quarta-feira, 20 de junho de 2012

VELHAS E MAL TRATADAS CALÇADAS DO RECIFE





SE ESSA RUA...
SE ESSA RUA FOSSE MINHA...

Segundo o dicionário da língua portuguesa calçada significa caminho ou rua revestida de pedras. Configura-se ainda como caminho pavimentado para pedestres, quase sempre mais alto que as ruas, destinado aos veículos, e, geralmente limitado pelo meio-fio. Também se entende como calçada as faixas pavimentadas que circundam os edifícios, que instaladas junto às paredes evitam a penetração de umidade nos alicerces ou no subsolo. Teorias a parte, calçadas no Recife tornou-se sonho de consumo. Estamos a séculos da civilização considerada moderna. Quem dera um dia poder andar pelas ruas daqui como se anda pelas ruas européias, inclusive de pequenas cidades e províncias, ou como nas cidades do sul e sudeste brasileiro, como São Paulo, Rio de Janeiro ou Florianópolis. Não que tais cidades não tenham problemas, mas estes parecem mínimos quando comparadas ao da capital pernambucana. Se nossas ruas já não se prestam a circulação segura dos pedestres, o que se pode dizer de sua servidão enquanto espaços de dormitório e estadia, como se vê, adotada por centenas de famílias excluídas e invisíveis as políticas públicas de proteção a vida e a dignidade humana? Sem dúvida nenhuma, Recife foi transformada em uma cidade porcalhada, pois que se tornou sinônimo de imundície, sujidade e porqueira.

AV. CONDE DA BOA VISTA
Finalmente a temática entro em debate, envolvendo os poderes públicos, sociedade civil e instituições de ensino e pesquisas. Reportagem do Jornal Folha de Pernambuco, do dia 20 de junho de 2012, chama a atenção para um dos principais problemas do Recife – as calçadas desestruturadas e sem manutenção. Segundo informações do IBGE, a cidade possuímos apenas 4% de calçadas dotadas de rampas, possibilitando acessibilidade. Tal fato nos torna a quarta pior capital do Brasil, dentre outras doze pesquisadas recentemente. Andar por tais vias públicas é realmente um desafio exaustivo, quase uma peregrinação. São milhares de barracas, carroças, fiteiros e bancas de frutas e verduras que se misturam aos tablados de ambulantes, que comercializam desde pequenos objetos sem grande valor até CDs e DVDs piratas. Nas ruas do Recife se encontra de tudo, menos espaço para circulação de pedestres. Com a chegada do inverno a situação tende a piorar devido aos muitos buracos e falta de limpeza. Verdadeiras crateras se transformam em riscos perenes, que se arrastam por anos a fio sem as providencias necessárias. Não é de hoje que o problema tem chamado a atenção dos habitantes, e principalmente dos órgãos públicos, responsáveis diretos pela aplicação eficiente de nossos impostos. Contudo, a ineficiência e burocracia da máquina pública só têm contribuído para transformar o centro urbano em um verdadeiro caos.

RUA DO PROGRESSO
De acordo com a Lei Municipal nº 12.286, desde o ano de 1997, a manutenção e conservação das calçadas tornou-se responsabilidade dos proprietários dos imóveis, o que a meu ver parece impróprio e descabido. Não que os cidadãos e comerciantes não tenham sua parcela de responsabilidade, mas entendo que calçada é espaço publico, assim como as ruas, e por isso suas conservações e manutenções cabem a gestão e não aos usuários. Um dos maiores problemas de nossas vias relaciona-se ao acumulo de lixo. As calçadas, assim como as ruas, são tomadas por toneladas de detritos e dejetos que não recebem o tratamento adequado. Em qualquer esquina, qualquer lugar encontra-se restos de comida, cascas de frutas, sacos de lixo, papéis, papelões e uma infinidade de coisas em estado de decomposição. As ruas tornaram-se infectas e mal cheirosas revelando a ausência e descaso dos órgãos competentes. Em alguns trechos das principais ruas do centro o piso parece um campo lunar. Placas de concreto se quebram e se elevam formando verdadeiras barreiras que precisam ser vencidas. Em outras ruas torna-se impossível a circulação, forçando o pedestre a dividir as estradas com os veículos, expondo-se a riscos de acidentes.

AV. MANOEL BORBA
Ainda de acordo com a mesma Lei Municipal, em seu artigo 17, estabelece-se que as calçadas devem possuir uma faixa contínua com, no mínimo, um metro é meio de cumprimento. Quem sabe assim a população em situação de rua poderia dormir de forma mais confortável, sem precisar se contorcer e espremer em pequenas fendas de pisos irregulares? Quem sabe assim, cadeirantes e pessoas idosas poderiam exercitar o direito universal, e constitucional, de ir e vir? Mas o que se vê, ao contrário, é uma desorganização generalizada e caótica. Não se anda pelas calçadas do Recife sem no mínimo se torcer os pés. Isso fora os tropeções, topadas e quedas. Nessa confusão toda não é só o tráfego que fica congestionado. As vias de pedestres também tem se transformado em motivos de stress constante. Não sei onde se perde mais tempo nos horários de picos, enfrentando o transito desordenado, ou as calçadas esburacadas e desordenada pelo comercio informal. Nos engarrafamentos humanos precisa-se ainda ter cuidado para ser machucado ou pisotear animais desamparados e/ou crianças alienadas sob efeito dos entorpecentes.

RUA DAS NINFAS
É uma lástima perceber no quanto nossas ruas foram transformadas em cenários de degradação e descaso. De resto, é esperar que as próximas chuvas consigam, ao menos, lavar metade da sujeira acumulada nestes últimos quatro anos.

“Se essa rua, se essa rua fosse minha... Eu mandava, eu mandava ladrilhar...”





Fonte: Jornal Folha de Pernambuco, Grande Recife, 20de junho de 2012.

AV. CONDE DA BOA VISTA

terça-feira, 19 de junho de 2012

AS ROTINAS E BALADAS DO RECIFE

FESTA DA ODÁRA NO CATAMARÃ


CARA E BOCAS, FLASHS E FOTOS

Recife apesar de ser metrópole, se comporta e se apresenta muitas vezes como pequena província. Principalmente quando o assunto é balada noturna. Para quem é boêmio e gosta da noite como eu, as opções tornam-se restritas quando o brega não se mostra como atração. Pode-se dizer que vivemos em uma cidade cíclica. Se fugir do carnaval é quase impossível, desconsiderar o São João também não é tarefa nada fácil. Fora destes ciclos festivos, que inclui o natal para fechar o calendário anual, a monotonia tende a tomar conta da capitá. Com o fechamento da antiga Casa de Bamba, localizada no bairro da Torre, não tem sobrado muitos espaços para se curtir boa música. Contudo, nos últimos meses uma onda de festas que podemos chamar de alternativas tem possibilitado bons momentos e diversão garantida. Sempre aos sábados, acontecem em espaços diversos, dentro e fora do Recife. São quatro festas, uma por semana, todos os meses. Cada uma com público e estilos diferentes, pelo menos na concepção. É que quem é notívago sabe que o público cativo, na verdade nunca se recicla e tudo termina parecendo um grande clube de velhos sócios. Mas, neste caso, a variedade de opções contribui para certa renovação de rostos, o que parece empregar um ar de novidade cotidiana. Assim, quem deseja ou busca sair da rotina não deve perder as edições da Putz, da Maledita, do Brega Naite, e principalmente, da Odara.

A última versão da Putz aconteceu no Bar do Grego, localizado em um antigo prédio rosado onde funciona um “puteiro”, localizado no Cais da Alfândega, Recife Antigo. Como sempre um grupo de jovens se aglomera na frente do espaço, onde aproveitam para desfilar as roupas de marcas [o que é diferente de grife] e fazer caras e bocas. O estilo poderia ser redefinido como fashion-repaginado, onde no melhor estilo, nada parece fazer sentido. Acho mesmo que a “onda” é não combinar nada com nada, e assim chamar a atenção. O exagero torna-se Cult e referencia. Na verdade penso que as pessoas não se arrumam para ir à festa, mas ao contrário, se fantasiam, e assim, tentam empregar e expressar um tom de modernidade no melhor modelo “sou cabeça”. Tanto quanto nas boates o clima sugere artificialidade. Logicamente as câmeras digitais não param de pipocar em flashes que registram as velhas e montadas fotos de felicidades previamente ensaiadas. Como diz um grande amigo, “não basta estar, mas é preciso alardear que se esteve”. Não é para isso que servem as redes sociais? Apesar da superfetação, no melhor sentido de excesso, a festa acontece de maneira agradável e amistosa, aberta a diversidade. Meninos e meninas parecem se misturar em orientações. Em alguns momentos torna-se quase impossível a identificação pelo sexo, e assim é melhor recorrer ao recorte de gênero para diferenciar o que parece ser feminino do que parece ser masculino. Mesmo assim, é aconselhável não apostar muito em sua capacidade de percepção, pois que as aparências tendem a enganar bastante. O som é eletrônico, e este é o principal atrativo da festa. Destaque para o regaste de velhos sucessos remixados.

A Maledita também faz referencia as boates, só que em espaço aberto. Acontece sempre no Vapor 48, localizado ao lado do Catamarã, por trás do viaduto cinco pontas, bairro de São José. O espaço é ventilado e acolhedor, além de contar com uma visão privilegiada da Baia do Pina. O público em si, não varia muito. Jovens, em sua maioria jovens gays, que dançam ao som da pick-up comandada por DJs experientes. Camisas de malhas, coladas ao corpo, para destacar silhuetas dão o tom da festa para a maioria dos presentes. A coisa parece mais arrumada e por isso mesmo revela uma massa pasteurizada no ultimo grito da moda. Por falar nisso, quando será que o xadrez vai sair de circulação? Torna-se impressionante a variação de cores em estampas repetidas. Neste caso, não sei bem se o problema é a tendência ou a liquidação. Outro dia vi um grupo de cinco rapazes que se encontravam na frente do espaço. Eles chegaram um a um, hora afetados, hora mais calmos e discretos. Os dois primeiros usavam camisas claras com estampas em xadrez em tons escuros. Ambos tinham as mangas compridas arregaçadas até a metade dos braços. O terceiro conseguiu inovar em uma camisa branca, de mangas compridas, com estampa em xadrez de tom marrom claro. O quarto, que era baixinho e louro-reflexos, vestia uma camisa azul escuro, com mangas compridas, arregaçadas, com estampa em xadrez branco e azul claro. Quando pensei que quadrilha junina estava pronta com seus pares, um quinto rapaz se aproximou apressado. Este, mais alto, vestia uma camisa vermelha, com mangas compridas, arregaçadas, estampada em xadrez azul marinho e preto. Será que o clube do bolina mudou de configuração e conseguiu finalmente se repaginar? Independente dos modismos de crediários, o melhor momento da festa acontece do lado de fora. Vale à pena contemplar a ebulição que se transforma em “fechação”, que por si só já paga o ingresso. Na mesa de som uma fotografia de Cher, cantora rainha dos gays americanos se harmoniza com jarras de água em formato de abacaxi. Jarros de flores dão um toque especial. Ninguém consegue entender se aquilo é uma desarrumação organizada ou um pejí. O importante mesmo é não perder as coreografias exaustivamente ensaiadas que ganham espaço nas musicas de Adele e Beyonce.

Na semana passada fui pela primeira vez a Brega Naite, que aconteceu no antigo Clube Atlântico de Olinda. O espaço fica ao lado das ruínas do Cine Olinda, que até hoje, apesar das verbas capitadas sucessivamente, nunca foi restaurado [segundo informam ou fofocam os moradores da cidade histórica]. Nesta o tema é o brega rasgado, com direito a show de Michele Melo, e seus convidados, Kelvin Duran e João do Morro. Vale salientar que dessa vez o xadrez era o mote, o que deu um clima especial a quadrilha junina improvisada. Como sempre digo, o brega canta e conta histórias de vida da periferia. Não precisa rima ou romantismo, assim como aos interpretes não precisa talento. O estilo realmente está em alta, tanto que independente do estilo [ou proposta] da festa, não pode faltar a “melô das empreguetes”. Nesse rastro, festa que se presa, nos dias atuais, tem que tocar Gaby Amarantes, com seu famoso “Ex-My Love”. Isso sem esquecer o “Kuduro” da novela das nove. Os clássicos de Conde e Reginaldo Rossi se misturam as novas versões esvaziadas das tantas e quantas bandas com cantores/as de vozes estridentes e figurinos cafonas. Vale a proposta e a diversão comandada de forma profissional pelo pessoal do som. Na verdade a coisa funciona como uma versão do I Love Cafuçú, e como nas outras versões, tudo é motivo para novas [velhas] fotos de facebook.

Por fim, a Odára [ou desce] mostra-se como a mais alternativa de todas as festas. Acontece sempre no ultimo sábado de cada mês, no Catamarã, ao lado do Vapor 48 [claro]. O espaço e bem maior e as instalações bem mais confortáveis. O serviço de bar é rápido e tem banheiros químicos, o que facilita a vida dos cervejeiros de carteirinha. As músicas são antigas e se transforma em uma verdadeira salada. Toca de tudo. De Rita Lee, Jorge Bem Jor a empreguetes. O público também é maior e mais variado, misturando todas as tribos e gerações. Apesar disso a livre expressão afetiva encontra espaço e os mais variados tipos de casais se formam em encontros, reencontros e desencontros. Sem sombra de dúvidas um espaço onde impera o respeito pelas diferenças. A vista é belíssima e o local ventilado. Como em todos os espaços, as classes sociais assumem e demarcam seus lugares e hierarquias. Assim, enquanto os burgueses dançam no clube, a periferia baila sobre o viaduto. Todos sob o mesmo ritmo. Como em todas as outras, as vias de acesso se tornam passarelas, com direitos a flashes e fotos. Vale a pena conferir e se divertir.


NORMANDO VIANA, EPITACIO NUNES, ROGÉRIO RIBEIRO E DANILO CARIAS
NA FESTA DA MELEDITA NO VAPOR 48

quinta-feira, 14 de junho de 2012

OLHA A CHUVA... CHOVEU! OLHA O POVO... PASSOU!


RUA JOSÉ DE ALENCAR


Dizem que sonho de pobre é morar em frente ao mar. Em Recife essa façanha torna-se corriqueira e indiscriminada. É que nós, moradores do centro, temos a particularidade das estações, e com a chegada do inverno [ou seria inferno?] podemos ver o mar bater a nossa porta, ou melhor, recepção. A cidade assume ares turísticos e se transforma em uma verdadeira Veneza. Só não fica mais romântico porque não temos as belas gôndolas italianas. Mas o que são essas em comparação as tantas carroças repletas de papelões e crianças encharcadas que circulam pelas vias principais? Com a chegada das águas ficamos sitiados. Dividimo-nos em pequenas ilhas de concretos, que parecem emergir das profundezas oceânicas rumo aos céus. Ainda temos o privilégio de curtir de nossas janelas às belas paisagens da temporada. Podemos ver, por exemplo, a enxurrada de entulhos que descem rio abaixo para se amontoar as margens e aos pés das pontes. Tem sofás, colchões velhos, pedaços de madeira, bicho morto e mais uma infinidade de objetos desconhecidos. Garrafas Pet têm as pencas. Certo dia vi um fogão boiando. Parecia um pontinho azul perdido num mar de lamas. Às vezes o rio também fica verde, repleto daquelas plantas aquáticas bonitinhas que mais parecem esponjas. Elas formam um tapete bordado por pequenas florezinhas de cor lilás. Sem dúvida nenhuma, uma cena bucólica para ser apreciada de perto.

RUA SETE DE SETEMBRO


Quem é de Recife sabe que neste período de férias não precisamos gastar dinheiro com turismo. Temos diversão gratuita. Prá que ir ao Japão se os tsunamis nos são comuns? Não tem coisa mais linda do que ver as grandes ondas invadindo as ruas, arrastando tudo e a todos que encontra pela frente. O centro da cidade vira uma verdadeira festa. É gente correndo para todos os lados, cachorros e ratos nadando tranquilamente, congestionamentos quilométricos. Dizem que o problema está na educação do povo daqui. Ou melhor, na falta de educação dos recifenses que enchem as canaletas de lixo. Eu digo que a culpa é da gestão pública, ou melhor, da falta desta. Com as chuvas a água transborda e não tendo escoamento invade as calçadas. A água dá na canela como diz o matuto. Ano passado mesmo tinha uma piscina olímpica na Av. Conde da Boa Vista. Pena que não tinha sol. Se tivesse, confesso que teria colocado um calção de banho e aproveitado a oportunidade para pescar. Afinal de contas não é todo dia que se tem um marzão daqueles diante da janela. O consolo é que todos os anos as coisas se repetem. Sempre do mesmo jeito. Por isso, nesse ano não perco. Até já providenciei uma bóia porque não sei nadar em águas profundas. Se Deus quiser, e São João ajudar, poderei curtir uma praiazinha no aconchego do meu lar. E digo que dependerá da bondade divina porque sei que a prefeitura já fez a parte dela. Tanto que já tem gente morrendo por causa dos deslizamentos de barreiras. Tem barracos caindo de morro abaixo. Milhares de famílias desabrigadas. Tudo igual, sem tirar, nem por.

RUA DO HOSPÍCIO

E não pensem que é descuido público ou falta de previsão. Não! É que a chuva de hoje não estava na programação. Afinal, o inverno só começa oficialmente no dia 20 de junho. Durante essa noite e madrugada choveu o equivalente há dez dias, e talvez por isso, coincidentemente tenham ocorrido 10 mortes. Só em Recife foram 151 chamadas de emergência e 18 desmoronamentos. Considerando que a cidade tem 67% de sua área habitável em morros, calcula-se a estimativa de 450 mil pessoas morando em áreas de riscos. É muita gente para atender num período curto de quatro anos. Alguém discorda? Administrar uma cidade como Recife não é tarefa fácil. E neste sentido, vale destacar o eficiente trabalho da CODECIR – Coordenação de Defesa Civil do Recife que exauridamente solicita a essa gente que durante o inverno abandone suas casas e procure outro imóvel mais seguro. Segundo a coordenadora do órgão, Keila Ferreira, todo ano se faz varreduras e monitoramentos dessas áreas e os moradores são orientados a deixar suas casas ao menor sinal de perigo. O problema, na verdade, é que esse povo é teimoso. O recifense chega mesmo a ser tinhoso. Com tantas possibilidades de moradias, oferecidas pela gestão pública, vai logo invadir os morros? E o que custa sair de casa durante as chuvas? Pega os meninos, arruma as malas e vai visitar um parente. Tem coisa mais simples que isso? Tudo é só uma questão de boa vontade. Sem a participação do povo fica difícil gerir problemas. É preciso entender que “A Cidade é a Gente que Faz”. Além do mais, cada um elege o “santo” que merece.

RUA SETE DE SETEMBRO

Independente disso tudo, uma coisa é certa: em situações de precisão apelar só pro João, seja santo ou não, parece não ajudar muito. É preciso compreender que mesmo estando no período das festas “joãoninas”, santo de casa nem sempre faz milagre. Até porque, estamos novamente num momento festivo. São dois grandes eventos: a festa do forró e a festança eleitoreira. Como diz o ditado popular, cada macaco no seu galho. Assim, cada João se ocupa com o que melhor lhe convier - o santo com o forro e o nada santo com os votos. Com tanta coisa mais importante e urgente em tempo de indefinição eleitoral, por exemplo, quem vai pensar em simples desmoronamentos? Melhor manter um olho no padre e outro na missa, porque na contabilidade final 10 votos a menos nem chega a comprometer muita coisa, ou quase nada. Quem é de[voto] do João sabe que isso é coisa corriqueira. Em pouco tempo se esquece e tudo volta ao normal. E se sua casa cair por causa das fortes chuvas, aproveite para conhecer o centro do Recife. A hospedagem nem sempre será de luxo, mas quebrará o galho até a próxima estiagem. Com certeza sua família não será a única. Basta olhar as ruas que já se transformaram em verdadeiras áreas de camping. Com sorte você arranja uma marquise e fixa residência. E olha que o pessoal da prefeitura nem vai lhe importunar, porque há muito nem passam por aqui.

RUA DO HOSPÍCIO

VIVA [SÃO] JOÃO! OLHA A CHUVA... CHOVEU! OLHA O POVO... PASSOU!

Fontes: NETV - Rede Globo, 14 de junho de 2012;
Jornal Hoje - Rede Globo, 14 de junho de 2012. 

sábado, 9 de junho de 2012

A POPULAÇÃO NAS RUAS DO RECIFE


A FAMÍLIA E A ACADEMIA DA CIDADE
Ninguém pode negar que o ”Recife tem encantos mil”, muito menos, que tem também mil problemas que exigem soluções urgentes. Imagens inusitadas têm transformado nossas praças públicas em espaços vivos, literalmente falando. É que hoje, esses se configuram como espaços de proteção as pessoas em situação de rua. E que ninguém duvide que  nossas praças são, em verdade, retratos vivos do descaso e despreparo social e político com que se governa a cidade. É quase impossível imaginar que uma família - formada por esposa, marido e um bebê, possa está residindo, há mais de dois meses, em uma escadaria dos equipamentos de ginástica de uma das ”academias da cidade”. E saliento que o problema não está na ocupação indevida, mas na impropriedade da situação. Juro que se o fato não fosse em Recife, não acreditaria.
A família vive nas ruas há dois anos. Chegaram ao centro da cidade após o incêndio que destruiu sua casa, localizada no Coque, bairro periférico do centro metropolitano. Temendo os riscos inerentes as agitações dos grandes centros urbanos e na tentativa de proteger o bebê se fixaram na Academia da Cidade, localizada em Boa Viagem, bairro nobre da cidade. Para Rafael da Silva, 21 anos, pai da criança “o lugar, por ser coberto e fechado, mantém nosso filho protegido da chuva e do vento frio da noite”. Sobrevivendo de esmolas e do dinheiro conseguido com alguns bicos consegue comprar feijão, arroz e biscoito. Um fogão foi improvisado a partir de dois tijolos, enquanto que o mar torna-se único recurso para o banho diário. Sol, chuva, ventania, poeira, areia e mato. Solidão, desamparo, falta de assistência e desrespeito público. Realidades de vidas marcadas pela desigualdade social. Vitimas do descaso público.
Apesar das condições impróprias e indignas, o casal alega preferir as ruas que as casas de acolhimento. Os motivos são óbvios e merecem consideração. “Não queremos ir para o abrigo, podemos ser separados do nosso filho”, diz Patrícia Silva, 31 anos, mãe da criança. O medo neste sentido é generalizado. Milhares de pessoas se mantêm nas ruas, também como forma de preservação da família, e logicamente, do próprio protagonismo e cidadania. Se o serviço público não consegue atender as necessidades básicas dos usuários, respeitando inclusive o direito de autonomia, não serve ao que se destina. É preciso rever modelos e estratégias. Reestruturar e/ou implementar novas políticas públicas que considerem e abarquem as necessidades e especificidades individuais e familiares. O que se vê é um casal na luta pela manutenção de seus vínculos afetivos. Pessoas não podem ser entendidas, vistas, e muito menos, tratadas como gado. É preciso efetivar as ações da assistência social de forma eficaz. De nada adianta retirar a população da situação de rua sem oferecer as condições de sustentabilidade que garantam o fortalecimento de seus vínculos. As ações precisam ser articuladas com as demais políticas setoriais. Inserir nos cursos de capacitação e qualificação profissional só adianta se for garantida sua inserção no mercado de trabalho. E não é oferecendo cursos “para pobres”, como muito se tem visto na prática, que se muda a realidade de pessoas já marcadas e estigmatizadas como marginais – predestinadas às margens da sociedade.
O principal é entender que a situação dessa família não é única, e muito menos, inédita. Basta olhar nossas praças e ruas. Não é a mesma situação da família que residia [ou reside] na Praça Cinco Pontas, também noticiada em jornais? Em baixo do meu prédio também tem centenas delas. Uma especialmente chama a atenção por ter um bebê que dorme ao lado de um cachorro, sobre o mesmo papelão velho. O cenário não diverge muito. Colchoes, restos de roupas, tralhas, carroças cheias de restos e bichos. São 900 pessoas desassistidas espalhadas pelas ruas do Grande Recife, segundo dados do levantamento realizado em 2012, pela prefeitura. E tem quem acredite que esse número era maior em anos anteriores. O que não duvido. Dizem que em 2010 a população em situação de rua contabilizava 1.500 pessoas. Isso significa uma redução de quase 50% em dois anos. Se não fosse em Recife, até acreditaria. Por isso insisto na necessidade de se questionar a eficiência da contagem. Como já falei em posts anteriores, só na Av. Conde da Boa Vista são dezenas de famílias. E as Ruas da Aurora, Imperatriz, Sete de Setembro, Hospício, Gervásio Pires, Manoel Borba, Soledade, Riachuelo, e tantas outras? E a Av. Mário Melo e a Agamenon Magalhães? E as praças Maciel Pinheiro [arredores], Joaquim Nabuco, Oswaldo Cruz, Parnamirim, etc. Ou essas ruas, avenidas e praças não são Grande Recife? A contagem é diurna ou noturna? Será que isso faz alguma diferença? De qualquer forma, temos ainda seis meses pela frente. É acreditar que sempre depois da tempestade chega a bonança. Vamos torcer! Vamos votar!

quinta-feira, 7 de junho de 2012

O IMPEACHMENT VERMELHO NO RECIFE




VIVA SÃO JOÃO! VIVA SEM JOÃO!

Olha João, sei que essa nossa conversa já está ficando chata. Mas confesso que nos últimos meses nenhuma decisão política tenha me agradado tanto quanto ver estampado nas capas dos jornais o “Impeachment vermelho” promovido pelo PT, que resultou na impugnação da tua pretensa recandidatura a prefeitura do Recife. Também não posso negar o quanto esperei por esse momento. Você, melhor do que ninguém sabe disso. Menos ainda, posso negar certo prazer ao ler sobre tua caminhada solitária e desolada pela Av. Paulista, em São Paulo. Se a mesma tivesse ocorrido aqui, na Av. Conde da Boa Vista, acho mesmo que teríamos chegado ao orgasmo. Mesmo sabendo do teu sentimento de humilhação e desamparo, te digo que foi melhor assim. Pior seria ti ver chorar diante de uma vaia geral, que com certeza ocorreria se te atrevesses a passar por aqui. Mas não se preocupe muito com isso, em pouco tempo o povo esquece tua imagem. Lembra do Collor? Não foi assim que aconteceu? Fez coisas bem piores e hoje está de volta a política. Quem sabe daqui a alguns anos não consegues te reeleger? Será? Na verdade só irias precisar se filiar a um partido oportunista. E isso, no Brasil, não é nada difícil de encontrar. Bem sabes disso, João, até porque de oportunismo você entende mais do que qualquer outra pessoa. Foi assim que se elegeu uma vez.


Agora, João, justiça seja feita, não existia um momento mais oportuno para essa derrota. É que com a proximidade do período junino o povo vai às ruas reverenciar o outro João. Não o político equivocado e “tinhoso” que és, mas o santo que comanda uma das maiores festas populares do Nordeste. Chegou à hora da gente gritar: “Viva São João!”. Mas neste caso, te confesso que vou preferir o trocadilho, como de praxe, e comemorar o “Viva Sem João! É que sem você, o Recife, com certeza, respira melhor. O problema mesmo será esperar seis meses para te ver dar as costas definitivamente. Entenda minha preocupação, João. Se em três anos e meio só fizestes besteiras, castigando os recifenses com tua inoperância e incompetência, imagina como se dará esse período de transição? De qualquer forma, dos males, o menor. Para quem aguentou tuas trapalhadas até agora, seis meses passam num piscar de olhos. E olha, antes que penses que sou mal, saliento que a questão não é pessoal, mas política. Até porque nunca tive o desprazer de conhecê-lo pessoalmente. Mas conheço seus feitos, ou melhor, malfeitos. Disso sou testemunha, ao mesmo tempo em que sou vítima. É que como morador do centro, João, arco com os prejuízos de tua gestão inconsequente. Não costumo levantar bandeiras, mas não nego que hasteio em minhas janelas, sejam reais ou virtuais, as necessidades e urgências de mudanças. E estas são imprescindíveis ao Recife.

Ruas esburacadas e desprotegidas; calçadas invadidas pela clandestinidade; avenidas mal iluminadas e sem condições de uso; crianças e adolescentes misturados a ratos e vermes; canaletas entupidas que inundam perímetros; prédios históricos caindo aos pedaços; gente morrendo nas ruas sem assistência; tumultos e badernas cotidianas; descasos políticos em negociações sem transparência; insatisfação geral; comprometimento da imagem pública - este é o retrato de três anos e meio de tua arrogância. Promovesses o caos. Nunca na capital pernambucana se viu tanto despropósito e descompromisso público. Falta limpeza urbana, falta reorganização do comercio, falta segurança, saúde, educação social e ambiental, falta dignidade, João. Esquecesses do povo? Logo o povo, que te elegeu como representante? Não se gerencia uma cidade como Recife, sem conhecer suas ruas. Não adianta aumentar o número de coletores de lixo na Av. Beira Mar, em Boa Viagem, e deixar a Av. Agamenon Magalhães fedendo. Não adianta expulsar os “pobres” das pontes sem oferecer abrigos com condições dignas. Tudo bem que “A Cidade é a Gente Que Faz”, mas jogar a responsabilidade toda sobre nossas costas é covardia. Até aumentasses os impostos. E pra onde foi esse dinheiro? Será que gastasses tudo com os fogos de artifício que nem explodiram direito na passagem do ano? Cadê as reformas prometidas? O fato é que sempre desses as Costas para o povo, mesmo sabendo que dependias dele. João, “quem dá as costas, dá o rabo por cheirar”. Talvez seja por isso que a cidade fede tanto?


Olha João, aproveita esses últimos seis meses para limpar tuas sujeiras. Olha pro povo e vê se aprende alguma coisa com ele. O Recife está em festa novamente. O tempo vai esquentar ainda mais com a festa de São João. Quadrilhas juninas vão invadir a cidade ao som do forró pé de serra ou estilizado. Matutos vão dançar e cantar suas origens mostrando a força de nossa cultura. É a cultura de um povo que vai às ruas, que grita, engarrafa o transito, congestiona vias públicas, bate a no peito e diz o que sente e o que gosta. Povo que baila entre o divino e o profano. Que aprendeu a agradar a deuses e a diabos. Gente de sangue quente que não teme o confronto, mas, que ao mesmo tempo se mostra pacificador sem peder a perseverança. Esse é um povo a quem não se engana, João. Desde cedo aprenderam que quando a esmola é grande, o santo desconfia. E neste sentido, aprenderam também a reconhecer quando um João é santo legítimo ou do “pau-ôco”. Essa gente gosta de olhar nos olhos, pois que estes revelam a verdade e as intenções de um homem. Quem não olha nos olhos, não fala com o povo. E segundo o ditado popular, a voz do povo é a voz de Deus. Isso é crença popular, João. E crença correlaciona-se a convicção, que por consequência correlaciona-se ao ato de convencer, gerando certeza adquirida por demonstração. Resumindo, somos um povo que exige exemplos, sejam de condutas ou comportamentos. Não toleramos as falácias, principalmente as políticas ou politiqueiras. Por isso, dizemos que uma palavra vale mais que uma assinatura. Porque pra gente, a palavra tem fé do ofício. Sempre te disse pra não mentir para o povo porque iriam te cobrar mais tarde. Olha aí o resultado. O povo também te deu as costas. Pagamos na mesma moeda. Não te disse que isso ia acontecer?


E agora João? O que vais fazer com tamanha vergonha? Será que vais conseguir caminhar com a cabeça erguida ou vais te colocar na posição de vítima? Deixasses meia dúzia de militantes despreparados te exporem em fotografias ao lado do Lula e da Dilma, sem nem mesmo confirmar apoio. Fosses carregado nos braços por um grupo minguado, sem força política, e mesmo assim acreditasses que poderias cantar a vitória antes do tempo. E agora, o que vais fazer? Serão seis meses pela frente. Seis meses para carregar o título de prefeito deposto. Um semestre amargando a derrota antecipada, que não foi pior do que a que aconteceria nas urnas. Aproveita, porque será tempo suficiente para analisar teus erros, tua arrogância e prepotência. Tempo para rever teus planos e futuro, se é que ainda te restará algum. Não acredito que ainda tenhas espaço na política. Não acredito que ainda tenhas espaço no partido. Não acredito que tenhas chances de mudar tua imagem. Nunca acreditei em você como gestor. E não é pessimismo solitário, porque assim, pensam milhões de recifenses, milhões de eleitores. Como disse certo político, há dias atrás, você é página virada, João. Já faz parte do passado. Agora, arruma teus trapos e pedi para sair. Enquanto isso, nós vamos esperar que o próximo candidato, que por coincidência também é Costa, caso eleito, se posicione de frente as necessidades do povo. Espero que tua lição sirva de exemplo ao próximo prefeito.

Viva são João! Viva Sem João!

sábado, 2 de junho de 2012

FRANKENSTEIN- A CRIATURA X O CRIADOR









O FEITIÇO CONTRA O FEITICEIRO


“Nunca um prefeito foi tratado como eu fui” – Disse João da Costa, no dia 30 de maio, ao Jornal do Commercio. A afirmativa faz referencia direta a pressão da Executiva Nacional do PT para a retirada de sua candidatura a prefeitura da cidade do Recife. Lembra João quando te avisei que o Recife também nunca tinha sido tratado da forma como estás fazendo? Parece até que o feitiço se virou contra o feiticeiro. É melhor ficar de frente João. Porque essa novela que se arrasta há alguns meses, parece anunciar um final dramático. Mas você vai bancar o João-Teimoso e esperar o script de São Paulo, na próxima terça-feira, não é mesmo? João, de costas não se consegue analisar as coisas e fatos com coerência. Mocinho ou bandido? Vítima ou vilão? Onde você se enquadra? Ou vai preferir esperar para ser enquadrado pelos caciques? Olha que as opiniões se dividem e o público torce por suas apostas.

O problema João é que esse enredo que vens traçando lembra em muito a história do velho “Frankenstein”, que ganhando vida em uma noite de tempestade resolve se colocar contra seu próprio criador. Não foi por isso que o João que te criou amaldiçoou sua própria criação, por coincidência, também João? É que nestes enredos cinematográficos a história sempre tende a se repetir quando a obra se mostra mal acabada. Saísse das profundezas do anonimato político e agora te rebelas almejando os refletores de um segundo mandato? Se não tivesses sempre te posicionado de Costas terias percebido que a trama que vens arrastando por três longos anos e meio não agrada ao grande público. Estamos exigindo agora as cenas dos últimos capítulos - preâmbulos politiqueiros de um drama que já conhecemos o final: O vilão sempre morre ao findar sua luta infrutífera pela soberania e autonomia. Criatura não pode ter vida própria, muito menos vontade. As criaturas sempre se tornam espécies de mamulengos que só servem para fazer graça; ou então, fantoches, presos a finíssimos e frágeis fios pelos quais serão sempre manipulados. Para se ter vida própria e autonomia de decisões é preciso construir uma história própria. Porque quando esperamos que alguém a escreva nos tornamos personagem, logo, irreais.

E olha João: do mesmo jeito que não existe “Monalisa” sem Leonardo da Vince, ou ainda, “Romeu e Julieta” sem Shakespeare, não existe João sem João. Ou seja, se o que é Paulo retirou seu apoio ao que sempre encarou o Recife de Costa, torna-se impossível prolongar um enredo que corre sério risco de se tornar comédia barata. É como novela que fracassa no ibope. A trama pode até ser boa, mas se o protagonista não possui talento afunda e inviabiliza o projeto. Nestes casos os produtores se apressam em apelar para o carisma – que não substitui o talento, mas ajuda a enganar o público. O problema dessa ficção real que movimenta os meios político e público recifense é que nunca fosses carismático. João, eu tanto que te avisei que ninguém consegue agradar e convencer telespectadores políticos sem se colocar de frente. Mesmo não entendendo nada de gestão pública, de transparência na gestão de recursos, de responsabilidades sociais e éticas, a platéia formada pelo grande quantitativo de analfabetos políticos gosta de simpatia. Porque como dizem por aqui, simpatia é quase amor. Simpatia também, infelizmente, gera voto. E sem voto não há mandato, João.

Nessa lengalenga toda, e na falta de uma definição imediata, te assemelhas a um Frankenstein tupiniquim que se esforça em conquistar novos adeptos através dos fanáticos por filmes de terror. Perambulas e te arrastas pelas ruas na tentativa de assustar a oposição, disparando ofensas e insultos contra tudo e contra todos. Porém João, como não contratasse o Zé do Caixão para dirigir o que poderia se tornar um clássico, por apresentar um desfecho inusitado com a vitória do monstro, mais uma vez, parece resvalar na farsa burlesca. Tua história tornou-se tragicômica despertando gargalhadas. E olha João, não tem nada pior do que pagar caro para ver espetáculo ruim. É como se esforçar para realizar um sonho ao adquirir um objeto que se desejava muito, e este vir com defeito. No caso do Frankestein mesmo, como as costuras [no nosso caso específico, políticas] foram mal feitas tendem a se afrouxar separando os membros. Acho que esse será o desfecho de tua sina. Um vilão despedaçado, sem os membros [políticos] necessários para levá-lo ao “grand finale”.

Poderíamos dizer que realmente nunca um prefeito foi antes tratado como o João-Bobo. Mas é preciso se entender que quando se é criatura, num sentido de criação alheia, nunca se chega a real condição de criador. A primazia das grandes e belas criações, sejam artísticas ou não, só será alcança quando a obra se mostrar genuína, original. João, as cópias são sempre imprecisas, e por isso podem ser classificadas com mal feitas e falsas, sem valor. Assim, por mais que pareça, ou que desejem fazer parecer, um João nunca será igual a outro João. Até agora a ciência não conseguiu comprovar que nos casos de clonagem, a segunda peça herda as capacidades e habilidades da base original. E olha João, bem que te avisei que sem base não existe candidatura. Se não tens o apoio do povo, precisarias pelo menos do partido ao teu lado. Eleição não é pastoril, João, para ter dois cordões. Até os sapatos tem um único. Os dois juntos, sim, formam um par, mas separados os pés não levam a lugar nenhum. Eu te disse que era preciso encarar o Recife de frente. Agora é o povo que vai te dar as costas nas urnas. Não fosses às ruas do centro como te falei; não vistes as famílias morrendo de fome nas sarjetas; não olhasses nos olhos das crianças embriagadas de cola. Não, não fizestes nada além de mandar sitiar a praça para expulsar a população em situação de rua. Fizestes uma meia lua pintando a cidade para esconder a sujeira de quatro anos. Isso não é gestão, é improviso.

É João, parece que quem com ferro fere, com ferro [ou sem Ferro] será ferido. É a lei do retorno. A gente só colhe o que planta. E quem não planta, ou mesmo, planta e arranca, não tem o que colher. Quem não pasta não se torna pastor. E nesse rebanho eleitoreiro que arranjasses não tem gado nem Leitão que te garanta os votos. Olha, João, já estão dizendo que você é “carta virada no PT”. Estão te rotulando como “camicase da política”. Desse jeito só confirmas a tese de que criatura nunca vence o criador. Deixa de bancar o João-Teimoso e pedi pinico. Pior do que sair sujo e sair melado. Por isso, João, é melhor entender de uma vez por todas que se errar é humano, permanecer no erro é burrice. Peça licença e nos presenteie com sua ausência. E não ligue, porque se toda ausência é atrevida, a tua devida. Melhor fechar as cortinas e voltar a se recolher no anonimato. De onde, aliás, nunca deverias ter ousado sair. E olha, João, melhor ir de Costas para não ver a vaia que estão ensaiando.