sexta-feira, 1 de outubro de 2010

OS ÔNUS E OS BÔNUS DE SE ELEGER UM PALHAÇO

ELEIÇÕES 2010 - DEMOCRACIA DE ESCOLHAS?

"Hoje tem espetáculo? Tem sim, Senhor. Hoje tem palhaçada? Tem sim, Senhor. E hoje tem marmelada? Tem sim, Senhor... E o palhaço o que?... E o palhaço quem é?"

Neste domingo, 03 de outubro, finalmente chegaremos ao termino de mais uma eleição. E assim, por mais dois anos estaremos livres das intermináveis campanhas eleitoreiras que mais se configuram como ruídos a que temos que nos acostumar. As ruas antes pichadas sumiram da cidade. E isso foi extremamente positivo. Porém outros mecanismos foram fortalecidos, como banners e cartazes espalhados pelos principais corredores e avenidas, que anunciando candidaturas, nos mostravam o quanto competitiva pode se tornar uma eleição. Neste sentido, não seria estranho ou incorreto imaginar o quanto lucrativo tornou-se o negócio da política. Desta forma, imagino que as eleições tornaram-se meio de vida, tanto para os que se arriscam e investem pesado em candidaturas, como para milhares de pessoas que se engajam num mercado informal que parece em ascensão no país.

São jovens, mulheres, homens e até adolescentes envolvidos na divulgação de seus “empregadores momentâneos”, que tanto se configuram nas imagens de partidos, como dos próprios candidatos. Enquanto alguns apelam pela reeleição, outros menos experientes tentam desesperadamente chamar a atenção da população para a sua imagem. É preciso fixar uma imagem e um número correspondente no inconsciente do povo. E neste aspecto não existem propostas, mas apenas rostos e números que invadem diariamente, a cada sinal de trânsito, nossa mente. As ruas também se tornaram mais coloridas através das enormes bandeiras partidárias, que não raramente atrapalham nossa visão, o que logicamente coloca em risco a vida de motoristas e passageiros. E isso é negativo, porém passível de revisão e correção (pelo menos espero).

Outra novidade foram as motos, que em grupos, mas pareciam pilotadas por cavaleiros com suas bandeiras em riste, no melhor estilo medieval-moderno. E talvez fossem mesmo cavaleiros armados, pois entre os carros, muitas vezes pareceriam travar verdadeiras batalhas por espaços. E nesse campo de guerra, quantas vezes nós eleitores motorizados não nos tornamos o inimigo a ser combatido? (ou seria melhor, atingido?). Tanto que não raramente éramos afetados em nossa visibilidade por suas flâmulas hasteadas. E se o vento soprava mais forte, lá estava determinado candidato estampado em nosso pára-brisa. Penso então, que talvez o DETRAN precise rever suas campanhas de prevenção aos acidentes no trânsito, alertando aos motoristas que em tempo de eleições é preciso ficar bem atento aos riscos oferecidos pelas bandeiras das causas pessoais.

Tornou-se também impressionante, perceber as estratégias de marketing voltadas a públicos específicos e segmentados, aos quais os candidatos direcionaram suas mensagens de campanha. Durante meses, milhares deles invadiram nossas vidas, casas, cidades e uma infinidade de espaços, por onde espalharam poluição visual e sonora. Mas afinal, do que estamos reclamando se vivemos numa democracia? É preciso respeitar o direito a livre expressão de todos. Por isso penso, que o guia eleitoral, por exemplo, logicamente não poderia possuir outra denominação além de “horário eleitoral obrigatório gratuito”. E se assim não o fosse quem se “obrigaria espontaneamente” a assistir tanta bizarrice?

Digo isso, não querendo ofender os candidatos que se utilizam de forma competente, um espaço que assume importância fundamental ao esclarecimento da população sobre  possibilidades e propostas sérias. E isso, também é extremamente positivo, pois que democracia se faz com acesso a informação e educação política votadas ao povo. Mas de modo geral, o que se pôde ver na televisão foram apenas rostos novos e antigos que (re)apareceram com as mesmas enfadonhas e irreais promessas de bem feitorias popular. Era um vale-tudo político (ou politiqueiro), onde o voto se transformava em prêmio, e um cargo público se configurava como possibilidade de estabilidade econômica e social.

Já algum tempo, o guia eleitoral é transformado num grande programa humorístico. E confesso mesmo, que muitas vezes não consegui deixar de rir com tanta piada de mau gosto, do tipo politicamente incorreto. Imaginem por exemplo, um candidato a deputado que se intitulava “pastor [...], o preto do povo”. Era o recorte étnico/raça que adentrava na política eleitoreira (mas será que o tal candidato entende o sentido desse recorte?). Porém na foto, o mesmo aparecia com os cabelos caprichadamente alisados, caídos sobre os olhos (no melhor estilo Emo) e lentes de contato azuis. Agora, pare para pensar em outro candidato a deputado que se intitulava o defensor dos gays, e que de forma séria preferia sua mensagem: “quem não tem um gay na família? Por isso, votem em mim, pela defesa dos homossexuais”. A esse, talvez fosse interessante esclarecer que a comunidade LGBTTI não precisa ou ansia por defensores, mas por reconhecimento da igualdade de direitos.

Mas nesse contexto, o importante é perceber que as minorias tornaram-se “bandeiras de lutas” e instrumentos para angariar votos entre os políticos (ou melhor, politiqueiros de plantão). Até a população em situação de rua foi convocada, e em troca das migalhas eleitorais bimestrais divulgaram vários desconhecidos e descomprometidos candidatos. Mas repito, democracia é liberdade de expressão. Dessa forma, tinha gente apelando em nome de Deus, em nome da família, da tradição, da natureza, do nordestino, dos santos e de tudo mais que se pudesse imaginar como mote para conquistar votos. E se prometeu a cura para os “drogados”, os desvalidos, os sofridos, menos afortunados, analfabetos, famintos, e até, aos esquecidos pela sorte.

Alguns até prometeram reduzir preços da iluminação elétrica, outros ofereceram água de graça, garantia de moradias dignas, melhores salários, saúde e educação de qualidade, menos violência urbana e milhares de garantias de direitos. Mas como diz o ditado popular, “quem vive de promessa é santo”, e estes não votam. Assim, os textos e mensagens pareciam “chover no molhado” e por isso se tornavam piadas mal contadas ao assumirem um caráter fantasioso e fantástico, digno dos programas humorísticos de quinta categoria. E neste sentido digo que tais candidatos precisam investir mais em cursos de interpretação, para que pudessem (ou possam daqui a quatro anos) imprimir mais veracidade e convicção dramática as suas promessas infundadas. Melhor ainda, é preciso investir mais na própria educação e formação política para efetivar mais seriedade as suas candidaturas. E se vale uma sugestão, poderiam começar aprendendo e entendendo o verdadeiro conceito de política, que logicamente é diferente de politicagem de fachada.

Mas para tanto será fundamental, primeiro, refletir sensatamente sobre o que é democracia. Assim, segundo o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (2010), podemos entendê-la como “doutrina ou regime político baseado nos princípios da soberania popular e da distribuição equitativa do poder, ou seja, regime de governo que se caracteriza, em essência, pela liberdade do ato eleitoral, pela divisão dos poderes e pelo controle da autoridade, dos poderes de decisão e de execução”. Em outras palavras, poderíamos dizer que a democracia se caracteriza por um governo que se pauta na soberania popular, o que se traduz em um governo do povo. Partindo desse pressuposto, entende-se que o Brasil é um país democrático. E a maior prova consiste no fato de que atualmente temos conquistado o direito de poder  escolher nossos representantes (E isso é salutar a soberania de um povo. Alguém discorda?).

Entenda-se que “representante” significa pessoa que nos representa, ou ainda, alguém designado por nós mesmos para lutar e proteger nossos interesses. Não é para isso que tutelamos presidentes, senadores, deputados (federais e estaduais), governadores, prefeitos e vereadores? Logo, exercemos nossa democracia ao escolher, de forma livre e consciente, os melhores candidatos para tais cargos públicos. Penso então, que neste sentido, tais representantes assumem a responsabilidade de responder e decidir por nós. Ou seja, outorgamos direitos para que os mesmos falem em nosso nome. Mas também outorgamos deveres pelos quais os mesmos devem assumir a responsabilidade de respeitar seus representados – o povo.

Indo um pouco mais longe, é preciso entender que democracia significa poder de escolhas, ou seja, possibilidades entre candidatos à representação popular. E possibilidade aqui assume o sentido de multiplicidade, equivalente a poder se decidir entre as melhores propostas apresentadas por vários candidatos a um mesmo cargo. Porém quando essa multiplicidade não se apresenta (ou ainda é negada) ao povo, este ficará restrito em suas possibilidades reais. E falo reais porque penso que numa campanha eleitoral onde cinco ou seis candidatos não dispõem de condições igualitárias para efetivarem suas disputas, não se apresenta concorrência concreta e muito menos competição democrática. E este parece ser o principal cenário a que nós eleitores estamos expostos em quase toda totalidade dos estados brasileiros. Não é fato que de norte a sul, o que se tem verificado ao longo dos últimos anos é uma disputa (con)centrada apenas entre dois candidatos tradicionalmente fortes? E neste cenário, os demais candidatos não parecem se apresentar apenas como figurantes ou elementos cenográficos?

Porém, se levarmos essa realidade ao pé da letra, podemos pensar que estamos sendo democráticos, pois que dois é sempre mais que um. Logo, dois candidatos podem representar a pluralidade de escolhas para a população votante. Mas assim, penso seriamente que apenas dois candidatos nos impõem uma decisão implacavelmente limitada, pois que somos “democraticamente” levados a escolher entre o “menos ruim” e o “pior”. E logicamente por isso, tendo a não me sentir democraticamente contemplado (lembrando, no entanto, que isso é incomodo pessoal). Acredito, porém, que tal fato não se configure enquanto problema da democracia, e sim do exercício democrático. Talvez não estejamos preparados para entender, conceber, introduzir e assimilar em nossas mentes eleitoreiras o real significado da palavra. E talvez ainda, isso explique porque permanecemos anos após anos, décadas após décadas, escolhendo entre dois candidatos fortes e com possibilidades de vitória. Será essa uma culpa popular ou do sistema democrático, que traduzido em leis, regras e normas eleitorais (ou eleitoreiras) construídas por homens, definem espaços e possibilidades diferenciadas para os candidatos aos cargos políticos?

No atual modelo levam-se em consideração as representações de partidos, as alianças, união partidária e ideológica, ou, estratégias que garantam a manutenção do poder. Nessa lógica, se um partido que disputa a eleição, e que hoje é situação e dispõe de grande representação no legislativo e executivo, não dispõe de maiores e melhores condições para fazer chegar suas mensagens e promessas ao povo – eleitor? Estes não se tornam gigantes e ocupam mais espaços, por exemplo, na mídia? Por outro lado, os partidos menores e menos fortalecidos perdem espaços por não conseguirem tantas alianças, e consequentemente são abafados, ou mostram-se frágeis em estratégias eleitorais.

Antes de continuar minhas reflexões, preciso explicitar minha ignorância neste sentido, pois posso afirmar que tenho apenas um superficial conhecimento (e consequentemente entendimento) acerca dos mecanismos e procedimentos legais que regem as eleições. Mas penso, e me desculpem caso esteja equivocado, que nesse contexto não somos tão democráticos assim. Afinal de contas, democracia refere-se a “distribuição equitativa de poder”. Por isso, é preciso considerar que quem está no poder também tem mais possibilidade para mostrar seus feitos em prol da população. Em contra partida, quem já esteve neste lugar pode ainda tentar (re)lembrar essa mesma população sobre suas bem feitorias. Mas quem nunca esteve no “lugar do poder” poderá apenas falar de planos e objetivos, que para uma população acostumada a se guiar (ou talvez, ainda ser guiada) pela lei de São Tomé (que se pauta no “é preciso ver para crer”) parecem utópicos ou mesmo distantes demais para atender as necessidades do povo. Desta forma, tende-se a optar pelo que já se conhece. O que se traduzirá em confiança.

Proponho então que possamos refletir sobre até que ponto acabamos com a era (ou filosofia) do voto de “cabrecho”, onde o eleitor é induzido à determinada(s) escolha(s)? Não continuamos escolhendo apenas entre quem fez e quem está fazendo? (ou mesmo, entre quem supostamente fez algo de positivo e quem supostamente diz que está fazendo?). Mas neste sentido, nem sempre o feito antigo e a fazer atual representam boas, ou ainda, as melhores escolhas. Voltamos frequentemente para a velha noção de escolha entre o pior e o menos ruim. E assim, acreditamos que estamos exercendo a democracia, afinal, mesmo reduzidas, estas não deixam de ser possibilidades de escolhas. Com isso, observa-se um eleitorado dividido entre o candidato que conheceu e o que conhece. Entre o passado e o presente, pois que o futuro não atende as necessidades imediatas.

Negocia-se o voto numa lógica onde: se tal candidato não foi bom comigo e com os meus, então voto no seu “concorrente”. E ainda assim nos iludimos em acreditar que temos o poder de decisão. Mas se olharmos para as escolhas que se apresentam, constataremos nada mais, nada menos, que a simples confirmação do continuísmo. Basta para isso, olharmos atentamente para os sobrenomes dos candidatos. Confirmaremos simplesmente a velha máxima de que “filho de peixe, peixinho é”. E neste aspecto, é fato que as gerações se sucedem, porém é fato também que o poder permanece nas mãos de poucas e tradicionais famílias da política brasileira. Parentesco torna-se então referência de caráter e capacidade política e administrativa, o que é logicamente reforçado pelos marqueteiros enquanto estratégia de campanha. E nesta filosofia, vale ainda os apadrinhamentos, onde muitas vezes “novos lobinhos” são apresentados por “velhas raposas”, para que através deles, e em nome da democracia, se mantenham atuantes e atuando no cenário político nacional.

E aí, imagino que no grande circo das eleições brasileiras, o tempo passa, mas tudo parece caminhar (e se encaminhar democraticamente) para o tradicional lugar da mesmice. Mas, eis que de repente alguém se apresenta como proposta alternativa. Neste momento, o cansaço do povo se traduzirá em adesão imediata, mesmo ainda que o novo candidato alternativo não corresponda ao ideal de político sério e respeitável. Não é esse é o caso do “Tiririca”, apontado pela mídia como principal candidato a deputado federal pelo estado de São Paulo? Em verdade o tiririca não é um político, e menos ainda um candidato real, mas apenas um personagem. E neste contexto tenderá a se tornar apenas ilusória representação fictícia da mudança.

Tal fato revela, contudo, que neste momento não interessa ao povo as propostas de governo, idéias inovadoras ou possibilidades concretas de realização que por ventura tal candidatura represente. Esse personagem (e não o sujeito) surge como opção à irreverência irresponsável, num sentido de crítica a tudo que se apresenta no atual momento político. E digo irresponsável por não a considero tal candidatura legitima enquanto estratégia de luta. Parece então, que para a grande massa não politizada é preciso apenas mostrar-se e posicionar-se fortemente contrária ao continuísmo, ainda que de forma equivocada e errônea. Configura-se dessa forma, pelo menos a meu ver, um fazer político inconsequente e frágil. Pois, é preciso que se entenda que da mesma forma que se escolhe um “boi de piranha” para os momentos de grandes conflitos, define-se agora o “palhaço da vez” para mostrar e representar a indignação popular diante de um sistema antidemocrático como o que se apresenta.

O fenômeno popular se caracteriza pelo antagonismo. Para parte da população o palhaço em questão tornar-se-á herói, para outra parte será vitima. Será uma espécie de herói marginal que representará a baderna ao se mostrar, e se oferecer (ou ser oferecido) como instrumento capaz de bagunçar a norma (e veja que digo bagunçar e não contrariar a norma). Também será vítima, talvez até dele mesmo, ao ser usado - primeiro por politicos inescrupulosos que encontraram nele a viabilização de suas próprias candidaturas; e segundo pelo povo, que encontrou em sua imagem o recurso necessário para o escárnio e desprezo pelo sistema político que se impõe em nossa sociedade.

Nesse grande espetáculo circense e burlesco, perdem (e perdem-se) o próprio Tiririca, como também o povo e a democracia popular. O primeiro porque nunca será reconhecido enquanto pessoa, ou cidadão digno de respeito e confiança, pois que se caracterizará social e simbolicamente enquanto político palhaço (E nunca ao contrário, como palhaço político. O que é bem diferente. Concordam?); o segundo perde a possibilidade de posicionamento concreto e também digno de respeito e reconhecimento enquanto movimento ou ação de mudança e/ou transformação social e cultural. Com o tempo, tanto o palhaço, quanto a vontade popular por mudança serão transformados em fumaça que se perderá no ar (alguém já viu esse filme antes?).

Quantos palhaços foram eleitos sobre o mesmo pretexto, o da ironia? Talvez o último mais representativo tenha sido o Clodovil. Mas temos os jogadores de futebol, os ex-BBB da vida, cantores em busca de novos sucessos, bem como anônimos disparatados e sem juízo. Mas, mesmo eleitos esses personagens fictícios tendem a sumir em meio às artimanhas políticas das velhas raposas. Assim, pensemos em quantos sujeitos sérios e competentes profissionais em suas respectivas áreas de atuação se perderam em si mesmos nestes processos de fama eleitoral imediata? E, o mais importante e grave de tudo isso, quantas e quais as mudanças foram concretizadas e efetivadas por estes, a ponto de conquistarem o reconhecimento popular de nossa sociedade?

Caso o Tiririca ganhe a eleição com o quantitativo de votos que se espera, assumirá uma vaga no congresso e será abafado pela falta de conhecimento e experiência política, pois que ele mesmo foi e continua sendo vitima das políticas de exclusões e desigualdades de direitos que se faz no país. Pior ainda, é não entender (ou saber) que com sua eleição, nós eleitores viabilizaremos o retorno de antigos candidatos gatunos ao congresso brasileiro, alguns inclusive, envolvidos em escândalos relacionados a desvios de verbas públicas (lembram do mensalão, e do mensalinho?). A democracia então, neste sentido, parece se transformar em armadilha contra o próprio povo, e nos dá a certeza de que ela, como tudo que é construído pelo homem, mostra-se passível de manipulação através de artimanhas que atendem apenas aos interesses da manutenção do poder.

É neste aspecto que considero mesmo uma lástima, que neste picadeiro eleitoral a representação do palhaço torne-se coletiva e sua caracterização recaia exatamente sobre o eleitor. Acredito que o Tiririca não seja de todo mal, pois que é um “palhaço” por natureza, convicção e profissão. E palhaço aqui, entenda-se como sujeito que ao criar e se utilizar de um personagem, tem como proposta e objetivo o fazer rir. Neste aspecto, talvez o problema que se apresenta a nossa frente consista apenas no fato dele nos fazer rir de nós mesmos. Rir pela responsabilidade da nossa falta de possibilidades de escolhas, pelo não discernimento político, e principalmente pela nossa ignorância e inconsciência (ou inconsistência) democrática, que nos restringe a escolher entre um palhaço nato e os palhaços de oportunidades (ou oportunistas) que se apresentam como atuais candidatos.

Penso por fim, que para os estados limitados ao “menos ruim” e o “pior” candidato, se terá sempre um terceira opção – o voto em branco. Apesar das contra argumentações pautadas na idéia da perda de voto, as quais respeito, tendo a acreditar que o ato de votar nulo torna-se representativo da insatisfação popular que se alastra pelo país. Em determinadas situações prefiro não votar nem no menos ruim, e muito menos no pior candidato. É como se tivéssemos que optar entre uma fruta extremamente verde e outra extremamente podre. Assim, não se tem escolha real e concreta, pois que nenhuma das duas frutas saciará nossa fome. Por isso, não entendo o voto em branco como ato de omissão ou irresponsabilidade cidadã. Mas pelo contrário, considero-o como posicionamento político e consciente por parte de alguém que não se contenta com direitos pela metade. E digo ainda, que tenho a plena convicção de que um dia o ato de negar escolhas predeterminadas e limitas se tornará tão significativo que imporá as mudanças e transformações necessárias ao exercício pleno e real da democracia. Afinal de contas, esta significa vontade do povo e não a ilusória idéia de poder de decisão que o sistema político atual “democraticamente” tenta nos impor.

Por fim, desejo a todos e a todas uma boa eleição. Apenas sugiro que reflitam sobre o fato de que independente de ideologias políticas e preferências partidárias (ou ainda de candidatos), o que importará é votar consciente (ainda mesmo, que essa consciência não atenda aos interesses coletivos, mas apenas aos pessoais). Afinal de contas, votar consciente significa entender que “cada sociedade tem/terá o governo que merece”, ou num trocadilho despretensioso, que “cada sociedade merece o governo que tem/terá”.  Num contexto mais amplo, peço que entendam que num processo eleitoral manipulado como este não existirão escolhas certas ou erradas, mas apenas as responsabilidades individuais e coletivas por nossas próprias escolhas eleitorais, pelas quais, logicamente (e consequentemente), pagaremos sempre pelos os ônus e os bônus.



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