domingo, 8 de julho de 2012

PARABÉNS PRÁ VOCÊ... NESTA DATA QUERIDA...


Aniversário é sempre uma data meio complicada porque nos impõe a expectativa de ser lembrado. Essa “lembrança alheia” torna-se então parâmetro de nossa popularidade, tão importante para a manutenção da autoestima. Nesse sentido, ser aceito é receber parabéns. Em nossa cultura, aniversariar é estar em evidencia, o que nos possibilita vivenciar os tão sonhados quinze minutos de fama. Quando crianças, aprendemos a esperar ansiosamente pela festa, com direito a bolo enconfeitado e refrigerantes. Com sorte recebemos o presente desejado. Assim, a data apresenta-se como referencial para a realização de sonhos. A opinião do outro sobre nós, nossa condutas e comportamentos, é fundamental ao processo de socialização. O outro me diz quem sou. É através do outro que me constituo enquanto indivíduo. Neste contexto, as datas comemorativas nos falam sobre o processo de aceitação social que, via de regra, afetará direta e/ou indiretamente nossa auto-aceitação, e até mesmo auto-reconhecimento. Assim como o natal, a data de aniversário tende a configurar-se como prova pública. Ficamos expostos a avaliação alheia. Cada mensagem recebida soa como um sinal de alerta ou alívio. Alguém se lembrou de mim equivale a alguém gosta de mim. Meu ibope aumenta de acordo com o número de mensagens.

Acima de tudo a data nos serve como espaço para reflexões. E acredito que refletir sobre os métodos e meios de demonstração de afetividades nos tempos atuais nos ajuda, inclusive, a repensar o processo de adaptação no mundo moderno. Sou acordado pelo telefone. O toque é diferente do alarme. Do outro lado alguém me deseja feliz aniversário. A entonação era de felicidade espontânea. Era a primeira mensagem. Era o começo do dia. Era o inicio de uma maratona de atividades que não mudaria independentemente da data. Sigo para a agência bancária. Diante do caixa eletrônico atendo as solicitações de comando. Uma mensagem, em letras garrafais, surge a minha frente. [...] hoje é um dia especial para você. O banco [...] lhe deseja feliz aniversário! Mais abaixo, de forma quase discreta, uma nova mensagem piscava na tela: Tecle “enter” para continuar suas operações. O banco [...] agradece a preferência. Não posso negar o impacto imediato causado pela estratégia de fidelização. Porém, passados alguns segundos, lembro que a mesma lógica é adotada pelas operadoras de celular e cartões de crédito. O que muda é forma do envio, mas a mensagem e os objetivos são sempre os mesmos. Concluo que torpedos ou cartões pseudo personalizados não substituem o contato humano, pois que são impessoais. Lembro que milhares de pessoas aniversariam junto comigo, e que, logicamente, milhares de mensagens iguais ou semelhantes são enviadas diariamente. Essas não servem como referencia de popularidade, revelam apenas status social. Sim, você é um cliente especial e estamos interessados em seus investimentos monetários. Poder-se-ia ler nas entrelinhas.

O celular volta a tocar e novas mensagens e congratulações. Algumas formais, tão frias quanto às das máquinas, revelam certa impessoalidade. Funcionam como pequenas “imposições éticas” estabelecidas pela boa convivência social. O tom de obrigatoriedade é sentido na voz. São mensagens breves, sem grande entusiasmo. Não possuem representatividade emotiva para quem emite ou para quem recebe. São palavras perdidas no espaço. Paro então para pensar sobre o porquê de se fazer isso? Tenho amigos que não lembram meu aniversário, e nem por isso duvido de seus afetos. Também, frequentemente, esqueço suas datas de nascimento, mas não suas amizades, e muito menos suas importâncias em minha vida. No meio disso tudo, recebo ligações que me emocionam. O tom e entonação de voz se fazem genuínos. A respiração, a pausa, a espontaneidade na formação das frases, a brincadeira e a informalidade personalizam os votos de felicidades e por isso me tocam de verdade. Essas sim fazem a diferença.

Chego à academia de ginástica. Digito a senha de acesso para liberar a catraca de entrada. Os votos de felicidade surgem no monitor. Diferentemente do caixa eletrônico, estes vem acompanhados de sorrisos e abraços da recepcionista. A tecnologia se agrega a ação humana para se transformar em acolhimento. De volta as atividades, acesso o e-mail. Centenas de mensagens lotam a caixa de entrada. Identifico várias pessoas conhecidas entre milhares de desconhecidos virtuais, a quem respondo em agradecimento. Não nego que a tarefa leva mais tempo que o previsto, até porque não me limito às reações automáticas. Sinto verdadeiro prazer em buscar identificar as intenções e motivações pessoais, o que me ajuda a reconhecer as verdades empregadas na ação. É incrível como a escrita traduz sentimentos e emoções, que muitas vezes, parece imperceptível a maioria das pessoas. Acho que com o passar da idade esse tipo de sensibilidade se aguça. Assim, percebemos que algumas mensagens traduzem felicidades no ato. Com um pouco de atenção consegue-se perceber até o sorriso das pessoas ao escrever determinadas coisas. Isso personaliza o conteúdo e a forma e reflete sentimentos e sensações autênticas, pois que a legitimidade se impregna nas particularidades. Por mais digital que seja a escrita atual, essa sempre continuará revelando e evidenciando características e especificidades de seus atores.

Do E-mail sou direcionado as páginas sociais. Familiares, amigos, conhecidos, colegas de profissão e de trabalho, alunos... Cada segmento em sua particularidade nos faz relembrar e fortalecer a importância dos vínculos e relações. Acima de tudo, as mensagens nos lembram os papéis sociais, e consequentemente a representação do que somos para cada pessoa que nos escreve, pois que se direcionam ao irmão, ao tio, ao ex-cunhado, ao quase parente, ao colega, ao professor, ao profissional, ao patrão, ao amigo, ao companheiro... Por fim, aniversário tem a particularidade de nos mostrar os quantos somos. Várias pessoas em uma única, ou várias representações de, e para, uma mesma pessoa. Isso nos leva a perceber que sempre seremos vistos de várias formas, por vários ângulos. Várias partes que só se juntam diante do espelho. Diante da inevitável refletividade do que somos em essência. Só o espelho captura nossos fragmentos para nos contar da passagem do tempo. Não se mente para o espelho, assim como não se mente para si mesmo. É nele que todas essas representações se encaixam para compor uma imagem da qual se pode sentir orgulho. Através dele torna-se mais fácil descobrir porque você consegue despertar emoções e sentimentos genuínos em seus pares. Por isso aconselho aos aniversariantes a sempre se olharem diante de si mesmos. Não com os olhos narcísicos, pois que estes enganam, mas com os olhos puros e inocentes da época de infância. Só esses conseguem te mostrar o quanto mais um ano de vida agregou sabedoria no desenvolvimento físico e espiritual. São com os olhos da infância que se percebe as marcas corporais que contam da tua história. E é neles que se encontra, e se renova a capacidade de se amar ao próximo como a si mesmo.

A todos, muito obrigado pelos votos de carinho e felicidades!

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