quarta-feira, 29 de agosto de 2012

GUIA ELEITORIAL - O MELHOR PROGRAMA DE HUMOR DA TELEVISÃO BRASILEIRA



FICHA LIMPA:
A HORA DE DECIDIR O NOVO RUMO DA POLÍTICA BRASILEIRA!

Sabiamente diz um amigo meu: “o horário eleitoral é o melhor programa de humor da televisão brasileira”. Dizem que brasileiro é criativo e zombeteiro. Não restam dúvidas. Neste sentido, o guia eleitoral [como sempre] vem se configurando como melhor momento para boas risadas. Fica difícil, ou quase que impossível, decidir em quem votar diante de tanta piada de mau gosto. Se o parâmetro for promessas, talvez seja melhor apostar nos santos, pois quem sabe estes consigam efetivar milagres e transformem em realidade as tantas propostas de mudança. Mas, se o parâmetro for confiabilidade transmitida pelos candidatos a coisa se complica. Não deixam de ser hilárias as performances adotadas por alguns pleiteadores aos cargos da câmara municipal, isso sem falar dos que se propõem a substituir o pior prefeito do Recife, em todos os tempos. O tom farsesco adotado pela maioria revela o embuste dos discursos.

Neste sentido, todos os recortes, tais como etnia/raça, etário, gênero, orientação sexual, classe social, servem como instrumentos às bandeiras das falsas ideologias. Por sua vez, ser pobre, vítimas das exclusões sociais, assalariado, analfabeto funcional, dona de casa, ambulante, ex-mendigo ou da classe operária torna-se mote para solicitação de votos. Do mesmo modo que, mostrar-se bonito, articulado, sóbrio e responsável tornam-se sinônimos de bom caráter, inteligência e seriedade política. Tem ainda os que, sem experiências concretas apelam para os antepassados. Assim, avôs, pais e padrinhos são chamados a endossar candidaturas. A dimensão família só entra no ar se for correspondente ao modelo nuclear burguês, pois que alude a tradição. E tradição é uma coisa séria para uma sociedade conservadora como a nossa. É deste modo que, ser casado com fulana de tal, ter tantos filhos [se tiver algum adotado melhor] e ter ascendido profissionalmente poderá empregar um ar de inquestionável qualificação técnica para os cargos pretendidos. Quanto maior a semelhança visual com o padrinho político - inclusive visual, incluindo corte de cabelos, roupas e trejeitos, melhor, pois que se torna referencia a uma pretensa extensão de competências e carismas. Neste aspecto, vale salientar que a disputa pela prefeitura do Recife, por exemplo, não se dará entre os candidatos propriamente ditos, mais entre as instancias de governo, federal e estadual; e isso, logicamente, inclui a máquina pública. O foco das propagandas restringe-se a convencer o eleitor a escolher entre “quem fez mais pelo Brasil” e “quem fez mais por Pernambuco”. O discurso entre situação e oposição será sempre o mesmo - o da continuidade. E neste caso não interessa se foi o verdadeiro candidato quem fez, mas a aliança que o mesmo estabeleceu com o realizador original. É o velho mote “não fiz, mas estive o tempo todo ao lado de quem fez”, o que por simbiose política me contempla e referenda.

Entre os candidatos a vereadores a coisa se torna mais burlesca ainda. Os slogans utilizados são verdadeiros convites a reflexão. Um por exemplo, diz que a cidade mandou lhe chamar. Resta saber sobre qual segmento representativo da “cidade” se refere, e para que, o mesmo foi convocado. Outro apostou no tradicional ditado popular: “de pai para filho”, como máxima do “filho de peixe, peixinho é”, onde a tradição é revisitada novamente. Neste caso específico, será necessário aos eleitores buscar conhecer os feitos políticos do genitor para referenciar o filho. O fato também salienta a luta pela manutenção do poder, transformando os cargos públicos em vitalícios através das gerações. E neste sentido, basta atentar para a quantidade de sobrenomes de peso político. Aliás, no requisito apadrinhamento, parece que virou moda aparecer no vídeo ao lado de parentes “renomados”, como se política pertencesse ao campo da genética. Se for verdade que filho de bom político, bom político é; também valerá a mesma máxima para os descendentes dos politiqueiros de carteirinha.

Um dia desses presenciei uma cena inusitada. Um determinado candidato fazendo campanha em uma boate, que prega o respeito à diversidade. Sem muita experiência no trato com as categorias excluídas, foi visível seu desconserto quando uma dúzia de travestis e gays começou a cantar proclamando: “vereador, eu sou legal! Eu sou mulher de peito e pau”. É preciso entender que estar em espaços alternativos ou desfilar em trios elétricos durante a parada da diversidade, como na campanha de dois anos atrás, não significa envolvimento com as lutas sociais de determinados segmentos da população. “Simpatia é quase amor”, mas não é amor de verdade a causa política pleiteada por quem é excluído das políticas públicas. Do mesmo jeito, se maquiar de negro não é entender de negritude, e muito menos de seus movimentos. Assim como se utilizar da linguagem de sinais não significa se comunicar com os surdos mudos. Bater fotos abraçados com pobre não é entender de pobreza, mas ao contrário, se utilizar dela para iludir o povo. Esses discursos tendem sempre a cair no vazio por falta de fundamentos, sejam teóricos ou ideológicos. É a mesma coisa que falar para mortas-fomes, de boca cheia. Quem não sente, ou sentiu a dor da exclusão, ou ainda não sofreu as consequência da falta de acesso, não sabe o que é exclusão social ou alienação do direito a cidadania. Logo, não tem autonomia para flamular falsas bandeiras.

Num cenário político como o de Recife, onde oposição e situação perderam as identidades ideológicas, se é que um dia já as tiveram de verdade, é bom pensar e repensar bem antes de depositar o voto na urna. Ao que parece, a tão propagada transformação se dará apenas em corpo físico, pois que o resto será continuação de algo ou de alguém. Pelo dito e/ou não dito, ainda aposto na Ficha Limpa como melhor bandeira para respaldar o voto. E neste caso, é sempre bom lembrar que os interesses pessoais devem ceder espaço aos interesses coletivos.

À todos/as boas e saudáveis reflexões eleitoreiras [ou melhor, eleitorais]!

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