terça-feira, 24 de janeiro de 2012

VIAGEM AO VELHO MUNDO EM 20 DIAS - Capítulo VII

VERONA - ITÁLIA


VERONA: CIDADE DE ROMEU E JULIETA

Posso dizer que cresci ouvindo muitas histórias. Entre estas, uma me chamava a atenção e despertava grande admiração. Como nos bons contos de fada, tudo começava com o clássico “era uma vez...”, onde numa linda e antiga cidade repleta de castelos e cercada por fortes muralhas serviam de cenário a dois jovens de famílias rivais que se apaixonavam perdidamente. Apesar de não lembrar bem dos detalhes, e muitos dos personagens dessa história, sei que entre encontros e desencontros o romance atingia o ápice quando, durante a noite, iluminados apenas pela luz do luar, seus lábios se encontravam para selar promessas de um amor eterno. Mas o destino traiçoeiro e cruel os levaria ao trágico final. Certa noite, ao ver a mulher de sua vida gelidamente estendida sobre o altar, o jovem enamorado num ato de desespero finca uma adaga no próprio peito e morre sobre o corpo da amada. Ao despertar do antídoto oferecido pelo Bispo amigo, cúmplice da pretensa fuga, a jovem manceba chora a amargura e a dor da perda. E com o coração partido repete o ensandecido ato do amado. No dia seguinte o casal é encontrado inerte, abraçados e já sem vida.


CENTRO HISTÓRICO
Depois de muito tempo descobri que a história em si não se tratava de um conto de fadas, mas de um clássico da literatura estrangeira, que agora ganhava vida na televisão, em um especial de final de ano. O belo Romeu agora se chamava Cebolinha Montesquieu, enquanto que a espevitada Julieta atendia pela alcunha de Monica Capuleto. Apesar de fascinado pelo desenho animado, algo me intrigava. Não havia final trágico na história, o que contrariava meu antigo conto de fadas. Aprendi naquele momento uma nova palavra: “versão”. Descobri então que as histórias não precisavam ser contadas na integra e que logicamente poderíamos mudá-las ou adaptá-las ao nosso bel prazer. Comecei então a contar minhas histórias favoritas repletas de novos elementos. Descobri também como seria gostoso brincar de alterar os trágicos finais, misturar personagens e enredá-los em novas aventuras. A brincadeira ganhou força quando comecei a fazer teatro nas escolas por onde passei, inclusive, participando da encenação da livre “versão” do Maurício de Souza. Foi então que finalmente descobri que apesar da famosa história se passar na cidade italiana de Verona, havia sido escrito por um inglês: William Shakespeare.


ANTIGO CASTELO DOS CAPELLOS
Apesar de haver dúvidas quanto à fidedignidade dos fatos, inclusive sobre a real existência de um Romeu e uma Julieta, sabe-se que foi na Itália onde Shakespeare encontrou inspiração para alguns dos seus mais famosos textos. Verona torna-se então palco para uma história que envolvia a rivalidade de duas influentes e poderosas famílias, contada e recontada através das gerações, a qual o autor teve acesso durante período em que se manteve hospedado na cidade. Verdade ou não, isso é o que menos importa quando nos deparamos com as ruínas das muralhas que cercavam a antiga comuna italiana, localizada na região do Vêneto. Verona é sem sombras de dúvidas uma das cidades mais inspiradora e intrigante que já conheci. Banhada pelo Rio Adige, a cidade que em 89 d.C foi incorporada como colônia romana, teria sido fundada pelos antigos Celtas [povos indo-germânicos, saídos de centro-sul da Europa para se espalhar pela Espanha, Itália, Bretanha, Mar Negro e Ásia Menor]. Anexada ao Reino de Itália, em 1866, chegou a ostentar a supremacia artística de toda a Itália e hoje revela estrutura urbanística e arquitetura invejáveis. Considerada patrimônio da humanidade, conserva entre os grandes e históricos monumentos um anfiteatro romano, que lembra o Coliseu de Roma; uma Catedral gótica, construída no século X; a Igreja românica de São Zeno; a Ponte Scaligero, construída em 1354; o Castelo Vecchio; além de vários palácios, entre os quais se destaca o Palazzo Del Consiglio.


A JULIETA DE SHAKESPEARE
Suas ruas de pedras escuras parecem remontar a história, ou as histórias de períodos determinantes para a consolidação européia. De todas, apenas uma, toda em mármore, surge como uma espécie de caminho encantado para nos levar ao antigo Castelo dos Capellos, hoje sabiamente sinalizado como “Casa di Giulietta”. E tudo está lá. E logicamente tudo parece cenograficamente organizado para imortalizar sua mais celebre personalidade [ou melhor, personagem] e a obra. A ficção parece se tornar realidade. E mediante pagamento, em Euros, pode-se inclusive debruçar-se sobre o mais famoso balcão, onde se deu um dos mais célebre e copiados beijo da história da humanidade. Também estão lá as sacadas, as antigas janelas, o saguão e o pequeno jardim de onde Romeu teria convidado sua amada a escutar o canto da cotovia. É também lá, que entre arbustos encontra-se a estátua, em bronze, de Julieta Capulleto. Dizem que alisar os formosos seios da jovem donzela traz sorte no amor. E neste ponto, parece que os itlianos gostam mesmo de um alisado, pois que em Nápoles alisar o fucinho de um grande javali, também em bronze, traz sorte e fortuna. Assim, não é de se admirar que tanto os seios da Julieta quanto o focinho do javali sejam as partes mais lustrosas e brilhantes das referidas estátuas. E assim como em Florença, em Verona também se pode comprar cadeados como forma de prender o amado para sempre. Só que na Casa de Julieta, o mesmo deve ser colocado nas grades de um grande e velho portão que encerra uma das entradas do antigo castelo.


O ANFITEATRO ROMANO DE VERONA
Um dos fatos que mais chama a atenção do visitante é a quantidade de artistas locais que atuam nas ruas da cidade, principalmente em frente aos monumentos históricos. Aliás, é bom que se diga qua a Itália respira arte. De Roma a Pompéia, de Veneza a Florença, de Nápoles a Verona, a Itália é sem dúvida alguma um grande e precioso celeiro de grandes expressões artísitcas. Seja nas áreas de teatro, dança, música, pinturas, cinema, esculturas, arquitetura ou circo, a cidade vive da arte e para a arte. Conhecer as principais cidades italianas é antes de um simples passeio turistico, uma aula de cidadania e respeito pela história e cultura de seus povos. Dificil não se impressionar com nossa falta de visão estratégica, impossível não se chocar com o comprometimento de nossa educação, que nos aliena e nos torna relapsos com nosso próprio patrimonio cultural e artistico. Conhecer o velho continente é por fim, uma execelente oportunidade para perceber que sem arte não existe beleza. E sem beleza não há sentido na existencia de um povo. Sem cultura não existe história, e sem história não existe civilização, mas apenas babárie e selvageria. Pena que para nós brasileiros, 512 anos ainda se configurem como curto perído de tempo, insuficiente para nos depertar tal consciência.


NORMANDO VIANA EM VERONA

Próxima parada, Zurich – Suíça.


ANTIGA MURALHA DA COMUNA ITALIANA

RUINAS DE VERONA


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