segunda-feira, 8 de abril de 2013

RECIFE CONTRA O PASTOR INFELIZCIANO


 
 
VAMOS PRÁ RUA!

Dizem que andorinha só não faz verão. Eis uma das maiores sabedorias populares. Ativista fajuto que fica em casa não tem representatividade e por isso não faz história, muito menos mudança. Não se nega o valor das redes sociais enquanto instrumento de mobilização social, mas movimento de luta ainda se faz nas ruas. Talvez a internet tenha transformado os novos rebeldes em sujeitos preguiçosos e inconsequentes politicamente, e isto é um grande risco. Até porque assinar meia dúzia de abaixo-assinado ou desagravos não basta. Expressar seu repudio aproveitando carona nas postagens alheias não representa força de decisão, de opinião ou ideologia. Não é apenas curtindo ou compartilhando mensagens e/ou informações que nos tornamos cidadãos políticos e conscientes. É preciso mostrar a cara. É assim que se ganha batalhas. Sempre foi assim que as sociedades derrubaram regimes e líderes ditadores. O grito de guerra ainda é a melhor ferramenta de luta.

Não posso deixar de registrar a decepcionante “Marcha do Bota Fora Feliciano”, realizada em Recife, neste ultimo dia 06.04. Era 14:30 e meia dúzia de gatos pingados e desorganizados se concentrava na Praça da República. Uma bicicleta sonorizada anunciava a magnitude do movimento. Era a força e a disposição do recifense, que parece ter esquecido a tradição de lutas. Os discursos minguados não contagiaram e a marcha mais parecia um passeio pelas ruas da cidade. Uma pequena turnê em uma linda tarde de final de semana. Algumas faixas com frases de efeito, algumas pessoas com nariz de palhaços e outros poucos com cartazes nas mãos. E só. Era só isso. O megafone utilizado para conduzir os poucos representantes se mostrava tão impotente quanto os organizadores do manifesto. Havia mesmo certa apatia, evidenciando um desconforto diante da insignificância da ação. Um pequeno grupo que parecia envergonhado em sair gritando contra o mal feitor tirano que ameaça a democracia conquistada nas ruas.

A [i]mobilização era tanta que nem havia acordo quanto ao trajeto. Pela Av. Dantas Barreto o grupo pegou a rua por trás dos Correios, evitando a Av. Guararapes, grande palco das reinvindicações populares. A marcha parecia não querer incomodar. Mas incomodar a quem, se a cidade parecia vazia. Primeira evidencia da desorganização. Um pequeno grupo, entre os pobres minguados, resolveu mudar o percurso e só assim chegamos ao seu cruzamento com a Rua do Sol. Por incrível que pareça, diante do sinal fechado, a marcha parou. Novos protestos, e finalmente se conseguiu congestionar o trânsito na Ponte Duarte Coelho. No cruzamento com a Rua da Aurora, novas discordâncias. Não havia consenso entre seguir pela Av. Conde da Boa Vista ou se encaminhar direto para o monumento Tortura Nunca Mais. Parecia haver pressa em terminar o morgado passeio.

Depois de certa indecisão, os minguados revoltosos abafaram mais uma vez o impotente megafone. Apesar de pequena a marcha se vez notar na avenida, principalmente ao paralisar o trânsito no tradicional cruzamento com a Rua do Hospício. Alguns ônibus tentaram furar o cerco, mas logo foram impedidos pelos manifestantes mais experientes e dispostos que se postaram na frente fazendo barreiras. As faixas foram armadas no chão e uma grande roda humana mobilizou a cidade por alguns minutos. No entanto, pareceu que existia grande preocupação por parte da organização em respeitar o horário e o percurso original. Seria aquela, uma marcha negociada com os governos? Algo do tipo: podem sair às ruas, mas sem baderna? O fato é que em poucos minutos a caminhada seguiu pela mesma avenida, rumo a Rua da Aurora, onde se não fosse novamente o pequeno grupo do contra, passaria despercebida. Nova paralização, e talvez esse tenha sido o momento alto da ação. Nova roda humana foi feita, congestionando o transito calmo dos finais de semana. Uma criança em situação de rua aproveitou o momento e deitou-se na faixa de protesto. Com um tubo de cola nas mãos, pareceu o mais consciente de todos.  Em sua inocência se mostrou tão alheio à situação, quanto às autoridades governamentais tem se mostrado em relação ao protesto da população. Por fim, os minguados rebeldes, em gritos miúdos seguiram pela Rua da Aurora e findaram num protesto mixuruca diante do grande monumento contra a ditadura. Que pena!
 

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