segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

VIAGEM AO VELHO MUNDO EM 20 DIAS - Capítulo X


O FRIO DE PARÍS
 O MUSEU DO LOUVRE: OITO SÉCULOS DE HISTÓRIA

No fim do século XII, o rei Felipe Augusto mandou construir um castelo num local já chamado Louvre. Quase dois séculos depois a austera fortaleza é transformada em residência do rei Carlos V. O “palácio gracioso e vivo como um esmalte” enfrenta a guerra dos cem anos e afasta a realeza e passa a abrigar uma prisão. Francisco I decide morar na cidade luz, antiga boa vila, e inicia as reformas que transformarão o Louvre em um verdadeiro palácio da Rensacença. Em 1564, Catarina de Médicis manda edificar o Palácio das Tulherias, a seissentos metros do antigo palácio. A nova obra, ao longe parece unir as duas edificações. No fim do reinado, Henrique IV interliga os dois antigos palácios graças a grande galeria as margens do Sena. O prédio assume a forma de U. O Rei Sol desperta atenção por Versalhes, a vinte quilômetros de Paris. O velho castelo é abandonado mais uma vez e torna-se invadido pela escória, morimbundos e comerciantes. Em 1776, o conde de Angiviller o transforma em museu, porém sua abertura oficial é impedida pela Revolução Francesa. Finalmente, em 1791 é criado oficialmente o Museu Central das Artes, somente inaugurado dois anos depois. Em 1866, Napoleão III realiza o “grande desenho” interligando o Palácio das Tulherias ao Louvre com a construção da ala norte. Porém em 1871 a Comuna incendeia as Tulherias e a obra será definitivamente destruída pela III Repúplica. Com o desaparecimento do histórico prédio, o Louvre finalmente abre seus dois grandes braços em direção ao Jardim das Tulherias, a Place de la Concórdia [onde milhoes de pessoas foram decaptadas no passado na antiga bastilha] e ao Arco do Triunfo. Em 1981, no governo de François Miterrand surgem as pirâmides que atualmente se erguem na frente do maior museu do mundo.

VITÓRIA DE SAMATRACIA - 190 a.C.

Diz-se que é no pátio do Louvre que se inicia o eixo histórico de Paris. Começando pela estátua de Luiz XIV, no pátio principal do Palácio do Louvre até o jardim das Tulherias, Place de la Concórdia, dos Champs-Élysées, para terminar no Arco do Triunfo, em meio a Place Charles de Gaulle. Ao longe a Torres Mantparnasse e a Basílica de Sacré de Coeur, no topo da colina Montmatre, tornam-se referências aos céus parisienses. Visitar o Louvre é antes de um simples paceio, uma prova de resistência e persistência. Uma fila quilométrica se estende por ruas paralelas. O frio corta a pele e parece congelar as pernas. Estamos abixo de zero e a tonelada de roupas se mostra insuficiente. O tempo corre mas a fila não anda. Milhões de sutaques se misturam em vários idiomas. Tem gente de todo o mundo alí. E não estamos falando de centenas, mas de milhões de pessoas que se espremem e se apertam na tentativa de vencer o desafio. Uma hora contada de relógio até atingir a fila principal instalada no pátio externo do museu. O frio aumenta. Não existe onde se esconder. O Sena parece brincar empurrando uma brisa gélida e implacável. Mais uma hora se passa e agora chegamos junto a pirâmide principal. A revista policial é lenta, a fila é lenta. Não existe pressa, porém a fila é longa demais. Mais trinta minutos e estamos na porta de entrada. Já são 12:00 e a fome vence o frio. Sanduiche e café quente tornam-se especiarias preciosas.

DIANTE DA MONALISA
 Acho que o período de um ano seria insuficiente para se conhecer o Louvre. Ansiedade controlada e racionalização facilitam a seleção mínima do que se pode absorver. Mesanino, térreo e mais dois andares para trilhar em poucas e preciosas horas. Impossível perder mais tempo com pensamentos. Um mapa nos serve de guia. No entresol [mezanino]: esculturas, antiguidades egípicias, história do Louvre, Louvre medieval, salas de exposições temporárias; no rez-de-Chaussée [térreo] antiguidades orientais, antiguidades egípicias, antiguidades gregas, etruscas e romanas, artes da África, da Ásia, da Oceania e das Américas; no premier étage [primeiro andar]: objetos de arte, mais antiguidades egípicias, gregas, romanas, etruscas, pinturas, artes gráficas e salas de exposições temporárias; no second étage [segundo andar]: pinturas francesas, artes gráficas, desenhos franceses, pinturas alemãs, flamengas, holandesas, belgas, russas, suíças e escandinavas, mais salas de exposições temporárias. Estávamos diante do mundo. A história da humanidade contada através das artes. Da mais pura e genuina arte a que se pode ter acesso. Destino traçado, seguimos pelas escadarias em mármore branco da ala Sully. No topo da escada encontramos a Vitória de Samotracia, estátua em mármore datada de 190 a.C. Uma mulher alada sem cabeça é representada de forma magistral. Os olhos tentam capitar o máximo da mais pura beleza. A sensilidade e o refinamento se revelam em cada peça, cada obra. Tudo é grandioso.

DAVI EM LUTA
A multidão se apressa. Parece seguir um destino previamente estabelecido. Afinal o Museu do Louvre esconde o sorriso mais famoso e enigmático do mundo. Fazemos o percurso lentamente saboreando cada detalhe. Como é triste ser um tolo ignorante diante de tanta magnitude. Um corredor quilométrico se estende a nossa frente, é um dos braços do Louvre. Entra-se por uma galeria e lá está ela. Triunfal e indiferente aos olhares astuciosos e ávidos por detalhes precisosos. A Gioconda de Leonardo da Vince parece zombar do séquito de admiradores. Os flashes disparam e refletem luminosidade na proteção de vidro que isola o quadro. Cem metros é a distancia máxima de aproximação. As pessoas se aglomeram e é preciso lutar por um espaço mais previlegiado. Nos colocamos diante da obra. O criador aparece em cada pincelada, em cada pigmento que compõe a pintura. É simplesmente magistral. A sutileza se apresenta diante dos tolos mortais. Luz e sombra se misturam de forma harmoniosa. O famoso sfumato se mostra desvanecido nos contornos de uma mulher misteriosa. Não é bela, muito menos feia. Não existe classificação, pois que a beleza está na obra, no todo, e logicamente em seu significado e representação. Diz-se sobre a mesma, que Leonardo não desejou descrever com precisão os contornos da Giocaonda, ao contrário desejou pintar sua alma. Talvez aí se concentre o grandde mistério, a sutileza da alma, de algo que não se faz concreto, algo que não se sabe real. Apenas fantástico. Apenas os iluminados compõem tamanha beleza.

CORREDOR DA ALA SUL
Saímos calados, pensativos. Descemos escadas, entramos em galerias, atravessamos alas intermináveis. As obras parecem exigir o máximo de atenção. Dificil decidir por onde continuar, o que ver primeiro. Descemos ao pavimento térreo. O Louvre é uma obra de arte em si mesmo. Seguimos para a exposição de antiguidades egípicias. A Esfinge mostra-se emblemática. Nos tornamos pequenos diante de tanta genialidade. A noite se anuncia e com ela nossa partida. Seguimos novas escadarias e nos encaminhamos rumo a brisa. As pirâmides agora se estão iluminadas revelando a luz que sai das profundezas da terra. Brincamos em poses fotográficas. Sobe-se em um pdestal de mármore preto e tem-se a idéia de se abraçar a pirâmide maior. Ilusão de ótica milimetricamente calculada e prevista. Nossos olhos se cruzam. Eu e meu amigo de aventura não encontramos palavras para descrever impressões, opiniões. Não se faz necessário. É preciso tempo para absorver, fazer o espírito ruminar cada informação. Olhamos de volta para a entrada do museu. Apesar de italiana a Gioconda pertence a París. Pois que como ela, a cidade nos faz um convite aos mistérios. Um convite ao retorno. Definitivamente não se deve morrer sem conhecer o París – a cidade de sorriso enigmático.


ANTIGUIDADE EGÍPICIAS
Próxima parada: Londres!

GIOCONDA DA LEONARDO DA VINCI


 

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