A EDUCAÇÃO E A CORRUPÇÃO NO BRASIL
Enquanto José
Dirceu e companhia comemora a absolvição do crime de formação de quadrilha no
esquema do mensalão, uma professora declara que precisa utilizar os matos que
rodeiam a unidade escolar, onde trabalha, por falta de banheiro. - Os garotos
vão atrás da escola e as meninas utilizam o matinho. Nós também utilizamos o
mato - Diz ela revelando a vergonha comum aos indignados e impotentes. Mas vergonha
mesmo, não deveriam sentir todos nós brasileiros diante de tais situações de
permissividade danosa e nefasta? Enquanto os corruptos do mensalão são
beneficiados pelos conchavos políticos, os estudantes brasileiros são punidos e
alienados de seus direitos básicos. Sem educação não há desenvolvimento. Sem educação
não há consciência política e muito menos autonomia cidadã. Sem educação não se
combate a corrupção. Disso, os políticos já sabem e se aproveitam. Mas, será
que o mesmo é sabido pela população em geral?
A situação das
escolas públicas no estado do Maranhão citada acima, não é menos degradante do
que a vivenciada por professores e alunos do estado de Pernambuco. Apesar das
campanhas panfletárias e politiqueiras que tentam camuflar uma situação que já
ultrapassa os limites da tolerância e da vergonha, a escola pública continua
abandonada e os alunos tratados como cidadãos de segunda classe. Enquanto os políticos
corruptos envolvidos no maior escândalo de desvio de verbas para financiamento
de campanhas políticas poderão em menos de um ano estar de volta a suas casas,
em Jaboatão dos Guararapes, cidade vizinha de Recife, capital do Estado,
crianças precisam ser carregadas nos braços para chegar às unidades de ensino
devido às dificuldades de acesso. Na frente das escolas públicas do município,
valas a céu aberto escoam o esgoto contaminado e fétido, comprometendo a saúde
da população; enquanto no Brasil inteiro o dinheiro do cidadão escoa pelo ralo
da roubalheira política.
Enquanto nas unidades
de ensino fundamental a água da chuva alaga as ruas, abrindo crateras que se
transformam em verdadeiras lagoas de lama; na Suprema Côrte, a sujeira e o
lamaçal da corrupção se configuram na vergonhosa impunidade cotidiana. A água também
invade as salas de aulas repletas de cadeiras quebradas e sem a mínima condição
de conforto ou segurança. Nestas, os banheiros danificados, impróprios, imundos
e emporcalhados, mais parecem cenários de filmes de terror; mas, no Complexo
Prisional da Papuda, onde os mensaleiros passam férias, as instalações mais
parecem com as de um hotel de luxo. Enquanto os espertos surrupiadores reclamam
a falta de água quente nos chuveiros; crianças e adolescentes das escolas
públicas bebem água contaminada em copos improvisados que compartilham entre
si. Os próprios profissionais da educação do município de Jaboatão reconhecem e
denunciam a procedência da água impura e perigosa, que diariamente é servida aos
alunos que insistem em frequentar a escola. E para não se dizer que se trata de
um caso isolado, em Petrolina, a Secretaria de Educação tentou evitar a
exposição calamitosa e vergonhosa da educação pública municipal, trocando, às
pressas, as cadeiras das salas de aula, três dias depois da reportagem do
Fantástico, programa apresentado em nível nacional aos domingos pela Rede
Globo.
Esses são
apenas pequenos exemplos da situação caótica e abominável da educação pública
no Brasil, e principalmente no Nordeste. Não sei se minha indignação é maior
enquanto cidadão ou enquanto professor. Educação Básica de qualidade é direito
fundamental, previsto na nossa Constituição Federal, Estatuto da Criança e
Adolescente, além de constar como premissa e princípios fundamentais ao
desenvolvimento saudável, seja em importantes acordos ou tratados
internacionais. Mas nada disso parece suficientemente importante aos políticos,
que ainda vêm no analfabetismo uma forma de controle do voto, e consequentemente
do poder. Apesar da retórica politiqueira, o descompromisso e descaso com a
educação é uma moléstia nacional. Uma praga que se alastra e se propaga por
todas as regiões, estados e municípios. Educar para quê? Povo educado é povo
esclarecido, autônomo e consciente de seus direitos. Povo educado não vota em
bandido, corrupto ou demagogo. Povo educado vai às ruas e exige mudanças
através das urnas. Povo educado derruba governos. Disso, os políticos corruptos
já sabem e se aproveitam! Mas, será que o mesmo é sabido pela população em
geral?
Igualdade de
justiça também é um direito estabelecido pela Constituição Federal e em todos
os códigos jurídicos. Mas quem acredita em sua prática? E em sua eficácia,
neutralidade e imparcialidade? Quais exemplos temos tido como referência no
país? Sem educação não existe justiça, isso é certo. Mas, sem justiça séria não
existe educação de qualidade. E se no Brasil, a primeira não cumpre com seu
papel fundamental, que é o da transparência e legitimidade, não se pode pensar
em garantia de educação de qualidade para todos. Em um país onde a justiça é
cega, não falando metaforicamente, a educação oferecida só reforça as
desigualdades sociais e as exclusões. Reforça-se também, as vantagens dos
apadrinhados, do corporativismo, da malandragem, da esperteza e do voto de
cabresto.
Não é
contraditório, por exemplo, distribuir tablets e enviar alunos ao exterior
enquanto as escolas não cumprem com seu papel básico, que é o de ensinar e
preparar o sujeito para o mundo? De que adianta tanta tecnologia moderna,
exaustivamente divulgadas em propagandas eleitoreiras, se não é ensinado o
exercício da reflexão e os princípios e direitos de cidadania? Nossa educação continua,
mesmo depois da ditadura, única exclusivamente voltada ao preparo do aluno para
o mundo do trabalho. Ainda não tem pretensões verdadeiras de educar o aluno para
o desenvolvimento intelectual e pessoal. O foco é única e exclusivamente o
mercado do trabalho, que exige cada vez mais qualificação, e logicamente o
desenvolvimento de competências e habilidades, principalmente cognitivas, que
vão muito mais além de saber escrever o nome, ou decorar que 2+2 é igual a 04. Para
que servem Tablets e computadores de ultima geração em escolas que apenas
produzem analfabetos funcionais? Também não é contraditório verificar que os
próprios profissionais da educação não sabem utilizá-los? Também não se tornam
motivos de gozação quando as escolas não dispõem de internet, fato bastante
comum no interior e áreas rurais dos estados nordestinos? Mas se nas escolas
falta acesso, na Papuda, os mensaleiros continuam se comunicando a vontade
através dos recursos tecnológicos. Da mesma maneira que os traficantes
continuam comandando seus negócios atrás das grades. Muitas vezes, esses mesmos
recursos servem como moeda de troca para quem não tem o que comer em casa, e
muito menos nas escolas, porque provavelmente a verba da merenda foi desviada. Também
não é raro que professores repassarem seus equipamentos aos filhos, sobrinhos,
netos, quando não os utilizam em escambos.
Em minha
humilde concepção sociopolítica, o faz de conta é sempre tão abominável quanto o
não fazer nada. O enganar é tão ou mais prejudicial do que negar. Neste cenário
de mentiras e hipocrisias éticas e morais em que vivemos tirar de quem tem para
favorecer os pobres seria até plausível, considerando as premissas hobinhoodianas. Mas, roubar de quem já não tem nada
para favorecer e enriquecer quem já mama as custa de nossos altíssimos impostos,
é no mínimo vergonhoso e abominável. É realmente ultrajante o descompromisso e ineficiência
com que se administra e gere o dinheiro público no Brasil. A falta de vergonha
na cara dos políticos corruptos é reflexo e resultado direto do péssimo nível
de qualidade da educação brasileira, assim também como os são os sentimentos de
inercia e a impotência da população diante dos sucessivos escândalos envolvendo
desfalques nos cofres públicos. Sem educação de qualidade não há autonomia,
muito menos intolerância aos descasos. Disso os políticos corruptos já sabem e
se aproveitam. Mas será que o mesmo é sabido pela população em geral?
Negar direitos
fundamentais ao desenvolvimento saudável da população é condenar milhões de
pessoas ao atrofiamento intelectual. E isso não é menos terrível do que a
tortura física, pois que se condena aos poucos a morte. E viva a ditadura da
democracia atual! Viva a politicagem do Pão e Vinho! Viva a Copa do Mundo no
Brasil! Corrupção 10 x 0 na educação! Mensaleiros, 10 x 0 na Justiça!