domingo, 4 de julho de 2010

A EFEMERIDADE DO TEMPO E DA DISTANCIA


 
Nesse exato momento, penso que tanto o tempo quanto a distância são efêmeros. Apenas marcadores cronológicos dos quais nos utilizamos para justificar a saudade. A dor da ausência, da falta do outro. Que não se traduz exatamente em dor, pois que não é física. Mas algo que não se explica e apenas se sente. Um tipo de sufoco que parece estrangular a garganta e que precipita as lágrimas. Um sentimento de vazio e perda que faz o corpo reclamar a falta e que nos faz tremer na lembrança de momentos vividos.

Nesse exato momento, que também é representação de tempo, uma quentura que não explico me invade a alma. Percorre meu sangue e bombardeia minha mente com cenas que me trazem você. Teu rosto, teu sorriso e teus olhos se apresentam diante de mim. Tornam-se presente e já não há distancia entre nós. És-me nítido nesse exato momento de imprecisão cronológica. Estás comigo, porém o toque não é sentido, teu calor não me aquece e não me afagas como de costume. Desperto num tempo real, que hoje não é o teu, e tua silhueta se desfaz para me condenar mais uma vez a solidão.

Ah, que tempo é esse que não se conta em velocidade? Tempo que se arrasta em dolorosos segundos de melancolia. Demarcando um espaço que agora se torna concreto e que se impõe entre mim e ti. Que tempo é esse que me nega tua voz quando te chamo? E que corta as palavras ao me pegar sozinho dizendo que te amo? Tempo que reclamo ao te trazer junto a mim. E que me permite apenas trair a racionalidade ao beijar tua boca de vento e abraçar teu corpo fugaz que se desvanece no aconchego do abraço.

Me pego a reclamar porque o tempo não se interpõe também na solidão e na saudade? E porque tais sentimentos não respeitam as noções e leis matemáticas que nos permitem calcular espaços, distâncias e medidas? Que regras, normas, ou teoria cientifica precisa ser refutada para que duas pessoas, em exatos momentos de tempo e espaço distintos, sintam em tempo real a mesma sensação causada pela falta do outro? Nesses devaneios, penso que sentimentos não podem ser exatamente calculados. Não são milimetricamente medidos. São apenas sentidos, em intensidades incalculáveis, em matrizes atemporais ou dimensões espaciais. Por isso, são o que são! Apenas sentimentos.

Ah, que distância é essa que não se mede em quilômetros, metros ou centímetros? Mas que te leva pra longe, em lugares distantes que me são desconhecidos? Distância que não permite que te veja e que te acompanhe em caminhadas sob o sol, e que corra ao teu encontro sempre que possível. Distância que separa territórios, me deixando apenas a ânsia da espera que vêm e vai como ondas do mar. Que medidas de espaço e tempo precisam ser entendidas para saber que mesmo efêmeras, tronam-se concretas em nossa distância?

Nessas longas horas vazias de ti, me pego a refletir sobre tempo e distância. Talvez seja só o que me resta. Imagino que enquanto o tempo te coloca horas à frente, a distância se interpõe numa escala impossível e inviável. Como entender que estamos num mesmo espaço de tempo se ao acordar sei que dormes? E que enquanto o breu da noite me cai, raios escarlates de um oriente distante te despertam e nos distanciam a cada dia? De que tempo falamos? Penso em ti no presente ou no futuro? E tu, quando pensas em mim, o fazes no presente ou no passado? Que tempo e distância são esses, que me fazem hoje falar contigo no amanhã? Como te alcançar se estou num tempo em que já vivesses? Assim, as horas que conto agora não te servirá de referência. Até mesmo o que escrevo, nesse exato momento, não mais corresponderá ao meu presente quando lido por ti.

Em busca da racionalidade, recorro as minhas fantasias para imaginar que nas horas suspensas no ar, enveredasses por uma espécie de portal que te levou ao futuro. Seria como se sob teus pés, o mundo girasse te trazendo novos cenários. Você parou no ar e a terra girou em sentido horário te levando para outra dimensão. Para um espaço localizado, talvez, no outro lado do mundo, no outro lado do dia, ou melhor, da noite. Ou seria outra noite, ou outro dia? Em que tempo realmente você estará? E em que tempo me deixastes te esperando?

O tempo que separa mundos, culturas, dias e noite não é o mesmo que me separa de ti? O mesmo tempo que me deixa a contemplação de sucessivas luas para cronometrar o quanto te falta para retornar ao passado, não é mesmo tempo que me faz chorar no presente? O tempo que nesse exato momento passou por ti, não é o mesmo que me faz sentir tua falta? De que tempo realmente estamos falando? Presente, passado ou futuro? Sei apenas que é no hoje que precisamos estar. Apenas nesse sentido de tempo nos é permitido estar juntos. E sei que daqui a mais algum tempo, que não sei mais medir ou contar, serás novamente suspenso e a terra irá girar em sentido anti-horário para reparar um erro cronológico que se deu entre nós. Estarás novamente no passado e assim viveremos nosso futuro que será presente. Para assim, numa distância mínima, a menor possível, incalculável e imperceptível, permanecermos por um tempo infindável na união dos nossos corpos.



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