terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

CARNAVAL 2012 - A DIVERSIDADE PERNAMBUCANA


BAILE MUNICIPAL DO RECIFE - 2012
















48º BAILE MUNICIPAL DO RECIFE - DIVERSIDADE E INCLUSÃO

Sábado, 11 de fevereiro. Depois de uma tremenda ressaca devido à qualidade duvidosa de certa cerveja que deveria ser “proibida”, a noite chega e novamente já estamos prontos. Destino: Chevrolet Hall, localizado na divisa dos municípios de Recife e Olinda, onde se realiza o tradicional Baile Municipal do Recife, ou como preferem alguns, Baile Gay Municipal do Recife. O transito apesar de intenso é tranquilo. Engarrafamento mesmo só de gente, ou melhor, de personagens. E eles surgem de todos os cantos. De dentro dos carros, dos ônibus, das ruas. Ao lado, no Centro de Convenções, acontece a previa carnavalesca do “Enquanto Isso na Sala da Justiça”, o que provoca uma mistura maravilhosa entre super-heróis e Pierrôs, Colombinas, Arlequins, Piratas, Faraós, Odaliscas, Palhaços, Marinheiros e tantos outros seres fantásticos [e outros nem tanto] que vêem brincar. A aglomeração lembra um formigueiro. E eis que de repente surge ela com seu capacete brilhante. É a “Formiga Atômica” que vem acompanhada de “Abelhas Rainhas” e “Mosquitos da Dengue”. O funcionário do IBGE veio com prancheta e formulários do Censo. E senso é o que parece faltar a quem se arrisca a tal rebuliço burlesco. É que os “Piratas do Caribe” assumem proporções físicas e geracionais variadas e disformes. Mas em Pernambuco, como diz a velha canção, “brinca velho, brinca moço... brinca até quem não tem pé”. E neste aspecto o Baile Municipal se destaca por revelar a presença e inclusão das pessoas com deficiência física, que também fantasiados caem na folia.

Os contos de fadas ganham vida e “Branca de Neve” segue acompanhada de um “Presidiário”, enquanto “Chapeuzinho Vermelho” surge ao lado do “Zorro”. Nem as clássicas histórias em quadrinhos revelariam tanta criatividade em oposições. Também tem os “Romanos”, “Egípcios” e “Gregos” que surgem em bandos. Uma versão satírica do enfadonho “Big Bosta Brasil” alerta que não se pode entrar. “Toureiros” desfilam sem touros, e “Diabos” brincam acompanhados de “Anjos” nada inocentes. O calor também marca presença, mas a multidão se aperta na entrada, com direito a revista policial. A decoração assume ares tropicais em tonalidades de verdes e azuis, mesclados com pinturas em aquarela que representam a fauna e a flora regional. É preciso encontrar um lugar para fincar posição. O salão mais uma vez está super lotado e o povo parecia não parar de chegar. Com o ingresso no valor de R$ 50,00 [dividido em cinco vezes no cartão de crédito], o Baile possibilita a participação coletiva de forma mais democrática, se diferenciando dos demais bailes e prévias carnavalescas. Para quem deseja mais conforto, pode-se optar pelos camarotes. Mas para quem gosta mesmo do empurra-empurra e do calor provocado pela “freveção”, o melhor espaço é diante do palco. É lá que o ritmo se acelera ao som de vassourinhas. É lá que a massa pula livre e desimpedida de conceitos ou preconceitos. E olha que tem quem apenas se coloque a admirar, seja a festa, as fantasias ou os corpos. Nada importa, tudo é possível, inclusive a azaração e paquera.

É nesta celeuma folclórica e pegajosa que um “Piter Pan” aproveita para exibir despretensiosamente sua musculatura peitoral a base de muita bomba, enquanto “Enfermeiras” e “Ciganas” exibem peitorais turbinados a base de não menos silicones. A quentura externa não se faz maior que a interna, e por isso, algumas fantasias mostram-se econômicas em tamanho, o que possibilita maior evidencia de corpos, ou parte destes, “sarados” ou “desturbinados”. Nada incomoda. O negócio é se sentir bem, e se possível, se dar bem. No meio disso tudo “Papai Noel” parece procurar seus veadinhos perdidos. E olha que se ele resolvesse fazer uma seleção não faltariam candidatos. De repente um “Drácula” negro abre sua capa e ensaia um vôo sobre a platéia. Uma “Colegial” já prá lá de madura se apressa em lhe oferecer o pescoço, mas o vilão parece mesmo interessado em um torço mais másculo. As “Piriguetes” se insinuam fazendo charme diante de belos “Arlequins” ou “Pierrôs”. Os beijos acontecem aos montes, seja entre piratas e gladiadores, seja entre padres e freiras, ou entre melindrosas e juízas. Nesta festa, diferenças de estaturas ou de massas corpóreas não opõem barreiras aos lábios sedentos dos apaixonados. E com um esfregão aqui, um apalpado ali, sempre se consegue transitar livremente pelo salão. O que não acontece nos banheiros, onde a pegação toma conta. E neste ponto vale salientar o desagrado não pelo ato em si, pois que as sexualidades também se fazem livres no carnaval, mas pela dificuldade de se conseguir aliviar os rins. Mas, como se diz popularmente por aqui é melhor relaxar e deixar que tudo “saia na urina”, pois que no carnaval pernambucano não incomoda que corpos se encontrem em pequenos flertes e sarros ou em toques comportadamente maliciosos.


NORMANDO VIANA E EPITACIO NUNES

E neste sentido, nada parece muito concreto ou diluído a ponto de se ultrapassar limites. O respeito se faz com graça, e às vezes, artimanhas [ou melhor, arte e manha]. Porque nesta brincadeira de sedução volátil e licenciosa ou se safa ou se apanha, ou se caça ou se é caçador. Neste rebuliço de folia os parâmetros se fazem ocasionais e situacionais, e a graciosidade da festa ganha espaço no improviso, tanto quanto no imprevisto. Pois nesta festa de “diversidades” encontra-se de tudo, casados, solteiros, travestis, prostitutos, virgens, donzelos, descamisados, descarados, mascarados, empregadores, empregados, políticos e eleitores. Parece não existir diferenças de classe, etnia/raça, credo, idade ou de orientação sexual. Tudo se cola e tudo se separa ao mesmo tempo. Tudo se ata e tudo se repele sem grandes complicações. É carnaval. E se isso não justifica, com certeza explica. E isso basta, e nos basta. Até porque os problemas de outras ordens devem ficar para os demais dias do ano. Até porque carnaval em Pernambuco é festa. E pra nós festa é sagrada [e profana, logicamente!].

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