sábado, 2 de junho de 2012

FRANKENSTEIN- A CRIATURA X O CRIADOR









O FEITIÇO CONTRA O FEITICEIRO


“Nunca um prefeito foi tratado como eu fui” – Disse João da Costa, no dia 30 de maio, ao Jornal do Commercio. A afirmativa faz referencia direta a pressão da Executiva Nacional do PT para a retirada de sua candidatura a prefeitura da cidade do Recife. Lembra João quando te avisei que o Recife também nunca tinha sido tratado da forma como estás fazendo? Parece até que o feitiço se virou contra o feiticeiro. É melhor ficar de frente João. Porque essa novela que se arrasta há alguns meses, parece anunciar um final dramático. Mas você vai bancar o João-Teimoso e esperar o script de São Paulo, na próxima terça-feira, não é mesmo? João, de costas não se consegue analisar as coisas e fatos com coerência. Mocinho ou bandido? Vítima ou vilão? Onde você se enquadra? Ou vai preferir esperar para ser enquadrado pelos caciques? Olha que as opiniões se dividem e o público torce por suas apostas.

O problema João é que esse enredo que vens traçando lembra em muito a história do velho “Frankenstein”, que ganhando vida em uma noite de tempestade resolve se colocar contra seu próprio criador. Não foi por isso que o João que te criou amaldiçoou sua própria criação, por coincidência, também João? É que nestes enredos cinematográficos a história sempre tende a se repetir quando a obra se mostra mal acabada. Saísse das profundezas do anonimato político e agora te rebelas almejando os refletores de um segundo mandato? Se não tivesses sempre te posicionado de Costas terias percebido que a trama que vens arrastando por três longos anos e meio não agrada ao grande público. Estamos exigindo agora as cenas dos últimos capítulos - preâmbulos politiqueiros de um drama que já conhecemos o final: O vilão sempre morre ao findar sua luta infrutífera pela soberania e autonomia. Criatura não pode ter vida própria, muito menos vontade. As criaturas sempre se tornam espécies de mamulengos que só servem para fazer graça; ou então, fantoches, presos a finíssimos e frágeis fios pelos quais serão sempre manipulados. Para se ter vida própria e autonomia de decisões é preciso construir uma história própria. Porque quando esperamos que alguém a escreva nos tornamos personagem, logo, irreais.

E olha João: do mesmo jeito que não existe “Monalisa” sem Leonardo da Vince, ou ainda, “Romeu e Julieta” sem Shakespeare, não existe João sem João. Ou seja, se o que é Paulo retirou seu apoio ao que sempre encarou o Recife de Costa, torna-se impossível prolongar um enredo que corre sério risco de se tornar comédia barata. É como novela que fracassa no ibope. A trama pode até ser boa, mas se o protagonista não possui talento afunda e inviabiliza o projeto. Nestes casos os produtores se apressam em apelar para o carisma – que não substitui o talento, mas ajuda a enganar o público. O problema dessa ficção real que movimenta os meios político e público recifense é que nunca fosses carismático. João, eu tanto que te avisei que ninguém consegue agradar e convencer telespectadores políticos sem se colocar de frente. Mesmo não entendendo nada de gestão pública, de transparência na gestão de recursos, de responsabilidades sociais e éticas, a platéia formada pelo grande quantitativo de analfabetos políticos gosta de simpatia. Porque como dizem por aqui, simpatia é quase amor. Simpatia também, infelizmente, gera voto. E sem voto não há mandato, João.

Nessa lengalenga toda, e na falta de uma definição imediata, te assemelhas a um Frankenstein tupiniquim que se esforça em conquistar novos adeptos através dos fanáticos por filmes de terror. Perambulas e te arrastas pelas ruas na tentativa de assustar a oposição, disparando ofensas e insultos contra tudo e contra todos. Porém João, como não contratasse o Zé do Caixão para dirigir o que poderia se tornar um clássico, por apresentar um desfecho inusitado com a vitória do monstro, mais uma vez, parece resvalar na farsa burlesca. Tua história tornou-se tragicômica despertando gargalhadas. E olha João, não tem nada pior do que pagar caro para ver espetáculo ruim. É como se esforçar para realizar um sonho ao adquirir um objeto que se desejava muito, e este vir com defeito. No caso do Frankestein mesmo, como as costuras [no nosso caso específico, políticas] foram mal feitas tendem a se afrouxar separando os membros. Acho que esse será o desfecho de tua sina. Um vilão despedaçado, sem os membros [políticos] necessários para levá-lo ao “grand finale”.

Poderíamos dizer que realmente nunca um prefeito foi antes tratado como o João-Bobo. Mas é preciso se entender que quando se é criatura, num sentido de criação alheia, nunca se chega a real condição de criador. A primazia das grandes e belas criações, sejam artísticas ou não, só será alcança quando a obra se mostrar genuína, original. João, as cópias são sempre imprecisas, e por isso podem ser classificadas com mal feitas e falsas, sem valor. Assim, por mais que pareça, ou que desejem fazer parecer, um João nunca será igual a outro João. Até agora a ciência não conseguiu comprovar que nos casos de clonagem, a segunda peça herda as capacidades e habilidades da base original. E olha João, bem que te avisei que sem base não existe candidatura. Se não tens o apoio do povo, precisarias pelo menos do partido ao teu lado. Eleição não é pastoril, João, para ter dois cordões. Até os sapatos tem um único. Os dois juntos, sim, formam um par, mas separados os pés não levam a lugar nenhum. Eu te disse que era preciso encarar o Recife de frente. Agora é o povo que vai te dar as costas nas urnas. Não fosses às ruas do centro como te falei; não vistes as famílias morrendo de fome nas sarjetas; não olhasses nos olhos das crianças embriagadas de cola. Não, não fizestes nada além de mandar sitiar a praça para expulsar a população em situação de rua. Fizestes uma meia lua pintando a cidade para esconder a sujeira de quatro anos. Isso não é gestão, é improviso.

É João, parece que quem com ferro fere, com ferro [ou sem Ferro] será ferido. É a lei do retorno. A gente só colhe o que planta. E quem não planta, ou mesmo, planta e arranca, não tem o que colher. Quem não pasta não se torna pastor. E nesse rebanho eleitoreiro que arranjasses não tem gado nem Leitão que te garanta os votos. Olha, João, já estão dizendo que você é “carta virada no PT”. Estão te rotulando como “camicase da política”. Desse jeito só confirmas a tese de que criatura nunca vence o criador. Deixa de bancar o João-Teimoso e pedi pinico. Pior do que sair sujo e sair melado. Por isso, João, é melhor entender de uma vez por todas que se errar é humano, permanecer no erro é burrice. Peça licença e nos presenteie com sua ausência. E não ligue, porque se toda ausência é atrevida, a tua devida. Melhor fechar as cortinas e voltar a se recolher no anonimato. De onde, aliás, nunca deverias ter ousado sair. E olha, João, melhor ir de Costas para não ver a vaia que estão ensaiando.

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