segunda-feira, 30 de dezembro de 2013


QUE VENHA 2014!

Falta apenas dois dias para o fim de 2013, o ano que entrou para a história como marco da nova revolução popular [?]. Após décadas de inercia gritamos nas ruas nossa insatisfação e descrédito nos partidos [e] políticos que não mais nos representam, mas não perdemos a crença na ideologia. “O Gigante Acordou!” como tão bem alardeou a imprensa e temeram os corruptos. Sem dúvida alguma, as manifestações de ruas figuraram como as principais imagens de um ano em que o processo de mudança foi traçado pelo próprio povo, que por fim parece ter descoberto a verdadeira função e força das redes sociais. As máscaras tornaram-se o grande símbolo das lutas, que proibidas forçaram o urgente debate sobre o que é verdadeiramente democracia. Contraditoriamente as máscaras também caíram. Em Pernambuco, por exemplo, o ditador se revelou publicamente preconceituoso, machista, conservador e tirano, revelando mais uma vez o despreparo e descompromisso da maioria dos altos servidores públicos diante dos anseios populares. Em uma terra onde os cargos governamentais são distribuídos em nome de velhas amizades e conchavos políticos, o ano que se aproxima será com toda certeza bem melhor e justo sem os Damásios da vida.

Mas 2013, também entrou para a história como ano do fim do Mensalão [?]. Resta apenas o desfecho do Mensalinho do metrô de São Paulo e Brasília; o rombo da prefeitura de São Paulo, promovido pelos auditores fiscais; as irregularidades no financiamento da campanha eleitoral que envolve a governadora do Rio Grande do Norte, que já voltou ao cargo; e especificamente em Pernambuco, os desvios de verbas públicas promovidos pelos vereadores de Caruarú, que já estão quase todos em casa para curtir com a família as festas do final de ano; e, o escândalo vergonhoso com o dinheiro da verba da merenda escolar das escolas públicas. Coisa pouca, com as quais já estamos mais que acostumados. O que importa mesmo é saber [e quem sabe, acreditar] que a política de agora em diante se fará mais transparente sem os tantos José Dirceus, José Jenuinos, Delubios Soares, Pedro Correas, Roberto Jerfessons e tantos outros salafrários corruptos que envergonharam a nação. Só lastimo realmente, neste caso especificamente, a inexistência da pena de morte no Brasil, uma vez que ainda continuarão onerando os cofres públicos com os luxos e regalias dispensados a presos tão ilustres. Aliás, as vantagens sobre os recursos legais e direitos destes cidadãos, que tanto fizeram pelo Brasil, só revelam a legitimidade e imparcialidade da justiça brasileira. O consolo é saber, que todo país tem a justiça que merece, ou pelo menos, a que aprendeu a entender como tal. Quem sabe a gente não vota no Joaquim Barbosa para presidente da república?

Ainda no campo das conquistas, não podemos esquecer que detonamos a seleção campeã da Espanha e garantimos a taça da Copa das Confederações. Somos os favoritos para a Copa de 2014, e logicamente a grande festa e os lucros envolvidos se tornaram muito mais valiosos do que as insignificantes mortes dos quatro últimos operários que construíam as pressas as Super-Arenas, as quais os pobres não terão acesso. Mas também, o que pesariam quatro mortes, ou ainda, o sofrimento de suas famílias, comparadas ao desejo de milhões de torcedores ávidos e ansiosos por revelarem seu orgulho em ser brasileiro? Não! Não sejamos pessimistas ou estraga prazeres. Somos o melhor e temos os jogadores mais caros do mundo. E se no país os professores não são remunerados adequadamente, ou apanham das polícias nas ruas quando protestam por melhores condições de trabalho, é porque optaram por perder tempo estudando e se especializando. Família de sucesso é a que tem jogador ou pagodeiro em casa. Mas, estes são pequenos detalhes e não vêm ao caso agora. O importante mesmo é se preparar para 2014, pensando grande. Afinal de contas, sediar uma Copa do Mundo é uma excelente “oportunidade” para o país mostrar a todos seu poder e crescimento econômico. E que não me venham os pessimistas dizerem que faremos vergonha. Claro que não! Não se pode esquecer que temos experiência com os grandes eventos e ações de impactos que tanto nos projetam no cenário internacional. Somos campeões em violência; temos a policia mais despreparada e perigosa do mundo; somos um dos países que mais matam mulheres, homossexuais, adolescentes e crianças; temos um enorme contingente de pessoas em situação de rua e sem nenhuma cobertura por parte das politicas públicas; um dos países com o maior número de presos em condições indignas e sem a mínima condição de ressocialização; temos grandes chacinas e o PCC controlando o tráfico de drogas; a seca do Nordeste; uma das maiores corrupções do planeta; e, não esquecendo, pagamos os mais altos impostos, o que nos tem garantido saúde, educação e qualidade de vida de primeiro mundo. Estamos bem na fita e na FIFA! Agora é só correr para o gol. E que venha a taça! Até porque, sendo de ouro a gente derrete novamente.

Precisamos acreditar. Nosso maior trunfo é que somos anfitriões por natureza. Adoramos reconhecer os méritos e os verdadeiros talentos que tanto nos inspiram. O melhor exemplo é a vontade dos cariocas em homenagear o maior ladrão de todos os tempos, o falecido inglês Ronald Bigs que ficou famoso por assaltar o tem pagador, rebatizando com seu nome a rua onde morou por décadas livremente e impune no Brasil. Mas não se desesperem porque com o mesmo grau de importância e coerência, também homenagearemos o grande Nelson Mandela em vários monumentos pelo país a fora. E nesse campo das homenagens devidas, acho até que no próximo ano, se tudo der certo, iremos criar praças com o nome do Neimar, ou quem sabe encher nossos parques com o busto do Ronaldinho Fenômeno, personalidades ilustres do esporte brasileiro. Já no campo da cultura, não podemos esquecer, logicamente, do “show das poderosas” que tanto nos orgulharam e nos encheram de satisfação pela projeção internacional. Se houvesse uma premiação de honra para os artistas que mais contribuíram para consolidar nossa imagem no mundo, sem dúvida alguma, Anita seria a grande revelação do ano. E pensar que ela recebe R$ 120.000,00 (cento e vinte mil reais) a cada hora e meia de muito trabalho. Considerando sua agenda, com uma média de 12 (doze) shows por mês, fica fácil imaginar como os brasileiros gostam de criar seus novos milionários relâmpagos. E olha que tem muita gente boa num páreo, onde Paula Fernandes e Claudia Leite dão de pau na magnânima Ivete Sangalo. Pena que nem só das excelentes divas, viva a MPB. Para nossa desgraça temos ainda o Luan Santana, com sua velhinha tétrica e gagá com quem pretende namorar no sofá; e, o Gustavo Lima, que com suas calças extremamente acochadas parece sofrer de paralisia infantil. Diante dos tantos megassucessos efêmeros e vazios de conteúdo que fizeram a cara de 2013 no campo da cultura, torna-se inquestionável o crescimento e qualidade da nossa música popular. Com melodias repletas de poesia, que nada deixam a desejar em relação aos velhos cancioneiros, as letras tornaram-se verdadeiras pérolas, a ponto de deixar qualquer plateia totalmente “Piradinha” de tanta indignação. Agora, para fechar mesmo o ano com “chave de ouro” não podia deixar de registrar o magnifico dueto [ou seria duelo?] da Simone com o Luan Santana, cantando “Então é natal”. E neste caso, o triste mesmo é constatar que “o ano termina e renasce outra vez” com a mesma pobreza de conteúdo.

Que venha 2014, porque de merda, corrupção, falcatruas e alienação popular, particularmente, já estou cheio!

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

TRANSPORTE COLETIVO: UMA EXPERIÊNCIA DOS INFERNOS!


UMA VIAGEM MAIS QUE ALUCINANTE.

Depois de quase dez anos sem pegar um ônibus, resolvo me arriscar a enfrentar a dura realidade de milhões de cidadãos. São exatamente 12:20 e saio para a rua com um destino definido: o campus da Universidade Federal, na Cidade Universitária, cerca de vinte minutos do centro do Recife. Na Avenida Conde da Boa Vista, dou inicio ao que classificaria como uma experiência dos infernos. Nos abrigos de ônibus, que já não abrigam mais ninguém de tão mal conservados, procuro pela sinalização das linhas. Mas, logicamente é impossível identificar algo que não existe. Um amontoado de carroças, caixas de isopor, muito lixo e toda parafernália necessária ao comercio ambulante invade os bancos e as áreas de circulação. “– Olha a pipoca!”. Grita um. “– Coca-cola e água mineral!”. Berram vários ao mesmo tempo. Pessoas amontoadas se espicham além do meio fio tentando visualizar os destinos dos ônibus que parecem desenfreados. A bagunça é geral. Carros, motos, bicicletas e transeuntes competem pelo espaço com animais, crianças e adolescentes embriagados de cola e crack. O sol escaldante se junta aos carburadores para elevar a temperatura já insuportável. Primeira frustração: estava no lugar errado. Moral da história: é preciso apelar aos camelôs para descobrir a parada certa, pois nem os guardas municipais estão devidamente preparados para orientar os cidadãos que pagam devidamente seus altos impostos.
As 12:30, sigo em direção a parada, que imagino correta. Ledo engano. Nesta, uma sinalização já desgastada sobre uma placa metálica amassada desorienta mais que informa. Sigo para a próxima. Está também lotada de camelôs gritando e comercializando uma variedade enorme de produtos. Alguns colchões velhos e papelões servem de locais para o descanso necessário. “– Olha que o calor está aumentando”. “- Vai uma Coca-Cola aí?”. Galhofa o comerciante que se mostra o dono do abrigo. Para o conforto dos consumidores ele ainda oferece um banco de plástico, devidamente instalado na pouca sombra que resta. Em seu stand, batatas fritas, biscoitos, pizzas fatiadas, bolos, pipocas, guloseimas diversas e cervejas. Os berros estrondam os ouvidos já afetados pelos ruidosos ônibus velhos. O cansaço e o esgotamento estampado nos rostos revela uma apatia quase insuportável. Pessoas se abanam ou se sopram tentando amenizar o calor. Uma senhora idosa precisa pedir a um cliente do tal comerciante que lhe conceda o direito de esperar pelo transporte, devidamente sentada no banco do abrigo. Por pouco não lhe cobraram pelo incômodo e aborrecimento. Sinto o sol queimar meus pés e procuro por um pouco de sombra. Tento recuar, mas esbarro na carroça de madeira. Os ônibus espremidos na avenida realizam manobras mirabolantes, cantando pneus. A viatura da polícia passa apitando como se não soubesse fazer outra coisa, além de incomodar. Elas também voam pela avenida, dando a impressão que estão sempre em serviço, o que nem sempre é verdade. Mas a ação serve para abrir caminho em meio ao congestionamento numa via engasgada.

Olho para o relógio pela milésima vez e constato que estou há quase uma hora em uma parada de ônibus sem o mínimo conforto ou condição de dignidade. Três ônibus com destinos diferentes chegam ao mesmo tempo. O CDU-Várzea para a mais de vinte metros da parada. Já irritado, decido esperar sua vez. Doce ilusão. O veículo dá indícios de que vai partir sem mesmo ter chegado ao espaço correto. O tumultuo se inicia e várias pessoas, em sua maioria estudantes atrasados começam a correr ao mesmo tempo. Os esbarrões e empurrões são inevitáveis e favorecem aos roubos, não muito raros. De certo modo sou conduzido até o ônibus por uma multidão totalmente ensandecida. Uma mulher, atrás de mim, agradece a Deus e automaticamente penso: “Essa realmente merece ser pobre e sofredora!”. Vai se alienada assim longe de mim.
São 13:20 da tarde e meu humor já se extinguiu há muito tempo. Penso em desistir da aventura nada pitoresca e pegar o carro no estacionamento a menos de cem metros. Porém a multidão é mais rápida e sou enfiado para dentro da lata de sardinhas. Com esforço chego ao cobrador que me dirige um olhar nada animador. Nesse momento, agradeço e reconheço o valor do esforço investido em meus estudos. Se estivesse no lugar dele, com certeza minha cara estaria bem pior. Por falta de experiência ou costume pergunto-lhe educadamente o preço da passagem. “– São R$ 2,15. Está escrito lá na frente!”. Responde ele como se minha pergunta fosse absurda. Entrego-lhe uma nota e ele novamente indaga de forma impaciente. “– Não tem trocado não?”. “– se tivesse teria lhe dado!” respondo ao mesmo tempo em que tento ultrapassar uma catraca totalmente excludente. Só depois do solavanco ele me avisa que tem que esperar a liberação automática, sinalizada por uma luzinha verde no dispositivo. Ultrapasso a barreira e tento me acomodar em algum lugar. O ônibus está lotado e mais parece um caldeirão de bruxas. Se realmente existir inferno, quem depende do transporte coletivo deveria ter passagem direta para o paraíso. Puta que pariu! Não é possível que alguém mereça sofrer mais que aquilo. Consigo me espremer e alcançar o espaço reservado aos cadeirantes. Com muita sorte, encosto-me a uma barra metálica e tento me equilibrar para não cair durante as sucessivas embaladas.

Vinte minutos depois constato que ainda estamos na mesma Av. Conde da Boa Vista. Um acidente no cruzamento com a Rua da Soledade atrapalhava o já complicado tráfego. Há essa hora resolvo desistir da viagem e voltar para casa, o que seria fácil e totalmente viável se conseguisse me mover. Uma mulher bastante forte e larga se posiciona em minha frente. Os constantes solavancos ameaçam arremessar-lhe em minha direção. Penso que não tenho escapatória e temo em ser espremido contra a vidraça. Drasticamente já imagino os vidros me perfurando as costas. Amaldiçoou-me por estar sem plano de saúde e me aterrorizo em pensar em ter que enfrentar uma UPA da vida, ou melhor, da morte. Constato que não para de subir gente. Os pés começam a se encontrar e a mulher obesa parece que vai me beijar ao menor balanço. Meu campo de visão se divide entre seu rosto e seus peitos. Ao meu lado, ela decide enfiar o filho também fortinho, e com toda razão totalmente irritado. Para piorar a situação ele carrega um saco de pipocas e um pirulito que te tão lambido lhe escorria pelo pescoço. Em mais um movimento brusco sua mão pegajosa gruda sobre a minha. Delicadamente consigo me afastar um pouco, mas constato que meus dedos estão colados. O menino, apesar do sufoco implora por umas pastilhas, que a mãe se atreve a buscar dentro da bolsa. Tento fechar os olhos e rezo para que a viagem termine. Novo solavanco. A bolsa da mulher vai ao chão. Agora o menino melequento caminha em meio a minhas pernas buscando pelas balas de caramelo. Olho para os lados e vejo que estamos entrando na Avenida Caxangá.
A desgraceira tá pior do que na avenida anterior. Chega uma moça magrinha com um vestido drapeado (acho que assim que se fala). A estampa combina com a sombra melecada em suas pálpebras, que combina com o azul cintilante de suas unhas. Nessa altura não sabia mais o que era pior, a viagem ou a paisagem. De repente alguém reclama alto. Percebo então que a moça tinha duas unhas enormes em cada mão. Me pego imaginando para que serviriam aquelas garras pontiagudas, que deveriam medir uns dez centímetros cada. Sei que antigamente os cobradores de ônibus usavam uma unha grande para contar os passes. Mas ela não tinha cara de cobradora. Pensei então, no quanto difícil seria proteger tais preciosidades pegando ônibus todos os dias. Dirigir meu olhar para o interior do veiculo e só consegui ver cabeças pendentes, que mais pareciam o “João Bobo”, balançando ao sabor do vento. Em meio a tantos rostos cansados e vencidos pela fadiga, havia uma senhora com feições de índia, que se mantinha firme e forme. Só ela parecia não se entregar ao sono. Um senhor sentado mais a frente, roncava alucinadamente. Outros passageiros falavam alto ao celular provocando uma verdadeira baderna. Um casal ainda encontrava tempo e espaço para namorar. E tome beijos de língua, num verdadeiro lambe-lambe alucinante. De repente uma freada brusca jogou todo mundo para frente. Alguém buzinou alto do lado de fora. “- Tá carregando boi não, seu puto!”. “Veado!”. “Filho da Puta!”. Gritaram de algum canto que não vi. Aquele era o famoso freio de arrumação. Talvez fosse um freio desses que a prefeitura precisasse.

Minhas costas doíam e minhas pernas mais ainda. A cada capengada o menino melado se apoiava em mim. Olhei o relógio e constatei que já estava naquele inferno há quase duas horas. Eram 14:15 e o sol queimava feito fogo. A indignação me invadiu ao calcular que o tempo perdido era equivalente a uma viagem de Recife a João Pessoa, capital do Estado da Paraíba. Já estava atrasado para o evento e tinha saído com uma hora e meia de antecedência. Imaginei o sofrimento dos estudantes. Alguém consegue se concentrar em uma aula depois dessa maratona? Alguém consegue render no trabalho depois de passar diariamente por todo esse desrespeito e insulto ultrajante? Mais de duas horas para chegar a uma distancia que se poderia percorrer em menos de vinte minutos. Já pensaram no prejuízo econômico disto?
Eram exatamente 14:25 quando consegui me livrar daquele caldeirão do diabo. Não sabia mais se o que sentia era revolta ou cansaço. Estava um bagaço. Desorientado, suado, melado, empoeirado e me sentindo um lixo. Como apresentar um trabalho acadêmico naquela situação? Estava definitivamente indignado com tamanha falta de respeito. Um ano de nova gestão pública e tudo continua uma bosta! Cadê as mudanças prometidas em campanha? Cadê o grande gestor que sabia fazer tudo? No fundo, politica no Brasil é faz de conta. É trocar seis por meia dúzia. E viva a baderna! Viva a vida de médio burguês! Porque se depender de mim, o trânsito pode engarrafar de dar nó. Pode parar o país. Porque de ônibus novamente, mais nunca. Só se for castigo e praga do demônio. E isso quem merece são os políticos. Transporte coletivo no Brasil é sem dúvida alguma uma experiência dos infernos. Melhor voltar pras ruas! E urgentemente!

quinta-feira, 14 de novembro de 2013


 

É PROIBIDO PROIBIR! ABAIXO A DITADURA DA FALSA IDEOLOGIA!

“O Rei mal coroado não queria o amor em seu reinado, pois sabia que não ia ser amado. Amor não chora, eu volto um dia. O Rei velho e cansado já morria...”

Como já relatei anteriormente, nasci dois anos depois do Golpe Militar. Era do silêncio! Época de perseguições e torturas. Tempos de desaparecimentos instantâneos, onde estudantes eram arrancados das salas de aulas e manifestantes eram assassinados em vias públicas. Havia no ar um sentimento de opressão e revolta, mas ninguém podia fazer nada porque os milicos detinham o poder. Como era criança e filho da ditadura militar não entendia bem o que se passava, apenas cumpria as recomendações. Era proibido fazer baderna nas ruas, desobedecer a temida professora, que não raramente nos ameaçava com uma régua de madeira ou castigos tortuosos, como ficar a aula inteira de frente ao quadro negro. Também era comum se proibir que o aluno fizesse a merenda durante o intervalo, talvez a mais cruel forma de torturar quem tinha fome. Apesar da péssima qualidade da comida, para muitos aquela era, na maioria das vezes, a única refeição do dia. Roubava-nos a educação de qualidade, a saúde, o direito ao trabalho e a liberdade de expressão. Mesmo assim éramos obrigados a “Amar o Brasil”, repetindo estrofes de hinos que proclamavam o nacionalismo absoluto. As armas calavam as vozes e a força vencia os corpos.

Apesar da repressão alguns se arriscavam e muitas vezes pagavam o alto preço com a própria vida. Outros padeciam no exílio, expulsos da própria terra. Assim surgiram personagens inesquecíveis e revolucionários. Homens e mulheres corajosos, que enfrentavam o exército não com armas nas mãos, mas com a inteligência e sensibilidade que os tornava poetas. Por duas décadas inspiraram milhões de pessoas sedentas pela democracia. A liberdade de expressão era a principal bandeira dos revolucionários taxados como comunistas inimigos do país. Entre os tantos, destacavam-se Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Milton Nascimento. As letras de suas músicas, repletas de metáforas e entrelinhas que traduziam os lamentos de um povo, impulsionavam as massas às ruas, inspiravam gerações e ensinavam o poder da ideologia. Era a paz pela guerra, onde era proibido proibir! Paralelo ao movimento, Roberto Carlos se projetava como ídolo jovem com suas musicas românticas sem conotações políticas e ideologias. Por anos a fio se correu as lojas de discos para comprar os LPs revolucionários antes que o governo os proibisse e os retirassem de circulação. Os discos eram verdadeiras joias. Um pequeno arranhão e se perdia parte da história, maculava-se a ideologia de luta. Colocar os discos na radiola e aumentar o volume ao máximo representava estratégia de protesto contra a opressão e tirania do regime ditatorial.

Qual filho da ditadura não cantou “Cálice”, “Roda Viva”, “Sem Lenço, Sem Documento”, “Para Não Dizer Que Não Falei das Flores”, entre tantas outras melodias que exprimiam nossos sentimentos de indignação diante das ameaças e torturas? Quem não se emocionou, e chorou muito, com as histórias de mortes e sofrimentos dos exilados e perseguidos políticos? Quem não se inspirou nos grandes cantores da época para fazer da luta sua justificativa de vida? Quem não se orgulhou em estampar seus rostos e nomes em camisetas? Nas bocas, corpos e mãos, estes eram os uniformes e os instrumentos de guerra. Suas letras se multiplicavam nas ruas e alcançavam multidões, encorajando e conclamando o direito a liberdade de expressão.

Hoje não consigo disfarçar a desilusão e indignação que os mesmos personagens me causam, opondo-se a liberação das biografias em nome das cifras milionárias. Como diria Cazuza, “Meus heróis morreram de overdose. Meus inimigos estão no poder”. Como podem contrários as suas histórias e discursos ideológicos, os mesmos Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Milton Nascimento liderarem um movimento que proíbe o lançamento de suas biografias sem autorização prévia, como forma de garantir o pagamento de royalties sobre as obras? Será que esqueceram a luta contra o capitalismo selvagem? Abriram mão da liberdade de expressão? Esqueceram que é “proibido proibir”? Meus heróis envelheceram e se tornaram tão algoz quanto os antigos milicos. Tão contraditórios quanto os desmandos pelos quais lutaram. Não será essa uma prova retumbante de que realmente que todo oprimido se torna opressor quando detém o poder?

Como bem disse o Gerald Thomas (IstoÉ 2293, 2013), considero um absurdo ganhar dinheiro em cima de biografias. Será que o problema dos nossos já envelhecidos e contraditórios poetas é a falta de talento, ou será que sentem saudades da ditadura porque no regime militar conseguiam compor bem? Quem realmente é o dono de uma história quando se torna uma figura pública? Porque tenho que pagar para registrar o movimento do tropicalismo ou da jovem guarda? Como relatar os fatos sem mencionar tais personagens? Não se fala das músicas e cultura dos anos de chumbo sem destacar tais celebridades, que por sinal enriqueceram e vivem até hoje do fruto de seus trabalhos. Porque Roberto Carlos, por exemplo, tem o direito de proibir dissertações e teses sobre um período ou movimento musical do qual apenas se tornou mais um personagem entre tantos. Ele se tornou dono da história social e política do país? Mesmo não desconsiderando sua importância, creio que tal período pertence também a várias outras pessoas que gostariam de ver retratadas e registradas suas passagens sobre a terra e suas contribuições para o desenvolvimento nacional. Acima de tudo, a jovem guarda ou o tropicalismo fazem parte da história de um povo e não apenas de um seleto grupo de personas contraditórias e ambiciosas que passaram a reverenciar o capital.

Plagiando mais uma vez o Thomas, digo que “é triste e nojento ver as pessoas que eu achava que não tinham nada a perder, se defendendo de uma forma puritana, boba, estúpida e imbecil”. Posturas que apenas mancham a própria biografia. Talvez seja a hora da sociedade mudar o disco. Talvez seja a hora de enterrar os velhos ídolos e voltar às ruas contra as suas tiranias disfarçadas de ideologia democrática. Talvez seja a hora de engavetar os velhos CDs, até para não ter que explicar para os mais jovens a vergonha da contradição. Talvez seja a hora do povo encontrar a sua própria voz, pois que sobre essas nunca existirá ditadura capaz de impedir ou cecear o resgate histórico de um povo. Em nome da cultura e do progresso do país, ainda repleto de analfabetos, principalmente políticos, sou a favor da urgente liberação das biografias de personagens, vivos ou mortos, sem previa autorização dos mesmos ou de familiares, e muito menos pagamento sobre as histórias que pertencem a todos e das quais fizemos ou fazemos parte, ainda que de forma direta ou indiretamente. Quem se torna “persona pública” arca com os bônus e os ônus do status de celebridade. Quem não deseja ou teme expor-se que morra no anonimato. Os interesses de um povo precisam sempre ser maiores que os interesses individuais. Por isso, é proibido proibir! Por isso, qualquer forma de proibição é ditadura, e isso sem sombra de dúvidas, é coisa do passado. A ditadura é um fato histórico para ser lido e estudado e não novamente praticado.

sábado, 9 de novembro de 2013


VOCÊ ACHA QUE DONO DO PRÓPRIO IMBIGO?

Essa semana ouvir uma mãe dizer para o filho que somente quando crescesse ele seria dono do próprio umbigo. Há tempos não ouvia essa expressão, tão comum em minha infância e adolescência. Ser dono do próprio umbigo significava ter maior idade, ter autonomia e responsabilidades sobre os próprios atos. Ou seja, antigamente, para ser “dono do próprio umbigo” era preciso trabalhar e se sustentar. Lembrei então de outro costume antigo: o dos pais enterrarem ou guardarem o umbigo dos filhos, que na época se chamava “imbigo”. Assim, por crendice, os genitores enterravam os restos do cordão umbilical dos filhos em uma árvore ou o jogavam no mar ou rio. Nunca soube o que realmente aconteceu com meu imbigo, mas lembro que o da minha irmã caçula foi enterrado no tronco de um pé de jenipapo, que ficava no oitão de nossa casa. Oitão, para quem não sabe, é a área do terreno que ficava por trás das antigas residências. Fato é que quase ninguém tem mais oitões e muito menos jenipapos em casa. Mas na minha tinha. Um frondoso pé de jenipapo com um imbigo enterrado no tronco.

As árvores frutíferas do meu oitão eram sempre mais viçosas que as demais. Isso me leva a crer que o fato estava diretamente relacionado à suas proximidades com a fossa. Para quem não sabe, fossa era um buraco que se fazia nos oitões das casas, para onde eram direcionadas as fezes e urinas que vinham dos banheiros, e também os detritos vindos das pias das cozinhas. Logicamente esses detritos se transformavam em excelentes adubos, nutrindo as árvores que produziam os deliciosos frutos, que consequentemente, completavam nossa alimentação. Sem dúvida alguma, este é exemplo perfeito do “na natureza, nada se perde, tudo se transforma”, que tão bem aprendemos nas escolas. Refletindo um pouco mais sobre os ciclos naturais, penso que o mesmo ocorre com as árvores dos cemitérios. Talvez seja por isso diziam que os jambos de cemitérios eram sempre os mais gostosos. Na minha infância esse fruto era chamado de “jambre” e eram enormes e de um vermelho escuro vivo e bonito. Hoje, um saquinho com cinco jambres custa R$ 5,00 nas ruas do Recife. Na minha infância eram tão sem valores que saia de graça? Afinal de contas, quem nunca comeu fruta de cemitério?

Se refletirmos melhor sobre o assunto, não podemos concluir que aí se dá a verdadeira explicação para nossa pretensão de infinidade? Não poderíamos dizer que a vida após a morte, com a qual tanto sonhamos se estabelece por um ciclo natural? Ou seja, aos sermos enterrados nos transformamos em adubos, alimentamos as árvores e voltamos em formas de frutas. Assim, confirmamos mais um ditado popular que sabiamente prega que “quem come, um dia será comido”. Seria essa uma explicação razoável para a lei do carma? Independente dessas elucubrações infundadas, uma vez fruta, voltaríamos aos estômagos e fossas, e assim seguiríamos sucessivamente num processo infinito de morte e ressurreição. Apesar de inquietante, essa não deixa de ser uma forma para se [re]pensar a vida eterna. Afinal de contas, se viemos do pó, ao pó voltaremos. Certo?

Mas, voltando aos antigos costumes, era comum também se guardar o primeiro dente de leite das crianças. Algumas pessoas inclusive os transformavam em pingentes, que passavam a adornar as orelhas e pescoços das mulheres vaidosas. Eram os famosos transcilins de ouro, que na ocasião eram mais conhecidos como “transcilinhos”. Na época, era o último grito da moda. Tais bijuterias eram formadas por finas correntes compostas de pequenas argolas entrelaçadas. O pingente de ouro prendia o dente de leite do rebento ou sobrinho e era exibido com orgulho. Toda tia, fosse solteirona ou casadoura tinha um “trancilinho de micheline” [denominação do ouro barato ou falsificado]. Isso evidenciava que a moça era de família e que tinha bom gosto. A minha irmã mais velha tinha um desses com o dente da irmã caçula. Nunca soube se alguém de minha família, um dia, se exibiu por aí com meus dentes pendurados no pescoço.

As fotos antigas me revelam que esse era um costume comum. Como não se tinha a tecnologia atual, as fotos eram colocadas em uma espécie de binóculo de plástico colorido. Uma espécie de mini-luneta, por onde se apreciava as melhores poses ou se matava as saudades. Lembro que minha mãe guardava os binóculos de fotos em uma lata redonda e colorida. Algumas vezes reunia os membros da família e só assim podíamos ver fotos em cores, muitas vezes de gente que nem conhecíamos direito. Todas as demais fotos eram em preto e branco e compunham os álbuns de família. Ninguém tinha câmera fotográfica, por isso era preciso contratar o “retratista”. Ele agendava uma data e ia até sua casa. Nesse dia era festa. Toda “família que se preza” tinha na parede da sala um retrato com as fotos dos filhos. Como éramos dez ao todo, tínhamos dois desses, cada um com cinco fotos. Eram retratos isolados, do tipo peitoral, dos peitos para cima. Tinha que colocar roupa nova e ficar esperando o retratista por horas e horas. Depois se esperava um tempo enorme até o homem voltar com a encomenda. O irmão mais velho sempre figurava no meio e os demais ao redor. Os cinco pequenos retratos em preto e branco formavam então um painel sobre fundo branco, com moldura de madeira escura e vidro de proteção. Lembro que no dia de tirar esse retrato, estávamos brincando de brigar e meu irmão depois de mim atingiu meu rosto com um pedaço de cano. Devido ao acidente, tive que tirar o retrato de perfil, e logicamente fui o único que não saiu rindo, como era de costume.

Tempos depois inventaram uma técnica supermoderna que possibilitava colorir as fotos. Minha irmã mais velha até contratou um desses profissionais para fazer um retrato colorido. Era coisa de ultima geração e provocava encanto. Nesse dia ela se arrumou toda e homem bateu a foto. Dias depois voltou para entregar. Era bem diferente da realidade. Lembro que ele tinha acrescentado umas flores amarelas na blusa dela e também colocou um “trancilinho” com duas medalhas que não eram originais. Logicamente o resultado não agradou e o retrato nunca foi exposto. Já no meu caso tive que me contentar com a foto de lado mesmo. O que me fez lembrar que naquelas épocas quando uma criança caia ou batia com a cabeça, era costume amornar uma faca peixeira para se colocar sobre o ferimento e evitar que fizesse “calombo”, nome usado para os edemas. Conversando sobre isso, um grande amigo me relatou que nessas situações chorava mais com medo da peixeira do que da dor que sentia. Ele ficava assustado com espanto e alvoroço dos adultos e achava que ia levar uma facada devida peripécia. Isso me trouxe a lembrança os remédios caseiros. Quando tínhamos algum ferimento, que chamávamos de “bereba” era comum se colocar uma folha de pimenta untada no óleo de cozinha em uma colher de sopa para esquentar no fogo. Depois se colocava a folha amornada sobre a ferida para puxar o olho. Isso facilitava o processo de espremedura da pereba até retirar o “carnegão”, que vinha carregado de pus e sangue. Hoje as pessoas preferem, sabiamente, recorrer aos antibióticos para se livrar os furúnculos.

Bom, acho que vou ficar por aqui. Vou ligar para uma irmã e perguntar sobre o paradeiro do meu imbigo. E você, acha que é dono do próprio umbigo? Melhor consultar os parentes!

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

MENSALÃO: QUEM DISSE QUE O CRIME NÃO COMPENSA?


 

Se você tem filhos, não cometa os mesmos erros de seus pais. Não seja tolo de ensiná-los que o crime não compensa, pois isso não é verdade. Depois da aprovação dos embargos infringentes, o próprio Supremo Tribunal Federal, símbolo máximo do ideário de justiça, revelou ao país a lógica atual. Não perca seu tempo investindo em educação de qualidade, em princípios éticos e valores morais. Não, nada disso fará de seu filho um homem de sucesso. Se um dia pensou em servir de exemplo para eles, esqueça. A não ser que se mostre como referencia de fracasso. Nada de forçá-los a absorver os mais arraigados valores morais que respaldaram a concretude do seu bom caráter. Não, não os estimule a descobrir os valores da honestidade, da solidariedade e do respeito. Mas pelo contrário, mostre-lhes que estas são características dos fracos e falidos como você. Mostre para eles que os íntegros não ganham dinheiro e não acumulam fortunas porque não aprenderam a se vender, bajular, trapacear ou roubar. É isso mesmo. Roubar é o cominho mais rápido e curto para uma vida feliz. Esqueça as noções moralistas sobre pecado que aprendeu, pois que nada será proibido ou indevido daqui para frente. Reavalie urgentemente seus conceitos ultrapassados sobre o certo e o errado, pois que estes não mais se aplicam na conjuntura atual. Mostre-lhes acima de tudo, que não existe mais espaço para a sinceridade e para a boa conduta. Os tempos são outros. Por isso, não mais lhes falem sobre justiça, e muito menos sobre igualdades de direitos, porque tudo não passa de utopia.

Se não quiser que seus filhos sofram das mesmas angustias e tristezas provocadas pela desesperança e pela impotência diante das injustiças nacionais, inicie seus filhos, o mais rápido possível, na arte da tramoia e da dissimulação. Não recorram aos grandes heróis de seu tempo de escola, pois que todos morreram por causas impossíveis. Também não se referenciem por homens de caráter, que por azar tenham conhecido, pois que estes, com certeza, continuam no desassossego da penúria igual a você. Mirem-se apenas nos políticos atuais, como José Dirceu, Genuino, João Paulo, Donadon, Delubio Soares e todos os demais picaretas que compõem a política nacional, para ensinar a seus filhos as vantagens das artimanhas, das picaretagens e das falcatruas. Mostrem para eles o verdadeiro poder do suborno, do favorecimento e do apadrinhamento. Alfabetize seus filhos ensinando a soletrar apenas palavras mágicas como “men-sa-lão”, “cor-rup-ção”, “pro-pi-na”. Depois explique os sinônimos como “po-lí-ti-cos”, “par-la-men-ta-res”, “mi-nis-tros”, “de-pu-ta-dos”, “pre-fei-tos”, “go-ver-na-do-res” e “juí-zes”. Nada de livrinhos infantis onde o bem vence o mal. Mude as histórias e mostre a verdade sem maniqueísmos. Quando eles estiverem de frente à televisão, nada de desenhos ou filminhos bobos. Force-os a assistir aos jornais. Se considerar pesado demais, sintonize apenas na Rede Globo, onde as informações são suavizadas e nunca contam a verdade. Não há formula melhor para ensinar a seu filho a mentir e/ou sonegar e manipular informações. É assim que se conquista e se detém o poder.

Nunca caiam na tentação de convencê-los a vencer por seus próprios méritos. Isso os faria cansar desnecessariamente e os condenaria a solidão. Não esqueçam que seus filhos seriam vítimas de bulling social, alvo de risadas e pilherias em público. Façam de seus filhos, homens de verdade. Não os ensine a cultivar amizades ou companheirismo. Nada disso. É preciso que aprendam desde cedo a serem seletivos; a saber, que amigo se escolhe pela conta bancária ou sobrenome; e, que cada pessoa vale somente o quanto pode oferecer. Mesmo que não gostem muito da ideia, seu filho precisará se tornar um bajulador de carteirinha. Terá que ser inescrupuloso, dissimulado, falso e corrupto. Caso contrário estará fadado ao fracasso, igual a você. Use você mesmo como melhor exemplo de ineficácia e inoperância. Avalie junto com seu filho o que conseguiu até agora sendo honesto e correto. Revele para ele o quanto conseguiu juntar sofridamente ao longo de sua miserável vida em uma caderneta de poupança? Se é que você tem alguma. Depois conte para ele quantos dos seus amigos, que pensavam e agiam iguais a você, conseguiram ser alguém na vida. E não fale do ser alguém comum, mas alguém de reconhecido valor, com status, contatos, articulações, acessos, poder e dinheiro. Depois repita sucessivamente o nome das pessoas que você conheceu e conhece, e que não tinham ou têm um terço de sua capacidade intelectual e produtiva. Fale das pessoas que você sempre desprezou por serem medíocres, hipócritas, pobres de conteúdos e princípios morais. Das pessoas que você se afastou erroneamente por serem mau caráter. Então, finalmente reflita com eles sobre onde essas pessoas estão agora? Cite uma por uma das que estão no governo de sua cidade, de seu estado e de seu país. Contabilize também os que estão na política ocupando cargos de representantes do povo. Depois relacione os que estão na justiça. Fale também dos que se tornaram grandes empresários por manipularem licitações públicas para financiar campanhas políticas. E dos que se tornaram profissionais renomados por oferecer subornos. Afirme categoricamente para seus pequenos filhos que estes são os homens de futuro que circulam nas grandes rodas do poder.

Este sim é o futuro que devem desejar para seus filhos, e pelo qual, logicamente devem se empenhar. Se por acaso cair em tentação, ou fraquejar diante do desafio, repasse mentalmente a lista dos seus conhecidos medíocres e olhe-se no espelho. Não tenha medo, pois a constatação é inevitável. Mire-se nos próprios olhos e avalie friamente sobre quem é o verdadeiro medíocre da história? Da sua história! Acha realmente que tem alguma condição moral ou econômica de se tornar referencia de sucesso para seus filhos? Não se iluda. Olhe-se novamente no espelho e veja o fracasso em que se transformou. Entenda de uma vez por todas que, definitivamente, o Brasil não é um país sério e muito menos justo! Assim como não é sério sua política e muito menos seu conceito de justiça. É ilusório acreditar que pobre que trabalha muito alcança o sucesso. Estudo também não vai levar seu filho a lugar nenhum. Graduações é sonho de classe média, de gente pobre que sonha em ser reconhecido como doutor. Mas doutor de valor é aquele que veste paletó com colarinho branco e se utiliza da máquina pública para promover “oportunidades” para pobres.

Seu filho deve investir nas redes sociais, nas relações de interesse que conseguir estabelecer com seus pares. Se quiser investir na educação de seu filho, matricule-o em uma escola de classe alta, em uma daquelas que espalha outdoors pela cidade pregando que “Educação Vem de Berço”. Faça com que ele circule pelos mesmos espaços dos ricos, use as mesmas roupas de grife, fale a mesma língua e introjete os mesmo princípios frágeis de valores. Ensine que todo mundo tem seu preço e que referencia é o que pesa na hora de uma contratação ou promoção. Seu filho não precisará ser um intelectual para ser bem sucedido na vida. Bastará ser demagogo e pilantra. Ele deve ser político ao invés de professor, engenheiro, astronauta ou operário. Os melhores cargos e salários na máquina pública, seja no âmbito federal, estadual ou municipal, são ocupados por pessoas indicadas e, em sua maioria, incompetentes no que fazem. Para se da bem na vida, não é preciso ser, basta estar. Estar no poder. O poder é a mola propulsora do mundo. Por isso ensinem a seus filhos que as pessoas se dividem em apenas dois grandes grupos: aquelas que estão no poder e aquelas que querem estar no poder. E quem tem poder não sofre! Nem de consciência pesada. Até porque quem vai pra cadeia por roubar é pobre e fracassado. Político corrupto recorre ao Supremo Tribunal e consegue absolvição.

Para os desencantado com a justiça nacional, mirem-se no ditado popular: “poeta bom, é poeta morto!”.  E viva a Ditadura da Democracia Brasileira!

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

MENSALÃO: P DE PIZZA, PUTARIA, POLITICAGEM E PARTIDARISMO PICARETAS.


Pérfidos políticos partidários e proveitosos do poder! Pústulas, pusilânimes, propagadores da putaria. Proclamadores de palavras putativas, porém privadas de plausividades populares. Perspicazes porcalhões, plenos de platitudes. Pareia de putas. Pelegos plenos de pretensões particulares, prontos para pauperizar populações por promessas promíscuas. Podres perdigoteiros perdulários. Praticantes do peculato. Perebentos pestíferos, profanadores da pureza. Palhaços pacholas plenos de pachequices. Patéticos, patifes, pretensos políticos, parlamentares e partidos picaretas. Pervertidos, pestes perniciosas, perigosos e prefeitos [in]perfeitos. Pilantras, pinguços, piratas e pistoleiros. Porcos pornográficos, piócitos e preguiçosos. Pulgas, puxa-sacos e putos! Parentada de paneleiros, patotas paridas pelo profano para promover pandemônios. Politiqueiros panfletários, patronos de peculatos. Pavorosos parasitas do poder perpetuo.

Partidos, políticos, polícias, parlamentares. Pandegaristas da política. Perpétuos praticantes do provento. Piogênicos do patrimônio público, em prol da pátria e do povo pereçam em purgatórios perpétuos, presos por paredes de pavilhões pustulados. Profecia? Providencia popular!

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

NATAN DONADON E OS DANADÕES NA POLÍTICA NACIONAL


 
DEFINITIVAMENTE OS POLÍTICOS NÃO ME REPRESENTAM!

Já temos nosso primeiro presidiário de luxo, para quem continuaremos pagando salários e regalias! É o Deputado Natan Donadon, condenado pelo Supremo Tribunal Federal – STF a 13 anos e 04 meses de prisão por peculato e formação de quadrilha. Destaca-se que Peculato se configura como crime cometido por servidor público contra a União. Neste caso, o magistral deputado foi acusado e condenado em 2011 por integrar uma quadrilha que desviou a singela bagatela de R$ 8 milhões e 400 mil da Assembleia Legislativa de Rondônia, estado que o elegeu pela terceira vez como representante do povo. Depois de fugir e se esconder da polícia federal, o então gatuno resolveu se entregar, exigindo julgamento justo. Ontem teve aprovada pela Câmara dos Deputados a manutenção de seu mandato como parlamentar. Isso significa que manterá seus direitos garantidos enquanto cumpre pena no Complexo Penitenciário da Papuda. Em outras palavras, nosso mais ilustre larápio continuará tendo direito ao salário, verba de gabinete, apartamento funcional, plano de saúde e demais regalias, que logicamente são pagos com o dinheiro de nossos impostos.

A medida inusitada e inédita, que contraria a determinação do Supremo Tribunal Federal, símbolo máximo da justiça brasileira, evidencia de vez o caráter duvidoso, a ineficiência, o corporativismo e a total ausência de ética e compromisso político de nossos ilustres parlamentares. Definitivamente a Câmara dos Deputados deu sinais mais que claros de que não representa os desejos, e muito menos as vontades do povo, mas ao contrário legislam em causa própria. Esta é sem dúvida alguma a maior e a mais escrachada e nociva demonstração do tamanho da falta de vergonha na cara por parte de nossos representantes. Revela a postura corrupta dos nossos políticos, que eleitos pelo voto direto se tornam usurpadores com status de homens de bem.  Dos 470 deputados que registraram presença ontem na Câmara, apenas 459 estiveram no plenário. Destes, 11 simplesmente não compareceram a votação, dos quais 10 representam o Partido dos Trabalhadores – PT. Do total de deputados presentes, somente 405 votaram o pedido de cassação de Natan Donadon, porém 04 apelaram para a obstrução do voto, fazendo com que os mesmos não fossem computados, entre os quais o deputado pernambucano Pedro Eugênio, do PT, como noticiaram os jornais. Fora isso, “100 deputados se negaram categoricamente a cassar qualquer deputado e criticam o STF por ter mandado para prisão um de seus pares” (Diário de Pernambuco, 30.08.2013).

É a imoralidade consolidada como cultura. A artimanha logicamente tem como propósito abrir espaço para a manutenção dos cargos dos envolvidos no esquema do mensalão. Prolongaremos assim a lista de ladroes privilegiados. Como disse o Arnaldo Jabor, criaremos uma nova categoria de presidiários bem mais caros: os deputados condenados (Jornal da Globo, 29.08.2013). O que o caso Donadon revela nacionalmente é a prática politiqueira que assola o país, onde quadrilha defende quadrilha em nome da garantia da manutenção do poder. É o evidenciar da pratica mais que corriqueira dos corruptos de colarinho e gravata que se elevam acima da lei e que estão peidando para o que o povo acha ou pensa sobre suas ações e posturas. Enquanto o Governo de Pernambuco, arbitrariamente, exige que os manifestantes dos protestos de rua retirem as máscaras e revelem suas identidades, nossos parlamentares se escondem atrás de recursos, subterfúgios e objetivos escusos que depõem contra a democracia. A transparência solicitada nas manifestações populares não é a mesma exigida no exercício dos cargos públicos. Logo, quais as verdadeiras máscaras que devem cair? Um deputado que impugna seu voto não age de forma tão sorrateira e duvidosa quanto quem se esconde atrás de uma máscara para atacar o patrimônio público? Votar a favor do mandato, e consequentemente da manutenção dos direitos, de um criminoso que lesou os cofres públicos não é também um ato de vandalismo? Manter corruptos no poder não é atacar o patrimônio público? Então do que estamos realmente falando?

Fato é que a desmoralização tomou conta de nossa política. No cenário de escândalos a que aparentemente nos acostumamos Donadon não parece mais corrupto que os demais parlamentares que riram da cara do povo ontem. Isso tudo é lamentável. Uma verdadeira lástima. Até porque confirma o que popularmente já se sabe: lugar de criminoso não é só na cadeia, mas também na política. Definitivamente escancaramos aos quatro cantos a depravação e a desmoralização como pratica da política nacional. Apesar das pressões populares a favor da transparência e da legalidade os políticos se mostram íntegros a seus princípios e caráter duvidosos, o que revela que a situação é pior do que se imagina. Revelam-se como parasitas sanguinários, capazes de se alimentar da miséria humana. Assim a prática da corrupção não se revela simplesmente como falha de conduta, mas principalmente como desvio moral da personalidade. Para nós pobres humanos que ainda mantemos um pouco de sanidade é extremamente difícil, e por que não dizer impossível, conceber que um bandido exerça um cargo público. Manter um criminoso no cargo de deputado é consolidar a marginalidade como prática eficaz e de sucesso. Quem disse que o crime não compensa? Eis a prova! Talvez os políticos estejam loucos. Talvez estejamos todos sofrendo de um surto coletivo e degenerativo que corrói paulatinamente nossos mais profundos princípios de civilidade e valores éticos e de cidadania. Quem sabe? Só sei que na conjuntura atual, posso afirma de forma plenamente consciente que nenhum político me representa! EXIJO MUDANÇAS URGENTES! EU VOTO NULO!

sábado, 24 de agosto de 2013

GOVERNO PROIBE USO DE MÁSCARAS NAS MANIFESTAÇÕES DE RUA

O QUE REALMENTE SE ESCONDE POR TRÁS DAS MÁSCARAS?

Na terra do carnaval não se nega a força e o poder das máscaras, seja pelo fascínio ou medo que provocam. O adereço popular, farta e livremente utilizados pelos foliões, caracteriza e particulariza uma das maiores festas do planeta dando-lhe colorido e beleza especiais. A multiplicidade de feições e expressões, bem como a diversidade de tamanhos, formatos e estilos revelam uma característica nossa, a disponibilidade para a felicidade.  Além disso, as máscaras possibilitam a divulgação e consolidação de nossa identidade enquanto brincantes. Neste sentido, assumem a função de símbolos da irreverência e da criatividade de um povo, funcionando muitas vezes como instrumento de crítica, e logicamente, instrumento de afirmação ideológica.

Esta semana as máscaras tornaram-se alvo da repressão por parte de um governo que se diz democrático. A proibição do uso de máscaras durante manifestações ou atos públicos contraria uma lógica de nossa cultura. Assim, a determinação impetrada pelo governo de Pernambuco reacende a necessidade de novas reflexões sobre o direito de livre expressão e liberdade, garantidas na Constituição Federal. O argumento utilizado para fundamentar o dispositivo legal é a omissão da identidade do indivíduo que se utiliza da máscara para agir de forma segura e camuflada contra o patrimônio público e a segurança da sociedade, o que dificulta sua identificação e, consequentemente sua penalização. Mas a omissão da identidade nas ações contra o povo e a sociedade não é característica única dos vândalos infiltrados nas manifestações populares. Os políticos se utilizam do mesmo recurso para aprovar leis e projetos que não beneficiam a coletividade através de votações secretas e fechadas que se dão tanto nas câmaras como no senado. Dois pesos e duas medidas não são garantias de igualdade de direitos, e muito menos símbolo ou sinônimo de democracia.

Se o ato de retirar a máscara evidencia a identidade individual, o ato de colocar as máscaras reafirma e fortalece a identidade coletiva. E neste sentido, para ação dos sistemas opressores, que não se utilizam do diálogo como forma de negociação e resolução de conflitos, a proibição do uso da máscara se apresenta como medida eficaz e instrumento imediato de controle e opressão. É preciso entender que o vandalismo é também resultado da violência praticada pela polícia, ainda que esta se apresente de maneira camuflada ou mascarada de boas intenções. Até por que como diz a voz do povo, de boas intensões até o inferno está cheio. Logo, torna-se evidente que não se combate violência com mais violência. A repressão da vontade popular sempre foi a principal arma da ditadura, e esta o povo derrubou há exatamente 29 anos. O governo precisa está a favor do povo, das vontades e anseios da população, pois que esta é, e sempre será, a principal responsável por sua existência e manutenção. É preciso salientar que não existe governo sem povo, mas nem sempre o contrário se torna verdadeiro. E povo sem governo amedronta, assusta, acua e ameaça a todos. Talvez essa seja a grande questão e ponto para as reflexões necessárias. Os tempos são outros e é preciso que os instrumentos de negociação também se tornem outros para não se repetir os mesmos erros do passado.

Penso que a discussão estende a reflexão para além do ato de usar máscaras. A grande questão está na conjugação prática do verbo. Mascarar é sinônimo de camuflar, dissimular, disfarçar ou omitir. A aplicação do verbo se estabelece no ato ou ação de esconder intenções, dados ou fatos, coisas comuns aos governos ditatoriais. Se nosso regime politico fosse de fato, e verdadeiramente, democrático, os que protestam contra o sistema não precisariam se utilizar do artifício das máscaras. Sair-se-ia a rua de cara limpa! A preservação da identidade neste caso se estabelece como estratégia de preservação e defesa da própria integridade, individual e também coletiva. Torna-se uma estratégia de luta contra o poder opressor. E neste caso se legitima e se fundamenta. Omitir a identidade é diferente de utilizar máscaras, pois que nestes movimentos populares atuais tal adereço tem a mesma feição. A máscara em questão, utilizada principalmente pelos “Black Bloc”, é única, e por isso personifica e generaliza a ideologia grupal. Claro que as generalizações são sempre perigosas. Nem todo mascarado é um vândalo. Assim como o vandalismo não respalda todos os movimentos populares que hoje atormentam os políticos. O que se pode generalizar neste caso é a indignação popular que se estabelece diante dos escândalos de corrupção, desmandos, chantagens, negociatas e ineficiência da justiça. O desgoverno popular que invade as ruas das principais cidades do país tem raízes emocionais. E o risco se estabelece exatamente nesse contexto.  Quando a emoção vence a racionalização as consequências podem ser incalculáveis e as ações imprevisíveis.

Se o objetivo é a transparência nas relações entre governo e sociedade, é preciso que o primeiro inicie o dever de casa, retirando suas próprias máscaras. Toda massa tem, e sempre terá o poder da mudança, fazendo ou não uso das máscaras. Nossa história mostra que em um movimento anterior a identidade era marcada basicamente por duas faixas de tinta no rosto. Os “Cara Pintadas” também eram jovens e invadiram as ruas revelando a identidade coletiva, provocando mudanças. A diferença do movimento atual consiste na ausência de partidos e políticos oportunistas, que mascarados se aproveitavam para se autopromover. Se esses tipos de estratégias se esgotaram, tornando-se inadmissíveis e intoleráveis nas reivindicações atuais, só revela a evolução da consciência política do povo. E isso, sim, traz a mudanças! Se os representantes atuais não atendem as expectativas do povo, precisam ser trocados e substituídos. Essa é a lógica que governa as relações sociais. A grande surpresa dos políticos é a constatação inevitável da ameaça à manutenção de seus falsos poderes, aos quais tentam se agarrar com unhas e dentes, até porque não sabem fazer outra coisa além de politicagem.

Proibir a uso de máscaras nas manifestações é abrir espaço para o fortalecimento do movimento, que logo encontrará outro referencial simbólico. Toda ação gera reação. Toda repressão gera ainda mais revolta, tornando-se um desafio a ser vencido. Assim, muitas vezes mudam-se as armas, mas não o argumento ou ideologia das batalhas. O certo é que a mudança sempre vem. Às vezes é só uma questão de tempo. E neste caso, a questão de tempo é uma urgência e prioridade dos políticos, e não necessariamente do povo que está nas ruas. A grande arma nessa batalha não é a máscara, mas as urnas. E estas tem data marcada. Assim, nas eleições de 2014, talvez as verdadeiras máscaras caiam de vez para que o povo volte às ruas com a cara limpa. VAMOS ESPERAR PARA VER?

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

O COMPLEXO HOMEM-PICANHA


 
A VIRGINDADE MASCULINA A VENDA

Quanto vale um homem? Não no sentido literal, em relação direta ao valor moral, muito menos analítico sobre caráter ou personalidade de um indivíduo. Neste momento não nos importa refletir sobre condutas, comportamentos, história de vida ou ideologias políticas. A questão é: quanto vale um homem, ou pelo menos a masculinidade que este simboliza? O desafio foi lançado esta semana através de um paulistano, mais conhecido como “Homem-Picanha”, que abriu o leilão para sua virgindade. A notícia rapidamente se espalhou pelos principais jornais e invadiu a internet, provocando reações diversas do público, que se dividiu entre a surpresa, credibilidade, espanto ou admiração.

Na pagina de um jornal barato, e não menos sensacionalista encontrei a reportagem: “Homem Vende a Virgindade”. Segundo a notícia, o rapaz de 33 anos colocou no final do mês de maio, um vídeo na internet que já contabilizou 102 mil acessos. O que ele propõe não é a venda de sua primeira experiência sexual, como fez a jovem Catarina no ano passado. Neste caso especifico, leiloa-se o desvirginamento anal de um homem. Parece então, que o que está em jogo não é o corpo-carne propriamente, mas o corpo-simbólico. A inquietação do público não parece respaldada pela comercialização da pratica anal masculina, mas talvez justificada por sua representação. O foco da questão não gira em torno do ânus, pois que este se torna apenas um representativo da masculinidade ofertada. Talvez ainda, o espanto geral se justifique apenas pela visibilidade dada em torno de uma prática extremamente comum dentro de um mercado que a sociedade prefere manter na invisibilidade.

Não é mais novidade o fato do mercado do sexo movimentar anualmente, ao redor do mundo, cifras equivalentes a 32 milhões de dólares. A novidade talvez consista no descortinar da dinâmica e/ou segmentos desse mercado, caracterizado não apenas pela prostituição, mas também pela exploração sexual, pelo tráfico de seres humanos para fins de prostituição, turismo sexual e pornografia. A publicitação de um mercado sexual parece assim provocar reflexões mais profundas, relativas ao que é e ao que não é possível, ou passível de comercialização. Vender a força de trabalho em troca de ganho monetário é a mola mestra do sistema capitalista. Comercializar as práticas sexuais é tão antigo quanto a história da humanidade. O sexo comercial entre homens, em si, não provoca mais tanto estranhamento, porém traz implicações para o campo das subjetividades. Afinal de contas, o que é um homem? Assim, o Homem-Picanha, mesmo sem pretensões conscientes, reabre as discussões sobre a importância da manutenção de uma norma hegemônica, ainda que fossilizada, não mais suficiente, para se pensar o ser macho. Será que a pretensa curiosidade exposta pelo rapaz acerca de uma penetração que se daria em um ambiente selvagem reacende no imaginário masculino o medo do desejo fálico? Sofreriam todos os homens do complexo do  homem-picanha?

Para o senso comum, o rapaz em questão ao se colocar na posição de sujeito penetrado (simbolicamente agente passivo durante a interação sexual com outro homem) abdica do lugar de macho. Se a oferta o mantivesse na posição de penetrador (simbolicamente ativo durante o ato), mesmo contrariando a heteronormatividade, talvez causasse menos incômodo. Tudo isso nos leva de volta às antigas e exaustivas discussões sobre as relações e papeis de gênero que definem e respaldam os lugares do masculino e do feminino perante a sociedade. A quebra dos modelos e padrões sociais, que nada mais são do que construções sociais, introjetados e assimilados pela massa humana através dos séculos causa desconforto por levar-nos a novas reflexões sobre uma temática aparentemente tão complexa e proibida. Pensar, ou melhor, repensar a sexualidade ainda nos parece um desafio imenso, e até impossível para a maioria. Mas, partindo do pressuposto de que as sexualidades são construções, nada nos impede dos atos de desconstrução e reconstrução. Esses exercícios viabilizam apenas novas possibilidades. E estas tenderão sempre a acomodação com o passar dos tempos, tornando-se socialmente tão normais ou naturais quanto as regras e modelos vigentes.

O Homem-Picanha em nada se difere dos tantos outros Homens-Carnes que povoam as ruas, os becos, saunas, casas de massagem, boates ou sites da internet, diária e cotidianamente, comercializando fantasias sexuais. O que se diferencia é o alcance da estratégia utilizada na comercialização. A internet possibilita a ampliação e propagação imediata da informação, o que viabiliza a interação e a participação popular. Indireta ou indiretamente as pessoas fazem seus lances, nem sempre monetários, mas sempre carregados de valores. A internet transforma-se então na grande tribuna, onde todos especulam, argumentam e se posicionam diante da temática, oferecendo material concreto para análises mais amplas sobre a sexualidade brasileira. E nisso ela parece cumprir com seu papel, assim como o Homem-Picanha serve ao objetivo da reflexão sobre a fluidez e flexibilidade das sexualidades masculinas.

Independentemente se a carne é “Fryboi” ou não, como questiona um internauta, o importante é entender que o corpo sempre será a fonte da força de trabalho humano, e como tal, instrumento passível de troca e venda no mercado capitalista. As marcas ou rótulos servem apenas para respaldar as classificações e categorizações sociais, que sempre respaldam estigmatizações e preconceitos. O fundamental não é pensar sobre o que se vende ou o que se compra, mas sobre quais e em que condições as comercializações se estabelecem. Quando se tem autonomia e poder de decisão sobre o uso e usufruto do próprio corpo, como no caso em questão, não se comete erros ou pecados. A ilegalidade e transgressão se estabelecem através da exploração da força de trabalho e na subjugação involuntária e não autorizada do outro, independentemente das partes dos corpos envolvidas.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013



O ASSASSINATO DO SENSO COMUM NA CLASSE MÉDIA BURGUESA.

O senso comum, cotidianamente nos diz que a criança é símbolo máximo de pureza e inocência. A ciência a classifica como sujeito em desenvolvimento físico, emocional e afetivo. A partir disso, a legislação define os parâmetros do cuidado, da proteção e dos direitos, absorvidos e introjetados de formas efetivas. Estabelecem-se os padrões e as generalizações, quase universais, afim de que a sociedade possa se sentir mais confortável e tranquila diante de um ser tão complexo, capaz de desafiar os mais fossilizados paradigmas que regem o comportamento humano. De repente algo parece fugir do controle e a sociedade se mostra perplexa diante de uma constatação inevitável: não conhecemos, e muito menos dominamos o funcionamento exato das crianças. O desconforto se torna geral por nos obrigar a revisitar conceitos, buscando por respostas que possam respaldar a construção de novos saberes que expliquem e justifiquem nossas imprecisões.

O caso do pré-adolescente, Marcelo Pesseghini, 13 anos recém-completos, que durante a calada da noite executa com tiros precisos e sequenciais, o pai, a mãe, a avó e uma tia, serve de disparo para colocar a sociedade em estado de histeria coletiva. A situação torna-se mais complexa ao se saber que após os assassinatos o garoto dirige o carro da família até próximo à escola onde estudava, permanece em seu interior até o amanhecer, e então se dirige para a sala e assiste às aulas normalmente. Ao final do turno escolar, volta de carona no carro do pai do melhor amigo e entra em casa como se nada tivesse acontecido. Seu corpo é encontrado caído ao lado do da mãe, com um tiro na cabeça, denotando possível suicídio. O macabro quebra cabeças assusta e instiga tanto a sabedoria popular quanto a científica. O que teria se passado durante o período da primeira execução até o suposto suicídio do garoto torna-se a chave para desvendar um mistério que não deixou testemunhas aparentes. Apressadamente sociedade e ciência se agitam a lançar hipóteses. Teria sido a família vitima de uma chacina? Mas, quais os reais motivos? Teria sido o adolescente o verdadeiro assassino? Teria ele se arrependido e posteriormente atirado contra a própria cabeça? E quais teriam sido os seus reais motivos? A motivação para os crimes é a resposta que falta e que deixa a sociedade em suspense. É a peça que pode completar o jogo, que movimenta a trama, que desperta a curiosidade ou o instinto investigativo de cada um. Duas hipóteses, duas alternativas para o sossego ou desassossego da sociedade.

Se a chacina for comprovada a sociedade volta a respirar de forma mais tranquila. Afinal, seria apenas mais um ato de violência, tão comum e corriqueiro, com os quais já nos acostumamos. A chacina sepultaria a necessidade de se repensar os modelos de cuidados com as crianças vigentes. Seria a prova de que ainda somos todos sãos. Estaríamos a “salvos”. Mas, pelo contrário, a comprovação de que um pré-adolescente de classe média e fruto de uma família estruturada (como costumeiramente gosta a sociedade de classificar a família nuclear burguesa) possa cometer um ato de tamanha insanidade, nos exige a responsabilidade de uma suposta coautoria. Afinal de contas, assassinar todos os membros de uma família feliz, e consequentemente, aparentemente equilibrada, não é reconhecido entre nós como coisa normal. E nossas crianças são normais, porque assim as fizemos. Porque assim acreditamos durante séculos.

Então restaria o caminho da patologia. E nada melhor ao senso comum do que uma mente psicopata para justificar, e quem sabe, explicar satisfatoriamente, o planejamento aparentemente meticuloso e calculado de um crime com proporções cinematográficas. Com certeza, acalentaria e abrandaria a aflição social se fosse ficção, e assim, bateria o recorde de bilheteria. Mas como é real a coisa muda de figura. Uma criança não pode ser classificada como psicopata, uma vez que sua personalidade ainda não está totalmente estruturada. Só lembrando, crianças e adolescentes são sujeitos em desenvolvimento. Também não seria característica de um psicopata o arrependimento e correlativamente o suicídio, alertam os especialistas. Poderia então um pré-adolescente agir de forma desregulada simplesmente sobre a influência de jogos eletrônicos? Poderia um pré-adolescente de classe média, de repente, em um processo catártico ou se simples perversão assumir a personalidade doentia do personagem virtual (ou será fictício?) e agir de forma descontrolada, exterminando inimigos em potenciais ou imaginários?  Então, pobreza e violência não são sinônimas, como nos acostumamos a acreditar?

Se mudarmos o cenário do crime para uma área de baixa renda econômica, ou seja, para as antigas favelas (que devido ao movimento do politicamente correto resolvemos renomear como comunidades populares na tentativa de camuflar as desigualdades sociais) o desconforto coletivo seria o mesmo? Provavelmente o impacto e a repercussão na mídia não seriam. Muito menos a comoção popular. Então o que realmente nos incomoda: o crime em si, ou a proximidade com nossa cultura de médio burguês, que se respalda errônea e supostamente na diferenciação e supremacia da racionalidade? Ricos e pobres pensam e agem de forma diferenciada, sem dúvida. Mas, em que, e a partir de que contexto? Existiria uma natureza para o crime; ou seja, existiria uma predisposição genética para o crime, ou qualquer ser humano poderá agir e/ou reagir diante e/ou mediante aos contextos? E estes, seriam biológicos, emocionais, políticos, econômicos ou sociais? Ou um conjunto ou mescla de tudo?

No caso Persseghini existiria alguma semelhança ou identificação entre o herói do jogo eletrônico (que elimina supostos inimigos com tiros precisos em suas cabeças), e seus pais policiais, também heróis sociais, que atiram e matam em nome da ordem e do bem comum? Quais seriam as consequências para a formação da personalidade e do caráter de uma criança, o contato direto com a violência, e consequentemente com a banalização da morte, seja no campo virtual ou real? Onde, quando e como, esse dois campos e/ou espaços de interação social podem se misturar? Como uma criança estimulada desde cedo a manipular armas de fogo, a dirigir automóveis, e a agir como adulto, constrói os conceitos e significados entre o certo e errado, o bom e o mau, entre o herói e o vilão, entre o real e a fantasia, fundamentais para o estabelecimento dos limites entre o possível e o impossível, entre o aceitável e o incoerente?

Com esse tipo de tragédia já não tão incomum as sociedades modernas, não morrem apenas pai, mãe, avó, tia e filho, mas morre um pouco a segurança, comodidade e a confiabilidade de conceitos ainda inquestionáveis como família, sociedade e inocência. A distância entre a normalidade e a anormalidade é posta em questionamento, assim também como a coerência de seus parâmetros de definições. No rastro vem a obrigação de se repensar, ou pelo menos de se refletir sobre os papeis de pai, mãe, educadores, assim como os modelos de educação, sociabilidade e justiça. Em ultima hipótese resta-nos o esquecimento, como já fizemos sucessivamente em situações semelhantes. O espanto é passageiro é sempre passageiro. A dor sempre cessa cicatrizando as feridas. Nós humanos temos a tendência à acomodação. Depois de certo tempo, todo fato se torna passado para que o conforto se traduza em conformação. O passado torna-se próprio dos próximos, só sendo revisitado pelo coletivo quando novamente surpreendido. Quem sabe em uma próxima situação semelhante a gente ainda consiga se emocionar por mais um tempo? Quem sabe não conseguimos voltar a refletir sobre nossas corresponsabilidades? Quem sabe não estaremos prontos para pensar em mudar a lógica do mundo?

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

AGOSTO EM RECIFE OU RECIFE A GOSTO DE QUEM?:


Projeto de Mobilidade Urbana
Buenos Aires/AR.
 
 
RECIFE: A CIDADE QUE NÃO MUDA!

Sabe-se que todo processo de mudança gera certa resistência. Sair da área de conforto nunca foi, e nunca será tarefa fácil para ninguém. Afinal de contas o costume nos leva a acomodação, o que nos deixa confortáveis. Assim, fazemos sempre as mesmas coisas, dos mesmos modos, e nos sentimos seguros. A mudança, por sua vez, nos impõe o repensar e o refazer, o que, muitas vezes, nos obriga a abandonar velhas verdades pré-concebidas. E reconstruir conceitos torna-se, na maioria das vezes, tão assustador quanto o futuro. Assim é o Recife, uma cidade temerosa que não muda. A falta de mudanças talvez seja a maior prova de alienação. Não no sentido da inconsciência, do alheamento ou da negação ao mundo que nos rodeia. Falo da alienação relativa a algo que nos foi tirado, que nos foi negado de forma proposital, objetivando a indiferença e o vazio. Falo da nossa incapacidade de refletir sobre os fatos de forma original e genuína, capacidade essa, intrínseca ao humano. E neste sentido, penso que com o tempo nos tornamos alienados da reflexão.
Projeto de Mobilidade Urbana
Av. Caxangá - Recife



Chegamos a agosto e a cidade continua a mesma! E neste ponto é preciso pensar: será que seis meses é tempo suficiente para as grandes transformações necessárias? Logicamente que não. Mas, sem sombra de dúvidas, é mais que suficiente para se vislumbrar o início de um processo que se efetiva em um contínuo. O processo de transformação é lento porque envolve várias questões, principalmente culturais. Envolve também as questões subjetivas tais como as inseguranças relativas ao porque mudar, o para que mudar, e principalmente, o como mudar. A mudança é um resultado coletivo, nunca individual, até para que não se torne tendencioso, atendendo as expectativas de um, ou de poucos. A mudança somente se torna positiva, e consequentemente bem vinda, quando beneficia a todos, ou pelos menos a maioria.
Buenos Aires - Obra concluída em 06 meses.


Em janeiro deste ano estive em Buenos Aires, capital federal da Argentina. Pude então registrar o início das obras de implantação de um corredor exclusivo para ônibus bem no coração da cidade, na Avenida 09 de Julho. As obras objetivam favorecer a mobilidade urbana, descongestionando e melhor organizando o tráfego, que nem de longe lembra a desorganização do nosso, bem como possibilitar o acesso a um transporte de qualidade, com maior agilidade e conforto aos usuários. O projeto não é inovador, muito menos revolucionário, uma vez que a maioria dos centros urbanos dos países classificados como desenvolvidos já partiram na frente. Nós também o estamos implantando, ou pelos menos temos a pretensão de fazê-lo.

Av. Caxangá - Recife


Penso que a grande questão está no compromisso e no respeito que temos com o que é público. Ou melhor, com a fonte financiadora, mais precisamente com os recursos financeiros, que logicamente, saem dos nossos bolsos. Também está no respeito à população, principalmente aos que saem as ruas e vão às urnas reivindicar por mudanças concretas. E olhe que concreto pode ser tudo, menos nossas expectativas e possibilidades potenciais de mudanças. Quando em julho, mês passado, retornei a cidade portenha, as obras do corredor exclusivo para ônibus já haviam sido concluídas, e antes de retornar da viagem já havia sido inaugurada. Foram exatamente seis meses! Agora, alguém lembra quando foram iniciadas as obras da Avenida Caxangá? Alguém tem previsão do término? Será que já faz mais de seis meses? E os recursos financeiros aplicados são os mesmos, ou teremos que fazer maiores investimentos, como de praxe? Será que além da cultura e do clima, a noção de tempo também é diferente para os argentinos e recifenses? O grau de alienação é o mesmo? Quando serão iniciadas as obras na Avenida Agamenon Magalhães?
Av. Caxangá.

Estamos em agosto e a cidade não muda. Recife continua intocada. A Avenida Conde da Boa Vista se transformou em um grande mercado público. E saliento que não tenho nada contra o mercado livre, pois este é parte de nossas origens mascates. Não estou falando em abolir ou extinguir o comércio nas ruas, mas em transformá-lo em fonte de renda e orgulho. Este tipo de comércio é tradição, agora a desorganização, a falta de infraestrutura e higiene adequada á questão de gestão pública. E disto, sem dúvida alguma, estamos alienados. Apesar do “pouco tempo” que representam seis meses alguém consegue perceber mudanças da gestão atual para a gestão anterior? Pois se elas existem, ou existiram, penso que passam ou passaram bem longe do centro urbano. Talvez a grande questão seja pensar se Recife é uma cidade única, ou um conjunto de cidadelas.

Então, para não incorrer em riscos de equívocos, ou ainda em interpretações precipitadas, ou ainda infundadas e injustas, digo que na cidadela que compõe o micro espaço relativo ao centro do Recife, tudo continua igual. Alguém consegue andar pelas calçadas livres de quedas, escorregões, tropeções, esbarrões, agitação, solavancos, irritação e estresse? Isso sem falar da sujeita acumulada, do mau cheiro, da desorganização e da quantidade de água acumulada. E as instalações elétricas repletas de gambiarras, ganchos, gatos, jacarés, nós e noprós, que envergonham e escondem nossa arquitetura? E a quantidade de crianças e adolescentes, jovens, adultos e idosos que permanecem hospedados indignamente em nossas marquises, convivendo com cachorros, gatos e ratos? Alguma mudança? Os acidentes no transito diminuíram? Na semana passada uma viatura da polícia avançou o sinal e atropelou uma motoqueira bem embaixo de minha janela. Aliás, acidentes com motos já se tornaram programa obrigatório para quem tem janela voltada para a avenida. Estou até pensando em cancelar as assinaturas dos jornais. Para que ler, se posso ver ao vivo e em tempo real as tragédias cotidianas? Na minha rua a micro-cracolândia, com grande potencial de expansão, continua instalada. Crianças e adolescentes continuam sendo prostituídas em cada esquina. Ontem ocorreu um novo assalto, gerando corre-corre pelas ruas. Eu ainda continuo com medo de andar nas ruas durante as noites e madrugadas. Você não? Eu continuo pagando altos impostos em nome da segurança e da qualidade de vida prometida! E você?

Chegamos a “agosto” e o Recife não mudou! Só nos resta saber se foi “a gosto” de Deus ou dos homens. Talvez seja hora de revisar o velho ditado popular onde se evidencia que: quem diz fazer mais e melhor, normalmente não faz. Até porque quem faz de verdade, efetiva a ação sem alardear. Por isso acredito que alardear saber fazer o que nunca se fez, torna-se apenas retórica de politiqueiro. E desses, sinceramente, eu já estou cheio! E você?