quarta-feira, 15 de setembro de 2010

OS BOYS DE PROGRAMA DE RECIFE




..AINDA SOBRE OS BOYS DE RECIFE

Como falei anteriormente, no final de agosto, estive em florianópolis/SC participando do Seminário Internacional Fazendo Gênero 9, onde apresentei artigo, fruto ainda de minha dissertação de mestrado em psicologia, sobre a subjetividade na construção das performances de gênero entre os boys de programa de Recife.

Engraçado lembrar, que justamente a dois anos atrás lá também estava apresentando, ainda minhas primeiras impressões sobre o universo da prostituição masculina. Assim, o Fazendo Gênero marca minha trajetória, representando de certa forma, início e fim de uma trajetória. A seguir transcrevo na integra o trabalho apresentado, no intuito de contribuir com os estudos acerca das sexualidade, e ainda, como sempre, revelar um pouco do Recife.

QUEM COME É QUEM ENGOLE: A Subjetividade na Construção das Perfomances de Gênero Entre os Boys de Programa de Recife

Epitacio Nunes de Souza Neto

Mestre em Psicologia - UFPE

A partir de uma perspectiva teórica proponho uma reflexão sobre o processo pelo qual os homens que se prostituem em Recife e atendem a uma clientela majoritariamente homossexual resignificam e reorganizam suas próprias idéias sobre orientações sexuais e identidade de gênero sem estabelecer “conflitos” entre as concepções de masculinidade e a prática sexual. Para tanto, parto das considerações e argumentos originados da pesquisa etnográfica que realizei no principal território de prostituição masculina, situado no centro da capital pernambucana (SOUZA NETO, 2009), na qual busquei refletir sobre o processo de construção e estruturação das performances de gênero dos “boys de programa” .

As teorias construcionistas da sexualidade e do gênero sugerem que as relações sexuais comerciais entre homens encontram-se fortemente estruturadas nas dicotomias boy/bicha e ativo/passivo, balizadas pelo fato de alguém supostamente ser penetrado. Neste sentido, tal fato assumirá sentidos e dimensões diferentes a partir das marcações de sexo/gênero e fontes privilegiadas de prazer corporal. Os dois sistemas classificatórios propostos por Perlongher (1987) - boy/bicha e gay/gay - revelam que apesar de suas diferenciações, o ânus enquanto zona erógena continua sendo, de forma figurada, o foco de tensões e conflitos.

Especificamente no centro do Recife, pude verificar que no negócio do sexo entre homens o poder e a sedução se apresentam como cartas de um jogo onde são estabelecidos os valores das apostas. Se o ato de penetrar ou comer um cliente garante ao boy de programa à supremacia de sua masculinidade, inversamente, o fato de ser comido o destitui da posição de macho viril e dominador. Uma vez penetrado, perde o status de boy e passa a ser reconhecido como “frango” por se igualar aos clientes passivos. Constata-se então que o grande dilema que margeia e regula as relações de poder no fenômeno da prostituição masculina se encontra centrado no ânus e não no pênis.

O Cú do Boy - Zona Proibida Que Demarca Diferenças

Os dois pólos – boy e gay – ampliam a concepção de masculinidades e evidenciam a pluralidade em sentidos e conceitos vinculados uma gama de práticas, comportamentos e fatores intersubjetivos e subjetivados que se encontram envolvidos nas relações entre homens (SCHPUN, 2004). Em Recife, o antigo “bofe” proposto por Perlongher (1987) apresenta-se agora como “boy” e, pautado numa concepção linguística institui a termos como “homem” e “masculino” um sentido coloquial e não circunstancial. As práticas e papéis sexuais nem sempre se desenvolvem ou se apresentam em conformidade, ou condicionadas às sugestões das imagens, possibilitando uma variação entre os subsistemas “boy-gay”, “gay-gay” e “boy-boy”.

Num novo panorama de possibilidades e flexibilidades, as subclassificações boy e gay servem apenas a demarcação de comportamentos relacionados às categorias de gênero e não das identidades sexuais entre os boys de programa e os clientes. O “prostituto viril” assume uma nova versão, dando vida ao “boy-ativo” local, que por só “comer” o cliente, muitas vezes, será reconhecido e se reconhecerá como “comedor de frango” e nunca enquanto homossexual. Em oposição, o “michê-gay” que recebe a alcunha de “boy-bicha”, que por “ser comido”, será classificado e reconhecido como homossexual ou frango. Entre estes dois extremos de masculinidades transita o “michê-bicha”, que em Recife é renomeado como “boy-gilete” ou “boy-flex”. As diferenças de categorias definem não só os territórios para atuação, mais também hierarquias que respaldam o status social e regulam o posicionamento sexual de cada sujeito durante o desenvolvimento de suas práticas sexuais. No processo de hierarquização clássica das sexualidades brasileiras, os atores se classificam e são classificados de acordo com as posições que assumem durante o ato sexual (FRY, 1982; CF. PERLONGHER, 1987). Dentro dessa perspectiva, não é difícil imaginar que os boys-ativos estabeleçam uma linha imaginária que os separe das demais categorias e redesenhem um novo modelo classificatório de entradas onde o prazer se mostra resignificado nas relações de poder.

Nesta reconfiguração, os boys-ativos por não serem comidos garantem simbolicamente uma maior virilidade, situando-se numa margem oposta aos boys-bichas. Posicionam-se como espécie diferenciada e superior, em oposição aos boys-bichas que no outro extremo são agrupados numa espécie de “casta” inferior.

O ativo é o boy e o que faz as duas coisas é gilete... Ele é só gilete. E o boy que só dá é bicha (FÁBIO, 26 ANOS, BOY DE PROGRAMA, MORENO CLARO).

Transitando entre os pólos antagônicos, Os boys-flex revelam maior flexibilidade e transitoriedade tanto no que se refere às performances de gênero, quanto às condutas e práticas sexuais, podendo se aproximar de ambas as categorias em sentido valorativo simbólico.

No cenário gay da região, o termo “boy” há muito tem reconfigurado a imagem idealizada do “homem macho”, que durante o coito se posiciona como ativo e dominador. Ao resguardar o ânus, muitos boys protegem suas próprias masculinidades, respaldados pela crença de que “o homem não se torna frango por comer outro homem, mas sim por dá para outro homem”. É neste sentido que o ânus de forma figurativa se torna símbolo de força e cobiça, possibilitando que no universo da prostituição masculina o boy muitas vezes cobre e ganhe mais para ser comido pelo cliente.

Na questão do sexo é aquele preço. De R$ 30,00 a R$ 40,00... Mas se quiser alguma coisa a mais, ta entendendo?... Aí ele tem que pagar o preço que a gente acha justo... Tem boy que diz: faço isso, mas tem que ter a mais... (FÁBIO, 26 ANOS, BOY DE PROGRAMA, MORENO CLARO).

No simbólico destas relações de poder, o fato do cliente comer o boy lhe outorga um duplo poder por subjugar quem já se reconhece subjugado. Para o boy, socialmente o sexo assume um valor de troca e ganho econômico, onde a honra muitas vezes, parece centrada no ânus. A zona proibida, ainda que de forma simbólica, passa a se estabelecer como divisor de águas e fator determinante para as construções de identidades, sobre as quais irão se desenvolver os processos estruturadores das performances de gênero que respaldarão suas práticas sexuais comerciais. Estas performances de gênero definem novas subcategorias e dividem os sujeitos em categorias identitárias (boys de rua, boys de boate e boys de sauna) e preferências eróticas (boy-ativo, boy-flex e boy-bicha). Todos parecem se guiar por uma histeria coletiva em “torno do cú” que, enquanto zona proibida, determinará não só a construção e estruturação das identidades de gênero, mas também das performances correlatas a partir das relações subjetivas e simbólicas desenvolvidas em relação ao ânus (BUTLER, 1999).


A Primazia do Ânus: Quem Come é Quem Engole

As várias relações de poder inscritas nos corpos dos boys e dos clientes redimensionam o discurso sobre as categorias de gênero que se encontram pautadas no modelo ativo/passivo (VIANA, 2010). Se o boy-ativo se mostra dominante e valorizado por adotar uma performance mais próxima do gênero masculino, o cliente passivo nem sempre se sentirá dominado na relação sexual, podendo inclusive desmoralizá-lo ao comer inversamente o seu “pau” .

[...] conheci um boy que se vangloriava do tamanho do pau. Vivia falando pra todo mundo que era grande, grosso e que adorava arrombar cú de homem. Sentia prazer em ver o cara gemendo até gritar de dor. Era uma caceta imensa. Pensei comigo: vou engolir até o talo. Me fudi todinho, mas mostrei pra ele que era mais macho. E não gritei para não dá o gosto... (MARCOS – CLIENTE, 55 ANOS, BRANCO. DEPOIMENTO PESSOAL, 2008).

Também neste sentido, o cú ao invés do pau torna-se referência enquanto instrumento de força vinculada ao ato de “comer alguém”. Esta relação de poder, pautada num sentido metafórico, mostra-se respaldada na cultura popular local que postula que “quem come é quem engole”. Revela-se com isso a hipótese equivalente ao superior poder do ânus. O significado de engolir, aqui, surge enquanto mediador de forças. Se para o boy sua força é traduzida em masculinidade, figurada através do tamanho do pau, para o “frango” esta força consiste em aguentar a penetração, que muitas vezes tem o simples intuito de desmoralizar o macho.

A supremacia do passivo explicita um suposto poder do ânus que surge subjetivado na prática discursiva. A fantasia centrada na força de quem come e quem aguenta engolir o outro, será muitas vezes, resignificada no campo do erótico e servirá como uma espécie de “toque especial” que supervaloriza alguns aspectos das histórias contadas (SANTOS, 2008).

Ainda em algumas situações, entre os boys de programa, o significado de força empregado no ato de comer o outro se mostra correlacionado e justificado pelo prazer sentido, ou ainda, no prazer que também poderão sentir ao serem comidos.

[...] Ninguém vai querer dar seu “cu” só por causa de dinheiro. A turma dá, mas dói. Dói. Eu já comi muito e já escutei muito falatório, então ele só dá por prazer (ÍTALO, 19 ANOS, BOY DE PROGRAMA, MORENO CLARO).

Nesta configuração de prazer relacionado ao poder o sistema classificatório de entradas, anteriormente proposto para os boys de programa, mostra-se também adequado como referência aos clientes devido ao fato de tanto poderem pagar para comer como para serem comidos. Contudo, na contratação dos serviços sexuais observa-se a necessidade de considerar antecipadamente as variáveis de entradas e possibilidades disponíveis ou previstas. O cliente ao comer o cú do boy, se torna também dominador pelo fato de penetrá-lo. E, mesmo no caso inverso, se manterá como dominador por agenciar o ato, ou seja: quem paga define as regras e por isso torna-se dominante.

Contrariamente, para os boys-ativos o ato de ser comido o coloca numa posição de força inferior. Subjugado aos caprichos do cliente, que detém o poder, o boy perde o controle da situação por igualar, ainda que momentaneamente, ao frango.

[...] Se for um boy que rola tudo, a gente diz que ele é a bicha. Assim, porque um cara feito eu, que sou ativo, porque eu não dou, eu sou homem. Mas a bicha não, já vai dando... (FÁBIO, 26 ANOS, BOY DE PROGRAMA, MORENO CLARO).

O sistema de subcategorias passa a moldar as práticas sexuais, fazendo com que a diferença se torne fator de demarcação de identidades e de definição das performances de gênero adotadas pelos sujeitos. O boy-ativo ao valorizar o papel de comedor se reconhecerá enquanto homem não homossexual, mesmo ao relatar muitas vezes sentir prazer sexual com alguns clientes (SOUZA NETO, 2009; VIANA, 2010). Já o boy-bicha, mesmo se reconhecendo enquanto homossexual, não necessariamente abdicará de sua virilidade quando comido pelo cliente. Em consonância com Gagnon (2006), verifica-se que ao analisar o processo de desenvolvimento sexual humano não se pode desconsiderar suas flexibilidades e descontinuidades, e menos ainda negar a imensa capacidade de adaptação dos sujeitos ao se depararem ou criarem novas situações e circunstâncias. A complexidade de variantes e fatores envolvidos na sexualidade humana, seja de cunho cultural, social ou psicológico, tem demonstrado que os sistemas classificatórios e as categorias que se encontram envolvidas nas posturas sexuais e performances de gênero tendem sempre a se apresentar de forma mais flutuante e/ou fluida, permitindo o atendimento das exigências de, e em determinadas situações vivenciadas por um sujeito (BUTLER, 1999).

É nesta lógica que um boy-ativo poderá assumir uma conduta mais liberal para justificar a adoção de posturas e práticas sexuais não condizentes com sua identidade. Para torná-las condizentes, o boy lançará mão, ainda que de forma momentânea, da identidade “ativo-liberal” para possibilitar o não comprometimento de sua compreensão e reconhecimento de si enquanto boy-ativo. Do mesmo modo, em determinadas ocasiões e/ou situações o boy-bicha ao exercer o papel de ativo, poderá adotar uma identidade de “boy-gilete” e posteriormente voltar a sua identidade original.

A Honra Centrada no Cú do Boy

No fenômeno da prostituição masculina, o ânus, muito mais que o pênis, se configura como o grande demarcador das diferenças. O que distinguirá um boy-ativo de um boy-gilete será o fato de um ser comido e o outro não. Contudo, o segundo não necessariamente se reconhecerá ou será reconhecido enquanto gay, mas como uma espécie de homem mais flexível, ou ainda, como verificado entre os boys, como um “puto que vende sua honra”. O Boy-flex não deixará de ser homem ao ser penetrado. Mesmo ferindo a “honra do homem”, e por isso se tornando “indigno” se manterá reconhecido enquanto homem por retornar ao seu papel social masculino após a efetivação do programa.

Sei lá. Isso não é digno de um homem, não (MARCOS, 18 ANOS, BOY DE PROGRAMA, BRANCO).

Por sua vez, o boy-ativo por não abdicar de seu papel social masculino tanto no espaço público quanto no privado, não corre o risco de se tornar indigno, mesmo “comendo o cú” de outro homem. O boy-bicha, no entanto, ao se permitir e/ou desejar ser comido, socialmente abrirá mão de sua masculinidade por transgredir a norma e ferir as regras do jogo.

Nos discursos dos boys de programa torna-se possível observar que apesar da flexibilidade e permissividade reveladas em relação ao sexo oral e/ou sexo anal, mediante solicitação e pagamento adicional por parte dos clientes, se mantêm de forma consolidada a identidade masculina. Confirma-se então a existência de uma pluralidade de performances e sentidos relativos ao gênero que, em certos níveis de análise, se desdobrará na diversidade de posicionamentos identitários, e/ou, em outros níveis, na dificuldade muitas vezes encontrada em se assumir uma identidade compartilhada (Rios, 2004). Mesmo o boy-ativo-liberal termina reafirmando em seu discurso uma identidade hiper-masculinizada. Esta auto-afirmação, muitas vezes posta em xeque pelos próprios clientes, e/ou amigos do “oficio”, tem como objetivo a valorização monetária que se justificará por um suposto desempenho diferenciado. O fato de ser comido por outro boy ou um cliente afeminado, se configuraria como sinal de desprestígio. Contudo, deve-se considerar que dentro dos quartos nem sempre os boys-ativos serão ativos durante a prática sexual.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em Recife, a dicotomia ativo/passivo envolvida nas práticas sexuais entre homens encontra-se configurada nas categorias “boys” e “frangos” e servem como referência para diferenciar os comportamentos associados ao masculino e ao feminino. Construída culturalmente, esta diferenciação se mostra resignificada nas relações de poder através da subjugação e dominação entre homens. O gênero tende a matizar o discurso biomédico uma vez que a submissão não se limita ao feminino, mas em algumas situações, ou ainda, em alguns momentos, se estende também aos homens, ainda que reconhecidos como bichas ou frangos. As performances de gênero tem se mostrado como fator diferenciador e norteador das condutas e práticas sexuais. Entre os boys de programa, os boys ativos se distinguem e se reconhecem enquanto categoria diferenciada e superior às demais. Se utilizam do estereótipo hipermasculinizado para valorizar seus atributos com o objetivo de consolidar e reafirmar no social seu papel de “comedor”. Contudo, no privado dos encontros e parcerias sexuais, nem sempre as condutas e práticas sexuais seguem modelos tão rígidos. Neste jogo sexual entre quatro paredes, em algumas situações as regras são renegociadas e reconfiguradas, a fim de atender às solicitações e possibilidades que se apresentam.

Para se compreender o processo de articulação entre as fontes privilegiadas de prazer corporal (atividade/passividade) e as performances de gênero (traços de masculinidade e feminilidade) no negócio do sexo, será sempre necessário atentar para o fato do prazer ser, muitas vezes, evidenciado pelos boys como elemento coadjuvante fundamental. Este prazer torna-se ainda potencializado quando relacionado e autojustificado pelo senso comum idealizado do “homem garanhão”. O significado sociocultural inter-relacionado ao papel de “comedor” vincula-se diretamente ao processo de estruturação e construção das performances de gênero dos boys de programa. Suas identidades são construídas a partir dos seus próprios conceitos subjetivos de masculinidade. Para alguns, diretamente relacionada ao fato de poder “comer” alguém. As relações de poder estabelecem relações de dominação e subjugação através do ato sexual. O desejo de dominar que gera prazer aparece sempre potencializado quando a subjugação encontra-se relacionada ao ato de comer um “cliente macho”. A relação de sobreposição de virilidades e destituição de masculinidades evidencia que a posição de penetrado fortalece a do penetrador.

Nas relações sexuais comerciais entre homens esta dicotomia se mostrará relacional pelo o fato do penetrado, em alguns momentos ou situações, se sentir ainda mais macho que o penetrador. Para alguns clientes, a fato de “comer o pau do boy”, o destituirá do lugar de machão. Numa lógica inversa, onde “quem come é quem engole” respaldam a supremacia do ânus. Enquanto zona erógena, o ânus se apresenta sempre, ainda que de forma figurada, como o foco de tensões e conflitos. Transformado num grande jogo, no negócio do sexo entre homens o poder e a sedução configuram-se como cartas valorativas. Para o boy o ato de penetrar o cliente lhe garante a supremacia de sua masculinidade, inversamente, para o cliente, o fato de penetrá-lo o destitui da posição de macho viril e dominador. O boy ao ser comido perde o status de boy e passa a ser reconhecido como “frango”, igualado aos clientes passivos.

No fenômeno da prostituição masculina, o dilema envolvido nas relações de poder se revela centrado no ânus e não no pênis. Sob o peso simbólico de significados sócioculturalmente construídos, o ânus enquanto “zona proibida” para muitos boys de programa, deve ser resguardado, a fim de garantir o reconhecimento público de sua masculinidade. Dentro dessa lógica, o homem não se tornará, ou ainda será reconhecido como frango por “comer” outro homem, mas sim por “dar para outro homem”. É neste sentido que a região anal se configura enquanto símbolo de força e cobiça, tanto que no universo da prostituição masculina o boy, muitas vezes, cobra e ganha mais para ser penetrado. Para muitos boys de programa, socialmente a honra está centrada única e exclusivamente no ânus. Zona erógena, que ainda que simbolicamente, se apresenta como divisor de águas e se torna fator determinante para as construções de identidades, sobre as quais se desenvolvem os processos de estruturação das performances gênero que respaldarão suas práticas sexuais comerciais.



REFERÊNCIAS

BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do “sexo”. In. G.L. LOURO (org) O Corpo Educado: Pedagogias da Sexualidade, Belo Horizonte; Autentica, 1999.

GAGNON, John H. e Parker, Richard G (eds.). Conceiving sexuality. Routledge, New York, 1995.

GAGNON, John H. Uma interpretação do desejo: ensaios sobre a sexualidade. Tradução Lucia Ribeiro da silva; Revisão técnica Sérgio Carrara e Horácio Sívori. – Rio de Janeiro; Garamond, 2006.

PERLONGHER, Nestor Osvaldo. O negócio do michê: prostituição viril em São Paulo. São Paulo, Editora Brasiliense, 1987.

RIOS, Luiz Felipe. O feitiço de exu: um estudo comparativo sobre parcerias e práticas homossexuais entre homens jovens candomblesistas e/ou integrantes da comunidade entendida do Rio de Janeiro. Tese de Doutorado, UERJ/REDE SIRIUS/CB, 2004.

SANTOS, Elcio Nogueira dos. Sexualidades, corporalidades, transgressões: Entre amores e vapores: as representações das masculinidades inscritas nos corpos nas saunas de michês. XIII Congresso Brasileiro De Sociologia – PUC - SP, 2008

SCHPUN, Mônica. (Org.) Masculinidades. Boitempo Editorial; Santa Cruz do Sul, Edunisc, São Paulo, 2004.

SOUZA NETO, Epitacio Nunes de. Entre Boys e Frangos: análise das performances de gênero dos homens que se prostituem em Recife. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós Graduação em Psicologia – UFPE, 2009.

VIANA, Normando José Queiroz. “É Tudo Psicológico... Dinheiro... Pruuu e Fica Logo Duro!” – Desejo, excitação e prazer entre boys de programa com práticas homossexuais do Recife. Dissertação de Mestrado, UFPE, 2010.





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