segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O MAIOR ESCÂNDALO DO ANO



"UMA BOFETADA EM MILHÕES DE BRASILEIROS"

A Av. Conde da Boa Vista é um conhecido espaço histórico de lutas e revindicações de direitos da cidade do Recife. A muito tenho destacado a importancia e as incoerências do principal corredor do centro da cidade. E hoje, prévia da grande festa de despedida do Presidente Lula (a se realizar no Marco Zero, Recife antigo), como não poderia deixar de ser transofromou-se mais uma vez em espaço para divulgação do descaramento de políticos gatunos e sorrateiros. O movimento estudantiu novamente invadiu as ruas para protestar contra os abusos de nossos parlamentares. E apesar dos poucos adeptos, conseguiram de certa forma chamar a atenção da população local para o maior escândalo do ano.

Neste sentiido é senso comum que a política brasileira sempre nos reserva surpresas. Estas no entanto, em sua maioria nem sempre são boas. Mas isso também é fato corriqueiro e de certa forma já não nos causa tanto espanto, que digam os inúmeros escândalos envolvendo políticos e aliados que carregam malas e cuecas repletas de dinheiro público. Porém em outras situações, os politicos brasileiros conseguem nos deixar verdadeiramente embasbacados, ou no mais popular, conseguem nos deixar boaquiabertos diante de suas artimanhas.

O ato da Conde da Boa vista em si, objetivou chamar apenas atenção para o que nesta semana tornou-se a grande notícia nacional. Apesar de pouco divulgada em apenas algumas revistas e jornais, o novo aumento dos deputados federais chocou os brasileiros. Sim, os mesmos deputados que acabamos de eleger e reeleger nas ultimas eleições. Os mesmos deputados a quem cabem entre outras coisas representar o legislativo e assim advogar em causa própria, uma vez que segundo o artigo 51, da Constituição Federal (BRASIL, 1988), cabe aos mesmos “dispor sobre sua organização, funcionamento, política, criação, transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias”.

Assim, graças a nossos votos esses grandes servidores públicos, pagos com o dinheiro de nossos impostos, iniciarão o ano novo recebendo em média R$ 26.700,00 mensais. O que significa, nada mais nada menos do que um reajuste de 61%. E o mais interessante e estarrecedor é que à estes mesmos deputados é dado o direito de legislar sobre tais reajustes, que segundo depoimentos dos favorecidos e dedicados representantes do povo, publicados em reportagem pela IstoÉ (29.12.2010), “ainda não é considerado o aumento ideal, por estar incompatível com suas despesas”.

Outro fato que assusta nisso tudo consiste na certeza de que pouca gente ouviu ou viu falar sobre tão exorbitante reajuste, o que significa que o mesmo partiu (novamente) de uma estratégia que se configura como artimanha que se dá sempre na surdina do final de ano. A mídia pouco falou ou divugou e o público interessado (será que tem quem se interesse por esse tipo de notícia em pleno final de ano?) foi mais uma vez privado dos detalhes do que para mim se configura como o maior ato escandaloso e inoportuno que marcará o ano de 2010. Mas isso também é de praxe, e de certa forma nós brasileiros já estamos acostumados. Tanto que nem se quer reagimos ou exigimos explicações e reparações. Exemplo disso se pode constatar na reação dos recifenses que perplexos ouviam de suas janelas os gritos de protestos dos estudantes. Nos limitamos apenas a observá-los enquanto fechavam o principal cruzamento da avenida e consgestionavam o trânsito. Muitos olhavam perplexos sem mesmo demonstrar saber do que se tratava. E assim, o ato de protesto que contagiou pouca gente passou quase que despecebido no centro da cidade. E neste ponto, mais uma vez lastimo nossa falta de iniciativa e envolvimento com as causas políticas que parecem à grande maioria não nos envolver ou dizer respeito.

Penso então que se gritos e cartazes já não despertam tanta atenção, talvez falar sobre o que o brasileiro mais gosta – dinheiro – consiga contribuir de forma mais efetiva para despertar uma população inertemente apática. Comecemos então fazendo um calculo rápido para chegarmos a exorbitante soma de R$ 99.467,00. Essa é a média do quanto custa um deputado federal. Se considerarmos que no Brasil, a Câmara dos Deputados é formada por 513 deputados que logicamente deveriam representar os interesses de seus estados, mais que ao contrário só demonstram com esse tipo de coisa que defendem exclusivamente seus próprios interesses, chegaremos ao valor de R$ 51.026.571,00, ou seja, mais de cinquenta e um milhões de reais. Isso considerando os valores antes do tal reajuste, onde um deputado desses recebia a pequena e inexpressiva bagatela de R$ 16.512,00.

Logicamente se você é uma pessoa esperta poderá pensar que eu exagerei nos cálculos ou hipervalorisei os custos com a folha de pagamento dos nossos singelos e comprometidos parlamentares. Assim, para evitar equívocos, explico então que no custo total de cada deputado federal encontram-se inseridos os valores relativos a depesas extras, além de seus salários. Dentre essas, destacam-se: os custos com o pagamento do 13º, 14º e 15º salários que os mesmos estabeleceram como direito, o que em 2011 equivalerá a R$ 80.100,00 para cada um (com base no reajuste atual). Afora isso, entram ainda: R$ 3.000,00 de auxílio moradia (que em sua maioria não necessitam); R$ 4.000,00 de cota para telefones; R$ 9.000,00 de passagens (o que na maioria das vezes beneficia também familiares e amigos); R$ 1.000,00 para assinaturas de revistas e jornais (talvez devessem gastar com livros para se informarem melhor); R$ 8.000,00 de assistência médica (afinal com tanto trabalho eles podem sobrer de stress ou estafa, não é mesmo); R$ 15.000,00 de verba idenizatória (não sei de que); e por fim, R$ 60.000,00 como verba de gabinete (para distribuir entre os aliados/amigos e familiares que ocupam cargos públicos e garantem as reeleições). Sem contar os custos com combustível, restaurantes, correios e publicações entre outros, todos calculados sobre valores antes do reajuste.

Outro cálculo também bastante interessante e simples refere-se ao fato de um deputado receber em média 52 salários mínimos e meio. Isso significa, numa visão simplista que se eliminássemos um desses deputados dos custos nacionais e aplicássemos esse dinheiro verdadeiramente na população poderíamos alimentar e garantir o sustento de 52 famílias. Dá então para entender porque todo mundo no Brasil deseja ser político um dia (que diga o Tiririca, o palhaço mais votado do Brasil). Com um salário desses é melhor do que apostar na mega-sena ou nas tantas loteriais, não? Afinal de contas dá para contabilizar o quanto fatura um desses profissionais (que muitas vezes nem são ou se tornam verdadeiramente profissionais da política) em quatro anos?

Ainda na referida reportagem, um dos mais convictos da licititude do ato escandaloso e indignante justifica tal descabimento alegando que “trabalhamos muito e dedicamos nossas vidas a servir o público” (será que ele mesmo acredita nisso?). Outro então, complementa afirmando que “o aumento é correto, pois fico 200 horas por ano nos aviões” (o que realmente caracteriza o trabalho de muitos deputados – voar). Acredito então que além de farsantes este políticos são, no mais popular, mais caras de paus do que imaginamos. Transformam o cenário político nacional num verdadeiro circo dos horrores enquanto nós, pobres motais espectadores assistimos inertes a grande farra regada a muita falta de vergonha e compromisso social.

Num pais onde se trabalha em média 240 horas mensais para se receber R$ 510,00, não livres dos descontos de impostos (que servirão para pagar aos nobres deputados pelos nem sempre excelentes serviços prestados), assumir uma cadeira dessas torna-se um verdadeiro oazis. E também não se mostra um sonho inatingível, afinal de contas não é preciso estudo, formação acadêmica ou mesmo experiência. Menos ainda se torna necessário a comprovação de bom carater ou boa índole. Basta na verdade usar de uma boa lábia e uma boa aparência para convencer a maioria dos desavisados eleitores.

Pagamos então mais uma vez pelos nossos próprios erros e também pelo descompromisso com o que temos de mais valioso e comerciável: nossa força de trabalho. E da mesma forma que sustentamos por séculos nossa realeza colonizadora que nos explorou enquanto pode, mantemos agora uma nova modalidade de nobreza e fidalguia que não contraria a regra e mantém acuados a “massa geral” que sustenta suas regalias e insensatez.

Assim, como bem disse o Carlos José Marque, diretor editorial da revista IstoÉ (2010), o ano de 2011 começa com “uma bofetada na cara de milhões de brasileiros que também dedicam boa parte de suas vidas a extenuantes expedientes de trabalho, sem contudo terem o direito de advogar em causa própria”.

A todos Feliz 2011.

Av. Conde da Boa Vista, Recife/PE - 27.12.2010.
 
Av. Conde da Boa Vista, Recife/PE - 27.12.2010.


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