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O FRIO DE PARÍS |
O MUSEU DO LOUVRE: OITO SÉCULOS DE HISTÓRIA
No fim do século XII, o rei Felipe Augusto mandou construir um castelo num local já chamado Louvre. Quase dois séculos depois a austera fortaleza é transformada em residência do rei Carlos V. O “palácio gracioso e vivo como um esmalte” enfrenta a guerra dos cem anos e afasta a realeza e passa a abrigar uma prisão. Francisco I decide morar na cidade luz, antiga boa vila, e inicia as reformas que transformarão o Louvre em um verdadeiro palácio da Rensacença. Em 1564, Catarina de Médicis manda edificar o Palácio das Tulherias, a seissentos metros do antigo palácio. A nova obra, ao longe parece unir as duas edificações. No fim do reinado, Henrique IV interliga os dois antigos palácios graças a grande galeria as margens do Sena. O prédio assume a forma de U. O Rei Sol desperta atenção por Versalhes, a vinte quilômetros de Paris. O velho castelo é abandonado mais uma vez e torna-se invadido pela escória, morimbundos e comerciantes. Em 1776, o conde de Angiviller o transforma em museu, porém sua abertura oficial é impedida pela Revolução Francesa. Finalmente, em 1791 é criado oficialmente o Museu Central das Artes, somente inaugurado dois anos depois. Em 1866, Napoleão III realiza o “grande desenho” interligando o Palácio das Tulherias ao Louvre com a construção da ala norte. Porém em 1871 a Comuna incendeia as Tulherias e a obra será definitivamente destruída pela III Repúplica. Com o desaparecimento do histórico prédio, o Louvre finalmente abre seus dois grandes braços em direção ao Jardim das Tulherias, a Place de la Concórdia [onde milhoes de pessoas foram decaptadas no passado na antiga bastilha] e ao Arco do Triunfo. Em 1981, no governo de François Miterrand surgem as pirâmides que atualmente se erguem na frente do maior museu do mundo.
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VITÓRIA DE SAMATRACIA - 190 a.C. |
Diz-se que é no pátio do Louvre que se inicia o eixo histórico de Paris. Começando pela estátua de Luiz XIV, no pátio principal do Palácio do Louvre até o jardim das Tulherias, Place de la Concórdia, dos Champs-Élysées, para terminar no Arco do Triunfo, em meio a Place Charles de Gaulle. Ao longe a Torres Mantparnasse e a Basílica de Sacré de Coeur, no topo da colina Montmatre, tornam-se referências aos céus parisienses. Visitar o Louvre é antes de um simples paceio, uma prova de resistência e persistência. Uma fila quilométrica se estende por ruas paralelas. O frio corta a pele e parece congelar as pernas. Estamos abixo de zero e a tonelada de roupas se mostra insuficiente. O tempo corre mas a fila não anda. Milhões de sutaques se misturam em vários idiomas. Tem gente de todo o mundo alí. E não estamos falando de centenas, mas de milhões de pessoas que se espremem e se apertam na tentativa de vencer o desafio. Uma hora contada de relógio até atingir a fila principal instalada no pátio externo do museu. O frio aumenta. Não existe onde se esconder. O Sena parece brincar empurrando uma brisa gélida e implacável. Mais uma hora se passa e agora chegamos junto a pirâmide principal. A revista policial é lenta, a fila é lenta. Não existe pressa, porém a fila é longa demais. Mais trinta minutos e estamos na porta de entrada. Já são 12:00 e a fome vence o frio. Sanduiche e café quente tornam-se especiarias preciosas.
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DIANTE DA MONALISA |
Acho que o período de um ano seria insuficiente para se conhecer o Louvre. Ansiedade controlada e racionalização facilitam a seleção mínima do que se pode absorver. Mesanino, térreo e mais dois andares para trilhar em poucas e preciosas horas. Impossível perder mais tempo com pensamentos. Um mapa nos serve de guia. No entresol [mezanino]: esculturas, antiguidades egípicias, história do Louvre, Louvre medieval, salas de exposições temporárias; no rez-de-Chaussée [térreo] antiguidades orientais, antiguidades egípicias, antiguidades gregas, etruscas e romanas, artes da África, da Ásia, da Oceania e das Américas; no premier étage [primeiro andar]: objetos de arte, mais antiguidades egípicias, gregas, romanas, etruscas, pinturas, artes gráficas e salas de exposições temporárias; no second étage [segundo andar]: pinturas francesas, artes gráficas, desenhos franceses, pinturas alemãs, flamengas, holandesas, belgas, russas, suíças e escandinavas, mais salas de exposições temporárias. Estávamos diante do mundo. A história da humanidade contada através das artes. Da mais pura e genuina arte a que se pode ter acesso. Destino traçado, seguimos pelas escadarias em mármore branco da ala Sully. No topo da escada encontramos a Vitória de Samotracia, estátua em mármore datada de 190 a.C. Uma mulher alada sem cabeça é representada de forma magistral. Os olhos tentam capitar o máximo da mais pura beleza. A sensilidade e o refinamento se revelam em cada peça, cada obra. Tudo é grandioso.
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DAVI EM LUTA |
A multidão se apressa. Parece seguir um destino previamente estabelecido. Afinal o Museu do Louvre esconde o sorriso mais famoso e enigmático do mundo. Fazemos o percurso lentamente saboreando cada detalhe. Como é triste ser um tolo ignorante diante de tanta magnitude. Um corredor quilométrico se estende a nossa frente, é um dos braços do Louvre. Entra-se por uma galeria e lá está ela. Triunfal e indiferente aos olhares astuciosos e ávidos por detalhes precisosos. A Gioconda de Leonardo da Vince parece zombar do séquito de admiradores. Os flashes disparam e refletem luminosidade na proteção de vidro que isola o quadro. Cem metros é a distancia máxima de aproximação. As pessoas se aglomeram e é preciso lutar por um espaço mais previlegiado. Nos colocamos diante da obra. O criador aparece em cada pincelada, em cada pigmento que compõe a pintura. É simplesmente magistral. A sutileza se apresenta diante dos tolos mortais. Luz e sombra se misturam de forma harmoniosa. O famoso sfumato se mostra desvanecido nos contornos de uma mulher misteriosa. Não é bela, muito menos feia. Não existe classificação, pois que a beleza está na obra, no todo, e logicamente em seu significado e representação. Diz-se sobre a mesma, que Leonardo não desejou descrever com precisão os contornos da Giocaonda, ao contrário desejou pintar sua alma. Talvez aí se concentre o grandde mistério, a sutileza da alma, de algo que não se faz concreto, algo que não se sabe real. Apenas fantástico. Apenas os iluminados compõem tamanha beleza.
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CORREDOR DA ALA SUL |
Saímos calados, pensativos. Descemos escadas, entramos em galerias, atravessamos alas intermináveis. As obras parecem exigir o máximo de atenção. Dificil decidir por onde continuar, o que ver primeiro. Descemos ao pavimento térreo. O Louvre é uma obra de arte em si mesmo. Seguimos para a exposição de antiguidades egípicias. A Esfinge mostra-se emblemática. Nos tornamos pequenos diante de tanta genialidade. A noite se anuncia e com ela nossa partida. Seguimos novas escadarias e nos encaminhamos rumo a brisa. As pirâmides agora se estão iluminadas revelando a luz que sai das profundezas da terra. Brincamos em poses fotográficas. Sobe-se em um pdestal de mármore preto e tem-se a idéia de se abraçar a pirâmide maior. Ilusão de ótica milimetricamente calculada e prevista. Nossos olhos se cruzam. Eu e meu amigo de aventura não encontramos palavras para descrever impressões, opiniões. Não se faz necessário. É preciso tempo para absorver, fazer o espírito ruminar cada informação. Olhamos de volta para a entrada do museu. Apesar de italiana a Gioconda pertence a París. Pois que como ela, a cidade nos faz um convite aos mistérios. Um convite ao retorno. Definitivamente não se deve morrer sem conhecer o París – a cidade de sorriso enigmático.
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ANTIGUIDADE EGÍPICIAS |
Próxima parada: Londres!
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GIOCONDA DA LEONARDO DA VINCI |
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