segunda-feira, 6 de junho de 2011

AS QUATRO IRMÃS


QUATRO MULHERES DIANTE DA SANTA.

Era final de tarde e o sol já se apagava em escuras nuvens. Não havia movimentos nas folhas fragilmente presas a galhos sem vida. Não havia raiva. Não havia choros. O tempo parara para as quatro mulheres sentadas em um banco, de frente ao santuário. Não havia sons, apenas cumplicidade. Quatro mulheres vivendo ou revisitando suas dores. Quatro cabeças com negros cabelos já marcados pelo tempo. Não havia descontrole, apenas resignação. Quatro rostos que estampavam tensões. Quatro idades delimitando diferenças. Quatro vidas intelaçadas pela oriegem. Quatro irmãs perplexas diante do inevitável. Quatro órfãos paradas em frente ao altar.

Eram quatro mulheres de costas para mim. Não havia luxo. Não havia vaidades. Mas havia beleza. Uma cena cinematograficamente linda que ficará guardada em minha memória. Eram quatro olhares diferentes sobre um mesmo prisma. Quatro emoções igualmente sentidas. Quatro gargantas sufocadas pelo choro. Quatro mulheres divididas nas próprias [in]certezas. Não havia suntuosidade. Não havia magneficiência. Não havia consolo. Mas havia paciência. Havia a espera. A longa espera que atormenta a alma. Havia complascência com a fatalidade. Havia tristesa. Mas não havia falas.

Pessoas continuavam suas caminhadas nas ruas de pedras. Uma senhora entro chorando em seu veículo. alguém passou por mim sem me ver ou ser visto. A vida seguia seu rumo tranquilamente. Mas as quatro mulheres continuavam paradas em frente ao altar. Não as via de frente, mas conheço seus rostos. Uma espécie de matiz derivada da cor primária. Eram quatro mulheres coloridas em tonalidades e traços degradês. Extensões da primeira mulher. Exemplares fidedignos da genitora velha e enferma. Eram quatro mulheres adoecidas pelo vazio da matriz. Quatro mulheres paradas diante da morte eminente. Quatro mulheres perdidas em pesnamentos. Quatro irmãs unidas num só momento. Eternizado pelas lentes que me cobriam os olhos. Embassado pelas lágrimas que me salgaram a boca.

Eram quatro mulheres diante da Santa. Quatro mulheres a minha frente. Quatro mulheres num banco gélido e sem cor. Quatro mulheres paralizadas num dia cinza e morno. Eram quatro irmãs. Minhas irmãs e eu, diante de uma morte pré-anunciada. Era apenas isso. Solidão, impotência e vazio. Apenas uma linda e cinematografica cena que ficará para sempre nas minhas lembranças. Era fim do dia e o sol já havia ido embora. Era o fim da linha e o vento se recolhera. Era início do breu que cobriria as verdes folhas fragilmente preas a galhos sem vidas. Era o fim da vida. E apenas as quatro mulheres permaneciam silenciosas e quietas, sentadas em um banco, de frente ao altar.

Era apenas isso. Minhas quatro irmãs presas em uma cena plasticamente bela que permanecerá para sempre na minha memória.

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