quarta-feira, 23 de maio de 2012

EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO ANIBAL BRUNO



QUANDO OS THUNDERCATS SAEM DA TELEVISÃO PARA INVADIR NOSSAS CASAS.

Na minha juventude “Thundercats” era sinônimo de diversão e alegria; Estado era a expressão máxima da autoridade e poder; e, criança representava a inocência. Estas eram proclamadas como “futuro do Brasil”. Hoje, Thundercats se tornou a representação do medo e da contravenção, revelando o despreparo das instâncias governamentais no combate a violência. Dentro desse contexto, as crianças e adolescentes se tornaram alvos fáceis das redes de exploração sexual. Contraditoriamente, no último dia 18 de maio, que marca o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, foi divulgado pela imprensa um antigo esquema de aliciamento de garotas, comandado pelo grupo de extermínio que há muito atormenta a vida das pessoas e famílias residentes no bairro de Jardim São Paulo. A operação criminosa compreendia no recrutamento e envio de adolescentes ao Complexo Prisional Professor Aníbal Bruno, onde manteriam relações sexuais com os detentos pelo valor de R$ 30,00. Segundo reportagem do Diário de Pernambuco [DP, 19.05.2012], apesar das constantes denuncias a assessoria da Secretaria Executiva de Ressocialização – SERES - do Governo do Estado, informou que seu “serviço de inteligência ainda não tinha conhecimento do esquema supostamente liderado pelo grupo”.

O fenômeno da exploração sexual de crianças e adolescentes é talvez um dos mais bárbaros crimes cometidos contra a humanidade. Não é fato novo, que no ranking nacional, o estado de Pernambuco apareça em lugar de destaque devido aos elevados índices de denuncias e registros desta modalidade de violência. Em todas as suas facetas, seja a prostituição, a pornografia, o turismo sexual ou o tráfico de seres humanos para fins de prostituição, milhares de crianças pernambucanas, incluindo meninas e meninos, são cotidianamente vitimadas pelas poderosas e complexas redes de exploração sexual, nacionais, e até internacionais. Não se pode negar o empenho e contribuições das instituições, sejam públicas, privadas ou da sociedade civil organizada, no enfrentamento ao fenômeno, contudo, sabe-se que muito ainda há por se fazer no sentido de se garantir os direitos constitucionais de nossas crianças e adolescentes. Uma coisa não se pode negar: a violência chega e se instala, onde o Estado se omite, ou não se faz presente. Há muito se sabe que as redes de exploração sexual, assim como as redes que comandam o tráfico de drogas, tendem a se instalar e a se consolidar enquanto “estado paralelo” em comunidades de baixa renda, estabelecendo leis e diretrizes próprias. Grandes comunidades nas mãos de bandidos e contraventores. É neste cenário que o Estado, a quem cabe e compete à garantia das condições mínimas de proteção a vida e a dignidade, torna-se também alvo da contravenção, revelando-se, inclusive, como violador de direitos.

Dizer não conhecer as ações dos grupos de extermínio em nossa cidade é querer tapar o sol com peneira. É brincar de faz de conta. E brincar é uma coisa que as crianças e adolescentes vítimas dos thundercats da vida não fazem mais. Segundo os órgãos competentes as denuncias serão apuradas e os culpados responsabilizados e devidamente penalizados. Será? Assim como será também que a adoção de novas carteiras de identificação, coloridas, por grupos e categorias de visitantes, impedirão a atuação dos aliciadores no presídio? Será que os famosos “gatinhos animados” não se apossarão destas carteiras, e as utilizarão para viabilizar seus crimes? Bom, agora é esperar o próximo 18 de maio para ver. Até porque, em nossa realidade, parece que a exploração sexual de criança e de adolescente tornou-se temática e data institucionalizada de nosso calendário. E assim como o Carnaval, São João e o Natal, só cabem em datas específicas. Até lá é melhor ensinar aos nossos filhos que “quando os gatos saem às ruas, os ratos fazem a festa”. Ou seria mais adequado o trocadilho, “quando os gatos saem às ruas é melhor se esconder como ratos”? Porque é nisso que os thundercats têm transformado nossas crianças e adolescentes. Que saudade do papa-figo da minha época, que atuava sozinho, e por isso, oferecia menos riscos. "Acho que eu vi um gatinho!"

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