sábado, 22 de junho de 2013

VERÁS QUE UM FILHO TEU NÃO FOGE A LUTA... PÁTRIA AMADA, BRASIL!


 
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas, de um povo heroico, o brado retumbante! E o sol da liberdade em raios fugidos brilhou no céu da pátria neste instante!

E o sol da liberdade raiou sobre o Recife nesta quinta-feira, dia 19 de junho. Não foi do já distante Ipiranga, mas foi das margens de um canal sujo e mal tratado, que corta a capital pernambucana em ilhas, que se ouviu novamente o mais puro e o mais sonoro “brado retumbante” dos pernambucanos. Duas horas da tarde, o sol a pino, e em pouco tampo a Praça do Derbi se tornou insuficiente para tanta gente. Pessoas se espalhavam pela Av. Agamenon Magalhães, vindas de longe, para se estreitar na Avenida Conde da Boa Vista. Uma massa de gente de cores e raças variadas. Não havia diferenças, não havia partidos políticos, não havia fúrias, apenas a indignação saltava aos olhos. E eram olhos belos e vivos, cheios de esperança e força. Olhos abertos, quase beirando o espanto. Olhos risonhos que se encontravam repletos de cumplicidade! Mas também eram olhos de vergonha, de insatisfação, de reivindicação, e principalmente de deboche, contra os políticos corruptos e oportunistas.
 

Eram olhos emocionados diante do poder descoberto. “O gigante Acordou!” gritavam cartazes e faixas que flamulavam no ar. Educação, saúde, assistência, transporte, segurança pública e justiça se tornaram palavras de ordem. Respeito, transparência e ética nas gestões públicas se tornaram exigências. “Saímos do Facebook!” avisavam os jovens. O povo estava mais uma vez unido nas ruas para mostrar a insatisfação com os políticos e seus partidos fajutos que não mais nos representam. Redescobrimos o valor da cidadania, ó Pátria Amada, em centenas de rostos iluminados pelo sol que reluziu a liberdade na avenida. E assim, o leão do norte rugiu exigindo passagem rumo ao Marco Zero. Não havia pressa, não havia choro, não havia medo. Comemorava-se a democracia! O orgulho de ser brasileiro consciente que nos enche o peito! E as vozes eram tantas que não sobrou espaço às demagogias politiqueiras. Havia clareza de ideias e não restou brecha a prática comum do suborno governamental. Havia autonomia cidadã, e por isso, incinerou-se o cabresto ditatorial e autoritário dos governantes.
 

Cinco garotos maltrapilhos, com suas habituais garrafas cheias de mortes, empunhavam “O Protesto dos Cheira-Colas!” Um casal de idosos, de mãos dadas, levantava a bandeira do “Já Basta!”. E não era preciso mais que isso, pois no dito popular, “ao bom entendedor, meia palavra basta”. Não havia incertezas ou inseguranças na exigência por melhorias. A grande dúvida pairava apenas sobre a capacidade intelectual e mental dos próprios governantes, que acuados monitoraram todo o percurso através de seus mirabolantes e utópicos equipamentos tecnológicos. Uma espécie “aranha metálica” sobrevoou cabeças erguidas. Câmeras bisbilhoteiras instaladas em frágeis postes transmitiram as urgências de quem exige respeito. “Besouros de latas” fizeram piruetas no ar em busca das melhores imagens. E assim, os olhos eletrônicos do governo tecnológico e fascista permaneceram atentos e inseguros, distante como sempre e protegido por insólitos concretos, temendo o confronto.


As pequenas faixas brancas de paz nas mangas dos soldados tornaram-se irrisórias e patéticas. Contraditórias as tradicionais posturas repressoras que representam uma conduta democrática de faixada habitual. A pacificação aparente da polícia se diluía nos spray de pimenta enfiado nos bolsos, bem como nos rostos carrancudos de alguns milicos acostumados a repressão. O bloco dos paus mandados de cabeças-laranja pareceu abismado e incrédulo diante da aglomeração e do maciço grupo que gritava a uma só voz contra os mandatários, que se imaginavam detentores do poder. E assim, calados permaneceram diante da maioria colorida, que em marcha vestia a bandeira nacional.

Sugestões para que o Governador Eduardo Campos pudesse fazer bom uso dos dez centavos concedidos não faltaram. Talvez a mais apropriada fosse a que sugeria sua aplicação no SUS. O deboche e a criatividade se tornaram poderosas armas para as críticas. Uma faixa deixava claro que “dez centavos não paga um Dudu!”. E posso garantir que a referência não era o tradicional picolé em saquinhos vendidos nas cidades pernambucanas. Até porque outro alertava que “dez centavos não compra meu voto!”. Até o prefeito que promete fazer tudo foi devidamente lembrado em sua inércia por uma jovem que alardeava em um cartaz: “essa caminhada não foi o Geraldo que fez. Fomos nós!”. Os protestos antes vinculados aos aumentos nas passagens dos ônibus se multiplicaram. Os gritos e anseios agora são outros e se dirigem contra a aprovação da PEC 37; do Ato Médico; do projeto denominado popularmente como Cura Gay; a favor da legalização da maconha; da urgência na transparência e eficácia no uso das verbas públicas. Na prática, exigem-se melhorias nos serviços públicos, com eficiência que justifique nossos altos impostos. Exige-se a redução dos gastos públicos, possibilitando melhorias na qualidade de vida do povo!
 

E os resultados já se mostram positivos. Governadores e prefeitos de norte a sul se apressaram em reduzir o preço das passagens e, ainda que de forma dissimulada, passou a reconhecer o estado democrático verdadeiramente como característica de nossa república. Em um ato consciente de cidadania o povo demonstrou que facilmente troca o futebol pelo exercício da democracia. E este é só aviso prévio às eleições de 2014. E olha que ainda temos a vinda do Papa Francisco I, a Copa do Mundo, as Olimpíadas e as Paraolimpíadas em 2016. Parafraseando o poeta, é bom lembrar que a “praça é do povo, assim como céu é do condor”. Afinal de contas, as asas da liberdade sempre levam mais longe.

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