quinta-feira, 15 de julho de 2010

A HISTÓRIA DA MINHA VIDA - A Chegada de Aquários


















Auto Retrato/2008

Capítulo VI – Século XXI e um Novo Início de Futuro

Chegara o final do século e ansiávamos pela virada do terceiro milênio que traria a tão sonhada e propagada era de aquários (lembra do filme “hair” do Milos Forman, lançado em 1979?). Estimava-se uma maior e melhor relação do homem com o mundo e maior harmonia entre os povos. Entraríamos em sintonia direta com o Cosmo e pra isso era preciso se preparar. As discussões sobre o exato início da era de aquários eram constantes, e ganhavam cada vez mais espaço na mídia e imprensa de modo geral. Estudiosos e entusiastas definiam cálculos para datas que poderiam variar do ano 2009 d.C. aos anos do século 2600 d.C., mesmo que os astrólogos afirmassem que o evento se daria apenas no século XXV, ou seja, lá para os anos de 2400. Independente dos números, proclamava-se que o planeta, e consequentemente a humanidade, já sentiam os efeitos dessa “Orbe de Influência”, tais como o acelerado crescimento industrial, social, cultural, cientifico e tecnológico, além logicamente do processo de globalização. Ao passo que se esperava que aquários trouxesse tempos de fraternidade universal, possibilitando a solução de problemas sociais, com possibilidades igualitárias e desenvolvimento intelectual e espiritual para todos. Diziam que por ser um signo aéreo, aquários destaca-se por se caracterizar como período do raciocínio, científico e intelectual, e que, por influencia de Urano associa-se a intuição e a percepção que eram guiadas pelo coração.

A chegada dos anos 2000 trouxe um misto de fantasia e medo. Alguns na crença de que tais mudanças trariam grandes catástrofes, outros esperançosos, na certeza de bons tempos. Em 13 de maio de 1980, por exemplo, os adeptos da seita paraibana “Os Borboletas Azuis” se reuniram a espera do dilúvio, e nos anos seguintes vários suicídios coletivos foram provocados pelo mundo a fora em nome de um fanatismo histérico que sempre antecede a virada dos milênios. Por outro lado, festas aconteciam em variados locais inusitados, eram as “haves” que invadiam a cidade de Recife, com temas relacionados ao final dos tempos (não é só no carnaval que somos irreverentes?). Acredito que as profecias nos causam certo fascínio. Penso que tal fato, talvez, decorra de tendência que temos de cultuar as tragédias. Afinal, o perigo nos apavora na mesma proporção que nos atrai e encanta. Mas, neste caso, é como se a humanidade carregasse um grande pecado que só seria purgado através do castigo divino. E “assim caminha a humanidade” a espera de grandes catástrofes que possam redimir nossos pecados mais íntimos e inconfessáveis (talvez não devêssemos agradecer mais as igrejas?).

As profecias foram novamente revisitadas no atentado de 11 de setembro de 2001, com os ataques as “torres gêmeas” do World Trade Center, nos Estados Unidos. Nesta época já atuava como consultor de recursos humanos, na unidade de logística de um grande grupo de varejo de origem nordestina, que devido ao processo de globalização (lembram da orde de influências causada por aquários?) passava por uma fase de transição buscando se adaptar a cultura econômica holandesa. Finalizava alguns relatórios técnicos quando o corre-corre de funcionários aflitos começou. As pessoas pareciam desesperadas. Alguns gritavam que a terceira guerra mundial tinha começado. Confesso que pensei em minha família e amigos. Depois pensei em mim e em como seria o final de minha vida, que logicamente não queria que terminasse, pelo menos daquele jeito. Fui chamado às pressas a sala de treinamentos. Precisava acalmar as pessoas e contribuir para restabelecimento normal da ordem (e da produção, é claro!). Mas como tomar alguma decisão se nem sabia o que estava acontecendo?

Segui pelos corredores, preocupado em transmitir tranquilidade, afinal eu era o psicólogo da unidade, e psicólogo é sempre exemplo de calma, equilíbrio e controle da situação (quem não concorda com essas representações sociais?). Porém minha preocupação foi em vão, uma vez que os corredores e setores estavam vazios. Mas onde estariam os funcionários? Será que me esperavam tensos e ansiosos? Ao passar pelo refeitório tive minha resposta, ou melhor, respostas. Numa grande tela pude ver o segundo avião atingir uma das torres, e depois os desmoronar de ambas. Pensei: isso é um filme de terror? Algum daqueles programas sobre efeitos especiais, desses bem trágicos que os americanos tanto gostam e cultuam? Não consegui acreditar no que via. E acho que só acordei do meu “surto aminnético” com o grito e desmaio de uma das colaboradoras (sim, era assim que os holandeses nos nomeavam). Não havia o que fazer e logicamente ninguém iria me ouvir naquele momento. Também não saberia o que falar. Melhor decisão, me juntar a todos, avaliar o estado emocional do grupo e aos poucos, depois das exaustivas e repetitivas cenas catastróficas, conversar com as pessoas.

Novas informações iam chegando a cada segundo através dos celulares que não paravam de tocar. Era um momento de aflição e histeria coletiva. Todos queriam falar com familiares, esposas e filhos. Meu corpo balançava a cada vez que o meu aparelho vibrava (sim, como bom profissional que sou, lembrei de colocá-lo no silencioso). E novas imagens de novos atentados iam surgindo na tela. Era difícil tentar acalmar uma multidão que vivenciava uma experiência totalmente inédita. Resolução final, todo mundo liberado. Menos os extremamente abalados emocionalmente, em atendimento no ambulatório. Depois de horas, comecei a atender minhas ligações e a tratar de minhas próprias expectativas e tensões diante do fato inusitado.

Fico imaginando nesse momento o quanto nos sentimos inseguros e indefesos diante do desconhecido e do imprevisto. Mas naquele momento, fui pra casa pensando o quanto é frágil nossas vidas e o quanto efêmero são nossas conquistas, riquezas e status, que por décadas buscamos atingir e acumular. Lembrei das ameaças sentidas anteriormente, primeiro com a guerra entre a Argentina e o Reino Unidos pelas ilhas Malvinas (ou Falklands War), que durou de abril a junho de 1982; e no ano seguinte com o filme americano The After Day (O Dia Seguinte), revelando as consequências de uma guerra nuclear.

Tinha apenas dezesseis anos e temia ser convocado para uma guerra, principalmente porque iria me alistar no ano seguinte. Por falar nisso, recordo agora os momentos difíceis que passei durante o alistamento militar. Nunca me imaginei com uma metralhadora nas mãos, e muito menos tirando sentinela em torres de vigilância ou ainda prestando continência aos homens de patentes. Lembro do suplicio de ficar mais de cinco horas em pé numa fila repleta de jovens sem grandes perspectivas e iludidos pelas campanhas de amor ao Brasil, divulgadas pelas forças armadas, mesmo com a tão prevista decadência, e porque não dizer falência da ditadura militar. Assim, passei por exames teóricos e tentei responder errado várias questões no intuito de ser desclassificado. Mas acredito que ninguém corrigia direito aqueles testes, ou ainda, que os brutamontes dos militares não sabiam ler (o que para mim não seria de espantar). Depois vieram os constrangimentos dos exames médicos. Aí, tínhamos que arriar as calças diante de todos e mostrar as palmas das mãos. Depois soprar forte enquanto algum deles remexia nossos testículos. Como desejei ter hérnias, ou qualquer tipo de enfermidade que pudesse me livrar daquela temível, mas possível classificação. Por fim, vieram os exames físicos, e logicamente pensei em demonstrar toda minha fragilidade e falta de aptidão para atividades pesadas. Não adiantou. Dois dias depois, novamente a imensa fila sob o sol e um resultado positivo. Tinha sido selecionado e agora deveria esperar a data para a apresentação oficial. Acho mesmo que meus pais adoraram o resultado e lembro-me de meu pai dizendo que iria aprender a ser homem de verdade (como se essas coisas se aprendesse nos quartéis).

Estava desesperado, mais fui salvo novamente pelo “jeitinho brasileiro” e pude descobrir a força e poder da influência de quem detém o poder. Fui encaminhado a um tenente (ou terá sido coronel?) e tive que implorar por várias vezes para que me retirasse da lista de convocação. Usei de todas as justificativas possíveis e imaginárias, mas o carrasco parecia se divertir com meu sofrimento. Em tom ameaçador me perguntava insistentemente quais os motivos porque não queria cumprir meu papel de cidadão brasileiro e me sacrificar pela pátria. Aleguei não querer atrasar meus estudos (fazia escola técnica, lembram?), mas, logicamente, isso não seria motivo suficiente para justificar minha falta. Coloquei meus objetivos e sonhos de futuro, e mais uma vez não consegui sensibilizar a criatura implacável. Por fim, declarei que não seria interessante para o exercito me ter como soldado. E ele revidou agressivamente perguntando o motivo. Sem saída e acuado, já sem esperança e certo de minha condenação, respondi de imediato: simplesmente porque não! Achei naquele instante que tinha mesmo me condenado ao castigo e nada mais poderia fazer a não ser rezar e pedir por algum milagre. Soube inclusive que pelo meu grau de estudos tinha sido aprovado para o C.P.O (que nem lembro o que significa, mas acho que é algum tipo de escola militar), onde trabalharia e seria liberado nas horas de aula.

Tive que retornar mais uma vez a triste fila. Meu coração pulsava mais que o normal. Acredito que devido à revolta que sentia. Estava sendo forçado a cumprir uma pena sem ter cometido nenhum crime. Sentia-me encurralado e com medo por ter infringido as regras e contrariado o meu potencial algoz. Fomos obrigados a entrar no quartel e depois esperar novamente por horas, até que outro oficial (que também não sabia identificar à patente) chegasse com a “Lista de Shindgle” (será que é assim?) me condenando a trabalhos forçados naqueles campos, que a meu ver também eram de concentração. Do alto de um banco, talvez para demarcar sua patente e poder, o homem de verde oliva informou que chamaria “um aprovado” e “um reprovado” sucessivamente. Tive que recorrer a Nossa Senhora. E achei que não seria justo que todos aqueles anos em uma escola regida pela igreja, a primeira comunhão obrigatória e todas as missas que tive que assistir, não me adiantasse de nada. O infeliz agora estava chamando os nomes, e obedecia à ordem alfabética, o que significava mais tempo para chegar a mim. Por fim, ele me chamou. Sei que escutei nitidamente meu nome completo, e quando pensei em me encaminhar para o lado dos desafortunados e abandonados pela sorte e fé, um garoto se precipitou em minha frente. O fardado esboçou um ar de dúvida e fúria, e de cara fechada resolveu repetir a chamada.

Não era eu. Meu nome foi o seguinte da lista e assim estava desclassificado e finalmente livre do que teria sido meu grande calvário. Nunca me senti tão feliz por ser excluído (será que isso significa que algumas exclusões são positivas?). Tinha vontade de me ajoelhar e agradecer à santa, mas preferi rezar baixinho e prometer mais respeitos para com os do céu. E para finalizar minha breve passagem, ou fuga, pelas forças armadas, fui até uma delegacia para jurar a bandeira. Uma funcionária pública com cara de preguiçosa, e que provavelmente nem tinha mais o espírito cívico, após muito tempo escrevendo alguma coisa em registro, estendeu a bandeira nacional sobre uma cadeira diante de mim. Pediu que erguesse o braço direito em continência e repetisse que jurava lutar e morrer pelo país, ou algo parecido. Penso hoje que se fosse destro e erguesse o braço esquerdo, ao invés do direito, se meu respeito seria considerado menor. Falo isso, porque sou de uma época em que os destros eram obrigados a aprender a escrever como “os normais”. Porque ser “canhoto” (como se chamava) era coisa do demônio.

Mas, voltando ao novo século, com suas previsões catastróficas, os anos 2000 trouxeram também um novo conceito de perigo para a humanidade. Eram os NEOs, ou no português rasgado, objetos próximos a terra (near-earth object) que podiam se traduzir em asteróides ou partes de estrelas fragmentadas que poderiam se chocar com nosso planeta causando catástrofes ambientais possíveis de varrer a existência humana da terra. Os jornais anunciavam o espanto dos astrônomos e divulgavam que só em 2002, dois desses objetos nos ameaçaram aos passar a “apenas” 600 mil quilômetros de distancia, o primeiro; e a 460 mil quilômetros, o segundo. Não entendo nada sobre astronomia e muito menos de cálculos e medidas astronômicas, mas acho que essa distancia não deva ser tão pequena assim, e também não tão menor da que separa a terra da lua (não se espantem com minha amplitude de conhecimento, acho que li isso em algum canto, provavelmente em jornais da época). E aí, relembro da Estação Espacial Skylab, da NASA, que em 1979, por problemas técnicos ameaçava cair sobre nossas cabeças. Engraçado relembrar essas coisas e perceber que as histerias de massa se repetem com as frequentes ameaças sofridas pela humanidade. Na época o fato terminou virando música de carnaval e os destroços da tal estação espacial caíram no oceano. E assim, hoje refletindo melhor, penso no quanto o Luiz Vaz de Camões tenha se tornado célebre, sobre tudo, por proferir que “navegar é preciso, viver não é preciso”. Afinal de contas a navegação é precisa e exata, pois que existem os mapas e equipamentos de orientação, enquanto que a vida mostra-se uma grande incógnita para os homens.

E aproveito para salientar que não pretendo adentrar nas discussões em torno da autoria, e que meu objetivo é apenas fazer correlações de sentidos (a frase é destacada por Fernando Pessoa como de autoria dos antigos navegadores romanos; e defendida por alguns, na atualidade, mais precisamente como de autoria do General Romano Pompeu, que viveu entre os anos de 106 a 148 a.C, e proferiu aos marinheiros amedrontados: “Navigare necesse; vivere non est necesse” – do original em latim). E assim, não posso deixar de registrar entre as coisas positivas do “admirável mundo novo” as novas possibilidades de acesso a informação e cultura. Seja através da internet, seja pelos avançados meios e formas de comunicação em tempo real, transmissões em imagens digitais ou de toda tecnologia avançada dos meios de transporte de que atualmente dispomos, o fato é que o novo milênio, cumprindo ou não as profecias da era de aquários aproximou os povos, pelo menos metaforicamente (que digam os palestinos).

Mas essas mudanças se dariam também no campo pessoal, pelo menos no meu caso especifico. Com o fim do meu casamento, me preparava para viver a vida dos solteiros. De certa forma criava expectativas em relação a essa nova fase de minha vida, e ficava imaginando como seria sair para farras e baladas sem precisar dar justificativas ou maiores explicações. Poderia viver sem cobranças. Mas como sempre, o rio atravessou meu caminho e num carnaval de 2006, trouxe com ele um novo grande amor. Acho que talvez seja meu destino, ou mesmo coisa de canceriano. Dizem os horóscopos, zodíacos e essa quantidade de coisas exotéricas, que quem é de câncer nasce para se casar. Se for, posso dizer que sou uma pessoa de sorte, pois me sinto casado novamente há quatro anos. Digo sinto-me, por que nossa relação se estabelece em outros parâmetros. Relembrando os ditados populares recordo um que dizia que “quando se arranja um marido, perde-se o namorado”. E assim, penso que a convivência, comum e sob um mesmo teto, torna-se um fator fundamental para o desgaste das relações. É a velha questão da privacidade, que hoje é fundamental para mim.

Confesso que gosto de estar casado, de dormir agarrado e ficar “chumbregando” (coisa de nordestino) a noite inteira. Adoro alisar, beijar e ficar horas fazendo carinho até adormecer. Melhor ainda é ter alguém com a cabeça em seu peito enquanto se faz cafuné na cabeça da pessoa amada. A respiração do outro parece sincronizar com os batimentos do nosso coração, e assim temos a grata sensação de estarmos juntos e unidos naquele momento que parece eterno. Percebo que na verdade sou um grande romântico, daqueles que escreve cartas longas e liga todos os dias para desejar boa noite ou dizer o que sonhou. Mas por outro lado, gosto de estar só e ter meu canto. Digo que não existe mesmo coisa melhor do que poder se jogar na cama (de casal) e se espalhar a vontade. Tenho meus próprios vícios, e de certa forma gosto de preservá-los. Por exemplo, só sei dormir completamente nu, com três travesseiros (pelo menos um entre as pernas) e dois lençóis. È que tenho que cobrir o rosto, mesmo com o quarto completamente às escuras. E isso só é bom com um velho lençol, de preferência rasgado e surrado pelo tempo. Assim tenho meu lençol de rosto, ou como gosto de chamar, meu molambo de dormir. Segundo minha mãe esse hábito vem da infância, pois tinha um lençolzinho de estimação que enrolava antes de dormir. E isso não é uma coisa que a gente possa dividir com alguém, mesmo que esse alguém seja um grande amor. A individualidade é uma condição básica aos seres humanos, dessa forma, hoje prefiro preservar meu espaço. Morar separados tem mais algumas vantagens, como por exemplo, sentir a falta do outro. Essa ausência, mesmo que por curtos períodos de tempo, possibilitam que a gente sentir saudades. E saudade dói, mas nos faz lembrar o quanto estamos apaixonados, e por isso, ligados a alguém que consideramos especial.

E paixão pra mim tem que ser a queima-roupas. Tem que ser à primeira vista, como diz os grandes românticos. E assim foi. Lembro que tinha saído com um amigo para brincar as prévias de carnaval nas ruas de Olinda (cidade patrimônio mundial da cultura). Era um sábado de fevereiro, porém as ruas estavam vazias. Rodamos quase a cidade alta inteira em busca dos foliões, torças ou batucadas dos maracatus. Era como se todos já tivessem se recolhidos cansados. Sem alternativas, resolvemos subir a ladeira da misericórdia, que por sinal, de tão alta se deve subir de costas para se ter a idéia que a descemos e por isso, cansamos menos. No Alto da Sé tem uma antiga casa de samba. Entramos e começamos a beber, conversar e dançar ao ritmo da bateria. De repente, ao voltar do bar, olhando em direção a Recife, que se vê do alto de uma grande varanda, encontrei o riso mais lindo que já pude admirar em toda minha vida. Como já falei, em escritos anteriores, sou vidrado em boca. Mas aquela era especial, porque tinha um sorriso extremamente encantador. Posso mesmo dizer que não era apenas um sorriso de boca, mas de alma. Tinha uma luz prateada, que provavelmente por reflexo da lua cheia iluminava toda a cidade. E por algum motivo, talvez por me encontrar inebriado com tanta doçura, imaginei que se destinasse a mim (convencido?). De qualquer forma, digo que fui automaticamente fisgado, e como um peixe preso ao anzol fui arrastado quase que involuntariamente. Resolvi deixar a timidez de lado e arriscar um contato. Não questionei se teria chances, pois naquele momento já me encontrava apaixonado. Aproximei-me lentamente, e para meu desencanto e tormento percebi que o sorriso não era para mim. Se traduzia num misto de simpatia sedutora que se dispersa pelo ar e arma um campo magnético e atinge aos desavisados. E era assim que me sentia naquele momento.

Meu coração agora batia acelerado e de certa forma me sentia meio trêmulo. Para quem não sabe ou nunca experimentou, são os primeiros sinais de paixonite aguda. Fiquei sem fala, sem saber o que dizer. Então fiz a pergunta mais tola que todas as tolices comuns as cenas de amor. E quando se virou para mim, percebi que não apenas a boca sorria, mas também um para de olhos verdes, que também a luz da lua pareciam azuis. Eram olhos vivos e vibrantes, de uma força estonteante, que fixados em mim, me deixaram completamente despido. E mais uma vez, para minha surpresa ou desespero, a resposta foi extremamente breve e sem grandes demonstrações de um mínimo interesse. Minha garganta ressecou como se estivesse no maior dos desertos. O estomago se contraiu como se em sinal do risco que corria. Mas como em muitas outras situações de minha vida, de certa forma, o orgulho falou mais alto. Não aceitaria tanta indiferença, e por isso voltei a insisti mais uma vez. E a segunda pergunta pareceu mais tola ainda, porém numa postura de igual para igual. Olho no olho, se é que entendem. Acho que consegui deixar claro minha boa intenção, ou nem tão boa assim. E acho mesmo que num processo de paquera a determinação é uma grande, ou talvez a violenta arma de sedução. E aqueles olhos já não se perdiam mais no horizonte, mas pareciam presos aos meus. E cada sorriso seu era correspondido de imediato, como se houvesse descoberto sua linguagem. E depois, o corpo se mexendo ao ritmo da musica parecia proposital. Como disse meu amigo, era a dança do acasalamento. Uma espécie de ritual de sedução do qual não se pode mais fugir.

Terminamos a noite conversando até a noite cair, mas somente depois da lua nos deixar para se esconder por trás dos casarões antigos e históricos de Olinda. Era uma noite mágica, que foi selada por um rápido beijo que demarcaria o inicio de uma nova história.

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