quarta-feira, 14 de março de 2012

SEMLUVAS - 20.200 ACESSOS EM DOIS ANOS E MEIO

INDO CADA VEZ MAIS LONGE.

Iniciei esse blog em 2009. Para ser mais preciso, em 06 de outubro de 2009. Na época, alguns motivos contribuíram para que me arriscasse a revelar fatos de minha vida e pontos de vista acerca de assuntos que me despertavam e despertam interesse. Confesso que no início tudo não passava de uma grande brincadeira. Algo que poderia fazer de forma despretensiosa, nas horas vagas. Também serviria como espaço para registrar pensamentos, devaneios ou loucuras que nos acometem de vez em quando. Uma espécie de diário, que inclusive me serve como referencial para avaliar meus processos de mudanças. O nome surgiu de uma conversa com um grupo de amigos. Como sempre fui tido como um sujeito bastante crítico e, de certa forma direto, sem muitos rodeios sobre o que penso, uma amiga sugeriu algo como “tapas com luvas de pelica”. Achei interessante a idéia, mas como polimento exacerbado nunca foi meu forte preferi tirar a pelica. Não que me considere uma pessoa grosseira, mal educada ou invasiva, muito menos um casca grossa. Muito pelo contrário, considero-me uma pessoa sensível e até de certo modo, delicado. Principalmente no trato pessoal e profissional. Sou adepto da etiqueta social e acredito que tudo pode ser dito, desde que de forma apropriada. Como diria um grande amigo meu: “quem não gosta de mim deve ter algum problema”. Brincadeiras a parte, neste sentido não sou melhor e nem pior do que ninguém, o que me leva a classificação de pessoa comum. Mas não no sentido da trivialidade ou banalidade, mas sim, num sentido mais existencialista, do tipo: “penso, logo existo!” E logicamente, não será preciso dizer que não gosto de pensar como a maioria. Mas gosto sim, de refletir sobre o que está por trás de cada palavra dita, de cada escrito redigido, de cada regra estabelecida, de cada [pré]conceito institucionalizado culturalmente. Acho que na verdade herdei tal característica de um pai que não era lá muito fácil. Fui levado a ver as coisas e fatos com meus próprios olhos e assim desenvolver senso crítico.

Como queria algo mais parecido comigo. Algo que de forma direta evidenciasse meu modo de ser e estar no mundo, e de certa forma de agir e interagir no ambiente que me cerca, preferi também abrir mão das luvas. Assim, surgiu o “semluvas”. Para facilitar as coisas iniciei uma breve auto-apresentação salientando minha acidez, que em muitas situações tende a se mesclar com uma suavidade que até me espanta. Apesar disso alguns dizem que sou taxativo e acham alguns textos pesados, motivo pelo qual acabo me expondo “desnecessariamente”. Sei que algumas vezes sou tomado pelo ímpeto da emoção, mas “sem luvas” não daria para ser diferente, pois não seria eu. É meu jeito, meu estilo, minha forma própria de falar e de me expressar. Lembro que uma das primeiras análises que fiz sobre o natal chegou a causar espanto, e até classificada como agressiva. O mesmo aconteceu com outras postagens. Às vezes severas, às vezes amenas, as críticas têm me servido como parâmetro de avaliação. Como as opiniões nunca são unânimes, o que considero, por demais, positivo, me fazem crer que consigo atingir meus objetivos causando sensações diferentes. Na verdade, alegro-me com essa disparidade emocional dos leitores. Fora isso não nego a satisfação em saber que uma idéia despretensiosa tomou proporções nunca imaginadas, chegando ao auge de 2.000 acessos/mês. Logicamente isso trás um sentimento de aceitação, o que reforça o sentido de responsabilidade. Afinal, são pessoas que não conheço e que, em sua maioria, pouco se identificam. São pessoas de todos os cantos e recantos, de norte a sul do Brasil. Inclusive de lugares que nunca nem ouvi falar, ou tenho uma breve noção de onde se localiza geograficamente. Neste aspecto, a internet revela uma força poderosa e surpreendente.

Outro aspecto interessante é não saber o perfil exato destes leitores. Não faço a mínima idéia da faixa etária, raça/etnia ou gênero, por exemplo. Isso me deixa bastante a vontade, uma vez que nunca pretendi atingir segmentos específicos. Também me deixa tranquilo quanto ao que elejo escrever. Ou seja, o anonimato do público me desobriga e escolher ou selecionar temáticas. Os assuntos surgem na medida do cotidiano de um centro urbano. É isso e apenas isso. Por outro lado, as estatísticas evidenciam em certa medida, um possível recorte socioeconômico, partindo do princípio de que a internet ainda não se constitui como um bem comum e de acesso irrestrito. Assim, supõe-se que a maioria dos leitores mensais integra a classe média, com bom nível educacional. Dos 20.200 acessos registrados em trinta meses verifica-se uma média mensal de 670 acessos mensais [considerando que o contador automático só foi colocado um ano após a veiculação do blog], e que destes, 15% são de acesso estrangeiro. São norte-americanos, canadenses, espanhóis, portugueses, ingleses, italianos, alemães, franceses, japoneses, suíços, israelenses, africanos e até russos. Dessa forma, gosto de imaginar que consigo levar aos brasileiros que estão longe um pouco das notícias e atualidades de nosso país, principalmente de uma cidade incrustada no nordeste. Penso também que o grande interesse econômico sobre o país vem contribuindo de forma decisiva para que o que poderia chamar de novo “redescobrimento do Brasil”. Acima de tudo, gosto de saber que temas relevantes como “população em situação de rua” e “exploração sexual de crianças e adolescentes”, mazelas sociais que envergonham a capital pernambucana possam correr o mundo como forma de denuncia. Cumpro assim com parte de minhas responsabilidades enquanto cidadão e militante dos direitos humanos. Gosto mais ainda de pensar que aos poucos vou revelando retratos do Recife. Uma espécie de quebra-cabeças que futuramente servirá para contar parte de sua história. São na verdade fragmentos da vida cotidiana que remontam um tempo. O tempo atual onde me revelo como agente ativo, contando e fazendo também a história. História que não é só minha, mas de um povo rico em tantas e quantas histórias.

Relendo hoje os escritos do passado, me divirto em recobrar os motivos e inspirações. Principalmente as motivações para determinadas colocações, indagações e afirmativas. Lógico que em determinadas situações consigo tecer autocríticas que me fazem pensar em alterações, ajustes, correções ou complementos. Porém por acreditar que histórias contadas consolidam fatos e impressões verdadeiras, e até viscerais, me atenho apenas a reler, reavaliar e claro, rir bastante com algumas besteiras e melodramas que margeiam passagens. Acredito acima de tudo que a escrita é única e por isso fenomenológica. Cada passagem ou registro revela e salienta uma emoção que não volta. Foi o registro da história, ou parte dela, e por isso não cabem retoques. Evita-se assim a alteração de um curso, bem como a depreciação de conteúdos. Uma fez escrita torna-se registro fidedigno. Não é apenas a história do Recife que é contada, mas a minha própria vida que se revela aos poucos. São lembranças e memórias entrecortadas pelas dimensões do tempo, onde passado, presente, e até futuro, se misturam para me contar de mim mesmo. Uma espécie de livro, no melhor estilo autobiografia, que aos poucos vai montando e remontando uma vida. Vida que não se revela completamente devido a implicações éticas, políticas e sociais. Que cruza caminhos e pessoas que precisam e devem ser mantidas em anonimato. História que talvez um dia se revele em plenitude, sem necessariamente expor segredos, desejos e pretensões inconfessáveis e alheias. História que não finda agora, que vai se construindo aos poucos, com o passar dos tempos. Dos muitos tempos que pretendo viver.

Aproveito para me desculpar quanto aos erros gramaticais, ortográficos, de concordância, e tantos outros de digitação. É um registro de minha imperfeição e do quanto sou comum. Contudo, é um registro que também depõe contra mim mesmo devido aos títulos que carrego. Como sou elétrico, acredito que penso numa velocidade diferente da motricidade. Fora isso, confesso não gostar de ler o que escrevi de imediato para não ceder a tentação de alterar e assim me mostrar mais polido do que realmente sou. A pressa é sempre inimiga da perfeição, já dizia minha mãe. Mas essa não é, e nunca será uma característica que também almeje. Além do mais, penso que serve como demonstração da complexidade ortográfica da nossa língua, ou mesmo para revelar o quanto estamos longe de um processo educacional de base com qualidade. Independente de qualquer coisa ou erro, esse sou eu, sem as luvas de pelica. “Espetácio” como chamam alguns, ou adocicado e emotivo como classificam tantos outros. Acima de tudo, um sujeito que não tem a mínima intenção de ferir ou magoar ninguém. Mas que ver na escrita uma forma digna de expressão. Forma pela qual tenta se manter digno e expressivo.

A todos, muito obrigado por insistirem em me conhecer, mesmo sem luvas!

Um comentário:

  1. Dizer que sou suspeita pra falar, creio não ser verdade. Independentemente do laço consanguineo,sou companheira de luta, caminhadas e de tantas emoções vividas...!!! rsss
    O "Semluvas" representa o "engasgo", a "dor da impunidade", o "despertar da invisibilidade social".
    Representa o amor a humanidade! Pois de certo o seu objetivo maior está na busca da Valorização Humana.
    Parabéns por essa iniciativa social.
    Monica Dantas.

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