segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

VIAGEM AO VELHO MUNDO EM 20 DIAS - CAPITULO II

RUÍNAS DA ROMA ANTIGA


ROMA - UMA CIDADE MILENAR.

Eram onze e meia da noite, horário local, quando partimos do Recife rumo ao velho continente. Oito horas depois desembarcamos no aeroporto de Lisboa, em Portugal. Hora de apressar o relógio. Já eram dez e trinta da manhã do dia 21 de dezembro. Algum tempo de espera e mais três horas de vôo para chegar a Roma, capital italiana. O frio estonteante, o cansaço e a diferença de fuso horário causam certa confusão. Saio sozinho em busca de uma área externa para acender um cigarro. O ar gélido da noite parece me rasgar os pulmões. Olho em volta e sinalizações indecifráveis surgem a minha frente. Estava em um mundo totalmente desconhecido e me sentia desorientado diante de tanta informação as quais não conseguia decifrar. Senti-me de imediato um analfabeto vagando pelas páginas de um grande romance. A sensação de medo me invade e faz a cabeça girar. Estava bêbado sem se quer ter ingerido uma dose de álcool. Milhares de pessoas passam por mim falando idiomas diferentes. Era impossível, de imediato, identificar algo ou alguém conhecido. Volto ao saguão do aeroporto e reencontro meu companheiro de aventura, certamente bem mais experiente e tranquilo que eu. Depois de alguns minutos visualizo um homem segurando um pequeno cartaz onde constam nossos sobrenomes. O profissional contratado pela agência de turismo não consegue compreender o que falo. De forma meio irracional recorro a gestos quase grotescos para me fazer entender. Se em brincadeiras as mímicas se tornam engraçadas, em situações de sufoco tornam-se constrangedoras. E ainda, se a sensação de não saber ler parece terrível demais, experimente não conseguir se comunicar com alguém que tem a solução para seus problemas.

CENTRO HISTÓRICO DE ROMA
Sem dúvidas, essas sensações causarão sentimentos de inadequação e desolação nunca experimentados antes. Senti-me estranho. Um pássaro fora do ninho. Não havia referencias pessoais e naquele momento me vi dependente de alguém para tomar decisões e conseguir me movimentar na cidade. A experiência apesar de incômoda me trouxe posteriormente a reflexão sobre as dificuldades sentidas por milhares de brasileiros que deixaram ou deixam os sertões e/ou interiores do país em busca de melhores condições nas grandes cidades. Apesar das diferenças proporcionais acredito que as sensações em sua totalidade são as mesmas. Naquele momento eu era um graduado analfabeto, ou mesmo um analfabeto funcional em uma terra totalmente estranha onde tudo parecia maior que eu. O nervosismo diante do desconhecido dispara mecanismos de defesa que nos deixa alerta a tudo e a todos. Os sentidos se atiçam, a pele se eriça e o estresse nos mantém em prontidão aos potenciais perigos oferecidos por um cenário que parece selvagem e perigoso. Assim se deu meu primeiro contato com Roma, cidade milenar e histórica cujas origens fundam-se na lenda dos gêmeos amamentados por uma grande loba selvagem. Roma respira histórias, e neste sentido é preciso voltar no tempo em busca de sentido para a construção e consolidação de uma cultura tão rica e intrigante. Desta forma, aventuro-me numa livre narrativa que em momento algum pretende ser entendida como fidedigno resgate histórico, mas apenas como uma despretensiosa forma de favorecer a leitura. Inicio então uma costura de fragmentos derivados de várias fontes, das quais me absterei da obrigatoriedade de revelá-las.

Seguindo a lenda tradicional, muitos séculos antes de Cristo uma nova cidade chamada Alba Longa foi fundada por um homem chamado Ascânio, que se tornou seu primeiro rei. Mais de quatrocentos anos depois, Numitor, herdeiro legítimo do décimo segundo rei é deposto pelo próprio irmão Amúlio. Este, para garantir o poder assassina seu sobrinho e oferece sua sobrinha virgem a deusa Vesta. Transformada em sacerdotisa, à Reia Sílvia é imposta a castidade. Contrariando seu destino a jovem mulher engravida e alega ter sido seduzida pelo deus romano da guerra Marte, dando a luz aos gêmeos: Rômulo e Remo. Temeroso diante da possível vingança dos filhos de um deus, Amúlio aprisiona Reia em um calabouço e ordena a um cervo que execute seus filhos. Contrário as ordens do rei o servo coloca os bebês em um cesto de vime e os abandona nas águas do Rio Tibre. Uma grande enchente os arrasta pra muito longe da cidade empurrando-os para as margens do Palatino. O choro das crianças atrai uma loba selvagem que acabara de perder suas crias e que os leva para o bosque. Durante anos o animal os amamenta enquanto os lambe com sua longa língua. Encontrados por um pastor de ovelhas chamado Fáustulo, os meninos passam a ser criados por sua esposa Aca Laurência.
CENTRO HISTÓRICO DE ROMA

Os gêmeos tornam-se fortes e ágeis caçadores de animais selvagens e junto aos pastores da região atacam os salteadores de passagem. Preso e acusado de roubo, Remo é levado ao rei Amúlio. Ao saber de suas origens, Rômulo vai até Alba Longa para libertar o irmão. Em luta sangrenta mata o rei. Vitorioso devolve o reino ao Avô Numitor e devota as honras a Reia, sua mãe legítima. Com o irmão volta ao local onde foram abandonados e juntos decidem fundar uma cidade. As divergências entre ambos começam. Rômulo pretende nomear a cidade de Roma, enquanto que Remo sonha em chamá-la de Remora. Apesar das várias versões para a história, uma delas descreve o assassinato de Remo, golpeado na cabeça por uma pedra lançada por Rômulo, que se apossa sozinho do poder. Assim, em 753 a.C. surge então uma nova cidade que recebe o nome de seu fundador. Com o tempo, de pequeno povoado Roma tornar-se-ia um dos maiores e mais importantes impérios da antiguidade.
 
Caminhar pelas belas e organizadas ruas da cidade é como viajar no tempo. Casarios, palácios, belas arquiteturas e monumentos remontam épocas distantes. Existe uma ebulição de informações que parece exigir nossa atenção. Um descuido e algo importante se perde. Belas esculturas parecem nos acompanhar com olhares incisivos, ora inquisitivos, ora meigos e piedosos. São os olhares de Roma [alguém já prestou atenção aos olhos do Recife?]. São os gestos e traços de uma cidade que parece querer nos falar algo mais sobre nós mesmos. Uma tarde em Roma nos revela o quanto somos desrespeitosos com nossa história e tradição. A cidade em si parece um grande quebra cabeças com partes espalhadas aos quatro cantos. Impossível para um leigo como eu entender como ou por onde tudo começa, e principalmente se termina um dia, simplesmente por que a cidade é viva. A história nos conta que a civilização romana tem origem na união dos povos gregos, etruscos [originários da Itália antiga] e italiotas [populações primitivas da Itália central – latinos, úmbrios, samnitas, etc] que passaram a habitar a península itálica e desenvolveram uma economia baseada na agricultura e nas atividades pastoris, do período de sua fundação até o ano de 509 a.C.
CENTRO DE ROMA

O senado então ganha grande poder originando um período republicano que se alastrará até o ano de 27 a.C. Este período é marcado pelas lutas dos plebeus que passam a reivindicar maior participação política através da participação popular no Consulado. Com a Lei Licínia [367 a.C.] o Consulado passa a ser constituído por um patrício e um plebeu, e põe fim a escravidão por dívida, ainda que apenas para os cidadãos romanos. Após o domínio de toda a península itálica os romanos partem para a conquista de outros territórios garantindo a supremacia no Mar Mediterrâneo. Ampliando suas conquistas, domina Cartago, Grécia, Egito, Macedônia, Gália, Germânia, Trácia, Síria e a Palestina. Enquanto alguns desses povos eram escravizados, outros passavam a pagar altos impostos ao império romano. Estas importantes conquistas não só fortaleceram o império romano como também foram a principal responsável por seu declínio. Com o crescimento urbano surgiram os problemas sociais, como desempregos e migrações da zona rural para os grandes centros em busca de melhores condições de vida [interessante pensar que apesar de antigo tal fato ainda nos é tão atual no Brasil].

CIDADE DO VATICANO - ROMA
Receando revolta por parte do grande contingente de desempregados o império adota como estratégia política a prática do “Pão e Circo”, que consistia em oferecer alimentação e diversão ao povo como forma de amenizar o sofrimento e a revolta diante da suntuosidade e opulência dos seus governadores [qualquer semelhança com nossa cultura política não será mera coincidência]. Assim, diariamente eram realizadas lutas de gladiadores nos grandes estádios, sendo o mais famoso entre estes o Coliseu de Roma. E estar no Coliseu é revisitar os feitos faraônicos. Cada pedra revela a magnitude de uma arquitetura e engenharia extremamente avançada. Das aberturas se visualiza as antigas ruínas, e sobre tudo a um romântico como eu seria impossível não visualizar antigos personagens caminhando por ruas e espaços. De repente os corredores que se escondem abaixo da arena, formando labirintos, ficam repletos de movimentos. Um leão corre apressado diante de uma platéia ensandecida pela carnificina. É o espetáculo do espetáculo a que nos acostumamos. A forma circular milimetricamente calculada converge os olhares dos pobres espectadores para tribuna dos imperadores. Destaca-se um sistema político pautado na divisão de classes. O espetáculo não é para os pobres, mas sobre eles próprios. Única e exclusivamente para o deleite dos que planam seus olhares sobre eles.

RUÍNAS DA ROMA ANTIGA
Seguindo ainda a história oficial, descobre-se que o império registra sua maior crise econômica e política devido à corrupção durante o século III. Os enormes gastos para manter o luxo dos imperadores e da classe burguesa, bem como os elevados investimentos necessários a manutenção dos exércitos forçavam o recolhimento de maiores impostos sufocando a população pobre [será que não herdamos isso também?]. O fim da escravidão, motivado pelo enfraquecimento das conquistas territoriais, provocou significativa queda da produção agrícola. O pagamento de tributos por parte das províncias também sofreu grande abalo acelerando e acentuando a crise econômica. Com os exércitos enfraquecidos abriam-se as fronteiras. Os bárbaros forçavam a penetração pelo norte. Como nova estratégia, no ano de 395 d.C. o império romano foi dividido em dois – império ocidental, com capital em Roma; e, império oriental, com capital em Constantinopla. Menos de cem anos depois o império ocidental é invadido pelos povos que os romanos classificavam como bárbaros: visigodos [oriundos do Oeste europeu], vândalos [antigos germânicos], suevos [povos germânicos], saxões [da antiga Saxônia, Alemanha], ostrogodos [austríacos], hunos [originários da Ásia central], pondo fim à era da antiguidade e dando inicio a Idade Média, quando o latim se espalha pelo velho continente dando origem ao português, ao espanhol, ao italiano e ao francês.

Sem sombra de dúvidas o legado a humanidade deixado pela civilização romana é incalculável. Assim como a língua original, o latim; o direito romano influenciou e influencia até os dias atuais as culturas ocidentais. De forma mais ampla não podemos esquecer as contribuições para a arquitetura, para as artes plásticas, para a filosofia e a literatura. Foi com os romanos que aprendemos que mitologia se consolida como forma explicativa para o que a ciência não consegue explicar [alguma semelhança?].

Próxima parada: ruínas da cidade de Pompéia!

PEDRAS DE ROMA ANTIGA




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