sexta-feira, 6 de julho de 2012

NA MORAL COM PEDRO BIAL! POLITICAMENTE CORRETO?




O QUE É MORAL E/OU IMORAL?

“É veado, bicha, gay ou homossexual? Preto, negro ou afro-descendente...?”, bombardeou ontem, Pedro Bial, em seu mais novo programa “Na Moral”. Mas cá prá nós, na moral, qual o objetivo exato do programa: provocar a reflexão social ou apenas apelar para a polêmica como forma de garantir ibope? Temas como racismo, assédio sexual e moral, homofobia, preconceitos, arte e liberdade de expressão se tornaram mote para um programa achatado. E aqui se entenda a palavra em seus sentidos erudito e popular. Primeiro “achatado” como aquilo que tem por natureza, ou que tomou a forma chata; e, segundo, “achatado” no sentido de apertado, comprimido, diminuído. Se a proposta era levar a reflexão, mostrou-se insuficiente para tamanha amplitude temática e conceitual, uma vez que, apenas o assédio sexual, ocuparia toda a programação. Trazer exemplos de uma suposta investida por parte de um chefe, contra uma estagiária, para chamar a atenção das possíveis interpretações precipitadas e/ou equivocadas acerca do assédio, torna-se insuficiente para tratar de um fenômeno que atinge e ameaça a integridade física e mental de milhares de pessoas, principalmente mulheres, no mundo do trabalho. Na moral? O que se viu, na verdade, não era assédio e sim uma cantada bem dada que terminou em final feliz. É preciso entender a diferença entre as coisas para se falar com propriedade, pois que o assédio sexual se respalda nas relações de poder, através de ações repetidas, com bases ameaçadoras. Na moral, a coisa se estabelece numa relação de “ou dá, ou desce”. Assim, apesar do apresentador trazer dados relativos ao fenômeno, bem como, empregar certo ar de seriedade na descrição das consequências para as vítimas e para o sujeito da ação, a discussão ficou no vazio por não atender aos objetivos propostos.

O grande mote da atração noturna era o velho antagonismo entre moralidade e imoralidade. Moral, que deriva do latim – “morale” – relaciona-se aos costumes, logo se contextualiza como construção social de determinada cultura. O que é moral para os brasileiros, pode não ser, por exemplo, para os Norte Americanos. Nesse contexto, moral se configura como conjunto de regras de conduta considerada como válidas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupo ou pessoa determinada [Aurélio, 2012]. Assim, moral se relaciona também aos conceitos individuais. O que é moralmente aceito para mim, pode não ser para você. Por sua vez, amoral refere-se ao que não é nem contrário nem conforme a moral, ou seja, está à parte das regras definidas para, e por determinada cultura ou sociedade. Uma pessoa pode ser amoral sem necessariamente incorrer na imoralidade. Isso porque, no campo da ética, classifica-se como amoral a conduta humana que, suscetível de qualificação moral, não se pauta, pelas regras morais vigentes em um dado tempo e lugar, seja por ignorância do indivíduo ou do grupo considerado, seja pela indiferença, expressa e fundamentada, aos valores morais [Aurélio, 2012]. É desta forma que, por exemplo, um estrangeiro desavisado pode afrontar nossa moral praticando o nudismo em nossas paradisíacas praias. O ato em si, tornar-se-á imoral apenas quando praticado por libertinagem gratuita, ou por desonestidade, como afronta a um determinado costume local. Logo, a imoralidade é contrária a moralidade por contrariar a regra moral prescrita para um dado tempo e lugar.

Partindo disso, não acho que exista espaço para se questionar se o correto é designar pessoas como veados, bichas ou homossexuais; tão pouco, como pretos, negros ou afro-descendentes. Na moral, se as nomeações são necessárias à boa convivência humana, que estas se estabeleçam, e principalmente, sejam estabelecidas em bases morais, ou seja, em conformidade com o conjunto de regras definidas para a cultura brasileira. E aqui, entenda-se cultura brasileira como um coletivo miscigenado, heterogêneo e em constante transformação de formas e composições acromáticas, raciais e de gênero. Como diz satiricamente o poeta Falcão, “... o homem é homem, o menino é menino, o macaco é macaco e o veado é veado”. Cada coisa em seu lagar. Na moral! Todo mundo sabe que homossexual, veado e bicha são coisas distintas, assim como é o preto, o negro e o macaco, mesmo que ainda se mantenham erroneamente associadas nos costumes e linguagem popular. O que se estabelece, ou se discute, não é a instauração de uma ditadura do politicamente correto, mas a necessidade urgente de reestruturação do código de condutas aplicadas como forma e estratégia, inclusive, para diminuição, ou pelo menos, minimização e controle da violência em suas variadas modalidades. E este processo se dará pela introjeção do costume revisado. Neste sentido, o que se propõe é uma inversão dos processos, meio pelo qual passaremos a absorver e incorporar novos costumes com bases mais coerentes com os novos tempos. E não falo de mudar a letra das antigas cantigas de ninar ou cantigas de roda, pois que estas estavam coerentes com a moral, ou seja, conjunto de regras e condutas de um tempo passado. Fazem parte da história. E história não se apaga, pois que servirá sempre como referencial para se entender a evolução humana. O que falo é da necessidade de não se precisar recorrer a velhos paradigmas para reavivar preconceitos e fobias. Se criarmos nossas crianças em bases educacionais mais coerentes com o que se espera na modernidade, essas serão corretas por “natureza” e não por imposição. Preconceito, racismo e fobias, em suas mais variadas dimensões e manifestações, também são construções. São frutos das gerações passadas. Logo, temos o papel de definir que tipo de sociedade iremos querer estabelecer e/ou formar mais a frente.

No mesmo sentido, não sei se utilizar pessoas fantasiadas de gorilas, dançando de forma sensual junto a mulheres seminuas, pode ser considerado arte. Concordo em parte com a Maria Paula no sentido de que o problema nem sempre está no que se fala, mas na forma, e na conotação do que é dito. Porém, entendo que a arte tem como base o caráter reflexivo e a função de despertar sentimentos, inclusive motivando o prolongamento de uma idéia. Apesar de não ser especialista no assunto, acho que arte pode ser classificada como capacidade inerente ao ser humano, pela qual consegue colocar em prática uma idéia, valendo-se, contudo, da faculdade de dominar a matéria. Mas na moral, qual idéia é colocada em prática na música do Alexandre Pires? Por que, e para que, as mulheres precisam “roçar no pelo do macaco”? Para se excitarem? E neste caso, a excitação é proposta porque macacos lembram os negros garanhões, ou porque, num sentido correlato, estes e os espécimes se equivalem? Onde estava o King Kong representado? Alguém conseguiu fazer referencia direta com o clássico cinematográfico? Na moral! Se não tem domínio da matéria, a idéia original não se transforma em arte, mas apenas em brincadeira inconsequente. E brincadeira que afronta o conjunto de regras estabelecido por e para uma pessoa, ou grupo de pessoas, torna-se imoral. Acredito copiosamente que as pessoas não devem, e muito menos precisam deixar de fazer ou dizer o que pensam ou o que sentem; mas devem sim, saber e responder pelas consequencias de seus atos. Na moral, responsabilização é totalmente diferente de censura ou frescuras politizantes! Cobrar bom senso e responsabilidades de pessoas e setores formadores de opinião de massa não é ditadura ou censura. Muito menos cerceamento da liberdade de expressão. Mas, o estabelecimento de regras mais coerentes e pertinentes ao respeito a diversidade. Do mesmo jeito que posso me sentir no direito de dizer o que quiser e me expressar da forma que melhor me convier, o outro, meu semelhante, pode e tem o direito de não gostar e/ou de se sentir ofendido. É neste caso que a ética deve sempre prevalecer como fator regulador das condutas em prol dos direitos coletivos. Ou não é?

De resto, acho que o programa até tem o que agregar nesse processo de transformação cultural por que passamos, desde claro, que o Pedro Bial consinta em que os convidados se expressem de forma livre. Caso contrário, a atração tenderá a se transformar em apenas mais um palco repleto de gente e vazio de conteúdo. Na moral! Vamos respeitar para ser respeitado. Até porque no campo das imoralidades televisivas, já basta de discussões infrutíferas.

Na moral... Na moral... Na moral...

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