Dizem que andorinha só não faz
verão. Eis uma das maiores sabedorias populares. Ativista fajuto que fica em
casa não tem representatividade e por isso não faz história, muito menos
mudança. Não se nega o valor das redes sociais enquanto instrumento de
mobilização social, mas movimento de luta ainda se faz nas ruas. Talvez a
internet tenha transformado os novos rebeldes em sujeitos preguiçosos e
inconsequentes politicamente, e isto é um grande risco. Até porque assinar meia
dúzia de abaixo-assinado ou desagravos não basta. Expressar seu repudio
aproveitando carona nas postagens alheias não representa força de decisão, de
opinião ou ideologia. Não é apenas curtindo ou compartilhando mensagens e/ou
informações que nos tornamos cidadãos políticos e conscientes. É preciso mostrar
a cara. É assim que se ganha batalhas. Sempre foi assim que as sociedades
derrubaram regimes e líderes ditadores. O grito de guerra ainda é a melhor
ferramenta de luta.
A [i]mobilização era tanta que
nem havia acordo quanto ao trajeto. Pela Av. Dantas Barreto o grupo pegou a rua
por trás dos Correios, evitando a Av. Guararapes, grande palco das
reinvindicações populares. A marcha parecia não querer incomodar. Mas incomodar
a quem, se a cidade parecia vazia. Primeira evidencia da desorganização. Um pequeno
grupo, entre os pobres minguados, resolveu mudar o percurso e só assim chegamos
ao seu cruzamento com a Rua do Sol. Por incrível que pareça, diante do sinal
fechado, a marcha parou. Novos protestos, e finalmente se conseguiu
congestionar o trânsito na Ponte Duarte Coelho. No cruzamento com a Rua da
Aurora, novas discordâncias. Não havia consenso entre seguir pela Av. Conde da
Boa Vista ou se encaminhar direto para o monumento Tortura Nunca Mais. Parecia haver
pressa em terminar o morgado passeio.
Depois de certa indecisão, os minguados
revoltosos abafaram mais uma vez o impotente megafone. Apesar de pequena a
marcha se vez notar na avenida, principalmente ao paralisar o trânsito no tradicional
cruzamento com a Rua do Hospício. Alguns ônibus tentaram furar o cerco, mas
logo foram impedidos pelos manifestantes mais experientes e dispostos que se postaram
na frente fazendo barreiras. As faixas foram armadas no chão e uma grande roda
humana mobilizou a cidade por alguns minutos. No entanto, pareceu que existia grande
preocupação por parte da organização em respeitar o horário e o percurso
original. Seria aquela, uma marcha negociada com os governos? Algo do tipo:
podem sair às ruas, mas sem baderna? O fato é que em poucos minutos a caminhada
seguiu pela mesma avenida, rumo a Rua da Aurora, onde se não fosse novamente o
pequeno grupo do contra, passaria despercebida. Nova paralização, e talvez esse
tenha sido o momento alto da ação. Nova roda humana foi feita, congestionando o
transito calmo dos finais de semana. Uma criança em situação de rua aproveitou
o momento e deitou-se na faixa de protesto. Com um tubo de cola nas mãos, pareceu
o mais consciente de todos. Em sua inocência
se mostrou tão alheio à situação, quanto às autoridades governamentais tem se
mostrado em relação ao protesto da população. Por fim, os minguados rebeldes,
em gritos miúdos seguiram pela Rua da Aurora e findaram num protesto mixuruca diante
do grande monumento contra a ditadura. Que pena!
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