domingo, 22 de janeiro de 2012

VIAGEM AO VELHO MUNDO EM 20 DIAS - Capítulo VI

NATAL EM VENEZA

VENEZA: A MAGESTOSA CIDADE QUE FLUTUA SOBRE AS ÁGUAS

De minha janela vislumbro a ponte que atravessa o rio que separa as principais ilhas que formam o centro da cidade. O sol tinge de dourado as águas calmas que correm rumo ao mar. Do “Catamarã” que navega suas águas vejo na orla antigos casarios que se sobrepõem e erguem-se majestosos aos céus. No outro lado do rio avisto o antigo palácio que serviu de hospedagem a família real. A sua frente um grande jardim, onde reina o mais antigo dos baobás de origem africana, assume ares de independência. Mais uma ponte se ergue para abrir caminhos ao porto que parece se precipitar na boca oceânica onde as grandes embarcações não podem chegar. Estamos no antigo bairro nobre, repleto de prédios históricos que remontam tradições e a arquitetura européia. Estamos em Recife, capital pernambucana. Cidade nordestina encurralada por águas, doces e salgadas, límpidas e poluídas, rasas e profundas, mornas, e por que não dizer majestosamente misteriosas.


CAIS DE VENEZA

Sentado em um banco revestido em veludo vermelho me perco por canais misteriosos. Rios caudalosos empurram a embarcação que parece flutuar sobre águas iluminadas ao sol. Encerrado entre prédios de tijolos descascados, com velhas portas de madeiras, corro olhares ávidos por desvendar mistérios. Uma antiga ponte de tijolinhos da cor de barro sobrevoa minha cabeça. Por ela pessoas transitam de um lado a outro carregando pequenas sacolas de compras. Não existe pressa. Uma jovem aguarda o próximo barco enquanto alguém lhe acena da janela lhe advertindo sobre o frio. Estamos sobre as águas do mar Adriático que alimenta a Lagoa de Veneza, que dá origem a cidade. Estamos na comuna italiana, localizada na Região de Vêneto, ao nordeste da Itália. Igualmente ao Recife, a cidade é cercada pelas águas que apesar de rasas e frias, não se revelam menos majestosamente misteriosas.


OS CANAIS DE VENEZA

São duas cidades cortadas por rios, separadas por continentes banhados por diferentes oceanos. Dois povos, duas histórias e duas culturas que se misturam. Pequenas semelhanças e uma enorme diferença entre ambas. O que diferencia a Recife brasileira da Veneza italiana não é especificamente cênico, mais cultural. Não existem lixeiros em Veneza, mas também não existe lixo ou papéis espalhados pelas ruas. Existe sim o comercio informal, mas não existe desorganização ou alvoroço. Existem sim ruas velhas, como também velhas são suas pontes. Mas não existem buracos, bocas de lobo desprotegidas ou esgotos a céu aberto. Não, não existem marquises oferecendo riscos, pichações e nem mesmo poluição visual devido ao grande número de cartazes de divulgação colados em muros e prédios históricos. Também não existem poças de água e lama, milhares de pessoas desprotegidas que dormem e morrem nas ruas, ou mesmo câmeras que registram assaltos. Parece não existir violência em Veneza. Ah, e não existem garrafas plásticas ou grande quantidade de quinquilharias boiando nos rios. Muito menos esculturas corroídas pela maresia. Isso fica para Recife! O que existe na verdade, e que nos faz falta é certa arrumação que se impõe em uma cidade tradicionalmente turística. Existe acima de tudo educação, respeito e bom senso por parte de seus governantes e também da população.


OS GONDOLEIROS DE VENEZA

Veneza, como Recife, tem milhares de pontes que parecem emendar pequenos bairros ilhados. Mas ao contrário de nossa cidade é suspensa em pilotis fincados nas águas. Não existe transito, sinalizações ou semáforos. Mas existem as gôndolas com seus tradicionais gondoleiros com camisas listradas e chapéus que remam majestosamente por águas calmas. Um dos passeios mais românticos que já fiz em minha vida. Um natal inesquecível que guardarei para sempre na memória. Na Piazza de San Marco uma ebulição de visitantes revela a força do turismo sustentável. São milhares de pessoas, todos os dias, todas as horas, partindo ou chegando dos quatro cantos do mundo. Os flashes se multiplicam evidenciando curiosidades e especificidades de uma cultura que é milenar. De um lado a Torre do Relógio, de outro o Museu Correr. No centro a Basílica de San Marco se posiciona de frente para o mar que separa ilhas repletas de antigos castelos e esplendorosos prédios históricos. As ruas de pedra se perdem em labirintos que desembocam em becos estreitos. Em milhares de lojas as máscaras de Veneza nos lembram nossos saudosos bailes de carnaval. De todos os tamanhos e cores, nos parecem próximas e velhas conhecidas. Representam as expressões de Veneza. Expressões que também aprendemos a representar através da plasticidade de nossas emoções. Tristes, alegres, misteriosas, sarcásticas ou melancólicas, parecem vivas, revelando os mais puros e genuínos sentimentos da Itália.


A CIDADE SOB AS ÁGUAS

Dizem que a cada ano o mar sobe três centímetros, e que por isso, um dia Veneza será completamente engolida pelas águas que apagarão para sempre o seu passado de grandes lutas e vitórias. Assim como Recife, a cidade montada sob ilhas artificiais será finalmente vencida pelo mar. Talvez um dia vire lenda ou mito e sirva de enredo para histórias que serão contadas através das gerações. Talvez se mantenha majestosa sobre as águas frias do mar Adriático, nunca se sabe. Mas independentemente do futuro tenebroso ou fantástico, Veneza será para sempre a mais bela e enigmática “cidade aquática”, onde um dia, em pleno natal, sentei e chorei de frente ao mar ao ver o sol se banhar em águas douradas. Impossível não se emocionar diante de tanta beleza. Impossível não lastimar o descaso com Recife, que pretensiosamente já almejou o título de Veneza Brasileira.


PÔR DO SOL EM VENEZA

PS: neste sentido, lastimo que ainda tenhamos que nos contentar com o título de “Venérea Brasileira”, pelo menos até definitivamente aprendermos a não mais eleger governantes que continuem dando as Costas para o Recife. Ah, e só para lembrar, esse ano tem eleição!

Próxima parada, Verona!


CHEGADA A VENEZA


OS MISTÉRIOS DOS ESTREITOS CANAIS


FIM DE TARDE EM VENEZA


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