segunda-feira, 13 de setembro de 2010

PARADA DA DIVERSIDADE DE RECIFE



















UMA PARADA POLÍTICA SEM DIVERSIDADE

A 9ª Parada da Diversidade de Recife aconteceu neste ultimo domingo, 12 de setembro, com o tema: Direitos – Queremos Inteiro e não Pela Metade. E vale salientar que a Parada da Diversidade em nossa cidade sempre foi marcada pela irreverência, originalidade e colorido. Porém, não foi o que se viu nessa ultima e mal organizada edição, que mais uma vez encheu a orla da praia de Boa Viagem. A originalidade mostrou-se tímida e insignificante através de trios opacos e sem o brilho tradicional. A irreverência não marcou presença e o que se pôde ver, em verdade, foi uma massa indiferente e apática a causa dos direitos LGBTTI. E o colorido, ficou simplesmente por conta da enorme quantidade de bandeiras de candidatos a cargos políticos que invadiram a avenida e aproveitaram para fazer campanha eleitoral.

Na verdade penso que o que presenciamos foi apenas o oportunismo clássico numa “Parada da Política Sem Diversidade”. E digo isso porque fiquei impressionado, e por que não dizer decepcionado, com a invisibilidade do movimento. Abriu-se mão da trajetória de lutas contra a homofobia e a favor dos direitos enquanto cidadãos, para abrir espaço à política eleitoreira. E se a parada conseguiu provocar alguma surpresa, o fato ficou vinculado, única e exclusivamente, a quantidade de candidatos que disputarão as próximas eleições, que logicamente se mostraram como verdadeiros anfitriões “patrocinadores” da festa. Tanto que não raramente se podia vê-los saudando a população, com sorrisos amarelos em semblantes de verdadeira ausência a causa social em jogo. E aí, talvez valha o seguinte questionamento: quais os direitos que não se quer pela metade? Quais os verdadeiros ganhos em transformar um movimento social em palanque político?

Será que o movimento LGBTTI se tornou tão político quanto os tantos partidos oportunistas, ou seus representantes e membros incorporaram de vez o sentimento peculiar aos “passageiros de segunda classe”? A meu ver perdeu-se uma grande oportunidade para se negociar o reconhecimento e legalidade de direitos. E com isso fragilizou-se um instrumento de luta, que deveria ser entendido e reconhecido como símbolo máximo de força e estratégia política de uma categoria. Talvez seja necessário ao Fórum LGBT, organizador do evento, maior reflexão sobre o significado de política. E neste sentido, talvez o melhor conceito se refira ao seu entendimento enquanto conjunto de objetivos que enformam determinado programa de ação governamental. Salientando que “enformar” assume aqui o sentido de dar forma, crescer, encorporar e desenvolver-se, em ação conjunta e consciente da sociedade. Que especificamente neste caso, se refere ao sentido de reconhecimento enquanto categoria, e consequentemente na conquista de direitos e legalidade da livre expressão sexual. É este entendimento político que precisa ser formado, e informado, possibilitando as mudanças necessárias a uma sociedade mais justa e menos excludente.

Política neste aspecto tem que ser entendida como “princípio doutrinário que caracteriza a estrutura constitucional do Estado”, no qual se busca direitos igualitários para todos. E aí, é preciso que o movimento incorpore o sentido político no que se refere ao conjunto de “habilidades no trato das relações humanas, com vista à obtenção de resultados” concretos, e não partir do princípio de fortalecimento da tão comum crença popular em promessas pré-eleitorais. Pois para se mudar uma cultura homofóbica como a nossa é preciso mais que promessas de candidatos simpáticos a causa (e logicamente aos votos). É preciso que se renegue a idéia de que “simpatia é quase amor”, pois amor a qualquer tipo de causa só será verdadeiramente sentida por quem se incorpora e se integra ao, e no, contexto.

Por isso, penso que ao se buscar e reivindicar direitos totalitários, “e não pela metade”, não se pode depender da simpatia, mas sim do comprometimento com o eleitor e cidadão que vai às ruas em busca de igualdade política e social. E neste aspecto penso no real comprometimento de todos, e de cada um dos candidatos que encheram os trios elétricos no desfile de domingo. Qual é mesmo a história de luta em favor dos direitos LGBTTI desses potenciais deputados? Quando a lei que pune a homofobia será aprovada em nosso Estado? No próximo governo? Ou irá se esperar mais quatro anos, até a próxima eleição, para se mendigar novas promessas? Quais os acordos e acertos politicos (ou diplomáticos) foram efetivados junto aos nossos futuros representantes?

E onde foram parar as travestis que sempre saíram à frente dos trios? E os demais seguimentos e categorias do movimento LGBTTI, onde estavam? Tiveram que ceder espaços a política, ou travestis e gogo-boys não combinavam com políticos? Será que seus votos não têm valor, ou diante da elite eleitoral que desfilou com seus candidatos, tornaram-se insignificantes? Se pensarmos nessa perspectiva, não poderíamos imaginar que talvez não fosse tão positivo aos candidatos desfilar em trios repletos de gays efeminados, lésbicas pesadas, travestis, draggs, gogo-boys e boys de programa? O que a burguesia de Boa Viagem poderia pensar sobre eles? Que não seriam tão sérios assim, ou que não seriam dignos de seus votos? E por fim, que valores foram agregados as imagens destes candidatos? De simpatizantes ou benevolentes?

Fato é que as palavras de ordem, gritadas de cima dos trios, mesmo que não representassem a opinião do movimento, configurou-se como posicionamento político partidário. Ao invés dos discursos acalorados em prol dos direitos de uma categoria, o que se pôde ouvir foram apenas frágeis declarações de simpatia (ou quase amor?) a determinados eleitoráveis. Mas talvez, se possa relativizar o fato e imaginar que quem comandava os microfones tivessem esquecido o seu papel e lugar de representação coletiva e não individual ou pessoal. Se assim o for, então talvez a necessidade consista na melhor preparação dos locutores escolhidos ou contratados para se evitar tantas gafes ideológicas.

E neste sentido mesmo, exemplifico tais gafes com os sucessivos gritos de ordem, no qual se pregava que: “respeitar os gays não é favor, é obrigação”. Penso então, que talvez ainda seja preciso mais tempo para que as próprias categorias identitárias envolvidas incorporem o conceito de diversidade. Não foi por isso que o evento deixou de ser reconhecida como “Parada Gay” para se transformar em “Parada da Diversidade”? Será que a categoria gay abrange todas as demais identidades, ou ainda os representantes do próprio movimento não conseguem pensar sem ser de forma sectária e excludente? E se estes próprios ainda não incorporaram o conceito de diversidade enquanto lógica de luta como podem esperar que uma sociedade heterossexista e heteronormativa o faça? Assim, acredito que todo discurso cai sempre no vazio quando demonstra fragilidade em fundamentação. É preciso se reconhecer primeiro antes de gritar por questões infundadas. É preciso consciência de pertencimento para se fazer representar uma classe ou categoria.

E acima de tudo é urgente se repensar a Parada da Diversidade enquanto movimento e não como espaço mercadológico, para que não se corra o risco das grandes escolas de samba do carnaval carioca. Um instrumento de luta não pode ser transformado em produto, pelo qual se paga em moeda corrente. Pois que o preço deve ser em garantia de direitos, em conquistas para a coletividade e bem da própria sociedade como um todo.

Que saudade da época em que a parada cruzava a Av. Conde da Boa Vista, pois que nestes momentos era a própria cidade que parava para ver um dos movimentos político e ideológico mais irreverente, colorido e legítimo, como deve sempre se manter a luta pelos direitos LGBTTI. Fica então a reflexão para que nas próximas versões a única bandeira política que possa flamular na avenida beira mar seja a do arco-íris. E que logicamente a diversidade fique por conta das identidades sexuais e afetivas, e nunca pela multiplicidade politiqueira que em nada contribui para o fim da homofobia e garantia de direitos igualitários para todos e todas.

Um comentário:

  1. Queria dizer que a nossa nação ainda vai pagar alto preço ,pois brincar com as leis de DEUS,e dezfazer da sua palavra é falta muito grave.Este pais esta vivendo momentos de liberalismo doentio,ou se ajeita ou vai responder direto a DEUS.

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