CLONAGEM, MILAGRE TECNOLOGIA POLITIQUEIRA?
Minha mãe nos ensinava que a
cópia é sempre pior que o original. Repentinamente, durante o horário gratuito de
propaganda eleitoral me peguei refletindo sobre tal ensinamento. Pude então
constatar o quanto de verdadeiro existe em tal ditado. Sentado diante da
televisão, automaticamente lembrei-me de um grande amigo, que sempre afirma que
a campanha política na televisão brasileira se caracteriza como o melhor
programa de humor. E não é de se admirar diante de tal fato, uma vez que os
candidatos se mostram como verdadeiros fanfarrões, formados na arte de enganar,
objetivo principal da interpretação. No cenário dramatúrgico politiqueiro,
todos os candidatos tendem a representar o mesmo personagem cômico – o palhaço.
Apesar dos retoques ou requintes de produção, o que muda em verdade é apenas o
nome do interprete, até porque a forma e o conteúdo frágil se mantem
intocáveis. Assim, podemos nos divertir com os cotidianos e corriqueiros
“Fulanos do Gás”, “Sicranos da Prestação”, “Beltranas do Tempero”, “Marias dos
Passes”, “Josés do Trem”, e assim por diante. São milhares de homens e mulheres
tentando convencer a população geral sobre temáticas, direitos e bandeiras de
lutas, nas quais nem eles mesmos acreditam.
Na verdade a maioria dos
candidatos e candidatas é tão ruim como interpretes de um único personagem,
antigo e já bastante desacreditado, que ninguém pode depois reclamar de estar
sendo ludibriado. O tom da chacota e da “canastrice” são tão evidentes que só
nos causa risos. Os textos são sempre os mesmos e os roteiros utilizados beiram
mesmo a galhofa. Tudo não passa de um grande show de humor de qualidade
duvidosa, onde as piadas são repetidas ao esgotamento. É o espetáculo de sempre,
e logicamente, com as consequências de sempre. De forma resumida tudo cheira a
mofo. Um velho espetáculo já visto por milhares de vezes, que se prolonga por décadas,
onde se muda os atores, mas se mantém os tradicionais personagens e suas
histórias de enredos enfadonhos. Nesse contexto, o discurso da necessidade e da
oportunidade torna-se recorrente. Um candidato é pobre, outro é paupérrimo,
outro é ainda mais miserável, enquanto outro é totalmente lascado. Em comum, todos
prometem lutar por um povo que permanece e permanecerá “fudido”, para garantir
a manutenção desse grande show de horrores.
Tem candidato até que se
vangloria pelos quatro ou cinco mandatos consecutivos. Penso sinceramente que
estes são os piores, até porque se tornaram profissionais. São os políticos de
carteirinhas, que descobriram na política a forma fácil de dar-se bem na vida.
E a lógica fica tão consolidada que a política se torna coisa de pai para
filhos. É mais ou menos como ocorre nos morros e favelas, onde filho de
malandro, malandro se torna. Como a tecnologia anda cada vez mais avançada, inevitavelmente
tornou-se recurso fácil e fundamental ao entretenimento do grande público. E por
entreter, entenda-se enganar, ludibriar, forjar, mentir e sacanear o público,
que neste caso especifico é o povo, ou melhor, o eleitor. Falo isso, porque em
determinado momento tive a nítida impressão de estar sofrendo um surto
alucinatório diante da TV. A situação da atual corrida eleitoral pelo governo
de Pernambuco tem se mostrado tão hilária que cheguei mesmo a duvidar se não
estava diante de um espírito. Era como, se por milagre, tivessem ressuscitado
Eduardo Campos. Logicamente me espantei e logo pensei que tudo não passava de
alucinação, delírio ou fantasia. Para minha surpresa não era. Então pensei se
tratar de truque tecnológico. Uma espécie de holograma, como os utilizados atualmente
nos megas shows, onde artistas que já não existem surgem diante do público
saudoso mais vivo do que nunca.
Mas especificamente no caso da
sucessão ao governo do estado, a tecnologia utilizada é outra. Na tentativa de
manutenção do poder recorre-se a velha estratégia da imitação, ou da cópia
barata e descabida, para se criar um candidato clone. O que se ver é uma
espécie de “Avatá” ou “ego auxiliar” do político falecido na recente tragédia
aérea. Logicamente, o que resta disso tudo é a indubitável e sábia constatação
popular de que se o original já era ruim, a cópia não poderia se sair melhor. É
realmente lastimável e desrespeitosa a situação, onde pelo poder se evoca
inclusive os mortos. É deplorável também, até porque o candidato perde o
precioso tempo, pelo qual poderia se consolidar perante a população enquanto
possível referencial de mudança. Não seria este o verdadeiro e fundamental
papel do político? Pena que os clones não pensem dessa forma. Pior ainda é
constatar, que enquanto reproduções mal feitas nem mesmo tenham autonomia para
tal. Afinal de contas, a criação por mais que se rebele não consegue fugir dos
objetivos de seu criador. As criaturas tem sempre um fim específico. E
logicamente, quem nasceu para ser cópia, nunca será matriz.
No âmbito da política, ou melhor,
da politicagem brasileira, a coisa se torna tão absurda que esta semana
voltaram a reeditar uma cena que marcou o inicio da campanha de Eduardo Campos
a Presidência da República. Na cena original ele conversava com sua candidata a
vice-presidência. Ambos sentados em poltronas brancas fingiam um discurso
uníssono e coligado, que na verdade só enganava aos leigos ou aos puros e
inocentes. Na atual remontagem Campos é substituído pelo clone, que logicamente
tenta gesticular, se vestir, falar e se comportar da mesma forma. Devido aos
truques de câmeras, cenografia e iluminação, se têm até a nítida impressão de que
se estar diante do ex-governador. Neste contexto, é inquestionável a
competência dos marqueteiros de plantão. Contudo, no campo das promessas de
mudanças e inovações a situação é tão insólita e insustentável que beira a
farsa e ao grotesco. É inquestionável a força e a contribuição de Eduardo
Campos para a política local e nacional, mas não seria o caso de deixa-lo
descansar em paz?
Com este tipo de
espetacularização, perde o povo, perde o candidato e perde a política brasileira,
que ceifada de originalidade e transparência se caracteriza como uma grande
chanchada. Mas, como todo espetáculo depende de bilheteria, só nos resta esperar
a contagem dos ingressos populares. Cada povo tem o governo que merece. Eleger
cópias, seja no âmbito federal, estadual ou municipal, é amargar uma vida de
figurante. E o objetivo do voto é o protagonismo social. Por isso, pensem bem
antes de pagar pelo espetáculo que viveremos pelos próximos quatro anos. Porque
quem vota mal, paga pelos malfeitos de seus candidatos.
Ainda que cópias ou legítimos, os
candidatos precisam entender que política não é profissão e sim ideologia. Por
isso, não desperdice seu voto. Abaixo aos políticos profissionais!
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