sábado, 28 de maio de 2011

VAMO APRENDER INGRÊS POR QUE PORTUGUÊS NÓS JÁ SABE


Centro do Recife e a Educação de Qualidade


UM PAÍS RICO É UM PAÍS SEM A MISÉRIA QUE GERA ANALFABETISMO.

Finalmente a educação entrou em pauta no país. Motivo? A aprovação de um livro didático voltado aos alunos das redes públicas onde se ensina o português errado. Onde se ensina a escrever como se falar. E o que mais chama a atenção, contudo, é fato do referido livro ter o aval do Ministério da Educação. Neste ponto, coloca-se em discussão a qualidade do ensino brasileiro, e logicamente as consequencias futuras para uma nação formada por milhares de analfabetos funcionais. Afinal de contas, o que significa educar? Verbo transitivo direto, derivado do latim “educare”, que segundo o novo dicionário da língua portuguesa significa “transmitir conhecimentos; instruir; domesticar, domar”. Pressupõem-se então, que o ato de adquirir conhecimentos torna-se fundamental e necessário ao desenvolvimento saudável de qualquer ser humano, e logicamente de qualquer nação.

Centro do Recife - Cadê a Educação?
Há de se concordar que linguagem em si é uma das principais ferramentas desenvolvidas pelo homem durante todo o seu processo de evolução. Isso significa que a linguagem também se torna evolutiva. Aprendemos a nos comunicar através da fala, pela qual conseguimos articular a palavra. Neste sentido, palavra torna-se um símbolo, ou sinal, com significado construído culturalmente. Um conjunto de palavras forma uma frase e dará sentido a uma mensagem ou pensamento lógico. Mas lógica pode ser entendida como maneira de raciocinar particular a um indivíduo ou a um grupo. De forma figurativa, a lógica representará a sequencia coerente, regular e necessária de conhecimentos ou coisas, o que se traduz enquanto conjunto de regras e princípios que orientam, implícita ou explicitamente, o desenvolvimento de uma argumentação ou de um raciocínio a resolução de um problema, etc.

Movimento Estudantil
por melhores condiçoes de acesso a educação
Logo, linguagem pode ser entendida como uma faculdade humana. Mas linguagem também consiste no uso da palavra articulada ou escrita como meio de expressão e de comunicação entre pessoas. O que significa que se refere a uma forma de expressão própria de um indivíduo, de um grupo ou de uma classe. Em síntese, a linguagem representa tudo quanto serve para expressar idéias, sentimentos, modos de comportamentos, etc. Dentro dessa premissa, falar “os menino pega os peixe” mostra-se lógico por possibilitar a compreensão do sentido expresso por parte de um determinado grupo. Apesar de gramaticalmente errada, a frase em si gera sentido ao fato de mais de um menino pegar os peixes. Logo, a meu ver, existe uma coerência de linguagem e essa cumpre o seu papel no sentido de transmitir uma informação.


Centro do Recife - Pobres não têm Escola [ou escolha]?
A fala em si será treinada ou domestica dentro de uma lógica real. O que pretendo dizer é que a forma como a linguagem será absorvida depende diretamente de como nos será apresentada. Logo, o homem mostra-se fruto do processo de socialização. Em outras palavras, aprendemos o que nos ensinam. Se no grupo onde me encontro inserido a linguagem se apresenta em uma forma “anti-gramatical”, a articulação de minhas palavras, que darão sentido ao que desejo expressar, se mostrará presa a essa lógica em particular. Isto é fato. Como é fato também que a escola não é lugar para se ensinar errado. Penso que o papel da escola é proporcionar conhecimentos, que se darão também pela correção e regularização da linguagem, partindo de uma lógica maior e coletiva. Ou seja, se somos brasileiros e temos como língua nativa o português, precisamos falar o português correto.

Centro do Recife
Sem educação não existe transformação social
Para melhor explicar, é preciso entender que o “português” a que me refiro trata-se de uma língua romântica oficial de Portugal, do Brasil, de Angola, do Cabo Verde, do Guiné-Bissau, de Moçambique, de São Tomé e Príncipe, também faladas nas ex-colônias portuguesas Goa (índia) e Timor-Leste (anexada pela Indonésia). Resumindo, o português apresenta duas variedades reconhecidas como padrão: a do Brasil, restrita ao nosso país, e a de Portugal, oficial para os outros seis países. Assim, entende-se que nosso português tornou-se abrasileirado, tornando-se exclusiva e única. Independente das regiões geográficas que compõem o país, nosso português se mantém original, variando apenas em fonética [estudo dos sons da fala, especialmente no que diz respeito à sua produção, transmissão e recepção], que a meu ver influencia na variação de sotaques, que nada mais são do que as pronúncias características de um indivíduo, de uma região, etc.

Estudantes paralizam a Av. Conde da Boa Vista
Independente também das regiões geográficas o nosso português, ou melhor, nossa forma de falar, será influenciada por recortes socioeconômicos. Isso quer dizer que num país como o nosso, pautado por um sistema de exclusões, torna-se natural que determinadas classes sociais falem de uma forma, enquanto outras adotem uma linguagem diferenciada. O que não é natural é o fato do Estado contribuir para a manutenção e consolidação dessas variações de linguagens. Dito de outra forma, a escola não é lugar da confirmação de exclusões. Assim, a qualidade do ensino relativo à língua portuguesa deve ser garantida independentemente de quem patrocina o estudo. Não é admissível que a escola pública se transforme em instrumento de segmentação social, possibilitando à formação de uma elite erudita em oposição às categorias populares que margeiam os grandes centros urbanos.

Lugar de Criança não é na Escola?
Desta forma, o que está em discussão não é só se a lógica linguística popular fere a gramática, mas o quanto a fragilidade do ensino das redes públicas ferem os princípios de igualdade de direitos. A discussão, mais uma vez, concentra-se na eterna luta sobre a manutenção do poder da elite burguesa que se sobrepõe ao proletariado, de quem explora sua força de trabalho. E para não haver confusão no que falo, ou seja, usando um português claro, saliento que é preciso que se entenda que “elite” [derivado do francês], refere-se ao que há de melhor em uma sociedade ou num grupo social. Popularmente, a fina flor da sociedade. Mas sociologicamente elite representa uma minoria prestigiada e dominante no grupo, constituída de indivíduos mais aptos e/ou mais poderosos. Por sua vez, “proletário”, derivado do latim [proletariu], faz referência ao cidadão pobre, que na Roma antiga se mostrava útil apenas pela prole, ou seja, pelos filhos que gerava. Se na sociedade romana o proletariado referia-se a ultima classe do povo, no Brasil de hoje, ainda apresenta-se enquanto camada social formada por indivíduos que se caracterizam por sua qualidade permanente de assalariados e por seus modos de vida, atitudes e reações decorrentes de tal situação. Assim, proletariado não é condição natural, mas resultado das construções sociais e econômicas pautadas no capitalismo. Ser pobre não é escolha é condição gerada.

A miséria que atinge crianças e adolescentes
 no Centro do Recife
Logo, o que precisa ser revisto no Brasil não se refere às regras gramaticais, mas as premissas e bases do sistema econômico adotado. Acredito que não é ensinando ao proletariado a linguagem específica de pobre que se mudará uma cultura de exclusões. Até porque para haver desenvolvimento econômico se faz necessário desenvolvimento intelectual. E um sistema político só se mostra verdadeiramente democrático quando disponibiliza e fornecesse as possibilidades de condições de desenvolvimento para todos. Afinal de contas um país rico é um país sem miséria. Miséria que também deriva do latim para sinalizar desgraças e infelicidades. Miséria que se traduz no estado lastimoso, deplorável; pobreza extrema; indigência, penúria. Miséria que se configura enquanto estado vergonhoso, indigno e infame. Miséria que acomete milhões de brasileiros vistos e tratados como passageiros de segunda classe, sem educação, saúde e assistência de qualidade.

Crianças e adolescentes usam crack no centro do Recife
Como professor, acredito que só conseguiremos mudar a realidade social e econômica do Brasil através da educação. Como cidadão penso que devemos lutar por uma educação de qualidade. Educação enquanto processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, necessária à sua melhor integração individual e social. E neste contexto, a referida qualidade educacional deverá se estender a educação política, cívica, social e ética, possibilitando uma melhor formação aos gestores públicos e políticos que equivocadamente assumem pastas e cargos para os quais não possuem habilidades, sensibilidades e/ou competências. Até porque se, “um país rico é um país sem miséria”, é preciso entender que esta se extingue somente com [e pela] educação de qualidade.

UM PAÍS RICO É UM PAÍS SEM MISÉRIA
 Centro do Recife

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