sexta-feira, 5 de outubro de 2012

ELEIÇÕES 2012 - UM SEMÁFORO DE POSSIBILIDADES VIÁVEIS?




VERMELHO, AMARELO OU VERDE? O SINAL ESTÁ FECHADO! A CIDADE ESTÁ PARADA!

Quando criança eu gostava de ver o trem passar, cortando a principal estrada que atravessava minha pequena e suburbana cidade. O bicho mais parecia parti-la ao meio. Era progresso chegando, diziam os moradores locais. As pessoas paravam na rua empoeirada, de um lado e do outro, contando os vagões que rangiam sobre os trilhos. Era preciso esperar para seguir caminho. Aquele trem, que eu nunca sabia de onde vinha e, muito menos para onde ia, era um símbolo de força. Pela janela frontal via um homem com um quepe preto e uma jaqueta azul marinho. Era o maquinista. As autoridades também usavam quepes e jaquetas escuras. Logo, aquele homem era autoridade, pensava eu. Ele era o dono do destino, dono do caminho. Não podia ser interrompido e todos tinham que lhe dar passagem. Quando passava sacolejando e apitando desaforos, o veículo ameaçava atropelar a quem resolvesse desafiá-lo. Às vezes parecia que fumaçava de tanta raiva diante das tentativas de desobediência. A estrada ficava repleta de carros, caminhões e ônibus, todos parados. Dentro deles, milhares de pessoas aguardavam inquietas. Era o progresso interrompendo a vida das pessoas. Por isso, se mostravam pacientes.

No exato momento em que cortava a estrada, os trilhos formavam um cruzamento que desenhava um grande “X”. Aquele era o X da morte para algumas pessoas. O X da espera para tantas outras. Parecia contraditório que o progresso pudesse interromper o próprio progresso. Era o X da questão que não saia de minha cabeça. Lógico que na época não entendia de política, pois isso era coisa para os grandes e letrados; mas acho que já entendia de injustiça social, afinal sofria na pele o desrespeito dos poderosos que atravessavam vidas. Ao lado do cruzamento, em ambos os lados da estrada, havia duas velhas placa onde se podiam ler as advertências: PARE! OLHE! ESCUTE! Era um aviso para aguçar os sentidos diante das ameaças do progresso. Acho que as pessoas do local não estavam preparadas, muitas nem sabiam ler, e muito menos escrever. Por isso, o progresso continuou matando muita gente. Nestes casos, a população se reunia, chorava e até reclamava, mas depois se acalmava e aceitava, pois que era preciso não interromper o “país do futuro”, ainda que algumas vidas precisassem ser sacrificadas. Com o tempo, foi instalado neste cruzamento da morte um semáforo. Uma novidade - Benfeitoria do progresso - pensava os inocentes moradores. Era um sinal de que as coisas iam mudar. Na verdade era apenas um sinal de condicionamento, pelo qual deveríamos respeitar o poder. Quando ele ficava vermelho era preciso parar e esperar o comboio passar. Quando ficava verde a estrada voltava ao normal e as pessoas podiam seguir seus caminhos. Porém, sempre, entre o esperar e o avançar, surgia uma luz amarela solicitando atenção e cuidado. Cada cor era um tempo. Cada cor era um comando. Mas todas tinham o mesmo objetivo: conduzir nossas vidas.

Há muito não volto ao bairro onde cresci. Já nem sei se o tal trem continua cortando a cidade e controlando a vida das pessoas. Mas sei que o progresso ainda não chegou por lá. Na verdade aquele trem nunca parava naquelas terras. Acho que o que se chamava progresso não cabia ali. Era apenas passagem, talvez por isso a vida lá tenha continuado igual. Um monte de gente parada diante de uma estrada empoeirada. Mesmo distante nunca esqueci o cruzamento e sempre relembro a essência da sinalização quando vejo um acidente ou escuto uma freada brusca no cruzamento, que agora visualizo em frente a minha janela. A cidade é outra, o cenário é outro, mas o contexto é o mesmo.

É que no centro do Recife, onde moro atualmente, também tem cruzamentos da morte. São os vários “X”, das várias questões que continuam sacrificando vidas. Aqui tudo é múltiplo, amplo e magnânimo, mas o progresso parece ser tão pequeno quanto o da minha antiga cidade suburbana. Aqui também, quem não respeita os comandos coloridos corre o risco de arcar com as consequencias. Neste sentido, a cidade grande não é diferente das pequenas cidades esquecidas, por onde o progresso apenas passa, mas nunca chega. Aqui não passa trem, mas passa comboio durante as eleições. Por isso nossos caminhos continuam controlados. A cada quatro anos nossas vidas param em nome do progresso que nunca chega.

Como vivemos na era da modernidade, não se dar um passo sem ser visto, acompanhado, monitorado. Agora estão instalando olhos automáticos nos corredores do meu prédio. E tudo se justifica em nome da segurança. Vivemos em uma espécie de cidade sitiada. As pessoas se reúnem, discordam, choram e até reclamam. Mas depois aceitam a ditadura antidemocrática do progresso. Assim é o Recife. Uma cidade com sinal fechado. Paralisada no meio do nada. Entulhada de lixo, repleta de resto de gente desfigurada pelo crack, repleta de problemas e desigualdades sociais, engarrafada e suja. Talvez seja o maior exemplo de que vigiar e monitorar problemas, não significa resoluções eficazes. Eis os “X” das questões.

Neste próximo domingo tem eleições. Vamos escolher o novo prefeito e os vereadores, que terão mandato de quatro anos. Há quatro anos o Recife parou! Há quatro anos se espera mudanças! Há quatro anos a prefeitura deu as Costas para seu povo! Mas neste domingo teremos a chance de mudar a história. O problema, ou o grande X da questão, é a manutenção das velhas cores de comando: vermelho, amarelo e verde. Estamos novamente parados diante do grande semáforo controlador de vidas. Metaforicamente, o Vermelho, desgastado pela inércia de quatro anos de uma gestão ineficiente, tenta renovar seus votos; o Amarelo sugere mudanças faraônicas; e, o Verde, camuflado, proclama inovação. Cada cor representa um homem. Cada cor representa um comando. Mas todos têm o mesmo objetivo, controlar nossas vidas. São todos, homens e partidos, cúmplices e devotos de um progresso que não beneficia a todos. Na verdade acho que não devotos a nada, são apenas homens “De´Votos”. Homens e partidos que se beneficiam de um analfabetismo político, implantado e mantido por eles próprios.

Assim, a eleição de 2012 se apresenta como um novo ponto de partida. Os partidos são as locomotivas, repletas de pessoas “loucas-emotivas” e enfadonhas. Pessoas que cheiram a mofo. Que representam a máquina chamada governo. Que prometem o futuro, mas que representam o regime político do passado. Por isso, é preciso decidir. Porque o futuro já começou! O futuro é agora! E neste sentido, nem sempre futuro será sinônimo de progresso. Dizem os mais velhos que o futuro a Deus pertence; pregam os sábios que o futuro é temerário, incerto e imprevisto. Alardeiam os políticos, de forma pretensiosa e equivocada, que o futuro está em suas mãos. Porém, penso que o futuro é uma questão de escolha pessoal. O futuro pertence ao povo. Será? Indecisões a parte, uma coisa eu sei, uma coisa é certa, dele ninguém escapa! Até porque, mesmo carregado de mistérios, ele sempre se fará presente no exato momento em que este, se fizer passado. São três tempos que regem o mundo. São três dimensões que se interligam, onde um será sempre resultado ou consequência do outro. Em frações de segundos o passado vira história para transformar o presente em realidade e o futuro em destino. Ninguém pára o tempo, ninguém o controla. A mudança dos tempos não respeita as estações, muito menos os ponteiros. O tempo se faz por si. Por isso é urgente. Por isso é preciso!

Segundo Camons, preciso mesmo é navegar, pois que viver nunca o foi ou será. Então a vida não é precisa, o homem não é preciso. Não existe precisão na, e para, a existência humana. Dessa forma, penso então que se não existe precisão no futuro, que ao menos se estabeleça sua previsão. E prever não é coisa de vidência, mas uma capacidade humana. É competência natural. Olhamos para o céu e sabemos se irá chover. Isto é previsão. Não nos tornamos meteorologistas por isso, muito menos mágicos. Prever o futuro é uma das tantas habilidades que nós humanos possuímos. É uma capacidade intrínseca ao homem, pela qual revisitamos o passado para organizar os dias vindouros. Nossas experiências se tornam referencia para a ação presente, e assim, evitamos as intempéries. Assim, aprendemos a calcular, ou no mínimo supor, os resultados e/ou consequencias de nossos atos. Por isso nos fizemos homem. Por isso nos fizemos racionais. Em tempo de eleições a coisa não é diferente, pois que a previsão exige precisão. O resultado de uma eleição não se decide na hora, na boca da urna, na contagem dos votos. Mas se estabelece no ato consciente de se rever o passado, considerar o presente e olhar para o futuro.

Como era o Recife? Como está o Recife? E principalmente, como será o Recife depois do dia sete de outubro? Quais perspectivas e possibilidades se apresentam ou nos restam? Dizem que errar é humano, porém entendo que permanecer no erro é burrice. Sem sombras de dúvidas a escolha não parece nada fácil. Afinal teremos que nos decidir entre um administrador que diz fazer tudo; um médico que diz entender de gente; e, um pretenso ideologista que se diz verde. Se pensarmos bem, o quadro que se apresenta não é verdadeiramente democrático. Estamos diante da manipulação política e midiática mais uma vez. Nada muito diferente dos pleitos passados. Mudaram os atores, mas o cenário, e principalmente os patrocinadores são os mesmos. A história mantém o mesmo enredo dos sucessos eleitoreiros anteriores. Vivemos ainda na era do voto-cabresto. Somos boi de pasto, servindo de guia aos ferozes touros selvagens. Como nas novelas, nunca o “remake” eleitoral esteve tão em moda. Nega-se o espaço a criatividade e ao novo em nome do mesmismo e da manutenção do poder. É uma batalha entre o que se poderia chamar de cultura dominante “X” cultura de massa, ou cultura alienada. Eis um outro e importante X das questões urgentes!

Pensar como era o Recife, talvez não seja exercício fácil, pois que parecemos ter memória curta. Além do mais, não estamos acostumados a enxergar além do nosso próprio umbigo, o que nos leva a votar por interesses pessoais e nunca pautados no bem coletivo. Contudo, analisar como a cidade se encontra atualmente torna-se extremamente possível. Basta uma pequena volta pelo centro para se verificar os danos causados por um governo que deu as Costas para o povo. Depois de seu tão esperado e previsto afastamento das urnas concretizou-se o que já se sabia, o que já se esperava – o covarde abandono total da gestão pública. O Recife transformou-se em um verdadeiro inferno. A cidade se arrastará por mais três meses até que o grande vilão desapareça definitivamente, o que não acontecerá com suas práticas ineficientes que permanecerão impregnadas por muito tempo ainda. São as consequencias das escolhas erradas, fruto das imprecisões, da falta de previsões populares. Resultado do analfabetismo político.

Então, sugiro começarmos agora o exercício da previsão. Já temos um passado onde um bom gestor produziu um súdito que lhe prometia fidelidade. Porém, como na ficção, a criatura se rebelou contra o criador, passando a acreditar que tinha vida própria. No presente momento, o antigo bom gestor volta ancorando um candidato, que por coincidência possui o mesmo sobrenome, do qual se espera não sofrer, futuramente, da mesma síndrome da metamorfose cinematográfica, passando de médico a monstro. De outro lado, apresenta-se o campeão das anedotas e chacotas do Facebook, também produzido por um bom gestor. Um não tem passado político, por isso diz que fez tudo e que fará muito mais. O outro tem passado, mas não tem carisma e nem capacidade de convencimento. No meio desse emaranhado embaçado de possibilidades viáveis, surge um terceiro candidato a De´Voto. Um coelho da cartola mágica, que promete façanhas mirabolantes. A falsa ideologia ecológica é convocada para encobrir o passado do atual partido. Quem promete mais nesse jogo de esconde-esconde? Quem vai para o segundo “round” eleitoreiro? Quem se coligará com quem para derrotar o adversário? Quem é verdadeiramente adversário nessa luta de compadres? Nessa briga de amigos? Será o X da questão?

Continuemos então com as previsões. Se no segundo turno a batalha se der entre PT e PSB, o que parece improvável, para que lado saltará o pequeno roedor ecologicamente camuflado? Será que voltará para a cartola e aguardará o próximo espetáculo; ou fará alianças inimagináveis contrariando a ideologia partidária? Será que nos tempos atuais ainda existe ideologia partidária? Se a briga for entre PSB e PSDB, o mais provável, com quem o PT se aliará? Se for com o primeiro grupo de amigos não justificará tanto barulho causado pela horrível e antiética lavagem de roupa que causou o racha interno; se for com o segundo, aí sim, poderá transformar a eleição em um grande circo. Seria a confirmação do antigo modelo, pão e vinho aos pobres. Nada muito diferente do que já se faz, porém agora de forma declarada publicamente. Penso então, que se as previsões não são boas, a precisão deve ser de mestre. Até porque quem gosta de promessa é santo. E estes não são candidatos. E os homens que se apresentam não são devotos, mas unicamente De´Votos! A dica é analisar os planos de governo e fazer valer o voto. Lembrando que uma eleição não termina na urna, mas se estende por todo o período de gestão do candidato eleito.

A transparência política é a mais forte arma aliada da democracia. Um gestor eleito pelo voto direto precisa e tem a obrigação de trabalhar para o povo. O povo, por sua vez, tem a obrigação de monitorar e acompanhar a aplicação dos recursos públicos. Será que seria o caso de se instalar uma câmera na sala do futuro prefeito? Será que assim poderíamos vigiá-lo, ou melhor, monitorá-lo de perto? Não é isso que prometem fazer com a população caso ganhem a eleição? Então democracia não é para todos? Ou ainda estamos no tempo dos dois pesos e duas medidas? É preciso entender que quem assume cargo público presta serviços à população, pelos quais será devidamente bem remunerado. Desta forma, nós, cidadãos, estamos fazendo um negócio ao aplicar nosso dinheiro na seleção e contratação, por tempo determinado, de um excelente profissional que assumirá a gestão. Político que faz favor não é político de verdade, é politiqueiro. Quem faz de verdade não se vangloria, pois apenas cumpre suas obrigações. Por isso, se a coisa está difícil e você não teve tempo de fazer as devidas previsões, não seja impreciso no ato de votar. Dizem que ajuda muito, quem não atrapalha. Então, escolher entre o candidato menos ruim e o pior não é exercício de cidadania, e muito menos da democracia. Para os indecisos ou desavisados, o voto Nulo também se apresenta como possibilidade, inclusive de registrar seu desagravo diante da situação.

É bom não esquecer, que o verdadeiro X da questão atual é o voto consciente. Até porque, dependendo do resultado o trem do progresso pode continuar desviando o caminho, e logicamente os recursos públicos, e nunca chegar ao Recife. Ou, em pior situação, o único comboio que cortará a cidade pelos próximos quatro anos será o velho trem da alegria! Aquele que transforma a máquina pública em espaço da felicidade de poucos. A eleição de 2012 é um grande semáforo! O sinal continua parado! A cidade continua abandonada! Vermelho, Amarelo ou Verde? Qual sua cor? Qual o seu comando? Quem será seu homem De´Voto? Qual será o seu voto consciente? Se não tem certeza, melhor apagar todas as cores. Não vote neles, vote Nulo. Afinal de contas, quem vive em dúvidas sobre os partidos é a Diana. E eleição não é pastoril. É coisa séria. É precisa! Como nunca será a vida ou o futuro!

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