sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

VIAGEM AO VELHO MUNDO EM 20 DIAS - Capítulo VIII

SUÍÇA – A TERRA DOS ALPES CONGELADOS

ALPES SUÍÇOS

No dia 26 de dezembro deixamos a Itália e seguimos rumo a Suíça, terra tradicionalemnte conhecida pelo queijo, chocolates e pela precisão dos relógios. Dizem que os suíços são impessoais e extremamente reservados. Um dia em Copacabana, no Rio de Janeiro, nos encontramos com uma amiga baiana e seu esposo suíço. Ele se dizia encantado com o Brasil, principalmente devido a nossa diversidade étnica e cultural. No ano seguinte vieram a Recife, que não conheciam, e se hospedaram em meu apartamento. Como bom anfitrião lhes apresentei a cidade e percorremos a região metropolitana. Antes contudo, preparei um roteiro turistico que pudesse lhes apresentar a dimensão e riquesa de nossa gente. Depois de visitar o bairro antigo do Recife, seguimos pelo centro urbano, visitamos o Museu de Ricardo Brenand, a praia de Boa Viagem e o bairro de Casa Forte. O roteiro incluia ainda uma volta pela cidade histórica de Olinda, que logicamente culminou com a tradicional tapioca no Alto da Sé. Depois seguimos rumo a ao Pontal de Maria Farinha, com direito a passeio de barco até a praia de Mangue Seco. No dia seguinte articulei um viagem a João Pessoa, capital da Paraíba. Lá fomos a praia do Conde e Coqueirinho. Passamos pela pedra do amor, não sem antes fazer nossos pedidos de felicidade e sorte no amor. O turismo paraibano terminou com a visita a Tambaba, praia onde se pratica o naturismo. Voltamos dois dias depois e seguimos rumo ao litoral sul de Pernambuco. Passamos por Gaibú; Paraíso, onde lhes contei a história de Vicente Pizon; Calhetas, onde almoçamos no Bar do Israel; e depois, seguimos rumo a Poto de Galinhas, onde os deixei hospedado para um final de semana do tipo segunda lua de mel. Ao retornarem ao Recife estavam estasiados com tanta beleza natural. O suiço se supreendeu com nossa dimensão geográfica e águas claras e mornas. Acima de tudo, supreeendeu-se com nossa cordialidade e hospitalidade, sem contudo deixar de destacar nossas diferenças sociais.

Em uma visita ao Pontal do Cabo de Santo Agostinho, que segundo os geógrafos é o ponto mais próximo entre o Brasil e o continente Africano, Paulo apanhou seis pequenas pedras e disse que eram as provas de que um dia os continentes formaram um único bloco de terras. Como engenheiro marítimo, a serviço da Petrobras, revelava conhecimento de causa. Depois de um tempo a contemplar o horizonte virou-se e me entregou três das seis pedras que apanhara próximo ao precipício. Disse que seriam um simbolo de nossa amizade, e que, sempre que olhássemos para elas saberiamos que do outro lado do oceano Atlântico teríamos um grande amigo. Não tive mais notícias ou contato com o casal, e muito menos sei se ele mantém as pedras consigo. Porém algumas pessoas da Suiça tem esporadicamente acessado meu blog. Quanto as minhas pedras da amizade, mantenho-as no carro até hoje como espécies de talismã. E confesso, que uma vez na Suíça senti saudades do velho amigo, a quem gostaria de encontrar um dia para relatar minhas impressões sobre a sua cidade e cultura de origem. Assim, talvez esses escritos se configurem como uma nova versão das mensagens enfiadas em garrafas, que jogadas ao mar, um dia encontram seu destino. Não posso negar que gosto de pensar na possibilidade!

Seguindo pela costa da Itália atravessamos as fronteiras que separam os dois países. A suíça em si parece uma pequena região formada por altas montanhas geladas. As estradas são aveludadas e em nada lembram nossas rodovias. No inverno a temperatura baixa a cada quilometro percorrido rumo a Zurich. A névoa cobre em tom cinza esbranquiçado os campos que surgem masjestosos ao redor. Belas casas com telhados cobertos de neve vão surgindo a frente. Nosso percurso comprenderia mais de 4.500 metros de altitude, subindo rumo aos famosos alpes suíços. Uma parada para almoço em meio a estrada gelada nos fez tremer. O piso estava congelado e pequenas e finas placas de gelo estralavam a cada passo. Estava vendo a neve pela primeira vez. Para um nordestino enfrentar temperaturas abixo de zero é sem dúvida uma experiencia inesquecível. Nosso posso negar o deslumbramento diante de tão gigantesca beleza. Um tapete branco se estendia a nossa frente deixando os pés úmidos. Estava diante de paisagens somente vistas em postais. E agora tudo era real, e logicamente maior em proporções. Apesar do frio não resistir correr na neve. Como criança brinquei em baixo de velhos e frondosos pinheiros repletos de gotas de cristais. Meus pés afundavam a cada movimento e o gelo chegava quase ao joelho. Era incrível a sensação de bem estar. Eu e meu companheiro de aventura fizemos bolas de neve, que jogadas ao alto voltavam em forma de fina chuva branca. O tempo parecia ter parado. Nada se movia e apenas nós corriamos de lado a outro. Ao redor um enorme paredão de sorvete se elevava aos céus. Era como se estivéssemos dentro de um congelador gigante. E apesar de vontade louca de ficar, o frio parecia nos expulsar para fora de seu campo sagrado. Nas colinas, casas com telhados brancos surgiam de forma isolada. Pensei no quão maravilhoso e solitário deveria ser morar naquelas terras e por isso prometi a mim mesmo que um dia retornaria com mais tempo.


Depois de horas seguidas atravessando montanhas chega-se a capital da Suíça, Zurich. Apesar do grande engarrafamento a cidade cercada por grandes colinas revela que a precisão vai além dos seus tradicionais relógios. Zurich é cortada pelo rio Limmat e possui uma grande lagoa formada pelas águas das frias montanhas que descem em cascatas durante o verão. As margens destacam-se uma bela e organizada mistura de construções modernas e antigas. A noite é extremamente fria e as principais ruas se mostram desertas. Calçadas emendam-se as ruas por onde correm seus famosos bondes. Nas paradas de passageiros a precisão é cronometrada em dispositivo digital. Três minutos de intervalo separam um bonde do outro. No seu interior pessoas confortavelmente acomodadas ocupam o tempo em leituras. A riqueza da cidade se faz claramente estampada em vitrines bem iluminadas, bem como através da estrutura arquitetônica. Ruas estreitas, calçadas em pedras negras parecem conduzir o visitante desavisado a lugares misteriosos e sombrios. Um grupo de gays se concentra em um bar de fachada discreta onde flâmula uma bandeira do arco-íris. Poucas pessoas vagam pelas ruas calmas e extremamente limpas. De um modo geral revela-se um lugar onde tudo funciona de forma previamente planejada.

Hoje  entendo  a grande  a estranhesa de Paulo diante de tanta contradição e desiguladade social que caracteriza a cidade do Recife. Entendo porque a setranhesa também se torna miha. Voltar da Europa é como acordar de um sanho bom e encantado, onde o fantástico e o real se misturam de forma harmoniosa. Pisar mais uma vez as ruas féticas e cheias de miseráveis excluidos torna-se um choque. Mas sem dúvidas nos serve como reflexão sobre como podemos nos acostumar com a naturalização do erro e do indigno.


LAGOA NO CENTRO DE ZURICH
 

Próxima parada, Paris!

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