continua. Só faltam dois dias. O carnaval tá indo embora. Por fim, a madrugada insolente nos expulsa.

Segunda-feira a gripe ameaça, mas Olinda não espera, começa cedo. E lá vem ladeira. Uma subida na Sé para apreciar a Tapioca recheada da Paula, onde se bete o cartão. Na Rua do Amparo o Aloma Bar é retiro. A mulher da Vara passa arrastando multidão. Chega o Minhocão correndo ruas estreitas. Os Bonecos Gigantes pedem passagem e se engarrafa com o D`Brack. A confusão chega ao ápice. O frevo vence o Axé insistente que perde espaço nas ladeiras. Uma volta até a Bodega nos conduz ao Peeiro de Olinda, bloco puxado por duas travas seminuas. O bloco do Présal atravessa o caminho melando o povo. Em uma varanda dos Quatro Quantos uma senhora assiste a tudo ao lado de dois cachorros. Em outras, casais de beijam. É a danação da folia que parece não querer acabar.

Na Terça-feira, finalmente a festança anuncia o gran final. O corpo resmunga exigindo descanso, doe e fraqueja. A gripe toma conta. Ainda tem o show de Rita Ribeiro no Pátrio de São Pedro. Respira-se fundo e segue-se a multidão. A desorganização da a cara novamente e a frustração se revela na antecipação da atração. O jeito é seguir para o Recife Antigo. Uma caipirinha para ajudar no resfriado. Dizem que limão é bom para gripe. A essa altura o povo parece ensandecido. A cidade continua escura, mas ninguém liga. Quem precisa de decoração, de iluminação, de organização? O carnaval sobrevive às mediocridades e descompromissos das gestões. Afinal de contas: o carnaval é a gente que faz! Olho ao redor e tudo se mostra lírico. O carnaval mais belo do mundo! Os olhos lacrimejam, mas é hora de recolher o bloco! A quarta-feira de cinzas chegou, e como diz o velho frevo, realmente “é de fazer chorar, quando o dia amanhece e obriga o frevo a parar...”. Mas, para mim chega à boa hora. Que bom que terminou! Que bom que carnaval é apenas uma vez no ano. Que venha 2015!

sábado, 1 de março de 2014

MENSALÃO: A PALHAÇADA DA JUSTIÇA NA TERRA DO CARNAVAL


Quando o Crime Sempre Compensa!

Se os mensaleiros não formassem uma quadrilha de corruptos, bem poderiam passar por um bloco de carnaval. Enquanto o país se prepara para a maior festa do mundo, nossa justiça dá mostras de sua ineficiência e de seu descompromisso com as reivindicações populares. Aprovado pela Suprema Corte, os mensaleiros foram inocentados do crime de formação de quadrilha, pelo qual deveriam pagar suas penas em regime fechado, ou seja, atrás das grades, de onde, aliás, jamais deveriam sair. Contudo, com o julgamento dos embargos infringentes foi possível absorve-los de penas mais rígidas, e assim, permaneceram em regime semiaberto, o que lhes obriga apenas a dormir nos presídios. Isso significa que em pouquíssimo tempo estarão livres nas ruas novamente. Depois do cumprimento de um sexto da pena, poderão passar a cumprir as penas em casa. Seria realmente cômico se não fosse trágico, ou pelo menos estratégico. Aproveita-se o carnaval, onde a atenção das massas se distancia da política, para mais uma vez se fazer valer a lei da impunidade.

Isso revela um lado obscuro de nossa justiça, cultura e principalmente de nossa política, onde tudo parece terminar em pizza, ou melhor, em festa. É a repaginação da antiga pratica do pão e vinho para ludibriar a lei e enganar o povo. Ou seja, diversão e um pouco de ração para a multidão esquecer as mazelas e os padecimentos de um regime corrupto e cruel. Pena de um povo que se deixa enganar! Pior para um povo que não cumpre com seu papel de cidadão consciente e autônomo, capaz de exigir a aplicação da lei de igualdade de direitos para todos. Como bem disse Cristovan Buarque, em artigo publicado em jornal no inicio do ano, Feliz 2015, pois que 2014, já se perdeu. Em um ano de carnaval, copa do mundo e eleições presidenciais não sobra tempo para o exercício da cidadania e muito menos da consciência política. Que lástima! Que decepção!

Não nos resta outra coisa a não ser cair na folia e se embriagar na alienação momentânea do carnaval. Só lastimo pela ressaca moral no final da quarta-feira de cinzas! Porque cinza será também nosso futuro daqui para frente. Acho mesmo que vou me fantasiar de bandido. Daqueles com camisas listradas que faziam tanto sucesso nos filmes em preto e branco. No peito vou colocar o número do processo do mensalão e nas mãos vou carregar orgulhosamente uma placa comemorativa onde se poderá ler: “O Crime Compensa!”. Só assim o processo do mensalão terá servido para alguma coisa – fazer a população rir de se mesmo! Então vamos comemorar por que nos fazemos constantemente palhaços sem o menor constrangimento. Que toquem os clarins e finalmente os trombones anuncie que a zona geral está liberada. E que Baco nos proteja a todos, e de todos, pois que a justiça brasileira acabou de mostrar que nunca funcionou e que nunca nos representará verdadeiramente!

Bom carnaval para todos!

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

MERCADO SEXUAL HOMOERÓTICO EN RECIFE Y BUENOS AIRES - PARTE I

* Este trabalho é parte integrante do artigo apresentado no Seminário Psicologia Social, do Programa de Posgrado da Universidad del Salvador - USAL, Buenos Aires/AR, sendo proibida sua reprodução parcial ou total sem a previa autorização do autor.


EL LUGAR DEL MASCULINO EN EL MERCADO SEXUAL.

Reflejar sobre en el mercado del sexo llévanos de inmediato a pensar la prostitución mientras fenómeno social recurrente y "lugar común" del femenino, es decir, las mujeres, las niñas y/o cuando mucho las travestis en actividad sexual comercial. En esto escenario se atribuye a los hombres  solamente el papel del cliente, aquel que consume los servicios sexuales de las prostitutas y travestis, o aún la función de proxenetas, los cambiadores de los servicios de las mismas. Tales entendimientos parecen así contribuir para la invisibilidad de algunas de las prácticas que componen el mercado del sexo, entre las cuales la prostitución masculina, que incluida en uno mercado sexual homoerótico, se organiza con el fin de atender, principalmente, a los intereses y deseos del público homosexual masculino.

Durante al campo de mi investigación de maestría acerca de la prostitución masculina pude constatar el delinear de un mercado sexual homoerótico que se instaló en el centro urbano de la capital pernambucana, que se circunscribe, específicamente, a partir del ejercicio de la prostitución de hombres. Tal mercado, al contrario del sentido común, no se restringe a la informalidad y clandestinidad inherentes a las actividades económicas relacionadas a la prostitución callejera, más específicamente aquella cuya ocurrencia se establece en las calles. Las formalidades sociales, y de cierta forma jurídicas adoptadas por algunos estabelecimientos comerciales, que a pesar de no se encontraren organizados para el ejercicio de la prostitución también sirven a tal propósito, se revelan de forma velada a través de una cuidadosa rutina de los boys de programa que “batallan” en saunas, cines y otros establecimientos reconocidos como espacios de dominio privado de la prostitución.

Tales rutinas se parecen mucho con las actividades profesionales desarrollada en el mercado formal, estableciendo las definiciones de horarios de trabajo; procedimientos y rutinas; tránsitos; circuitos; formas específicas del uso y manejo de las toallas, camisas, pantalones, cuasi siempre bien justas, destacando cuerpos parcialmente desnudos, lo que denota el uso de una especie de uniforme apropiado; relaciones y estatus profesionales bien definidos y respetados; identificación de todo un repertorio corporal, que asociado a una especie de código de ética, sirve a la orientación del ejercicio de la prostitución masculina en el centro urbano (Viana, 2010). Aún en Recife, percibí que la organización del mercado sexual homoerótico no se da a partir de interés personales y solitarios de los trabajadores sexuales, ni tan poco en un vacío institucional; mas ocurre sin articulado a todo un enmarañado que constituí estos circuitos y las redes de significados que se organizan, y que cuando mejor analizado posibilita el revelar de como los profesionales del sexo se sitúan en estos circuitos, bien como cuales jugos de posicionamientos son por elles adoptados.

Como resaltado anteriormente es necesario entender como trabajadores sexuales, todas las personas que desarrollen actividades profesionales remuneradas, formal o informalmente, en estabelecimientos comerciales vinculados al mercado sexual homoerótico, incluyendo los empresarios, comerciantes, ambulantes, empleados formales y autónomos, cambiadores y exploradores, boys de programa, prostitutas, travestis, entre otros. Importante aún, se faz considerar que, específicamente en el mercado del sexo homoerótico, tales actividades profesionales no están restrictas a las prácticas sexuales comerciales.

Muchas de la investigaciones acerca del mercado sexual fueran desarrolladas a partir de los estudios sobre la prostitución, con énfasis en la experiencia del femenino - mujeres e travestis; y/o a partir de los estudios sobre la exploración sexual de niñas y adolescentes (Bacelar, 1975). En su mayoría, buscaran siempre comprender como la prostitución y la exploración sexual tienen se configurado y criado cuerpos en el mercado sexual. Sin embargo, considero que estos debates servirán como la base para, entre otros aspectos, revelar uno mercado sexual que en su magnitud no se resume y ni se restringe a las situaciones de exploración sexual de mujeres. Diferente de lo que se posa imaginar o suponer, el mercado sexual se presenta mientras fenómeno social que va más allá de las  cuestiones del género, etarias, étnicas y clases sociales. Así la inserción de los hombres (niños, adolescentes y adultos del sexo masculino) en este segmento económico tiene se revelado de muchas y variadas formas y posibilidades que denuncian la relevancia y la necesidad de estudios bien más amplios. Al analizar la construcción de las performances del género entre los hombres que se prostituyen en las calles de Recife (Souza Neto, 2009), tuve la oportunidad de acezar el mercado sexual local y, inicialmente, percibir como esto se presenta. El revelar de tal mercado se torna más plural que singular cuando identifica entre las prácticas que lo constituí, una diversidad que en mucho no se restringe a las prácticas sexuales comerciales, sobre todo aquellas con énfasis en la experiencia del femenino. Siendo así, pensar el mercado del sexo a partir de la prostitución de mujeres y/o de la exploración sexual de niñas y adolescentes, lo reduciría a una interpretación unilateral que no da cuenta de su complexidad.

En este ámbito, Adriana Piscitelli y Maria Filomena Gregori (2005) argumentan que el estudio de los diversos aspectos del mercado do sexo, considerado de relevancia social (y de urgente solución por sus eventuales implicaciones con el envolvimiento de los niños y con la privación de la libertad de adultos) debe atraer la atención del debate público y se tornar objeto de una producción diversificada dentro y fuera de la academia. En consonancia, la investigadora mexicana Laura Agustín (2005), afirma que el sexo comercial ha dado lugar a una verdadera industria articulada y a una serie de aparatos institucionales, así como, a una gama de servicios ofrecidos por los bordéis, discos, bares, saunas, líneas telefónicas eróticas, sexo virtual a través de la Internet, casas de masaje, servicios de acompañantes, agencias matrimoniales, hoteles, moteles, cines, revistas porno, películas y videos eróticos, servicios de dominación y sumisión/sado-masoquista, allá de la prostitución, sobre todo, la ejecutada en las calles, que se muestran como algunos de sus elementos constitutivos.

Específicamente en Recife, mi parece que la composición del mercado sexual en mucho no se distancia de los moldes puestos pelas autoras. No obstante, entre semejanzas y diferencias  oriundas de las especificidades de cada localidad, percibo que el mercado sexual local revela contornos distintos y, a poco inusitados. Yo atribuyo  la organización del mercado sexual homoerótico, específicamente en su dinámica y forma institucionalizada en lo centro de la capital pernambucana, como uno de los principales aspectos de la diferenciación y distinción en relación a la aparente masa homogénea que parece componer el universo del mercado del sexo. A pesar de esto se encontrar diseminado en diferentes localidades de la ciudad, parece se presentar de forma más consolidada en el centro comercial del barrio Boa Vista, comprendido entre la Plaza Marechal de Oliveira Lima y sus inmediaciones. Reconocido como el principal territorio de la prostitución masculina en Recife (Souza Neto, 2009), el perímetro tiene se extendido por las calles Oliveira Lima, Riachuelo y, especialmente en sus esquinas con la calle Gervásio Pires, y sus entornos por el calle Corredor del Bispo. Tal perímetro tiene también revelado la consolidación de un comercio formal e informal compuesto por estabelecimientos y servicios destinados al público homosexual, entre los cuales, discos, bares, saunas, cines, sex-shops, hoteles y posadas, entre otros, que tienen servido a la constitución de una especie de red con vistas a la consolidación de espacios “menos hostil” a la socialización de la populación homosexual.

Para percibirse en qué medida la organización de las redes sociales locales marcan la experiencia de los trabajadores sexuales en el ámbito del mercado sexual homoerótico, se faz necesario entender conceptualmente el significado de la red. No como una entidad fija, mas como conjunto de flujos, circulaciones, alianzas y movimientos. Por esto camino podremos entender que tanto los trabajadores sexuales, cuento los clientes, al si insertaren en las redes que integran esto mercado serió automáticamente presentados a una especie de código de ética que define cuales los guías o itinerarios  deben ser seguidos. Así, la adopción de un modus operanti definirá como cada sujeto - trabajadores sexuales y clientes, deberá se portar y proceder en el cotidiano de este mercado (Viana, 2010). Este enmarañado que constituye las redes de significados locales, ordenan y marcan los circuitos, interacciones, flujos y conexiones establecidos. En el ámbito de la investigación científica, yo considero que la pertinencia de tal estudio se fundamenta en la importancia y necesidad de mejor se reflejar y discutir sobre cómo se da la organización de las redes de significados que constituyen el mercado sexual homoerótico en la cultura latino americana, tomando como referencias las ciudades de Recife e Buenos Aires, buscando aún, identificar como y cuales circuitos integrados marcan los flujos, tránsitos e fronteras en el cotidiano de los profesionales del sexo.

Se percebe en las investigaciones académicas sobre el mercado del sexo, cierta insipiencia en el tocante a su análisis  a partir de la comprensión de la organización de redes de significados que lo constituye. En paralelo, se identifican recurrentes estudios sobre la prostitución, con énfasis en la experiencia del femenino - mujeres y travestis; o aún, sobre la exploración sexual de niñas y adolescentes (Bacelar, 1975). Así, en su mayoría, tales investigaciones buscan comprender como la prostitución y la exploración sexual tienen se configurado y criado cuerpo en el mercado del sexo. Sin embargo, considero que tales discusiones servirán como base para, entre otros aspectos, revelar la organización de un mercado sexual específico, que en su magnitud no se resume a tales situaciones y factores. En este contexto despunta el interese relativamente reciente, no en tanto, substancial, de autores que se esforzaran por comprender el mercado del sexo homoerótico, afín de que su organización y dinámica se tornen inteligibles. Entre los  autores brasileiros, se resaltan las investigaciones de Piscitelli (2005) cuya amplitud y substancia en mucho contribuyen para revelar y comprender el mercado del sexo a partir de una extensión analítica que no más encuentra en la prostitución su única posibilidad de evaluación. En ámbito internacional, semejante discusión es defendida por Augustín (2005), que al analizar el mercado del sexo mexicano revela estrecha afinidad teórica y analítica con la autora.

La restricta identificación de los tránsitos y de las fronteras, más manchadas que definidas, que constituyen las redes de significados organizadas en el mercado sexual homoerótico, sobre todo, aquel cuya ocurrencia se da en los centros urbanos de las grandes ciudades aún carece de fortalecimiento. Fato que encuentra fundamento en la escasez de estudios en esta perspectiva (sobre todo, en la región noreste de Brasil), que se esfuerce por comprender tal discusión partiendo del principio de que una red de atores no es reductible a un único autor ni a una red, más al contrario, se muestra  composta por una serie heterogénea de elementos animados e inanimados, conectados y agenciados (Latour, 1992); bien como pela noción de un circuito integrado y de redes de significados presente en la imagen de una red ideológica que sugiere una profusión de espacios e identidades y la permeabilidad de las fronteras en el cuerpo personal y en el cuerpo político de los sujetos que se encuentran a ella sometidos (Haraway, 1991). Tal escenario evidencia la necesidad de si [re]pensar el mercado del sexo homoerótico a partir de otras lentes analíticas. Es bien verdad que algunos autores al presentaren sus  reflexiones a respeto de los espacios de socialización  homoerótico (Viana, 2010; Souza Neto, 2009; Rios, 2005; Braz, 2007), se esforzaran por revelar los matices sobre tal contexto a partir de una perspectiva útil, sin embargo, aún carentes de fortalecimiento substancial cuando el enfoque reside en la organización de las redes sociales.

REFERÊNCIAS
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