domingo, 31 de outubro de 2010

ELEIÇÕES 2010 - PARA O BRASIL CONTINUAR MUDANDO

Recife, 31 Outubro de 2010

















O (RE)INÍCIO DE UM NOVO COMEÇO

Hoje, 31 de outubro. Chegamos ao fim da campanha eleitoral mais polêmica dos últimos anos. Temas tabus e questões de ordem moral invadiram o espaço político e público, tornando essa, a eleição da descriminalização do aborto, parceria civil entre pessoas do mesmo sexo, privatização, orientação religiosa, ambientalismo, analfabetismo (não só político) e desenvolvimento sustentável. Acima de tudo as eleições de 2010 ficarão marcadas como a campanha dos escândalos, da difamação, do cinismo e da falta de ética que rege a política brasileira. Conchavos, espionagens, dossiês, ficha limpa, estimulação ao ódio, disseminação do medo, valeu de tudo na busca pelos votos. E nessa guerra suja declarada em muito se perdeu na discussão de planos e projetos de governo. Mas tratando-se de Brasil, talvez isso seja o que menos importa. Afinal de contas somos por demais passionais e emotivos. Decidimos as coisas, ou tomamos decisões guiadas unicamente pela emoção. Somos fanáticos e extremistas, e assim, ou gostamos ou abominamos. Não existe meio termo, elimina-se a tolerância, e logicamente negamos a análises dos fatos de forma racional.

Acho que nunca se discutiu tantos temas tabus em uma campanha eleitoral, porém tais discussões permaneceram no espaço da inviabilidade. Os candidatos não foram sabatinados, ou chamados verdadeiramente a se posicionar enquanto cidadãos comuns, coerentes com suas condutas morais e ideológicas. Não se expuseram diante do grande público, mas ao contrário, se refugiaram no discurso politiqueiro em que se busca agradar gregos e troianos. Nada mais estratégico para apaziguar os ânimos de uma população que ainda se encontra sob a subjugação religiosa. Nada mais coerente e oportuno para agradar a um povo “preguiçoso em raciocínio” e preso ao tradicionalismo coronelista. Talvez reflexo de uma cultura domesticada por anos de repressão e ditadura, ou talvez, reflexos de uma apatia política na qual não se crer em grandes ou significativas mudanças. Aprendemos a aceitar o mesmismo, a temer a mudança, a outorgar ao outro o poder de decisão. Talvez tenham nos persuadido a ficar sempre em cima do muro, pois que isso nos possibilita tender para qualquer um dos lados.

Tornamo-nos massa insegura e facilmente influenciável, o que nos revela que não somos tão politizados quanto imaginamos. Por esperar sempre que alguém nos guie, perdemos a oportunidade de buscar nossas próprias respostas para assuntos que nos dizem respeito. Na questão do aborto, por exemplo, o que se discute no momento não é sua legalização, mas sim sua descriminalização, o que significa a possibilidade e garantia de atendimento médico adequado e seguro. E isto é ganho, principalmente para as mulheres, que em muitos casos, após o processo traumático (independente de seus motivos) correm o risco de responder criminalmente com pena de até três anos de reclusão. De outro lado, ao se trazer a tona o “Caso Tiririca” se abre a possibilidade, ainda que de forma simplista, no mínimo, de se reavaliar o processo eleitoral. Abre-se uma discussão sobre direitos e cidadania. Sobre quem pode se tornar elegível e por que. Mas ao contrário, apenas aceitamos o fato de que analfabeto não pode concorrer a cargos políticos, mas pode votar em candidatos analfabetos políticos. A sátira toma conta da conduta moral e nos faz esquecer as contravenções envolvidas no caso. Esquece-se também de (re)pensar no quanto a negação de direitos torna o analfabetismo um instrumento para estratégias politiqueiras como verificado.

Talvez o que se precise pensar é sobre o atual processo democrático e suas contradições, e acima de tudo, sobre as novas estratégias da perpetuação do voto guiado e de cabresto. Não podemos esquecer que o Brasil não é uma nação cem por cento urbana. Somos antes de tudo rurais, aonde a informação e educação de qualidade não chega. Quem se aventura pelos interiores dos estados entende o que falo, porém que não sai de sua redoma de pretensa proteção divisora de classes não consegue olhar além do próprio umbigo. Somos um país de exclusões pautadas na desigualdade de classes, oportunidades e possibilidades de acesso. Fazemos política para um pequeno grupo seleto que não representa nossa totalidade. E a meu ver, isso não é democracia, e muito menos democratização de direitos.

O mais importante é que essa eleição entra para nossa história como divisor de águas. Pela primeira vez se colocará uma mulher a frente das decisões. E não falo simplesmente de uma falsa mudança na conduta de gênero, pois que estamos ainda muito distantes disso. Mas falo da técnica, competência, comprometimento e responsabilidade com um plano político pautado na igualdade de direitos. Nossa política é ainda, acima de tudo, sexista e machista. Temos então, pela primeira vez, a possibilidade de rever conceitos pré-concebidos e maciçamente introjetados, assimilados e reconhecidos como verdade absoluta. A própria história da humanidade é cíclica. Já fomos matriarcais, hoje patriarcais. E não considero que uma ou outra forma de governo e cultura seja mais ou menos adequada. Mas são ajustes sociais contextualizados por fatos e momentos históricos. A grande diferença, é que atualmente se busca por uma relação mais equitativa e justa. E equidade de gênero não significa (re)passar o poder (ou falso poder) as mulheres, mas possibilitar uma relação mais igualitária e menos preconceituosa, fonte e base de argumentos para atrocidades, subjugação, e exclusão social pela negação de direitos.

A vitória de Dilma significa antes de tudo, um novo passo a mudança cultural desse país. Não se muda uma nação sem refletir sobre sua cultura, e no nosso caso especificamente, nossas culturas, pois que somos extenso, denso e multicultural. Somos praticamente países-regiões que formam uma grande república. Estamos num processo não de igualdade massificada ou uniformizada (gosto muito de população pasteurizada), mas de reconhecimento das diferenças e da diversidade étnica/raça, de gênero, territorialidade e autonomia cultural locais. Isso possibilita reflexões mais sensatas e assertivas. Isso evidencia um plano político pautado na amplitude de inclusão que envolve sul, sudeste, cetro-oeste, norte e nordeste. E isso deveria está em jogo e em pauta nos discursos e embates politicos.

Não se pode negar o crescimento, seja econômico ou social, que o governo atual proporcionou. Somos verdadeiramente um país em desenvolvimento, classificação que aprendi a usar para nos denominar (e logicamente nos reconhecer) desde os anos do ensino primário (atualmente fundamental I). Éramos apenas o país do futuro (que se configurava como tempo longínquo) , tanto que nas escolas a gente era obrigado a cantar: “esse é um país que vai prá frente... ôh...ôh...ôh... de uma gente tão feliz e tão contente... ôh... ôh...ôh!”. Hoje conjugamos o verbo no presente e por isso podemos bater forte no peito e dizer: somos um país não do futuro, mas de futuro possível e real. Saímos da utopia para concretude. E isso porque fomos às ruas, perdemos o medo de ser feliz, reivindicamos direitos e reconquistamos nossa autonomia.

São outros tempos, frutos de um passado no qual fomos presos ao exigir abertura política, espancados e torturados por cobrar democracia, mortos em nome da liberdade de expressão. Apanhamos nas ruas por pleitear o voto direto, e para que atualmente possamos exigir políticas públicas inclusivas. Exigir e (re)construir nossa identidade enquanto povo de expressão nacional e internacional. Nossos anos de batalhas serviram de base para nos tornarmos livres e fazemos história. História essa que tenho orgulho, pois que também é minha e de todos os brasileiros que não fogem a luta. Brasileiros que empunham bandeiras e gritam dos quatro cantos suas forças de guerreiros. Brasileiros que voltam mais uma vez a mostrar o quanto somos destemidos, de paz e de esperança num país melhor. Um povo que reconhece, respeita e cultua suas lideranças. Que do mesmo jeito que reclama e reivindica, também sabe aplaudir e reverenciar a competência e comprometimento de quem escolheu como representante máximo de nossa nacionalidade.

O fim do governo Lula torna-se um marco em nossa história, que a partir de agora se conta entre o antes e o depois. Entre quem éramos e quem somos. Por isso, a este homem, que considero não um, mas o mais importante político e brasileiro de visão, meus mais sinceros aplausos. À Dilma Rousseff, militante, ativista, técnica e mulher política, meu voto de convicção nas grandes e concretas perspectivas de continuidade de um plano e projeto de governo bem sucedido. Aos brasileiros, minha certeza de um país melhor e mais justo para todos. A história, meu registro: Eu votei Dilma, eu votei 13, e juntos seremos muito mais que isso, pois que seremos milhões de brasileiros a eleger a primeira mulher para a presidência da república. Por convicção, por entendimento político e social e acima de tudo, por não precisar mais ter medo de ser feliz!



 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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