quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

DON´T CRAY FOR ME ARGENTINA!


!NO LLORES POR MÍ ARGENTINA!
O céu está claro e do céu visualizo as extensas planícies uruguaias. Um rio caudaloso as separa de Buenos Aires, repleta de telhados que refletem a luz do sol. Os contrates se evidenciam. De um lado, grande quantidade de casarões dotados de piscinas, que do alto parecem formar um mosaico com pequenos e vistosos cubículos azuis; do outro, as Villas Viejas, mas conhecidas como “las bichas”, equivalentes às nossas tradicionais favelas. A beleza cede lugar à miséria. Tranquilamente atingimos o solo e mais uma vez agradeço, e volto a respirar. Uma onda de calor revela a temperatura da cidade. Não há como negar, Buenos Aires “es uns ciudad muy caliente”. Porém, não mais que Recife! 36º registram os termômetros e penso que estará tudo bem. As previsões de elevadas temperaturas não passariam de alarmes desnecessários. Contudo, aos poucos, a garganta reclama a falta de umidade, e começo sentir falta de nosso ventilado litoral.
Buenos Aires parece vazia em comparação ao verão passado. As ruas estão quase desertas e o trânsito flui fácil pelas largas e longas avenidas. Começo a me situar e uma agradável sensação me faz sentir em casa novamente. A cidade tem seus encantos e também seus contrastes. O apartamento é o mesmo, o bairro respira cultura e mistura. Uruguaios, colombianos, venezuelanos, chilenos, paraguaios, e claro, muito brasileños. A América parece concentrada. Italianos, Espanhóis, franceses, ingleses e norte-americanos atraídos pelo verão. Gente, calor, ebulição. A cidade está sempre viva dia e a noite. Enormes filas nas portas dos teatros e cinemas, livrarias, bares, restaurantes, cafés e boates lotadas. O sol insiste em não deitar antes das 22:00, o que faz o dia parecer eterno. É preciso fólego! A meteorologia nunca acerta e por isso somos pego de surpresa a cada momento. Tudo parece intenso. Chuva em forma de tormenta, com direito a sinal de alerta nos canais de televisão. Raios, trovoadas e até granizo despenca do céu, para em seguida sentirmos a pele queimar.

A economia é uma loucura, num sobe e desce de preço que desorienta qualquer um. Um Capuchino está $ 11,00 pesos. Amanhã não se consegue toma-lo por menos de $ 15,00. O valor da água mineral também varia como a temperatura. Nunca se sabe realmente o quanto será necessário para garantir o mínimo conforto do dia. Em Buenos Aires somos obrigados a viver “o aqui e agora”. Nada de muitas projeções ou elucubrações financeiras, a menos que seja especialista. As aulas começam, o estresse aumenta, o cansaço bate, e torcemos que a semana logo termine. Os dias passam, fugimos do sol, procuramos marquises e não encontramos. A cidade é europeia demais para permitir coisa tão tipicamente brasileira. Viver Buenos Aires é viver experiências sucessivas. É vivenciar o inusitado, onde nada é em verdade o que aparenta ser aos olhares precipitados. As diferenças culturais se sobressaem na impaciência e inflexibilidade quase inglesa. A confusão se estabelece em conversas e frases repletas de “chês”. Informo que “estoy en Jean Jaurés” e me corrigem dizendo ser “chã churês”. Pregunto por una calle, e me informam onde está “la cachê”. E que ninguém enfrente um porteño estressado, porque a língua se transforma em uma metralha e a solução é fazer cara de paisagem. O melhor é que ele lhe “esculhambar” você não vai entender. Então porque se “aperrear”?
Para porteño chato, nada melhor do que o clássico “no comprendo!”. Se quiser se educado, porém econômico, se utilize do diretivo “lo no sé” e finalize a conversa. Em terra de cego, quem tem um olho é rei. O que se significa que em terra de malando, brasileiro se sente em casa e confortável. Diferenças e semelhanças se confundem e podem ser acionadas de acordo com a conveniência de ambos os lados. Assim a estranheza se acomoda. O tempo passa e a saudade chega. Hora de arrumar as malas, de embaçar a vista. Da janela olho o céu ainda avermelhado. São 21:00 e o dia logo termina, como finda minha estadia. Admiro o limoeiro que balança ao sabor do vento e os gatos indiferentes ao meu estranho sentimento de nostalgia antecipada. !No llores por mí Argentina! ¡No te olvidaré, púes qué te extraño! Y además, ¡lo buen hijo siempre regressa!

Nenhum comentário:

Postar um comentário