A morte é sempre uma incógnita
para o homem. Um grande mistério que assombra
e, de certa forma, nos tira do eixo. Talvez por evidenciar de forma
intransigente e soberana a fragilidade da própria vida, talvez por nos frustrar
diante da impossível eternidade. Fato é, que quando anunciada, a morte exige
sobriedade e nos possibilita o preparo e adaptação necessária perante o
inevitável. Porém, quando se anuncia de forma repentina e abrupta nos impõe a
resiliência e nos obriga ao conformismo. Em qualquer uma das situações nos
revela o quanto de “insignificantes” somos diante de algo desconhecido que
aprendemos a chamar de destino. Mas a morte também é, sempre, um bom motivo e
oportunidade para reavaliarmos nossas próprias convicções diante da própria vida
e do coletivo. Acima de tudo, serve a apropriada reflexão sobre o comportamento
humano.
Apesar das diferenças ideológicas
e políticas não posso negar o estarrecimento diante da fatalidade que comoveu
milhares de pessoas esta semana. A trágica morte de Eduardo Campos, direta ou
indiretamente mexe com os pernambucanos, e em menor proporção com os
brasileiros em geral. Acredito que o sentimento de comoção não se relaciona
especificamente ao candidato a presidência da república em si, mas à pessoa, ao
homem, ao pai de família, ao filho, ao homem que em nome de um sonho ou ilusão se
arriscou a voar mais alto. Obstinado ou presunçoso, determinado ou extremamente
vaidoso, não restam dúvidas quanto ao seu caráter e estilo empreendedor. E
neste ponto, torna-se um sujeito admirável, digno de respeito. Diferenças a parte, lastimo a perda inesperada
e prematura do homem, que acima de tudo parecia acreditar e se guiar pela
verdadeira ideologia política, algo essencial ao fazer político, e logicamente
inexistente para a maioria dos politiqueiros brasileiros.
Apesar da exploração e da
tendenciosidade da mídia sobre a tragédia, creio ser importante considerar e
registrar que com o acidente fatídico não morre apenas o político, mais também
seis trabalhadores, pais de famílias, filhos, esposos, amigos. Sujeitos que em
pleno exercício profissional tiveram suas vidas interrompidas. Homens que independentemente
dos interesses ou motivos pessoais ou ideológicos que os moviam também merecem
respeito e consideração. Penso que não é só com a representação politica ou com
o quanto se perde eleitoralmente com a morte do candidato que deveríamos nos
preocupar neste momento. Mas acima de tudo com a apuração transparente dos
fatos que provocaram o acidente. Erro humano, falha mecânica, inadequação dos
aeroportos, condições inadequadas de trabalho, mal tempo. Seja lá o que for é
preciso ser apurado como forma de se evitar futuras tragédias em iguais
proporções. Inquestionavelmente essa é uma resposta que se deve primeiramente
as famílias e depois a sociedade. Não se pode permitir que, mais uma vez, nosso
funesto fascínio pelo espetáculo encubra as responsabilidades devidas. Não
estamos diante de uma fatalidade, de algo incontrolável ou imprevisto, mas
diante de mais um acidente aéreo, que como qualquer outro tem motivos lógicos e
que podem ser identificados. Não estamos falando da morte de um candidato, mas
da morte abrupta de sete pessoas que foram vitimas de algo que precisa ser
devidamente esclarecido.
Há de se considerar, que assim
como os feitos do candidato, os dos demais passageiros também precisam ser
louvados ou ao menos evidenciados. Um piloto que consegue controlar uma
aeronave, aparentemente, em pane e em queda a ponto de evitar uma tragédia de
maiores proporções, precisa no mínimo ser respeitado enquanto homem, ou alçado
a condição de herói. À sua família também se deve satisfação e honrarias. Em
síntese, não deixemos que essa tragédia figure apenas como pano de fundo ao
cenário ou as estratégias politiqueiras, independente do oportunismo dos
partidos. Não é hora oportuna para substituir os mortos, é hora de luto, de
reflexão e revisão de propósitos. Uma campanha eleitoral não pode ser maior que
a vida de sete pessoas e do sofrimento de tantas outras envolvidas ou implicadas
no acidente. A vida humana não pode ter menos valor que interesses políticos,
pois isso seria no mínimo indigno. Assim, que estejamos de luto não pelo
fantástico do espetáculo trágico veiculado gratuitamente pela mídia, muito
pelos pelo oportunismo dos ganhos ou possíveis favorecimentos ou conchavos
políticos, mas especialmente pela vitimas. Estejamos em luto pela mais pura
essência do pesar, do respeito ao próximo, da solidariedade às famílias e do
exercício civilizado da cidadania.
A todas as vítimas fatais meus
mais puros sentimentos. Que fiquem em paz. Aos familiares, meu respeito.