domingo, 26 de agosto de 2012

RELIGÃO, FUTEBOL E POLÍTICA - FORMAS [ATUAIS] DE ALIENAÇÃO?



VAMOS DISCUTIR RELIGIÃO, POLÍTICA E FUTEBOL

Diz o ditado popular que futebol, política e religião não se discutem. Talvez seja esta uma das mais simples formas de se evitar conflitos ou acaloradas discussões. O processo de “alienar-se” nos coloca em uma zona de conforto. Três horas da tarde, o sol escaldante invade a Avenida Conde da Boa Vista enquanto centenas de pessoas seguem os gritos de um líder religioso. Comemoram-se os cinquenta anos da igreja pentecostal. A histeria torna-se coletiva e os gritos de louvação invadem a cidade. Ao longe ouço o pipocar de fogos de artifícios que prenunciam mais um dia de clássico. São as torcidas organizadas dos times de futebol, que mais uma vez se preparam para sair às ruas. Uma passeata segue alardeando a candidatura de um velho e conhecido politiqueiro. Bandeiras flamulam promessas vazias. O centro da cidade torna-se palco de concentração das tribos. Times, representantes religiosos e candidatos políticos. Torcedores, fies e eleitores. Todos conscientes ou fanáticos?

Concebe-se como fanático aquele que se considera inspirado por uma divindade, iluminado pelo espírito divino; aquele que tem zelo cego, excessivo e intolerante, de caráter religioso; o que adere cegamente a uma doutrina, a um partido; que tem amor, dedicação ou admiração excessiva por alguém ou algo. O fanatismo muitas vezes torna-se, por um processo de confusão mental, sinônimo de paixão ou entusiasmo. Fanatismo e alienação caminham juntos, sejas pelas ruas, nos templos ou nos estádios de futebol. Por sua vez, alienação, ou “alienatione”, do latim, refere-se ao ato de alheação. Para os filósofos é um processo ligado essencialmente à ação, à consciência e a situação dos homens. Processo esse pelo qual se oculta ou falsifica essa ligação para que apareça o processo, e também seus produtos, como indiferente, independente ou superior aos homens, que são em essência seus criadores. Segundo Hegel, o processo de alienação torna-se essencial à consciência, dando ao observador ingênuo a impressão de que o mundo parece constituído de coisas independentes umas das outras. Já Marx dirá que a alienação é uma situação que resulta dos fatores materiais dominantes da sociedade, e por ele caracterizadas, sobretudo, no sistema capitalista, em que o trabalho do homem se processa de modo que produza coisas que imediatamente serão separadas dos interesses e do alcance de quem produziu, para se transformarem indistintamente, em mercadorias. Para a psiquiatria a alienação mental configura-se como qualquer forma de perturbação que incapacita o homem para agir segundo as normas legais e convenções do meio social. A meu ver, a alienação se dará pela falta de consciência dos problemas políticos e sociais.

Para mim, política, religião e futebol nada mais são do que construções sociais. Constrói-se uma modalidade de esporte e seus campeonatos, como forma e sentido de prazer por extensão, assim como se constrói os deuses como forma de apaziguar os fantasmas do instinto humano. Servem como exteriorização permitida à nossa essência animal, a canalização de nossos instintos. Sem um deus não temos referencias para nortear nossas construções sobre o bem e o mal, certo ou errado, e todos os demais binômios conceituais que guiarão nossa vida em sociedade. Sem a divindade superior não realizamos nossa transcendência de animal a humano. Criamos o cristo, o buda, o shiva, os orixás, assim, como os padres, os pastores e guias espirituais, entre outros, como forma de personalizar o divino. Criamos o capeta, o belzebu e todas as entidades consideradas e/ou categorizadas como “inferiores” para nos guiar por patamares de “elevação”. Damos-lhes algo de concretude para nos sentirmos mais próximos da supremacia, menos perecíveis. É preciso se diferenciar do outro, criar os parâmetros para guiar nossos merecimentos. Automaticamente é preciso eleger os que chegarão ao paraíso, e isso se faz classificando e categorizando pessoas e grupos, através das nossas criações “legais”. Não foi assim que definimos as classificações de normalidade e anormalidade? Com a passagem do tempo nos tornamos a imagem e semelhança de uma entidade subjetiva. E já que a criamos, foi preciso também lhe dar forma, um corpo, algo palpável capaz de torná-la real. Esse ser torna-se referencia, definição para onde queremos chegar. Assim, não pode ser apenas corpo, mas também espírito, e por isso, novamente subjetivo. O milagre foi criado para preencher um vácuo de nossa capacidade intelectual, inda frágil para revelar enigmas.

O que nos torna diferentes das demais espécies é a capacidade de criação, a racionalização, pela qual elaboramos sobre falsas razões. O homem sem deus torna-se só, sem os ídolos torna-se incompleto. O ídolo minimiza a dor de nossos fracassos, deficiências e incapacidades, nos permitindo a catarse, pela qual atingiremos a purgação, a purificação e limpeza. Os deuses nos elevam a condição de eternos. Assim, o homem constrói os deuses, e simultaneamente também se constrói. Um costume se torna tradição quando deixa de ser questionado através das gerações. As tradições formam a cultura. A cultura forma, ou “formatiza” os homens. Logo, somos frutos de nossa própria criação. Por esse viés podemos refletir: Deus criou o homem, ou o homem criou Deus; assim como criou o sistema de política atual, que tem se traduzido em politicagem; bem como, o futebol, que se configura, muitas vezes, como espaço de violência permitida? Penso que quando montarmos o grande quebra cabeça, ou seja, conseguirmos responder de onde viemos e para onde vamos, acabar-se-ão os deuses, assim como as formas de alienação. Contudo, não será o fim do mundo, ou fim dos tempos, mas o início de uma nova era onde todas as construções serão reformuladas, talvez com novas concepções mais claras e justas acerca da divindade humana, e por consequência, sistemas políticos mais justos.

É tão verdade que política, religião e futebol não se discutem quanto é verdadeira a existência do papai-noel, do saci pererê e da mula sem cabeça. E neste sentido, vale lembrar que sem cabeça não se pensa. Sem pensar não se vota. Sem voto consciente e não alienado não se transforma, ou se constrói novas formas de vida e sociedade.

Um comentário:

  1. Vamos discutir SIM!! Esse negócio de dizer q política, religião e futebol, bem como outros assuntos tão ou mais polêmicos do que estes, não se discuti já não se sustenta há muito tempo.

    A propósito, linda foto nas ruínas desta pitoresca igreja rs rs rs

    Abçs,

    Normando

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