quarta-feira, 20 de junho de 2012

VELHAS E MAL TRATADAS CALÇADAS DO RECIFE





SE ESSA RUA...
SE ESSA RUA FOSSE MINHA...

Segundo o dicionário da língua portuguesa calçada significa caminho ou rua revestida de pedras. Configura-se ainda como caminho pavimentado para pedestres, quase sempre mais alto que as ruas, destinado aos veículos, e, geralmente limitado pelo meio-fio. Também se entende como calçada as faixas pavimentadas que circundam os edifícios, que instaladas junto às paredes evitam a penetração de umidade nos alicerces ou no subsolo. Teorias a parte, calçadas no Recife tornou-se sonho de consumo. Estamos a séculos da civilização considerada moderna. Quem dera um dia poder andar pelas ruas daqui como se anda pelas ruas européias, inclusive de pequenas cidades e províncias, ou como nas cidades do sul e sudeste brasileiro, como São Paulo, Rio de Janeiro ou Florianópolis. Não que tais cidades não tenham problemas, mas estes parecem mínimos quando comparadas ao da capital pernambucana. Se nossas ruas já não se prestam a circulação segura dos pedestres, o que se pode dizer de sua servidão enquanto espaços de dormitório e estadia, como se vê, adotada por centenas de famílias excluídas e invisíveis as políticas públicas de proteção a vida e a dignidade humana? Sem dúvida nenhuma, Recife foi transformada em uma cidade porcalhada, pois que se tornou sinônimo de imundície, sujidade e porqueira.

AV. CONDE DA BOA VISTA
Finalmente a temática entro em debate, envolvendo os poderes públicos, sociedade civil e instituições de ensino e pesquisas. Reportagem do Jornal Folha de Pernambuco, do dia 20 de junho de 2012, chama a atenção para um dos principais problemas do Recife – as calçadas desestruturadas e sem manutenção. Segundo informações do IBGE, a cidade possuímos apenas 4% de calçadas dotadas de rampas, possibilitando acessibilidade. Tal fato nos torna a quarta pior capital do Brasil, dentre outras doze pesquisadas recentemente. Andar por tais vias públicas é realmente um desafio exaustivo, quase uma peregrinação. São milhares de barracas, carroças, fiteiros e bancas de frutas e verduras que se misturam aos tablados de ambulantes, que comercializam desde pequenos objetos sem grande valor até CDs e DVDs piratas. Nas ruas do Recife se encontra de tudo, menos espaço para circulação de pedestres. Com a chegada do inverno a situação tende a piorar devido aos muitos buracos e falta de limpeza. Verdadeiras crateras se transformam em riscos perenes, que se arrastam por anos a fio sem as providencias necessárias. Não é de hoje que o problema tem chamado a atenção dos habitantes, e principalmente dos órgãos públicos, responsáveis diretos pela aplicação eficiente de nossos impostos. Contudo, a ineficiência e burocracia da máquina pública só têm contribuído para transformar o centro urbano em um verdadeiro caos.

RUA DO PROGRESSO
De acordo com a Lei Municipal nº 12.286, desde o ano de 1997, a manutenção e conservação das calçadas tornou-se responsabilidade dos proprietários dos imóveis, o que a meu ver parece impróprio e descabido. Não que os cidadãos e comerciantes não tenham sua parcela de responsabilidade, mas entendo que calçada é espaço publico, assim como as ruas, e por isso suas conservações e manutenções cabem a gestão e não aos usuários. Um dos maiores problemas de nossas vias relaciona-se ao acumulo de lixo. As calçadas, assim como as ruas, são tomadas por toneladas de detritos e dejetos que não recebem o tratamento adequado. Em qualquer esquina, qualquer lugar encontra-se restos de comida, cascas de frutas, sacos de lixo, papéis, papelões e uma infinidade de coisas em estado de decomposição. As ruas tornaram-se infectas e mal cheirosas revelando a ausência e descaso dos órgãos competentes. Em alguns trechos das principais ruas do centro o piso parece um campo lunar. Placas de concreto se quebram e se elevam formando verdadeiras barreiras que precisam ser vencidas. Em outras ruas torna-se impossível a circulação, forçando o pedestre a dividir as estradas com os veículos, expondo-se a riscos de acidentes.

AV. MANOEL BORBA
Ainda de acordo com a mesma Lei Municipal, em seu artigo 17, estabelece-se que as calçadas devem possuir uma faixa contínua com, no mínimo, um metro é meio de cumprimento. Quem sabe assim a população em situação de rua poderia dormir de forma mais confortável, sem precisar se contorcer e espremer em pequenas fendas de pisos irregulares? Quem sabe assim, cadeirantes e pessoas idosas poderiam exercitar o direito universal, e constitucional, de ir e vir? Mas o que se vê, ao contrário, é uma desorganização generalizada e caótica. Não se anda pelas calçadas do Recife sem no mínimo se torcer os pés. Isso fora os tropeções, topadas e quedas. Nessa confusão toda não é só o tráfego que fica congestionado. As vias de pedestres também tem se transformado em motivos de stress constante. Não sei onde se perde mais tempo nos horários de picos, enfrentando o transito desordenado, ou as calçadas esburacadas e desordenada pelo comercio informal. Nos engarrafamentos humanos precisa-se ainda ter cuidado para ser machucado ou pisotear animais desamparados e/ou crianças alienadas sob efeito dos entorpecentes.

RUA DAS NINFAS
É uma lástima perceber no quanto nossas ruas foram transformadas em cenários de degradação e descaso. De resto, é esperar que as próximas chuvas consigam, ao menos, lavar metade da sujeira acumulada nestes últimos quatro anos.

“Se essa rua, se essa rua fosse minha... Eu mandava, eu mandava ladrilhar...”





Fonte: Jornal Folha de Pernambuco, Grande Recife, 20de junho de 2012.

AV. CONDE DA BOA VISTA

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