ONDE HOUVER ÓDIO, QUE EU LEVE O AMOR!
Onde houver ódio, que eu leve o
amor... Com o coração aberto e o espírito de paz, mais de oitenta mil cidadãos
atravessaram a Avenida Beira Mar, em Boa Viagem, na tarde de ontem, durante a
Parada da Diversidade 2014. Do alto se via a variedade de cores, rostos,
estilos, que formava uma massa homogênea em defesa da igualdade, direito
constitucional e fundamental a consolidação da democracia. A criminalização da
homofobia é uma questão de saúde coletiva. No Brasil, milhares de pessoas, crianças,
jovens e adultos, homens e mulheres, ainda são diária e cotidianamente discriminadas,
violentadas das mais diversas formas. Muitas são barbaramente agredidas física e
moralmente, mutiladas, assassinadas. Segundo dados divulgados pela mídia, os
crimes de caráter homofóbico cresceram 216% nos últimos anos. Em um país
marcado pela impunidade e pela educação conservadora e sem qualidade como o
nosso, evidentemente a violência de gênero tende a mostrar-se como resultado direto
de uma sociedade intolerante e insensato que ainda se guia por um modelo
limitante, conservador e restrito quanto à vivência e exercício da sexualidade.
É preciso lembrar e ressaltar,
que as pessoas como orientação homossexual e bissexual, seja estas, gays,
lésbicas, travestis ou transgêneros, são professores, advogados, artistas, médicos,
políticos, empresários, gestores, donas de casa, garis, vendedores, policiais,
assim como as pessoas de orientação heterossexual. A diferença não estar no caráter
ou no direito a cidadania, mas no objeto de desejo. E isso é do campo do
individual, do privado e não do público. O que tem que se tornar público é o
direito a igualdade, o respeito às diferenças e a obrigatoriedade de uma convivência
pacifica. A grande questão consiste no fato de sermos uma sociedade mal educada,
alienada da capacidade crítica e reflexiva. Respaldamo-nos ainda por regras, costumes,
tradições e dogmas, que, muitas vezes, não conhecemos bem em origem, essência ou
profundidade. Guiamo-nos ainda por comportamentos condicionados, comuns aos
animais irracionais.
A intolerância as diferenças que
respaldam os crimes e violência de gênero precisa ser combatida. E isso não é
exclusivamente papel do Estado, mas da sociedade como todo. Já tive amigos, amigas
e pessoas conhecidas covardemente assassinadas, sem a menor possibilidade ou mínima
condição de defesa. É preciso entender e disseminar junto à população que tradição
não é sinônimo de intolerância, e muito menos fator que respalde para a violência
e crimes. A tradição configura-se apenas como um conjunto de regras acordadas
pelo coletivo. E tudo que é acordado e construído socialmente pode logicamente
ser revisto, revisitado e reformulado, a fim de atender as novas demandas da
própria sociedade. Neste sentido, nenhuma regra ou normatização pode ser maior,
superior ou mais importante e fundamental do que o direito a vida e a liberdade.
Até porque, uma sociedade que julga e condena pelas próprias mãos beira a
barbárie.
Pessoas com orientação sexual homossexual
ou bissexual, seja gay, lésbica, travestis ou transgêneros, trabalham, produzem
e pagam impostos igualmente as pessoas de orientação heterossexual. São igualmente
filhos, esposas, esposos, pais, mães, tios, tias, amigos e amigas, cidadãos
brasileiros. E como tais precisam que seus direitos sejam efetivados e
respeitados. A vida privada pertence única e exclusivamente ao sujeito. Assim,
ao invés de nos preocupar com o que os outros fazem na cama ou entre quatro
paredes, vamos refletir sobre nossos próprios desejos reprimidos ou frustrados.
A sexualidade deve ser vivida plenamente e o corpo utilizado, da melhor forma
possível, e em toda a sua potencialidade, em prol do prazer. Quem nega o
prazer, nega a própria essência e motivo de existência.
Vamos dirigir nossas
energias para combater o que realmente deve nos incomodar – a corrupção, a intolerância
e impunidade. Criminalizar a homofobia é tão importante e urgente, quanto
criminalizar e responsabilizar politiqueiros que usurpam nossos bolsos, que desviam
verbas públicas ou que se mostram oportunistas e comprometem o desenvolvimento
do país. A única intolerância aceitável deve ser com a impunidade e a
corrupção. E viva a democracia! Viva a
liberdade de expressão, inclusive sexual! Abaixo os políticos profissionais!
Onde houver ódio, que eu leve o amor. Até porque toda forma de amar vale e pena!