terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A VERDADEIRA HISTÓRIA DO BRASIL - Capitulo IV - Quem Foi Pedro Álvares de Cabral?



QUEM REALMENTE DESCOBRIU O BRASIL?

Acho que era início dos anos setenta, talvez metade, não sei ao certo. Faço as contas considerando que entrei para a escola formal com sete anos de idade, logo entre 1973 e 1974. Logo que comecei minha jornada estudantil fiquei fascinado pelas histórias que ouvia em salas de aulas. Estas envolviam sempre grandes heróis de verdade que realizavam descobertas capazes de mudar o mundo. Sempre gostei de histórias, mas aquelas eram diferentes porque eram de “verdade verdadeira”, como chamávamos na época. Assim me tornei um bom e aplicado aluno na disciplina de história (antes a gente chamava de “cadeira” ao invés de disciplina) e aprendi a decorar nomes e datas importantes. Lembro de uma prova que tirara nota máxima por ter dado apenas uma resposta para três grandes e difíceis perguntas: Quem descobriu o Brasil? Em que data o Brasil foi descoberto, e como os descobridores chegaram as terras brasileiras?

De imediato respondi que os portugueses eram grandes navegadores que dominavam os desconhecidos mares bravios e revoltos, e que por isso, no final do século XV várias embarcações denominadas caravelas partiram mar a dentro a caminho das índias. No comando da tripulação que incluía marinheiros, soldados da Coroa Imperial Portuguesa e religiosos, estava Pedro Álvares de Cabral, corajoso navegador que viria a se tornar o maior herói brasileiro. Eles viajaram por muito tempo em águas desconhecidas e enfrentaram grandes tempestades. Algumas caravelas naufragaram e muitos tripulantes morreram. Perderam a rota que os levaria as índias, terras ricas em ceda, ouro e especiarias que tanto encantavam os reis de Portugal. Ficaram perdidos por muitos e muitos dias em alto mar, até que graças à inteligência de Cabral conseguiram encontrar uma nova rota que os levaria ao destino certo. No dia 22 de abril de 1500, Pedro Álvares de Cabral avistou um grande monte de terra a sua frente e gritou: “terra a vista!” Ele acreditava que se tratava de uma nova ilha, ainda desconhecida pelos navegadores europeus. Como era época da páscoa, lhe deu o nome de “monte pascoal” e ao desembarcar em terra firme encontrou vários indios. Por isso acreditou que tinha finalmente chegado às índias. Mas como não havia mercadores, nem cedas e muito menos ouro percebeu que tinha descoberto terras onde habitavam homens nativos que andavam nus e não sabiam falar. Voltou então para Portugal e registrou sua descoberta. Anos depois os portugueses perceberam que aqui existiam muitas árvores conhecidas como “pau-brasil”, e assim, batizaram nossas terras com o nome da mais importante árvore nacional.

É lógico que na época a minha escrita não era exatamente essa, porém como relembro da prova (ou talvez da nota, por ter sido o meu primeiro 10) tentei manter a essência do conteúdo textual. Mas o importante é que comecei a me considerar inteligente a partir daquele momento, afinal de contas sabia falar sobre a história do Brasil. Assim, durante os muitos anos seguintes de estudo acreditei piamente que o Cabral tinha sido um inocente desbravador que também inocentemente descobrira o Brasil. Mesmo sem entender direito os reais motivos e fatos históricos, por muito tempo acreditei que nossa existência e desenvolvimento (ou seria processo de civilização?) estaria ligado a uma espécie de acidente geográfico. E de certa forma, dava graças a Deus por termos sido descoberto, uma vez que imaginava, caso não tivesse acontecido eu não poderia ter nascido. Ou seja, devia minha própria existência ao Cabral. Porém, apesar de todo meu interesse e esforço para entender a história do Brasil, bem como adimiração e fascínio pelo nosso primeiro grande bem feitor, concluia a cada dia que nunca soube de fato a história completa. Por exemplo, nunca soube onde nascera o Pedro Álvares de Cabral, qual sua idade na época que descobriu o Brasil, quem fora sua família ou como fora sua vida antes de se tornar esse grande descobridor. Era como se sua vida começasse naquele momento, o que significaria que ele não tinha um passado. Mas como então poderia ser? Já não acreditava nos contos de fadas e sabia que o descobrimento não havia se dado por um passe de mágica. Pensava eu, que talvez por forte intuição aquele homem tivesse deduzido que havia novas terras do outro lado do continente e que também sem grandes explicações ou experiência o mesmo tivesse nos descoberto.

O pior de tudo é que para mim ele representava nossa origem. Isso quer dizer que em minha concepção éramos unicamente descendentes de portugueses. Isso porque até aquele momento não sabia ou entendia o que era miscigenação, e muito menos imaginava a possibilidade das misturas das raças. Na verdade nem ao certo sabia como nascíamos, apenas não mais acreditava na velha fábula da cegonha que nos trazia emburalhos numa frauda presa a seu bico. Assim também não poderia imaginar que essa missigenação significaria contato sexual entre os indivíduos de culturas diferentes. Sexo era uma coisa proibida para crianças, pois ameaçava nossa inocência e desenvolvimento mental. Ninguém falava de sexo, e muito menos entre brancos e outras pessoas de "etnias inferiores". E foi dessa forma que cresci também acreditando que era branco e que nada tinha haver com os índios, que eram selvagens; e os negros, que eram escravos e por isso inferiores. Será então que é assim que se desenvolve a xenofobia? E será que a aversão e preconceitos as diferenças, sejam culturais, etnicas e sexuais são construídas também com a influência da educação formal? Acho que isso é outra discussão para momento posterior.

O que desejo realmente destacar é o fato de que naquela época nós aprendíamos por pedaços, ou melhor, por partes. Primeiro sabíamos dos feitos dos grandes heróis para depois descobrir quem realmente foram esses homens e quais os motivos que os trouxeram até aqui. Na verdade o processo de aprendizagem se tornava uma grande e complicado quebra-cabeças que não conseguíamos completar nunca. Um exemplo dessa desestruturação pedagógica (na minha leiga concepção, claro) é o fato de que a primeira palavra que aprendi a soletrar foi “chocolate”. Como já disse antes, lembro que o processo de ensino se dava pela associação das sílabas que formam as palavras. Assim a professora me ensinara que: a torneira fazia “Chó”; a galinha fazia “có”; e o cachorro “late”. Isso era igual a "cho-co-late". Mas como saber da suada feita pela água que escorre de uma torneira se em minha casa, ou melhor, em meu bairro (hoje chamado de comunidade) não existia saneamento básico?

Ah, mas a grande questão era que na escola onde estudava tinha torneiras e logicamente água encanada (como chamávamos). Logo, a escola se tornava um espaço distante de minha realidade. Eu então tentava associar o som do “Chó da torneira da escola” com o “chuá” que saia da suada da água que tirava da cacimba com uma lata para encher a bacia em que tomava banho todos os dias. Fato é, que aprendíamos a associar devidas sílabas aos ruídos, barulhos e sons imitados com um fonema ou palavra, sem mesmo saber que isso era classificado como onomatopéia (figura de linguagem onde determindas palavras pronunciam a imitação do som natural das coisas significadas, tais como: murmúrio, sussurro, cicio, chiado, mugir, pum, reco-reco, tique-taque, etc).

Mas também, penso que seria demais entender uma coisa que nem conseguiriamos pronunciar. O-no-ma-to-pé-ia, seria assima a separação de sílabas? E a que sons irríamos associá-las? Não. Realmente as professoras tinham razão, haveria uma época e idade certa para aprender determinadas coisas. O problema talvez é que eu sempre gostei de me antecipar. Acho mesmo que tinha pressa em aprender novas coisas. Era por demais curioso, e isso me fazia sempre inconformado com o pouco de informações que me davam. Hoje penso que doses homeopáticas só surtem efeito em tratamentos de saúde, mas não em educação juvenil. E sempre acreditei que os professores estivessem alí para responder nossas perguntas e esclarecer nossas dúvidas, mas ao contrário estavam apenas para determinar quando e o que deveriamos aprender (ou decorar para responder nas avlaiações orais).

Mas o que importa que também não conhecia chocolate, e muito  pior  que  as torneiras, só os econtrava nas figuras dos livros, pelos quais saberia que era doce, de uma cor marrom escura e derivava do cacau. Mas o que era mesmo cacau? Seria alguma espécie de árvora de dava chocolates pendurados e já embrulhados como os das figuras que via? E mais uma vez nos livros descobria que cacau era apenas o fruto e que era derivado da Bahia. Aí a coisa se complicava mais ainda porque não sabia onde ficava esse lugar? Até aquele momento eu achava que tudo era Brasil e ninguém nunca tinha falado nessa tal de Bahia, e muito menos que Cabral foi quem descobriu as terras bahianas, que para mim era descoberta do maravilhos Jorge Amado ( a quem só descobri muitos anos depois).

Acho que esse é um excelente exemplo que demonstra como o ensino deixava em aberto várias dúvidas em nossas pequenas cabeças. Não nego, contudo, que de certa forma isso nos estimulava a buscar novas respostas, mas considero que tal fato ou argumento não se generaliza. Se considerarmos que a escola falava de coisas (ou ainda fala?) que não conhecíamos, das quais não tínhamos referências concretas, como se conseguia manter a atenção, concentração e interesse do aluno, se a vida através das descobertas reais se mostrava mais prazerosa aos mesmos? Se pelo menos os professores aproveitassem nossas dúvidas para ampliar a discussão e nos fornecessem assim maiores informações que satisfizessem nossas inquietudes, talvez até a coisa se tornasse mais atrativa, e talvez tivéssemos “descoberto” na época quem finalmente tinha sido o grande Pedro Álvares de Cabral e tantos outros importantes personagens de nossa história. Será então que tal processo de ensino-aprendizagem contribui de alguma forma para a grande evasão escolar? (peço então descupas por tantas conjecturas sem grandes fundamentos, afinal, são apenas reflexões pessoais).

Revendo então essas lacunas, mais uma vez resolvi recorrer a internet, aos livros didáticos e pesquisas para descobrir que o tal Cabral nascera no castelo de Belmonte. Logo, ao contrário do que me ensinaram, ele nunca foi um pobre e inconsequente navegador que se arriscava por mares revoltos e desconhecidos. Na verdade, era o terceiro filho do fidalgo português que foi governador da Beira (uma das seis províncias em que se dividia Portugal até o século XIX) e alcaide-Mor de Belmonte (magistrado de origem nobre, designado pelo rei e que desempenhava funções militares em uma cidade ou província) Fernão Cabral e de sua esposa, também de família nobre, Isabel Gouveia de Queiroz.

O tal descobridor foi na verdade educado na Corte de D. João II, tanto que aos onze anos de idade se mudou para Seixal, onde estudou em Lisboa, literatura, história, ciência e artes militares. Mais tarde, o já jovem Cabral se especializou em cosmografia e marinharia, voltando a corte como fidalgo. Assim, percebe-se que o mesmo era um astuto homem do mar e que portugual já dominava a navegação a muito tempo. Então porque é que não me disseram isso antes e não me explicaram melhor as regras do jogo que se dava na Europa, o que possibilitava aos descobridores a se apossar de terras pretensamente descobertas? Será que não teria idade e inteligencia suficiente para entender, ou os professores da época estavam desinformados por também não tinham lhes contados tais detalhes?

Voltando a Portugual e suas artimanhas políticas, descobre-se que com a morte do Rei D. João II (mas então não era o D. João VI?), seu primo D. Manuel I sobe ao trono e outorga ao tal Cabral o título de Fidalgo do Conselho do Rei, conferindo-lhe o hábito de cavaleiro (título nobiliárquico ou título de nobreza dado aos fidalgos vassalos, ou indivíduos fieis ao rei em troca de status social e proteção) da Ordem de Cristo (ordem religiosa e militar criada em 1319), pelo qual recebia pensão anual em dinheiro. Assim, Cabral era na verdade pago pela corte para descobrir novas terras e ampliar o poder português, o que fica dificil acreditar em sua pura e simples inocente sorte que o levou as novas terras continentais. Outro fato interessante é que nunca me disseram que havia um rei portugues antes do pai do D. Pedro I. Sempre soube que foi D. João VI que governava portugual quando nos tornamos colônia (acho que preciso urgentemente voltar aos registros históricos e pesquisas).

Bom, mas aos trinta e dois anos de idade, já em 1499, Pedro Álvares de Cabral foi nomeado Capitão-Mor da armada que se dirigiria a Índia, conhecida já na época como civilização do Vale Indo, que era um território da Ásia Meridional que serviu de berço para muitas civilizações, e que tinha rotas comerciais históricas e vastos impérios. Tal território era identificado como de grande riqueza comercial e cultural (o que significa que já eram civilizados). Desta forma, sua missão era estabelecer relações diplomáticas e comerciais com o “Samorim” (soberanos do antigo Estado Hindu), para reerguer a imagem de Portugal após a investida do também navegador Vasco da Gama (assim não confundam a Glória Perez com o verdadeiro descobridor dos caminhos das índias, dois anos antes de Cabral viajar, em 1497). O fato era que Portugual queria instalar um entreposto comercial ou feitoria (que se configuravam como simples casa ou até conjunto de equipamentos e estruturas militares ou de acolhimento e manutenção de navios, para além de armazéns, capelas e edifícios da administração, justiça e da diplomacia) nas ricas terras indianas e assim expandir suas relações comerciais.

Porém na viagem que durou 43 dias, a cruzada comandada por Cabral, mesmo seguindo a trilha já descrita e registrada por Vasco da Gama, afastou-se da costa africana após passar pelo Cabo da Boa Esperança (este, descoberto em 1488, pelo navegador portugues Bartolomeu Dias, hoje conecida como Cidade do Cabo, pertencente a África do Sul). Assim, o inocente Cabral resolveu mudar de rota e em 22 de abril de 1500 chegou ao Monte Pascoal, que era um pequeno monte com 586 metros de altura, localizado a 62 km de Porto Seguro, no estado da Bahia. Foi exatamente ali, segundo alguns estudiosos historiadores da modernidade, onde se registrou os primeiros contatos dos portugueses com os selvagens habitantes das terras brasileiras.

Penso então que seria por demais incrível, ou talvez fantasioso imaginar que apenas uma forte tempestade tivesse arrastado todas as caravelas, que formavam a mais cara e experiente espedição portuguesa, para uma mesma rota diferente. Não seria assim, mais provável que as caravelas se perdessem em lugares opostos e findassem em vários espaços oceânicos? Mas também não vamos exagerar, afinal parece até que algumas se perderam no caminho (quantas eram mesmo as caravelas, ou naus? Talvez 11?). De qualquer forma, revelam alguns estudos, que quando perdidos a tripulação percebeu que aves atravessavam o oceano em direção contrária a África, o que logicamente os levou a pensar na existencia de terra nas proximidades. Esperto e especialista em marinha, Cabral seguiu então a rota das aves e depois de alguns dias e milhares de milhas navegadas em águas calmas chegaram a avistar novas terras (é assim que se calcula as distancias maritimas?). No entanto, o que mais me chama a atenção e o fato de acharam que tinha finalmente chegado as Índias. Acho mesmo que neste sentido, a única semelhança entre as duas terras consistia no nome dado as habitantes de sexo feminino que se mostravam exuberantes e lindas em sua nudez. Se buscavam as riquesas da Índia e esperavam estabelecer relações diplomáticas com o governo e ricos comerciantes como poderiam imaginar, diante de tão extença mata virgem, que ali estivesse o rico, desenvolvido e civilizado povo hindu? Ainda mais, considerando que Vasco da Gama já havia aportado tais terras indianas? Assim, penso que muito além de um simples descobrimento que se deu ao acaso, os portugueses já conheciam a existência das terras americanas e logicamente resolveram se antecipar aos Espanhoes. Não seria, por exemplo, o mesmo processo atual pelo qual a Nasa - agência America, se apressa a chegar em Marte? Afinal de contas que acha, torna-se dono, ou não será tão simples assim?

O que se destaca é que dois dias depois de chegarem as novas terras, a as caravelas seguiram rumo ao norte em busca de abrigo, chegando a Terra de Santa Cruz (baia localizada ao extremo sul do estado baiano, onde hoje se localiza o munícipio de Santa Cruz Cabrália), e por lá permaneceram até dia 02 de maio. O então confiante e grande navegante, em nome da Coroa Portuguesa, tomou posse das terras brasileiras, batizando-as de Ilha de Vera Cruz. Em seguida, logo enviou uma de suas embarcações de volta a Portugual para oficializar a notícia que se daria através da Carta de Pero Vaz de Caminha (primeiro registro oficial brasileiro, considerada como marco inicial da obra literária nacional). Assim, cinco dias após o “descobrimento” foi celebrada a primeira missa católica no Brasil, realizada em 26 de abril, num domingo de páscoa, pelo Frade Henrique Coimbra, oficializando a colonização portuguesa.

E como não se poderia deixar de enxergar, fica dificil acreditar no desconhecimento por parte de tão experiente navegador sobre a existencia de terras no novo continente. Mais incrível seria acreditar que após todas a disficuldades e turbulencias fantasiosamente enfrentada (ou inventadas?) pelas tripulações das caravelas, Cabral tivesse devidamente registrado o caminho de volta a Portugual com tanta precisão e rapidez. Mas considerando nossa história oficial, talvez o mesmo tenha realmente aprendido com as aves que sobrevoavam o oceano Atlantico naqueles dias em direção ao continente e serviram como orientadoras bússulas divinas aos náufragos inocentes e perdidos navegantes .

De qualquer forma acho que considerar o Tratado de Tordesilhas, de 07 de junho de 1497, ou seja, dois anos antes de Cabral sair para sua grande aventura pelos caminhos da Índia, assinado entre o Reino de Portugual e o recém formado Reino da Espanha, possa nos dar algumas pistas mais concretas sobre as “Reais” intenções dos nossos conterraneos portugueses. A todos, boa viagem rumo as novas descobertas.




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