terça-feira, 2 de novembro de 2010

ELEIÇÕES 2010 - O GRANDE FINAL

Recife, 31 de outubro de 2010

















UMA NOVA ESTRELA, UMA NOVA HISTÓRIA

Hoje acordei com um sentimento de vitória. As eleições 2010 me serviram como certa espécie de renovação da esperança. Esperança na continuidade da mudança, esperança na crença de um povo, esperança em dias melhores. Na sexta-feira passada, 29 de outubro, me vi novamente nas ruas. Era a caminhada pela “Vitória de Dilma”. Era a caminhada, ou mesmo a marcha que celebraria a confirmação do triunfo popular. A chuva densa parecia lavar nossas almas e encharcar nossos corpos de orgulho. Estávamos vivos novamente, unidos pelo mesmo objetivo. Massa compacta de gente diferente em cor, raça, idade, identidade. Éramos uma só corrente unida pela força e coragem de um povo que não nega a luta. A Praça Joaquim Nabuco estava vermelha. Eram camisas, blusas, chapéus e principalmente bandeiras em diferentes formatos e dimensões que pareciam subir aos céus, tremulando emoção e felicidade. Era um vermelho vivo, tingido pelo vigor e convicção de guerreiros que em batalha não temem a própria morte. Era o vermelho de uma paixão nacional que mais uma vez saia às ruas para mostrar apoio a um plano de governo pautado na valorização das pessoas. E era acima de tudo assim que nos sentíamos, valorizados, respeitados e participantes.

As pessoas dançaram na chuva e se abraçaram molhadas. A muito não via sorrisos tão largos, daqueles que a gente mostra os dentes, e como dizem os antigos, mas parecem morder as orelhas. Centenas de olhos brilharam embaçados por lágrimas que salgavam bocas sonoras. A multidão se comprimiu ao tentar se aproximar, ou simplesmente ver melhor, aquele que para milhões de brasileiros se transformou no maior símbolo de nacionalidade. De estatura mediana (tipicamente nordestina), barba grisalha, camisa branca e mãos levantadas, Luiz Inácio da Silva, o presidente Lula, saudou seu povo. Não era apenas o político, mas o cidadão que saiu de interior de Pernambuco para fazer história. Era um guerreiro altivo e vivaz que chamava seus soldados a luta. Não precisa falar, discursar e muito menos reafirmar sua convicção. Nestes momentos acredito mesmo que as palavras maculam sentimentos e objetivos. Sabíamos de seus ideais e comungamos dos mesmos desejos, afinal de contas um grande líder não se revela apenas em palavras, mas em gestos, posturas e condutas. E ali, estava, diante de todos nós, o maior líder da atualidade.

Em cima de um caminhão, seguiu pela Av. Conde da Boa Vista e arrastou a onde vermelha que parecia invadir espaços, becos, vielas e ruas transversais. Com a chuva, as roupas colaram aos corpos e pareceu transformar a todos em integrantes de uma grande tribo “pele vermelha”. Vozes ecoaram a mulher e o feminino, representados no nome de Dilma Rouzzeff. Uma nova estrela, que como diz a canção, nascia reluzindo grande prestigio e popularidade. As janelas ficaram coloridas e pareciam bravos dragões soltando fumaça de gelo seco. O céu brilhava em milhões de confetes e pequenos pedaços de papéis multicoloridos e luminosos. Era a festa da vitória e da certeza da aceitação popular. O voto tornar-se-ia apenas formalidade, registro burocrático que emprega valor legal à vontade e desejo popular. Atravessamos a Av. Guararapes abarrotada e por fim chegamos a Praça do Carmo. Foi uma caminhada curta para tanta euforia, que com certeza atravessaria a madrugada. Mas não havia tristeza ou melancolia, apenas o orgulho em reverenciar “o cara” que é antes de qualquer coisa, a própria “cara do povo”.

No dia seguinte continuamos a batalha. As pessoas voltaram às ruas com bandeiras, distribuindo adesivos. No grande dia, domingo, 31 de outubro de 2010, nós pernambucanos acordamos cedo e depositamos nas urnas mais de dez milhões de votos de esperanças e certezas. Acompanhamos as notícias pela imprensa, mandamos torpedos, mensagens e pedidos de votos. Era preciso ir até o fim, e até fazer boca de urna. Até que o final da tarde conclamasse a todos para a grande festa. Nunca me senti tão feliz ao ver o William Bonner, em sua pressa desconcertada anunciar que o Brasil tinha acabo de eleger com mais de cinquenta e seis milhões de votos a nova presidenta do Brasil (e neste sentido, saliento fazer sim diferença em dizer que elegemos uma presidenta ao invés de uma presidente, pois que a conjugação é outra, e se fará a partir de agora no feminino). E assim, nosso domingo anoiteceu vermelho. O Marco Zero pulsava o sangue brasileiro que avermelhou a paixão. E para nós também, a ideologia do folclore havia se avermelhado, pois que mostramos nossa irreverência na figura da “Dilma Roucife” e na distribuição de lembrancinhas eleitorais em “saquinhos de pó-de-SERRA”. Mostramos acima de tudo que pernambucano faz história, pois que a partir daquele momento, Dilma Rousseff entrou definitivamente para o cenário mundial como a primeira presidenta do Brasil, e junto com o nordeste deu o primeiro passo para a grande mudança cultural desse país.

Finalmente hoje acordei com desejo de limpeza. Por isso, comecei esvaziando minha caixa de E-mails, MSN, Orkut e Facebook que mantive em constante efervescência durante o período eleitoral. E confesso ter considerado incrível o fato de constatar o quantitativo de mensagens postadas e recebidas nesta ultima semana, que numa velocidade quase alucinante, parecia impossível de acompanhar. É que se estabeleceu durante as eleições, e principalmente durante o segundo turno, uma verdadeira guerra marrom onde inverdades e difamações caluniaram não só a candidata, mas a principalmente a pessoa Dilma Rousseff. Neste sentido é lastimável constatar a força negativa e aterrorizante que as novas tecnologias propiciam. Mas como diz sabiamente minha mãe, tudo na vida tem seu lado positivo e negativo. Por isso, neste momento confesso, meio cansado, que basta! As mensagens continuam chegando como sinal de protesto ou ainda de profecias infundadas, pautadas num desejo negativo de fracasso. Talvez seja resultado da ressaca moral dos inconformados perdedores. Para mim, figuram apenas como reflexo instintivo e irracional dos maus jogadores. Daqueles que não sabem ou não querem entender um resultado eleitoral como desejo nacional, que se pauta na decisão consciente de um povo que é coletivo. E por isso, tais mensagens seguirão simplesmente deletadas direto para a lixeira.

Independente dessas rebarbas quero apenas guardar as boas lembranças dessa que foi, talvez, a mais difícil e democrática campanha eleitoral. E digo democrática considerando o espaço cedido e disponível a todos que quiseram se posicionar, opinar e expor suas convicções e ideologias. Democrática no sentido de liberdade de expressão, que levada às ultimas consequencias, tentaram, hora macular a imagem de pessoas sérias, hora dimensionar habilidades e carismas de figuras oportunistas e não convincentes. Acho que neste sentido, ganhamos todos, pois que mostramos o quanto somos bons de estratégias políticas (e muitas vezes politiqueiras), que independente dos fundamentos ideológicos e objetivos partidários e/ou pessoais, quando peneirados deixam um saldo positivo através das denuncias de corrupção, tráfico de influencias e desvios de verbas tão comuns em nosso cenário político.

E neste aspecto o maior ganho concentra-se na constatação de que aprendemos a lutar por nossos ideais. Voltamos às ruas, levantamos bandeiras, travamos batalhas verbais e acima de tudo, dialogamos, e muito, na e pela busca de votos. Fortalecemo-nos nas artimanhas e estratégias de convencimento, seja através da habilidade discursiva, seja pela busca de argumentos técnicos pautados em dados e indicadores de desenvolvimento. Nunca o brasileiro falou tanto de economia, meio ambiente, privatização, valorização monetária, projeção internacional, índice de desenvolvimento humano, exclusão social e políticas públicas. Assumimos para nós a fatia de responsabilidades, e assim, escolhemos e defendemos nossos representantes. E isso significa o inicio de uma mudança cultural, uma vez que estamos aprendendo que política não se faz apenas em época de campanha eleitoral.

Por isso, hoje quero apenas o descanso digno de quem cumpre sua missão. Quero poder deitar e relaxar sabendo que o Brasil seguirá mudando rumo ao desenvolvimento mais igualitário e justo para todos. Na certeza que continuaremos investindo em tecnologia de ponta e na educação de qualidade, contribuindo para a formação e transformação de um povo que não se contenta mais com migalhas. Nós enquanto povo deixaremos de nos sentir como passageiros de segunda categoria, pois que agora pleiteamos o direito a dividir a primeira classe com o seleto grupo da burguesia. Abdicaremos definitivamente o título de pobrezinhos que precisam de “oportunidades” concedidas com dinheiro de nossos impostos. Queremos à hora e a vez de participar das decisões nacionais e contribuir com a construção de nossos destinos. Iniciamos um processo de transformação pelo qual nos faremos ouvir, pelo qual nos tornaremos ativos participes na construção de uma nova identidade nacional.

E amanhã quero acordar na certeza que fizemos o certo ao pudermos eleger, pela primeira vez, a primeira mulher à presidência da república. E isso é histórico. É o inicio de uma mudança que quebra a hegemonia masculina e machista, culturalmente construída ao longo dos séculos, mantida e financiada por instituições conservadoras, arbitrárias e autoritárias. E dessa história eu tenho o maior orgulho de ter contribuído ativamente, e acima de tudo de me sentir participante. Orgulho por ter votado 13, votado Dilma, e junto com milhões de brasileiras e brasileiros ter iniciado o maior processo de mudança nacional para o Brasil continuar crescendo. Parabéns as mulheres, ao povo brasileiro e principalmente a você que é parte dessa história.

 
Rio de Janeiro, 28 de outubro de 2010

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