QUE VENHA 2014!
Falta apenas dois dias para o fim
de 2013, o ano que entrou para a história como marco da nova revolução popular
[?]. Após décadas de inercia gritamos nas ruas nossa insatisfação e descrédito
nos partidos [e] políticos que não mais nos representam, mas não perdemos a
crença na ideologia. “O Gigante Acordou!” como tão bem alardeou a imprensa e
temeram os corruptos. Sem dúvida alguma, as manifestações de ruas figuraram
como as principais imagens de um ano em que o processo de mudança foi traçado pelo
próprio povo, que por fim parece ter descoberto a verdadeira função e força das
redes sociais. As máscaras tornaram-se o grande símbolo das lutas, que
proibidas forçaram o urgente debate sobre o que é verdadeiramente democracia. Contraditoriamente
as máscaras também caíram. Em Pernambuco, por exemplo, o ditador se revelou
publicamente preconceituoso, machista, conservador e tirano, revelando mais uma
vez o despreparo e descompromisso da maioria dos altos servidores públicos
diante dos anseios populares. Em uma terra onde os cargos governamentais são distribuídos
em nome de velhas amizades e conchavos políticos, o ano que se aproxima será
com toda certeza bem melhor e justo sem os Damásios da vida.
Mas 2013, também entrou para a
história como ano do fim do Mensalão [?]. Resta apenas o desfecho do Mensalinho
do metrô de São Paulo e Brasília; o rombo da prefeitura de São Paulo, promovido
pelos auditores fiscais; as irregularidades no financiamento da campanha
eleitoral que envolve a governadora do Rio Grande do Norte, que já voltou ao
cargo; e especificamente em Pernambuco, os desvios de verbas públicas
promovidos pelos vereadores de Caruarú, que já estão quase todos em casa para
curtir com a família as festas do final de ano; e, o escândalo vergonhoso com o
dinheiro da verba da merenda escolar das escolas públicas. Coisa pouca, com as
quais já estamos mais que acostumados. O que importa mesmo é saber [e quem
sabe, acreditar] que a política de agora em diante se fará mais transparente
sem os tantos José Dirceus, José Jenuinos, Delubios Soares, Pedro Correas,
Roberto Jerfessons e tantos outros salafrários corruptos que envergonharam a
nação. Só lastimo realmente, neste caso especificamente, a inexistência da pena
de morte no Brasil, uma vez que ainda continuarão onerando os cofres públicos
com os luxos e regalias dispensados a presos tão ilustres. Aliás, as vantagens
sobre os recursos legais e direitos destes cidadãos, que tanto fizeram pelo
Brasil, só revelam a legitimidade e imparcialidade da justiça brasileira. O consolo
é saber, que todo país tem a justiça que merece, ou pelo menos, a que aprendeu
a entender como tal. Quem sabe a gente não vota no Joaquim Barbosa para
presidente da república?
Ainda no campo das conquistas, não
podemos esquecer que detonamos a seleção campeã da Espanha e garantimos a taça
da Copa das Confederações. Somos os favoritos para a Copa de 2014, e
logicamente a grande festa e os lucros envolvidos se tornaram muito mais
valiosos do que as insignificantes mortes dos quatro últimos operários que construíam
as pressas as Super-Arenas, as quais os pobres não terão acesso. Mas também, o
que pesariam quatro mortes, ou ainda, o sofrimento de suas famílias, comparadas
ao desejo de milhões de torcedores ávidos e ansiosos por revelarem seu orgulho
em ser brasileiro? Não! Não sejamos pessimistas ou estraga prazeres. Somos o
melhor e temos os jogadores mais caros do mundo. E se no país os professores
não são remunerados adequadamente, ou apanham das polícias nas ruas quando
protestam por melhores condições de trabalho, é porque optaram por perder tempo
estudando e se especializando. Família de sucesso é a que tem jogador ou
pagodeiro em casa. Mas, estes são pequenos detalhes e não vêm ao caso agora. O importante
mesmo é se preparar para 2014, pensando grande. Afinal de contas, sediar uma
Copa do Mundo é uma excelente “oportunidade” para o país mostrar a todos seu
poder e crescimento econômico. E que não me venham os pessimistas dizerem que
faremos vergonha. Claro que não! Não se pode esquecer que temos experiência com
os grandes eventos e ações de impactos que tanto nos projetam no cenário
internacional. Somos campeões em violência; temos a policia mais despreparada e
perigosa do mundo; somos um dos países que mais matam mulheres, homossexuais,
adolescentes e crianças; temos um enorme contingente de pessoas em situação de
rua e sem nenhuma cobertura por parte das politicas públicas; um dos países com
o maior número de presos em condições indignas e sem a mínima condição de
ressocialização; temos grandes chacinas e o PCC controlando o tráfico de
drogas; a seca do Nordeste; uma das maiores corrupções do planeta; e, não
esquecendo, pagamos os mais altos impostos, o que nos tem garantido saúde,
educação e qualidade de vida de primeiro mundo. Estamos bem na fita e na FIFA!
Agora é só correr para o gol. E que venha a taça! Até porque, sendo de ouro a
gente derrete novamente.
Precisamos acreditar. Nosso maior
trunfo é que somos anfitriões por natureza. Adoramos reconhecer os méritos e os
verdadeiros talentos que tanto nos inspiram. O melhor exemplo é a vontade dos
cariocas em homenagear o maior ladrão de todos os tempos, o falecido inglês Ronald
Bigs que ficou famoso por assaltar o tem pagador, rebatizando com seu nome a
rua onde morou por décadas livremente e impune no Brasil. Mas não se desesperem
porque com o mesmo grau de importância e coerência, também homenagearemos o
grande Nelson Mandela em vários monumentos pelo país a fora. E nesse campo das
homenagens devidas, acho até que no próximo ano, se tudo der certo, iremos criar
praças com o nome do Neimar, ou quem sabe encher nossos parques com o busto do
Ronaldinho Fenômeno, personalidades ilustres do esporte brasileiro. Já no campo
da cultura, não podemos esquecer, logicamente, do “show das poderosas” que
tanto nos orgulharam e nos encheram de satisfação pela projeção internacional. Se
houvesse uma premiação de honra para os artistas que mais contribuíram para
consolidar nossa imagem no mundo, sem dúvida alguma, Anita seria a grande
revelação do ano. E pensar que ela recebe R$ 120.000,00 (cento e vinte mil
reais) a cada hora e meia de muito trabalho. Considerando sua agenda, com uma
média de 12 (doze) shows por mês, fica fácil imaginar como os brasileiros
gostam de criar seus novos milionários relâmpagos. E olha que tem muita gente
boa num páreo, onde Paula Fernandes e Claudia Leite dão de pau na magnânima Ivete
Sangalo. Pena que nem só das excelentes divas, viva a MPB. Para nossa desgraça
temos ainda o Luan Santana, com sua velhinha tétrica e gagá com quem pretende
namorar no sofá; e, o Gustavo Lima, que com suas calças extremamente acochadas
parece sofrer de paralisia infantil. Diante dos tantos megassucessos efêmeros e
vazios de conteúdo que fizeram a cara de 2013 no campo da cultura, torna-se inquestionável
o crescimento e qualidade da nossa música popular. Com melodias repletas de
poesia, que nada deixam a desejar em relação aos velhos cancioneiros, as letras
tornaram-se verdadeiras pérolas, a ponto de deixar qualquer plateia totalmente “Piradinha”
de tanta indignação. Agora, para fechar mesmo o ano com “chave de ouro” não
podia deixar de registrar o magnifico dueto [ou seria duelo?] da Simone com o
Luan Santana, cantando “Então é natal”. E neste caso, o triste mesmo é
constatar que “o ano termina e renasce outra vez” com a mesma pobreza de
conteúdo.
Que venha 2014, porque de merda,
corrupção, falcatruas e alienação popular, particularmente, já estou cheio!