sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

CARNAVAL 2012 - PROSTITUIÇÃO DO RECIFE





CARNAVAL E PROSTITUIÇÃO NO RECIFE – A CONTRADIÇÃO DEMOCRÁTICA

Que o Recife é uma cidade contraditória ninguém duvida. Porém, mais contraditória se faz sua política de gestão. Neste ponto, seu carnaval não seria diferente. A uma semana da abertura oficial, sinais modestos da grande festa pernambucana surgem em pontos específicos. A Ponte Duarte Coelho, que atravessa o Rio Capibaribe, interligando as avenidas Conde da Boa Vista e a Guararapes já está parcialmente decorada [ou será que está pronta?]. Em aquarelas, passistas, caboclinhos, maracatus e la ursas, enchem de colorido a principal via de acesso ao maior bloco carnavalesco do mundo, o Galo da Madrugada, que desfila no sábado, dia 18 de fevereiro. Dizem que o carnaval é uma festa democrática, onde como já diz a velha canção: “com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco”. Porém democracia, que faz referencia direta a soberania popular, em certas situações parece tender a outros significados, evidenciando logicamente interesses que nem sempre são do coletivo.



Dizem ainda que o carnaval é a festa da carne. E disso ninguém duvida também. Especificamente em Recife, onde o calor atiça os sentidos, pouca roupa torna-se quase que obrigatório. Tal fato, aliado ao erotismo naturalizado pelos nativos, transforma a festa de Baco numa desenfreada orgia quase comportada. Afinal de contas, carnaval é concentração, aglomeração, e por conseqüência esfrega-esfrega, atrito de corpos suados, e por que não, azaração despretensiosa e descomprometida. Ao se falar de carne automaticamente pensa-se em desejo, sedução, excitação e tesão. Isso logicamente atrai milhares de pessoas, que vindas de outras cidades, estados e países, superlotam as ruas estreitas e mal cheirosas da capital pernambucana. Assim, podemos dizer que Recife respira sexo e fantasias neste período. Fantasias que vestem os corpos e fantasias que saciam os corpos. E é neste ponto que entra em cena [ou melhor, saem de cena] as profissionais do sexo – especificamente me referindo as prostitutas e travestis que se prostituem no centro da cidade.


No carnaval pernambucano a prostituta é inserida na festança como personagem tradicional. De certa forma, representa a liberdade e fonte de prazer. Objeto de desejo dos desacompanhados, dos solitários, e até, às vezes, dos casados, noivos e enamorados. É que carnaval também é o espaço de autorizo, onde os pobres mortais comungam com Dionisio, deus do vinho e da desordem. E quem mora em Recife sabe que prostituta boa e experiente se encontra na famosa Pracinha do Diário. De segunda a segunda elas pegam no batente circulando a mais antiga praça pública da cidade. Reconhecido território da prostituição feminina, a praça em si é uma vergonha. Não pela atividade exercida no local, muito pelo contrário, mas pela harmonia e cuidado de que carece tal patrimônio púbico [ou seria público?]. Mas esse ano, a exemplo de 2011, elas perderam espaço para o grande e luxuoso camarote da Rede Globo.

É que com a mudança de itinerário promovido pela prefeitura, o Galo da Madrugada abandonou definitivamente e apertada e tradicional Rua da Concórdia, para se espremer pela Av. Dantas Barreto. E se a tradição perde em essência, o turismo local ganha em dividendos, arejando os cofres públicos. Até aí nada de mais. Porém como falávamos em democracia, me ponho a pensar como permitir que uma empresa privada [e patrocinadora, vale salientar] possa se apossar de uma praça inteira para montar um simples camarote [local onde, democraticamente as prostitutas não circularão]. Mais impressionante ainda é o tempo do empossamento. É que, contrária a ineficiência da máquina pública, a “Deusa Platinada” instalou suas altas paredes metálicas e excludentes, no local, em meados de janeiro. Ou seja, quase um mês antes do carnaval. Neste caso, nós, pobres cidadãos que pagamos pela manutenção [ou falta desta] do tal patrimônio púbico ficamos privados da praça. E pior é que nem nos sobram às calçadas, o que nos obriga a fazer manobras em meio aos veículos que chegam a avenida.

Mas independente disso, parece mesmo que o carnaval é a festa do “deixa prá lá”. Não existe explicação ou convocação da população para tal concessão. Tudo é resolvido do dia para noite, provavelmente em meio a grandes festas [ou seriam reuniões?]. Fato é que sem a praça as prostitutas mais uma vez são sumariamente expulsas do território já conquistado e consolidado. Será que não deveriam ser indenizadas, ou pelo menos ressarcidas em seus prejuízos? E neste caso a quem caberia tal obrigação, a máquina pública ou a privada? Será que se as prostitutas invadissem a prefeitura ou a empresa dona do camarote seria a mesma coisa? Talvez não porque prostituta no Brasil, independentemente de carnaval, nunca foi cidadã. E olha que estamos falando da Praça da Independência, onde vale salientar, a prostituição é tão antiga quanto à própria cidade.


DANILO CARIAS EM FOLIA
Durante o domínio holandês a praça já constava nos mapas da época e era denominada como “Terreiro dos Coqueiros”. Depois foi rebatizada como Praça Grande; Praça do Comércio, devido à grande quantidade de lojas comerciais ao redor; Praça da Ribeira; e depois, Praça do Polé, porque no local foram instalados instrumentos de tortura, pelos quais se pendurava as vitimas com uma corda grossa de cânhamo, pelos pulsos e pelas mãos, com pesos de ferro presos nos pés. Em 1816, após reforma, foi chamada de Praça da União. E só em 1833 passou a ser denominada como Praça da Independência. Como na época não existia Galo da Madrugada, e muito menos Rede Globo, imagina-se que as prostitutas podiam circular livremente pelo espaço. Hoje, porém, talvez o mais aconselhável fosse mudar novamente o nome do patrimônio púbico para Praça Global. Quem sabe assim, quando acabasse o carnaval a mesma empresa privada não se responsabilizaria por sua manutenção? E neste caso, assim, até caberia tal descabimento e insensatez.

AMANTES DE GLÓRIA - DESDE 1979
Mas como dizem no popular, no carnaval como na vida, nem tudo são flores. Mas por outro lado se as prostitutas são expulsas do grande desfile [ou melhor, de seus afazeres durante o período momesco], um bloco carnavalesco fundado em 1997 lhes faz reverências. É o já tradicional “Bloco Carnavalesco Amantes de Glória”. Apesar das divergências, bem como das lendas que se criaram ao redor do bloco, fala-se que Glória era uma antiga prostituta, ou travesti do Recife, famosa no Bairro Antigo. Completando 15 anos de folia, os Amantes de Glória saem às ruas do Recife todos os anos para fazer a festa e arrastar multidões. Então, além de cair na candáia num dos blocos mais irreverentes da cidade, é bom torcer para que continue assim. Torcer para que não entre também no livro dos recordes. Por que senão as emissoras de TV vão invadir a cidade de camarotes quilométricos, e a prefeitura, sabiamente, vai transformar nosso carnaval em um grande circo, onde aos palhaços e cidadão [ou será a mesma coisa?] caberão apenas as estreitas e esburacadas ruas.

E só para lembrar, já que estamos falando em democracia, “A Praça é do Povo!”. Mas será que o prefeito lembra disso? [Plim-Plim!]

2 comentários:

  1. Uma reflexão como esta precisa ser expandida na mídia virtual: Ponha urgente no face, quem sabe os/as foliões/ãs ao passarem na "Praça do PlimPlim" constatam tamanha estupidez e descasos???

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