Dizem que andorinha só não faz
verão. Eis uma das maiores sabedorias populares. Ativista fajuto que fica em
casa não tem representatividade e por isso não faz história, muito menos
mudança. Não se nega o valor das redes sociais enquanto instrumento de
mobilização social, mas movimento de luta ainda se faz nas ruas. Talvez a
internet tenha transformado os novos rebeldes em sujeitos preguiçosos e
inconsequentes politicamente, e isto é um grande risco. Até porque assinar meia
dúzia de abaixo-assinado ou desagravos não basta. Expressar seu repudio
aproveitando carona nas postagens alheias não representa força de decisão, de
opinião ou ideologia. Não é apenas curtindo ou compartilhando mensagens e/ou
informações que nos tornamos cidadãos políticos e conscientes. É preciso mostrar
a cara. É assim que se ganha batalhas. Sempre foi assim que as sociedades
derrubaram regimes e líderes ditadores. O grito de guerra ainda é a melhor
ferramenta de luta.
Não posso deixar de registrar a decepcionante
“Marcha do Bota Fora Feliciano”, realizada em Recife, neste ultimo dia 06.04.
Era 14:30 e meia dúzia de gatos pingados e desorganizados se concentrava na
Praça da República. Uma bicicleta sonorizada anunciava a magnitude do
movimento. Era a força e a disposição do recifense, que parece ter esquecido a
tradição de lutas. Os discursos minguados não contagiaram e a marcha mais
parecia um passeio pelas ruas da cidade. Uma pequena turnê em uma linda tarde
de final de semana. Algumas faixas com frases de efeito, algumas pessoas com
nariz de palhaços e outros poucos com cartazes nas mãos. E só. Era só isso. O megafone
utilizado para conduzir os poucos representantes se mostrava tão impotente quanto
os organizadores do manifesto. Havia mesmo certa apatia, evidenciando um
desconforto diante da insignificância da ação. Um pequeno grupo que parecia
envergonhado em sair gritando contra o mal feitor tirano que ameaça a
democracia conquistada nas ruas.
A [i]mobilização era tanta que
nem havia acordo quanto ao trajeto. Pela Av. Dantas Barreto o grupo pegou a rua
por trás dos Correios, evitando a Av. Guararapes, grande palco das
reinvindicações populares. A marcha parecia não querer incomodar. Mas incomodar
a quem, se a cidade parecia vazia. Primeira evidencia da desorganização. Um pequeno
grupo, entre os pobres minguados, resolveu mudar o percurso e só assim chegamos
ao seu cruzamento com a Rua do Sol. Por incrível que pareça, diante do sinal
fechado, a marcha parou. Novos protestos, e finalmente se conseguiu
congestionar o trânsito na Ponte Duarte Coelho. No cruzamento com a Rua da
Aurora, novas discordâncias. Não havia consenso entre seguir pela Av. Conde da
Boa Vista ou se encaminhar direto para o monumento Tortura Nunca Mais. Parecia haver
pressa em terminar o morgado passeio.
Depois de certa indecisão, os minguados
revoltosos abafaram mais uma vez o impotente megafone. Apesar de pequena a
marcha se vez notar na avenida, principalmente ao paralisar o trânsito no tradicional
cruzamento com a Rua do Hospício. Alguns ônibus tentaram furar o cerco, mas
logo foram impedidos pelos manifestantes mais experientes e dispostos que se postaram
na frente fazendo barreiras. As faixas foram armadas no chão e uma grande roda
humana mobilizou a cidade por alguns minutos. No entanto, pareceu que existia grande
preocupação por parte da organização em respeitar o horário e o percurso
original. Seria aquela, uma marcha negociada com os governos? Algo do tipo:
podem sair às ruas, mas sem baderna? O fato é que em poucos minutos a caminhada
seguiu pela mesma avenida, rumo a Rua da Aurora, onde se não fosse novamente o
pequeno grupo do contra, passaria despercebida. Nova paralização, e talvez esse
tenha sido o momento alto da ação. Nova roda humana foi feita, congestionando o
transito calmo dos finais de semana. Uma criança em situação de rua aproveitou
o momento e deitou-se na faixa de protesto. Com um tubo de cola nas mãos, pareceu
o mais consciente de todos. Em sua inocência
se mostrou tão alheio à situação, quanto às autoridades governamentais tem se
mostrado em relação ao protesto da população. Por fim, os minguados rebeldes,
em gritos miúdos seguiram pela Rua da Aurora e findaram num protesto mixuruca diante
do grande monumento contra a ditadura. Que pena!
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