domingo, 8 de janeiro de 2012






“VIAGEM AO VELHO CONTINENTE EM 20 DIAS”

Ainda em 2011 resolvi enfrentar um dos maiores desafios de minha vida, atravessar o Oceano Atlântico rumo ao velho continente. Viagem marcada, sofrimento antecipado. Teria pelo menos seis meses para me preparar e rever velhos medos. Porém o atribulado das situações corriqueiras fez o tempo correr e um mês antes de embarcar a distonia já sinalizava a crescente ansiedade que me atormentaria durante as oito horas de vôo. Nestes momentos arrumar a mala torna-se sempre difícil, porém ajuda a aliviar a tensão. Cada peça de roupa sinaliza uma despedida. Mas na verdade não haveria do que, ou de quem me despedi. Eu estava só. É nessas horas que a ausência de um outro, seja este parente ou amigo, se acentua e incomoda. Não ter em determinados momentos com quem dividir sonhos, ansiedades ou receios, não receber um abraço ou mesmo votos de boa viagem é talvez a mais difícil situação quando se reside sozinho. Porém a vida tem constantemente me ensinado que somos sós em essência, e que acima de tudo somos livres para percorrer mundos e desafiar nossos próprios limites. Assim as possibilidades de novas experiências tem se tornado, a certo modo, um lema que venho adotando enquanto conduta de vida. E neste sentido, vencer os sentimentos de grandes inquietações diante das noções de perigos, reais ou imaginários, que sempre me acompanham em viagens longas torna-se sem dúvida um importante ponto de partida para mim.

CIDADE DE POMPÉIA - ITÁLIA
A viagem a Europa se configurou, entre outras coisas, como um grande desafio vencido. Mais que isso, voltar ao velho mundo foi sem dúvida uma grande oportunidade para melhor entender o momento atual que vivemos, seja ele político, econômico ou histórico. Uma espécie de retorno ao passado, as origens da civilização. A Europa é sem sombra de dúvidas um museu a céu aberto. Berço da civilização, da arte e da cultura. Percorrer as milenares ruas de Roma e redescobri lendas que fundaram tradições foi sem dúvida uma experiência impar. Visitar o interior do Coliseu, construído entre 70 e 90 d.C. e hoje considerado uma das “sete maravilhas do mundo moderno”, revela a grandiosidade da engenharia e arquitetura romana. De imediato a grandiosidade da cidade e de seus monumentos nos causa certa desorientação, contudo, aos poucos, ruínas espalhadas pelo centro histórico, a Cidade do Vaticano, as famosas esculturas, antigas pizzarias e os tradicionais cafés das esquinas começam a surgir como “velhas novidades” conhecidas. Para mim tudo parecia novo e conhecido ao mesmo tempo. Estava diante de monumentos só antes vistos em fotografias, reportagens ou livros de estudos. Era impossível não constatar que cada pedra de Roma parece remontar histórias. Como uma espécie de quebra-cabeças com os quais construí castelos durante a infância. E ali estavam eles, os antigos castelos dos contos de fada, os monumentos bíblicos, os personagens imortais que aprendi a admirar durante as aulas. Mais difícil ainda é não se encantar com as ruas estreitas que levam a “La Fontana di Trevi”. Majestosamente situada num cruzamento de três estradas a obra de arte por si justifica por que é considerada a maior e mais ambiciosa construção de fontes barrocas da Itália.

NÁPOLES - ITÁLIA
Seguindo ao sul da Itália, nos arredores de Nápoles, chega-se ao sítio arqueológico de Pompéia, antiga cidade romana que no ano 79 d.C desapareceu sobre as cinzas do vulcão Vesúvio. Pelas estreitas ruas cuidadosamente reconstruídas 2.000 anos de história se levantam diante de nossos olhos. Cada detalhe ou objeto evidencia uma civilização extremamente avançada para época. A antiga cidade era divida em regiões salientando a divisão de classe social. Em alguns momentos somos pegos a imaginar a movimentação cotidiana de seus antigos habitantes devido à perfeição empregada na reconstituição dos casarios, termas, praças e centros comerciais. Depois de conhecer Pompéia, seguir para o centro de Nápoles é viajar no tempo de volta ao futuro. A cidade é repleta de ruas e monumentos históricos em bom estado de conservação. No bairro alto avistasse o Vesúvio e entende-se sua magnitude. Devido ao inverno nuvens pesadas e escuras que encobrem seu pico surgem como prenuncio de uma nova catástrofe esperada há séculos. O velho vulcão adormecido parece esticar-se aos céus impondo respeito e ao mesmo tempo em que amedronta também causa admiração.

COLISEU DE ROMA - ITÁLIA
A cidade de Florença, capital e maior centro urbano da província de Toscana, foi por muito tempo considerada a capital da moda. Destaca-se como berço do Renascimento italiano possuindo um memorável acervo que inclui obras de Michelangelo, Leonardo da Vinci, Botticelli e Donatello, entre outros. Cortada pelo rio Arno, cada canto ou recanto da antiga cidade do século XV revela encanto e magia. Já na região do Vêneto, no nordeste da Itália encontramos Veneza. Mundialmente famosa por seus canais, destaca-se pelo romantismo dos passeios de gôndolas. Construída sobre um arquipélago formado por 118 ilhas, possui 177 canais apertados e de águas gélidas que interligam bairros onde se encontram velhos e históricos casarios, restaurantes e hotéis. Suas 400 pontes servem de cenário as belas paisagens e conduzem a Piazza San Marco onde se encontra a Basílica de di San Marco, a Torre do Relógio e o Museu Correr. Uma noite em Veneza, sentado diante do mar e aquecido pelos tradicionais lampiões a gás do Café Gabbiano é sem dúvida uma cena inesquecível. Ainda na mesma região encontra-se a rica cidade de Verona, uma das mais prósperas do norte italiano. Cercada pelo Rio Adige possui riquíssimo acervo cultural que inclui belíssimas muralhas, um anfiteatro romano que em muito lembra o Coliseu, um castelo medieval, além de igrejas e palácios seculares. No centro comercial a única rua em mármores leva a propriedade dos Cappellos, antiga e importante família local. Construída no século XIII, nos dias atuais é identificada como a casa de Julieta Capuleto, personagem fictício imortalizado pela obras de Shakespeare.

ALPES SUÍÇOS
Deixamos Verona no inicio da manhã e seguimos pelo norte da Itália rumo a Zurich, não sem antes atravessar os quilométricos Alpes Suíços. O frio aumenta à medida que se escala os mais de 4.500 metros de altitude. Correr na neve e afundar no gelo torna-se de fato uma experiência prazerosa e inesquecível. O cenário formado por imensas montanhas geladas, florestas de pinheiros e casarios com telhados brancos nos traz a nítida certeza que o natal até existe. Pelo menos o comercializado no mundo ocidental. Impossível não identificar os famosos postais onde o papai Noel parece deslizar em seu trenó puxado por ágeis renas aveludadas. Depois horas atravessando montanhas chega-se a Zurich, capital da Suíça. Famosa pela produção de leite e chocolates a cidade revela de imediato que a precisão vai além dos seus tradicionais relógios. Cortada pelo rio Limmat, a cidade salienta uma bela e organizada mistura de construções modernas e antigas que margeiam a grande lagoa formada pelas águas que descem as montanhas durante o verão. A noite suíça é extremamente fria e as ruas parecem desertas. Calçadas se confundem com ruas cortadas por trilhos por onde correm os famosos bondes. A riqueza é estampada nas vitrines bem iluminadas e na estrutura arquitetônica das estreitas ruas que mais parecem conduzir a lugares misteriosos. De modo geral a cidade parece um lugar onde tudo funciona de forma previamente planejada. Acordar em Zurich é despertar para uma realidade nunca antes vista, pelo menos para um marinheiro de primeira viagem como eu. Suas estradas parecem tapetes que se escondem por longos túneis que atravessam montanhas. Um deles com mais de 15 km causam espanto e certo desconforto claustrofóbico. O dia parece mais claro e pelas janelas protegidas do ônibus planícies e campos encantados vão desaparecendo rapidamente diante dos olhos.

MUSEU DO LOUVRE - PARIS/FRANÇA
A França é sem dúvida a França, e neste sentido tornam-se dispensáveis descrições ou apresentações. Num bairro de subúrbio chamado Màrie de Montreuil onde nos hospedamos salienta-se a imigração, com grande destaque para os negros nativos das colônias francesas. As ruas pacatas parecem revelar certa amistosidade entre os habitantes, contudo, os metrôs e prédios menos modernos evidenciam diferenças sociais. Como toda grande metrópole Paris é um verdadeiro centro de diferenças, sejam étnicas, religiosas, sociais ou econômicas. A cidade cortada pelo Rio Sena encanta pela beleza natural e patrimônio histórico. A Torre Eiffel destaca-se pela estrutura metálica vista de qualquer ponto da cidade. O Arco do Triunfo, ao final da Champs Elysées, mais rico e importante centro comercial da Europa, revela toda a magnitude da cidade luz. Não se conhece Paris sem se visitar o Museu do Louvre, onde extremamente protegida encontra-se a famosa Gioconda, de Leonardo da Vinci. Seu olhar enigmático e o aparente e sarcástico famoso sorriso parecem não apenas revelar mistérios de uma época, mas também os encantos e segredos da cidade mais famosa do mundo.

LONDRES - REINO UNIDO
Fundada pelos romanos ao norte do rio Tâmisa, em 43 d.C, a antiga Londinium durante séculos sofreu invasões e influências díspares e hoje desponta como maior e principal centro financeiro do mundo. A formalidade londrina é claramente estampada pela troca da guarda real, em frente ao Palácio de Buckingham, onde milhões de pessoas se atropelam diariamente. Cidade de belas e bem cuidadas praças, como o St. James´s Park, ostenta luxo e riqueza em monumentos e prédios que remontam as antigas realezas. O famoso cartão postal, o Big Bem, apesar do charme original me pareceu menos pomposo. De modo geral, se Roma inspira saudosismo histórico e Paris o charme e a elegância clássica, Londres ao contrário revela-se fria e distante. Diria ao certo que de todas as cidades que visitei a capital do Reino Unido certamente foi e será a que menos trará saudades.

VENEZA - ITÁLIA
Depois de quinze dias de viagem finalmente chegamos a Lisboa. A capital portuguesa é sem dúvida nenhuma mais próxima de nossa realidade. A Praça Marquês do Pombal, personagem responsável pela reconstrução da cidade após o grande terremoto que a reduziu a ruínas, parece revelar-se como palco de reivindicações e manifestos políticos. Ponto de convergência para grandes avenidas situa-se próximo ao Parque Eduardo VII que se interliga com o Parque Amália Rodrigues, famosa cantora de fado. No centro cultural de Belém a cultura portuguesa é exaltada, revelando o apreço de nossos compatriotas pela história e pela arte. Além dos 08 museus encontram-se no local o Padrão dos Descobrimentos, de onde partiram as caravelas de Cabral rumo ao Brasil, além da Torre de Belém, antigo castelo. A Praça do Comércio, de frente ao Rio Tejo revela uma das mais belas vistas panorâmicas da cidade. À noite no Baixo-Chiado, cidade alta, é romântica e melancólica ao mesmo tempo. Imperdível é o passeio de bonde ao Castelo de São Jorge, onde restaurantes charmosos e aconchegantes se espalham pelas ladeiras de pedras antigas e onde se saboreia o bom e tradicional bacalhau e as famosas sardinhas portuguesas regados ao aceite de oliva.

LISBOA - PORTUGAL
Impossível seria descrever tantas e tão diversificadas culturas em tão poucas linhas. Diria mesmo que resumir minhas impressões sobre cidades tão maravilhosas seria desrespeitoso com os legados deixados a humanidade. Partindo dessa perspectiva inicio então uma ampla descrição de minha “viagem ao velho mundo em 20 dias”. Antemão, saliento que meu intuito não se restringe ou objetiva a simples descrição de pontos turísticos, mas de forma mais pretensiosa, uma reflexão sobre as diferenças e influências destas culturas sobre a vida e cultura dos brasileiros. Assim, recortes históricos, étnicos, sociais, politicos, econômicos, religiosos e de gênero servirão como base a narrativa que por hora apresento em capítulos. A quem se aventurar, boa leitura e boa viagem.

LONDRES - REINO UNIDO

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

PARÍS - FRANÇA

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