sábado, 24 de agosto de 2013

GOVERNO PROIBE USO DE MÁSCARAS NAS MANIFESTAÇÕES DE RUA

O QUE REALMENTE SE ESCONDE POR TRÁS DAS MÁSCARAS?

Na terra do carnaval não se nega a força e o poder das máscaras, seja pelo fascínio ou medo que provocam. O adereço popular, farta e livremente utilizados pelos foliões, caracteriza e particulariza uma das maiores festas do planeta dando-lhe colorido e beleza especiais. A multiplicidade de feições e expressões, bem como a diversidade de tamanhos, formatos e estilos revelam uma característica nossa, a disponibilidade para a felicidade.  Além disso, as máscaras possibilitam a divulgação e consolidação de nossa identidade enquanto brincantes. Neste sentido, assumem a função de símbolos da irreverência e da criatividade de um povo, funcionando muitas vezes como instrumento de crítica, e logicamente, instrumento de afirmação ideológica.

Esta semana as máscaras tornaram-se alvo da repressão por parte de um governo que se diz democrático. A proibição do uso de máscaras durante manifestações ou atos públicos contraria uma lógica de nossa cultura. Assim, a determinação impetrada pelo governo de Pernambuco reacende a necessidade de novas reflexões sobre o direito de livre expressão e liberdade, garantidas na Constituição Federal. O argumento utilizado para fundamentar o dispositivo legal é a omissão da identidade do indivíduo que se utiliza da máscara para agir de forma segura e camuflada contra o patrimônio público e a segurança da sociedade, o que dificulta sua identificação e, consequentemente sua penalização. Mas a omissão da identidade nas ações contra o povo e a sociedade não é característica única dos vândalos infiltrados nas manifestações populares. Os políticos se utilizam do mesmo recurso para aprovar leis e projetos que não beneficiam a coletividade através de votações secretas e fechadas que se dão tanto nas câmaras como no senado. Dois pesos e duas medidas não são garantias de igualdade de direitos, e muito menos símbolo ou sinônimo de democracia.

Se o ato de retirar a máscara evidencia a identidade individual, o ato de colocar as máscaras reafirma e fortalece a identidade coletiva. E neste sentido, para ação dos sistemas opressores, que não se utilizam do diálogo como forma de negociação e resolução de conflitos, a proibição do uso da máscara se apresenta como medida eficaz e instrumento imediato de controle e opressão. É preciso entender que o vandalismo é também resultado da violência praticada pela polícia, ainda que esta se apresente de maneira camuflada ou mascarada de boas intenções. Até por que como diz a voz do povo, de boas intensões até o inferno está cheio. Logo, torna-se evidente que não se combate violência com mais violência. A repressão da vontade popular sempre foi a principal arma da ditadura, e esta o povo derrubou há exatamente 29 anos. O governo precisa está a favor do povo, das vontades e anseios da população, pois que esta é, e sempre será, a principal responsável por sua existência e manutenção. É preciso salientar que não existe governo sem povo, mas nem sempre o contrário se torna verdadeiro. E povo sem governo amedronta, assusta, acua e ameaça a todos. Talvez essa seja a grande questão e ponto para as reflexões necessárias. Os tempos são outros e é preciso que os instrumentos de negociação também se tornem outros para não se repetir os mesmos erros do passado.

Penso que a discussão estende a reflexão para além do ato de usar máscaras. A grande questão está na conjugação prática do verbo. Mascarar é sinônimo de camuflar, dissimular, disfarçar ou omitir. A aplicação do verbo se estabelece no ato ou ação de esconder intenções, dados ou fatos, coisas comuns aos governos ditatoriais. Se nosso regime politico fosse de fato, e verdadeiramente, democrático, os que protestam contra o sistema não precisariam se utilizar do artifício das máscaras. Sair-se-ia a rua de cara limpa! A preservação da identidade neste caso se estabelece como estratégia de preservação e defesa da própria integridade, individual e também coletiva. Torna-se uma estratégia de luta contra o poder opressor. E neste caso se legitima e se fundamenta. Omitir a identidade é diferente de utilizar máscaras, pois que nestes movimentos populares atuais tal adereço tem a mesma feição. A máscara em questão, utilizada principalmente pelos “Black Bloc”, é única, e por isso personifica e generaliza a ideologia grupal. Claro que as generalizações são sempre perigosas. Nem todo mascarado é um vândalo. Assim como o vandalismo não respalda todos os movimentos populares que hoje atormentam os políticos. O que se pode generalizar neste caso é a indignação popular que se estabelece diante dos escândalos de corrupção, desmandos, chantagens, negociatas e ineficiência da justiça. O desgoverno popular que invade as ruas das principais cidades do país tem raízes emocionais. E o risco se estabelece exatamente nesse contexto.  Quando a emoção vence a racionalização as consequências podem ser incalculáveis e as ações imprevisíveis.

Se o objetivo é a transparência nas relações entre governo e sociedade, é preciso que o primeiro inicie o dever de casa, retirando suas próprias máscaras. Toda massa tem, e sempre terá o poder da mudança, fazendo ou não uso das máscaras. Nossa história mostra que em um movimento anterior a identidade era marcada basicamente por duas faixas de tinta no rosto. Os “Cara Pintadas” também eram jovens e invadiram as ruas revelando a identidade coletiva, provocando mudanças. A diferença do movimento atual consiste na ausência de partidos e políticos oportunistas, que mascarados se aproveitavam para se autopromover. Se esses tipos de estratégias se esgotaram, tornando-se inadmissíveis e intoleráveis nas reivindicações atuais, só revela a evolução da consciência política do povo. E isso, sim, traz a mudanças! Se os representantes atuais não atendem as expectativas do povo, precisam ser trocados e substituídos. Essa é a lógica que governa as relações sociais. A grande surpresa dos políticos é a constatação inevitável da ameaça à manutenção de seus falsos poderes, aos quais tentam se agarrar com unhas e dentes, até porque não sabem fazer outra coisa além de politicagem.

Proibir a uso de máscaras nas manifestações é abrir espaço para o fortalecimento do movimento, que logo encontrará outro referencial simbólico. Toda ação gera reação. Toda repressão gera ainda mais revolta, tornando-se um desafio a ser vencido. Assim, muitas vezes mudam-se as armas, mas não o argumento ou ideologia das batalhas. O certo é que a mudança sempre vem. Às vezes é só uma questão de tempo. E neste caso, a questão de tempo é uma urgência e prioridade dos políticos, e não necessariamente do povo que está nas ruas. A grande arma nessa batalha não é a máscara, mas as urnas. E estas tem data marcada. Assim, nas eleições de 2014, talvez as verdadeiras máscaras caiam de vez para que o povo volte às ruas com a cara limpa. VAMOS ESPERAR PARA VER?

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