quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

VIAGEM AO VELHO MUNDO EM 20 DIAS - Capítulo III




POMPÉIA – A HISTÓRICA CIDADE ENGOLIDA PELO VESÚVIO

O dia 23 de dezembro amanheceu extremamente frio. Apesar do aquecedor o quarto do hotel parecia úmido. Da janela avistava-se um bosque de pinheiros que pareciam cristalizados em meio à névoa esbranquiçada. Sem sombra de dúvidas era um sinal do que iríamos enfrentar pela frente. Tomar banho na Europa é talvez uma das maiores dificuldades enfrentadas por turistas em primeira viagem. Confesso não ser fácil esquecer nossos tradicionais chuveiros e substituí-los por complicadas duchas que deverão percorrer todo o corpo. Dominar os mecanismos que controlam as saídas de água fria e quente, a fim de transformar o banho em um ato prazeroso, dependendo da variação de temperatura diária, com certeza se tornará uma ação lenta e cansativa.

NORMANDO VIANA EM POMPÉIA - ITÁLIA
Escolher o que vesti será outra difícil tarefa. Uma camiseta de malha com certeza será insuficiente para manter o corpo aquecido. Duas camisetas sobrepostas talvez, mas só se auxiliadas por uma camisa ou casaco de malha grossa, reforçados por mais um casado de frio. Uma boa calça jeans só se tornará agradável se for vestida sobre uma calça de malha, tipo segunda pele. Isso sem esquecer-se do reforço nas meias, antes de calçar os sapatos fechados, de preferência de couro, com solado resistente. Adicione ao vestuário uma touca de lã ou de material equivalente, um par de luvas e um cachecol. Olhe-se no espelho e tente não se achar estranho [principalmente quando tentar os primeiros movimentos].

Não  só  isso  nos deixa meio consfusos  e surpresos ao mesmo tempo. Melhor esquecer os velhos hábitos e se abrir às novas experiências. Seu café da manhã será substituído pelo “pequeno almoço” local, que logicamente irá variar de região para região, e consequentemente, de hotel para hotel. Se não quiser perder o humor, melhor esquecer o tradicional pão francês torrado na manteiga e do nosso famoso café com leite. A viagem a Europa é antes de tudo uma maravilhosa oportunidade para as decepções gastronômicas. Correr para o ônibus de turismo e apelar para que imediatamente se fechem as portas é sempre uma excelente opção quando se busca aconchego, principalmente em locais aonde a temperatura pode chegar a menos dois graus centígrados. Assim é o inverno da região do Golfo de Nápoles onde se encontram os atuais municípios de Pompéia e Herculano, arrasados pelo Vesúvio, e nosso destino.
VISTA EXTERNA DE POMPÉIA

Para  entendermos  melhor   a  história  de Pompéia será preciso voltar no tempo mais uma vez. Tão antiga quanto à cidade de Roma, tem suas origens no século VIII a.C. quando os Oschi, primeiros povos itálicos chegaram à região e fundaram o primeiro agregado urbano. Pela localização estratégica, Pompéia tornou-se passagem obrigatória entre o sul e o norte, tanto por mar quanto por terra. Instalada aos pés do grande vulcão Vesúvio, foi totalmente destruída por uma das maiores catástrofes natural já registrada pela humanidade. Desenvolvida e cobiçada por potentes estados vizinhos, a cidade desapareceu debaixo das grandes quantidades de larvas expelidas pelo vulcão no ano de 79 d.C.. Mil e seiscentos anos depois Pompéia emerge das obscuras profundezas para recontar sua saga e história.
GRANDE FÓRO - VISTA DO VULCÃO VESÚVIO
Pela  estrada  que  corta a  região, ao longe avista-se o imponente Vesúvio, único vulcão no continente europeu a ter entrado em atividade nos últimos cem anos. A erupção de 79 d.C. é considerada a mais catastrófica de todos os tempos, espalhando uma nuvem de rochas, cinzas e fumaça tóxica que atingiram mais de 30 km de altura. Estima-se que a proporção e força da larva tenha chegado a um milhão e meio de toneladas por segundo, liberando uma quantidade de energia térmica milhões de vezes maior que a bomba atômica que atingiu Hiroshima, durante a II Guerra Mundial. As ondas de larvas com temperatura acima dos 700 ºC provocaram a morte instantânea de mais de 16.000 habitantes das duas cidades. A força de explosão provocou maremotos e tsunamis que varreram as duas cidades do mapa e as transformaram em ruínas. Em seguida foram encobertas por camadas sobrepostas de lama e cinza. Observar as expressões dos antigos moradores, atualmente em moldes de gesso e expostos no sitio arqueológico, é de certo modo experimentar o horror da tragédia. Impossível não se impressionar com a conservação dos corpos humanos e de animais, petrificados em situações corriqueiras. Mãos sobre os rostos, posições de encolhimento e expressões de pânico estampam o horror de um cenário apocalíptico.
  
Iniciamos nossa jornada pelas ruínas sob a orientação do guia local. O frio parece faca afiada e corta a pele. As extremidades do corpo parecem congelar com as rajadas de vento. Uns duzentos metros de caminhada e chegamos a “Porta Marina”, antiga e principal entrada da cidade, dotada de dois portões – um parara pedestre e outro para animais e veículos que traziam do mar peixe e sal. Próximo encontra-se a “Villa Suburbana de Porta Marina”, incrustada na muralha, rica habitação da época romana. Ao lado direito da porta avista-se o “Templo de Vênus”, deusa protetora de Pompéia. Seguindo a estrada da Marina encontramos a chamada “Casa de Rômulo e Remo”. Em seguida, passamos pelo “Templo de Apolo”, pela “Basílica” e finalmente atingimos o grande “Foro”, centro da vida política, econômica e religiosa de Pompéia. Ao sul do Foro avista-se as edificações destinadas a vida pública, incluindo a grande “Assembléia” onde se realizavam as funções eleitorais.

A cidade era dividida por regiões, compostas por vilas e pelas quais se davam as divisões de classe social. Pela entrada principal da “Via da Abundancia” encontram-se as “Termas Stabianas”, maiores, mais antigas e mais bem conservadas, estas eram compostas por casas de banho térmico para homens e mulheres. Uma das principais atrações é o “Teatro Grande” com capacidade para mais de 5.000 pessoas sentadas. Os templos de deuses surgem magníficos em vários pontos da cidade. “O templo de Ìsis”, ao lado do ginásio samnítico, destinava-se ao culto exotérico da deusa da trindade egípcia; o “Templo de Jupiter Meiichios”, na Via de Stabia, destinado ao culto de Zeus Meiichios originário da Sicília grega, revelando a influencia cultural dos vários povos que invadiram, conquistaram e governaram Pompéia antes do ano 310 a.C. quando foi dominada e incorporada ao estado romano. Outro aspecto que chama a atenção é a instalação dos prostíbulos, situados nas vilas mais afastadas do grande Foro. A prostituição era praticada por homens e mulheres, em casarios específicos, identificados por um falo instalado ao auto da porta principal. De certa forma, observa-se que a prostituição em si se organizava nos moldes como se apresenta na atualidade, ou seja, exercida de forma espontânea e consciente, ou através dos agenciadores, donos dos estabelecimentos privados.

Andar  por  suas  ruas  de pedras, repletas de casarios e lojas comerciais é sem dúvida alguma uma oportunidade para observar o inicio da estruturação dos grandes centros urbanos, onde comercio, cultura, religiosidade e política apresentavam-se em espaços distintos, demarcando hierarquias, poderes e status social. Acima de tudo é uma grande chance para se entender as influencias romanas sobre as origens dos modelos e sistemas políticos, bem como sobre a cultura das várias civilizações ocidentais, incluindo a nossa. Assim, a cidade fênix, a Pompéia ressurgida das cinzas, representa muito mais que um tesouro italiano, mas um patrimônio mundial por remontar parte da história da humanidade. Como diria o grande filósofo, conhecer a história é conhecer-se a si mesmo.  

Próxima Parada, Cidade de Nápoles.




CASARIO DE POMPEÍA


GRANDE TEATRO DOS NOBRES






AOS PÉS DO VESÚVIO

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


ESTREITAS RUAS DE POMPÉIA
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


ANTIGO PRÓSTIBULO MASCULINO

CAMA DE UM PROSTÍBULO
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


CORPO ENCONTRADO NAS RUÍNAS

CORPO ENCONTRADO NAS RUÍNAS



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