quarta-feira, 31 de outubro de 2012

ANDREA PEIXERADA - UMA PROSTITUTA DE VISÃO


“Onde tem buceta, cu perde!” me disse, certa vez, Andrea Peixerada, travesti recém operada que se prostitui em Recife. Tal afirmativa surgiu durante uma entrevista sobre os valores negociados no universo da prostituição masculina, objeto de minha pesquisa de mestrado. “Quem gosta de rola é frango, mulher gosta de dinheiro!” completou, sentenciando sua visão sobre as leis do mercado do sexo, sobre o qual me debruço no doutorado. Segundo sua concepção a mulher que exerce a prostituição não se guia pela lei do bem dotado, isso fica para os homossexuais que valorizam e/ou idealizam o falo. Um pênis é sempre um pênis, o importante neste tipo de mercado é a negociação financeira. Relembrei de nossa conversa ao ler o resultado do Leilão de Catarina, ou melhor, o leilão da virgindade da brasileira de 22 anos, Catarina Migliorini. O lance final foi dado pelo japonês identificado como Natsu, e alcançou o patamar de R$ 1,58 milhão. Do fato, duas constatações: 1) não atingimos o recorde mundial [ver publicação anterior]; e, 2) o mercado sexual tem fôlego para movimentar cifras estratosféricas.

Adoraria reencontrar Andrea e elogiar sua perspicácia e visão de negócio. É que paralelo ao leilão da brasileira, também foi colocado a venda a primeira vez do jovem russo Alexander Stepanov, adquirida por míseros R$ 6 mil. A oferta foi de um brasileiro que se apresentou como Nene B. Confirma-se então a máxima “Peixeriana”, onde uma vargina virgem vale muito mais que um pênis ou anus em igual estado de conservação. Se a nossa brasileirinha não nos orgulhou com a consolidação do produto nacional no mercado de ponta, pelo menos alçou o Brasil ao status de país competitivo. A virgindade brasileira nunca foi tão valorizada monetariamente. Afinal de contas, ela conseguiu manter-se entre as três mulheres mais caras do mundo, o que equivaleria a uma medalha de bronze numa espécie de olimpíada sexual. Por outro lado, nosso macho brasileiro se impôs e conseguiu a façanha de oferecer o maior michê que já ouvi falar no universo da prostituição masculina. Quanto vale a virilidade de homem?

Desculpem se me equivoco ao pensar que falamos sobre prostituição, afinal a façanha foi promovida pelo site Virgins Wanted, de uma empresa de entretenimentos. O curioso é que “Wanted” é uma variação ou derivação de “Wantid”, adjetivo que serve de referência ao indivíduo procurado pela polícia. Assim, no meu parco inglês, acredito que o trocadilho sirva como brincadeira para alguma espécie de “procurando virgens”, ou coisa do gênero, base ou mote do programa televisivo a ser transmito ao vivo pelos canais por assinatura. Finalmente o mercado do sexo chega para alavancar pontos do ibope. Sexo e dinheiro sempre despertaram atenção e fascínio, logo, o programa tem tudo para dar certo e virar mania, também entre os brasileiros. Ou alguém assiste ao Big Brother Brasil esperando ver apenas intrigas? Não se enganem. Em pouco tempo a iniciativa da jovem catarinense se apresentará como interessante alternativa as e aos nossos jovens empreendedores/as, estimulados pela busca de “oportunidades”.

No tempo de crescimento da economia tudo vira consumo, inclusive os corpos. Ontem, por exemplo, o programa “Profissão Reporte”, da Rede Globo, tratou da vida das mulheres brasileiras que deixam o país para exercer a prostituição no exterior. Uma das entrevistadas chamou a atenção por evidenciar as práticas sexuais comerciais enquanto atividade remunerada viável e livre de qualquer criminalização. “Este corpo é meu!”, disse ela. O corpo comercializado também se torna instrumento de trabalho, como em qualquer outra atividade profissional. O que se diferencia é a área ou região do corpo. Vendemos nossos olhos, nossos braços, nossa inteligência, nossa beleza, em atividades reconhecidas e aceitas socialmente como profissões honrosas. Vendemos nossa produção através da nossa força de trabalho. Será realmente tão diferente se vendermos sexo? Particularmente acredito que não. Desde que, logicamente, as práticas sexuais comerciais se dêem de forma autorizada, através de pessoas conscientes, tanto por parte de quem vende, como de quem compra prazer sexual. Uma coisa é exercer a prostituição de livre e espontânea vontade, ou pelo menos consciente de suas implicações; outra coisa é ser colocado/a em situações de prostituição, e/ou, exploração sexual. Isso sim, se configura como crime, como qualquer outra forma de exploração da força de trabalho humana.

A diferença entre Catarina e as prostitutas profissionais, talvez seja a percepção ou entendimento sobre as formas de exploração sexual, as quais muitas vezes, estão, ou estarão expostas. A questão em pauta aqui não é a comercialização do corpo, mas o agenciamento que se traduz em cafetinagem, mesmo sendo ela adulta e responsável por suas ações. Traduzindo: se Catarina ganha mais de um milhão com a comercialização de sua virgindade, ótimo, mas quanto ganha à rede de exploração [ou produção] por atrás dela? Pela estratégia do entretenimento o crime de transgressão ganha à autorização e a legitimidade popular. No campo das contradições humanas a prostituição mantém-se e é mantida como objeto da diversão. No caso da Catarina, não é só o japonês quem paga, mas todos que ligam seus aparelhos para se divertir à custa da força de trabalho alheio. Mas a mesma atividade comercial que diverte, envergonha, e por isso é mantida na marginalidade. Como disse a entrevistada do programa: “ninguém quer ter uma filha prostituta. Ninguém quer ter uma mãe ou esposa prostituta...” mesmo que se usufrua direta ou indiretamente de seus ganhos.

A grande questão, ou contradição, é que moral será sempre social. Mas esquecemos que para a manutenção do jogo da hipocrisia alguém sempre assumirá o “trabalho sujo”. Neste sentido, é a “sujeira” do outro que me purifica. Como bem disse Andrea Peixerada, “a hipocrisia social mantém o mercado do sexo vivo”. E este sempre alimentará os mais secretos, obscuros e inconfessáveis desejos, fantasias e taras, inerentes e comuns a sexualidade humana. Assim, quanto vale o SEU desejo?

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

O APAGÃO DO RECIFE


UMA CIDADE SEM GRAÇA!

E de repente a noite apagou a cidade. Prenuncio do fim dos tempos, ou simples anuncio dos tempos ruins? O breu libertou o grito; o grito, o horror. E este era de medo. Era quase meia noite e não havia lua, muito menos estrelas para iluminar as trevas. Um Estado de inércia. Mas Recife, tudo logo vira festa e histeria, por isso, janelas flamularam chamas opacas enquanto a algazarra tomava conta das ruas. De longe pareciam pequenos balões quadrados subindo aos céus. As silhuetas se tornaram negras. Talvez por isso digam que no escuro todo gato é pardo. E Recife é uma terra de pardos, mistura dos negros, brancos e índios. Essa mistura toda só podia dar nisso. Bando de gente nervosa e passiva diante das calamidades. Diante da noite onde espectros sombrios vagaram a ermo.
Nessas situações, a ameaça da morte sempre ronda os becos. Era quase meia noite e não havia lua. Menos mal. Sinal de que o lobisomem não correria avenidas. Mas quem precisa de terríveis personagens lendários se em noites mal iluminadas homens se transformam em bichos? Nas noites de sustos qualquer sombra se torna fantasmagórica. E nesta noite, elas dançaram nas paredes altas assombrando prédios. No cruzamento o amarelo piscava fosco. Era um sinal para ficar atento aos percalços de uma noite desprotegida. Deu uma hora da madrugada e não havia viaturas. Nem suas sirenes se ouvia. Por isso se acendiam velas. Línguas de fogo bailando ao vento. Seria poético se não fosse o medo dos corpos encolhidos nas calçadas. Pessoas enroladas em jornais de notícias obscuras. A noite estava cega em informações. Ninguém sabia de nada. Ninguém via nada. Somente a espera se prolongava por horas a fio.

Havia um pavio que queimava no velho candeeiro. Isso me lembrou o Sertão. Mas lá só se teme a fome. Aqui não, aqui tem o homem. Por isso, o perigo não está na noite, mas nos vagantes gatunos. Seres noturnos que se apossam dos corpos. Que tiram vidas e fogem das câmeras. E como tem câmeras nessa cidade. O problema é que toda rua tem um ponto cego. E nestes a morte espreita com a foice em riste. Melhor evitar os becos em noites sem estrelas. Se aglomerar para contar faróis apressados. No Recife é assim, tudo vira festa e risco ao mesmo tempo. Por isso as pessoas gritam. Por isso crianças choram. Velhos lamentam, mulheres correm.
Quase duas da madruga. Só o prenuncio do caos. Era cada um por si e Deus por todos, ou por ninguém. É assim quando a cidade não tem governo. O Estado da calamidade autoriza a violência pública. Em noite sem lua tudo vira festa e histeria. Até quem deve proteger se esconde. Melhor trancar as portas, correr as chaves. Ficar a mercês de um estado de graças. Não, não vale a pena depender de um Estado de graça, sem graça, perdido no breu escuro que, muitas vezes, apaga vidas.

O medo da noite apagou o Recife. Prenuncio do fim dos tempos, ou anuncio de tempos ruins? Quantas noites faltam até janeiro? Quem conta ânsia por mudanças. E em Recife mudança é coisa urgente. Porque quando tem apagão, o breu liberta o grito; o grito, o horror. Foram mais de quatro horas nas trevas. Amanheceu o dia e não havia lua, muito menos estrelas. Não havia nada, inclusive segurança. Somente a longa espera por mais um dia de incertezas.

Era fim de madrugada, e a luz finalmente, se fez por si mesma. Mas uma vez a cidade ficou na graça. De graça! Sem graça! Mas Recife está assim. Uma cidade desgraça!

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

TRÊS MULHERES E UM HOMEM?

QUATRO JOVENS ANDANDO PELAS TARDES DO RECIFE

O sol estava quente e a tarde abafada. Apesar da claridade nuvens escuras se amontoavam no céu sinalizando mal tempo. O calor subia do asfalto e se juntava ao monóxido de carbono asfixiando garantas. Carros somavam filas enormes e impacientes reclamavam passagem. Era o Recife congestionado em ruas estreitas. Era a cidade paralisada, esquentando os miolos. Ando buscando sombras, fugindo dos raios que queimam a pele. Chegou o verão, e agora um amontoado de gente parece elevar ainda mais a temperatura. Apressadas enxugam o suor nas palmas das mãos, secando-as nas roupas. Essa gente não tem mais olhos? Em seus lugares, duas películas escuras, que hora assumem formas arredondadas, hora ovais, quadradas ou retangulares, substituem as iris. Todo mundo fica marrom diante destas lentes. Olhando assim, a cidade parece acromática, como num postal antigo, numa foto amarelada pelo tempo. Tudo assume um tom âmbar. Até as pessoas ficam pálidas.

A minha frente visualizo três mulheres e um homem que se mostram indiferentes a ebulição. Parecem absorvidos em suas histórias, em suas cumplicidades. Três mulheres e um homem andando pela tarde. Nada mais corriqueiro e desinteressante. Só mesmo quem não tem o que fazer poderia se prender a pequenos detalhes. O que seriam eles? Amigos? Não nego que a curiosidade me apressou os passos. Confesso até que tenho essa certa mania de bisbilhotar vidas alheias. Certo voyeurismo, comum aos metropolitanos. Me pego indagando sobre suas vidas. Para onde estaria indo o tal quarteto? O que fariam após sumir de meu ângulo de visão? Atenho-me as silhuetas na busca de identificar identidades. Três mulheres e um homem à frente, um bisbilhoteiro atrás aguçando os sentidos.

Uma era loura e cheia. Tinha cabelos curtos, na altura dos ombros, alisados a pouco, que lhe conferiam um ar arredondado a face. Usava um short apertado que se mostrava pequeno para conter nádegas tão fartas. A segunda, ao seu lado direito, era morena, alta, de corpo esguio. Tinha pernas longas e bem torneadas que se perdiam nas bainhas de um mini vestido de lycra, pinçado, que lhe revelava as costas. Os cabelos balançavam ritmados ao andar requebrado. A terceira era negra e de baixa estatura, mas parecendo uma criança. Uma bermuda lhe cobria as coxas, afunilando sobre os joelhos. Uma camiseta de estampas coloridas se ajustava as curvas da cintura. Nas costas, uma bolsa do tipo mochila dava vida a um pequeno macaco, cor de rosa, que balançava preso ao zíper. Seus cabelos eram crespos, penteados para o alto, mas parecendo um pica-pau. Por fim, no lado extremo da linha, o rapaz parecia forte devido a quantidade de roupas sobrepostas. Usava uma camisa azul, de jeans amolecido, sobre uma camiseta de malha preta com mangas longas, mal enroladas até os cotovelos. Tinha cabelos curtos e escuros, quase totalmente encobertos pelo boné vermelho. As pernas, levemente arqueadas, pareciam perdidas no interior de uma calça larga que lhe descia até os sapatos.

Na verdade eram pessoas comuns. Não havia nada de atrativo ou estranho que pudesse despertar minha atenção. Se não fossem tão jovens diria que bem poderiam compor uma família tradicional, formada por uma mãe, duas filhas e um pai. Mas não eram. Seriam irmãos ou apenas amigos? Acelerei novamente os passos na tentativa de alcançá-los. Aproveitei o pretexto de que andavam em linha para não ultrapassá-los. Na verdade nem haveria espaço, caso não quisesse esbarrar em um deles. De repente uma voz anasalada pontuou: - “Então a gente se encontra mais tarde no shoppen! A senhora vai, né môna?” Era a criança negra quem falava enquanto atravessava, em sentido a Rua José de Alencar, diante dos carros que continuavam presos em mecha lenta. “Só chego lá pras oitcho hora”, gritou a loura em resposta. A vozes peculiares aliadas aos dialetos específicos, me aguçaram a atenção. A conversa continuou no mesmo tom jocoso e brincalhão. “A pequena é foda mesmo. Prá ela não tempo ruim”, afirmou o rapaz. “Por isso que chamam ela Bichinha Duracel”, completou a morena de pernas longas. “Agente pode esperar na tua casa? Minha boysinha só chega lá pras seis e meia. Vou pegar ela no Mustang”, voltou a falar o rapaz. “Tu tá gamadão mesmo broder”, riu a loura, do outro lado. “A menina é maneira, é de responsa”, ele completou taxativo.

O trio agora fazia sinal de entrar a direita, pela Rua das Ninfas. Era preciso me adiantar, a fim de visualizar seus rostos. Aproveitei o momento de um abraço coletivo, que acompanhado de uma longa e alta risada chamou a atenção, e passei rente a loura. Disfarcei observar a varanda de um prédio próximo e encarei rapidamente os três. A loura era uma mulher-vaginal; a morena era uma mulher-peniana; e o rapaz, um homem-vaginal. Traduzindo, para evitar confusões, aquele trio de jovens era formado por uma mulher, uma travesti e um trans-homem. Logo, a negra Duracel era um jovem gay. Havia por fim, confirmado minhas hipóteses. Parei e pensei: É isso, Recife está pronta. A diversidade imperava tranquila e fluidas pelas ruas da cidade.

A tarde estava quente e o sol abafado. Apesar das nuvens escuras se amontoarem nos céus a claridade sinalizava bons tempos. O monóxido de carbono que se juntava ao calor do asfalto parecia não mais asfixiar aquelas garantas livres. Os carros impacientes somam filas enormes, mas não reclamavam suas passagens. É o Recife, que apesar de congestionado não se mostra estreito. É a cidade que não mais paralisa diante das diferenças e nem tão pouco esquenta os miolos. As minhas costas, quatro jovens se mostravam indiferentes e em ebulição. Absorvidos em suas cumplicidades históricas. Duas mulheres, um gay e um homem andando pela tarde. Nada mais corriqueiro e desinteressante. Só mesmo quem não tem o que fazer poderia se prender a pequenos detalhes.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

MULHERES A VENDA PELA INTERNET

Fonte: Michel Alecrin (IstoÉ, 26.09.2012)


O RETORNO DA MULHER OBJETO?

Quanto vale a virgindade de uma mulher? R$ 67,2 mil; R$ 140 mil; R$ 2,6 milhões; R$ 3 milhões; ou, R$ 6,8 milhões? Quem dá mais? E quanto vale a orientação sexual de uma filha? R$ 132 milhões? Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três! Está aberto o leilão de corpos!

Façam suas apostas. Até o próximo dia 15 de outubro, os interessados podem fazer seus lances para comprar a virgindade de uma jovem brasileira, de 20 anos de idade, estudante de educação física. “Catarina”, como se identifica, está na internet e já recebeu lance de R$ 140 mil. Segundo ela, tudo não passa de uma aventura, “um negócio”. Para concorrer ao título de desbravador da inocência perdida ou pérfida, basta ter bons antecedentes criminais e uma boa soma em dinheiro. “Em um negócio não se escolhe o comprador”, explica a moça. Contudo, quem comprar sua primeira experiência deve estar consciente que, como em qualquer prática sexual comercial, o que está à venda não é um corpo propriamente, mas apenas fantasias. Assim, tudo se resumirá a sexo, e quem arrematá-la não poderá lhe beijar a boca ou se envolver emocionalmente. Não haverá posses, pois que virgindade não se leva para casa ou se coloca a exposição no centro da sala.

A notícia tem provocado uma verdadeira celeuma em redes sociais e meios de comunicação, trazendo a tona velhos questionamentos. De um lado, os defensores da honra moral e dos bons costumes lhe apedrejam o título de prostituta; do outro, feministas se alvoroçam em destacar o caráter de violência inerente ao ato, exatamente no momento em que as mulheres conseguiram o status de independência. Opiniões a parte, “Catarina”, indiferente as críticas, parece reverter às convenções e postulados teóricos ao se posicionar diante do mundo como mercadoria. Torna-se um novo símbolo de mulher objeto. E entenda-se novo, não relativo à sua idade cronológica, ou inviolabilidade da mercadoria, no caso, a virgindade; mas por não ser esta a primeira vez que mulheres recorrem ao corpo para acessar vantagens. Basta refletir sobre os nossos velhos modelos de casamento, legal e religiosamente eternos, configurados como contratos sociais, onde a mulher sempre foi posse do marido provedor.

Mas é bom saber que antes da iniciativa nacional, Natalie Dylan, estudante americana, de 22 anos, tornou-se recordista mundial ao receber um lance de R$ 6,8 milhões. Deixou par traz garotas mais jovens, tais como Graciela Yataco, peruana, 18 anos, que recebeu oferta de R$ 3 milhões; Raffaela Fico, modelo italiana, 20 anos, que recebeu o lance de R$ 2,6 milhões; Rosie Reid, jovem inglesa de 18 anos, leiloada por R$ 67,2 mil. Será que nossa brasileirinha irá bater o Record? Em época de copa do mundo e olimpíadas nada parece mais justo ou sensato. Quanto valerá os corpos dos brasileiros durante os dois grandes eventos? O mercado está ávido por carne, inclusive humana. Dou-lhe uma; dou-lhe duas; dou-lhe três! Façam suas apostas! Até porque nas ruas do Brasil o invisível nem sempre será o que não se ver, mas apenas o que se deseja manter marginal.

Do outro lado do mundo, digamos assim, um pai bilionário oferece R$ 132 milhões para o homem que seduzir e casar com sua filha Gigi. A oferta estratosférica, maior do que vários prêmios da Mega Sena brasileira vêm de Hong Kong. O motivo? A moça é lésbica e formalizou sua união com outra mulher na França, já que em sua cidade natal ainda não é possível. Em Hong Kong a homossexualidade só deixou de ser considerado crime em 1991. “O que ela precisa é de um homem de verdade”, destaca o empresário preocupado com as repercussões do caso sobre seus negócios. Apesar dos transtornos, Gigi não se mostra interessada nas ofertas e considera a decisão do pai uma grande brincadeira. Assim, desmente a confusão salientando que não está a venda.

São duas mulheres, duas culturas e o mesmo contexto. Mulheres objetificadas e expostas a venda nas redes de exploração sexual através da internet. Se por trás da moça oriental existe um pai conservador; por trás da brasileira parece existir uma família inconsequente e oportunista. É que “Catarina” tem como objetivo participar de um documentário australiano que retratará as “mudanças emocionais que ocorrem na mulher após a primeira relação sexual”. Uma espécie de Reality Show, gravado na Indonésia. A brasileira foi apenas uma entre as tantas candidatas ao posto de pop-star instantânea e, conta com o total apoio da família. Selecionada, a virgem que só deu o primeiro beijo aos 17 anos, já assinou contrato, pelo qual recebeu R$ 42 mil. Sua noite de núpcias ocorrerá dez dias após o encerramento do leilão, ou seja, dia 25 de outubro deste ano, em local ainda não definido. Dou-lhe uma; dou-lhe duas; dou-lhe três! Façam suas apostas! Quanto você pagará para assistir ao vivo?

A idéia de que o corpo da mulher pode ser comprado e consumido parece ser tão antiga quanto à existência humana. Também não se pode negar a autonomia das próprias mulheres em dispor do próprio corpo, sejam quais forem os motivos ou objetivos. Contudo, o que se coloca em pauta, é mais uma vez, a representação do feminino enquanto objeto, enquanto ser subjugado, num emaranhado de relações de poder que se estabelecem nas, e pelas culturas. O mercado capitalista estabeleceu, e estabelece valoração financeira para tudo, inclusive para os corpos. Em qualquer atividade profissional estaremos vendendo nossa força de trabalho que resulta do corpo. O fato não se torna diferente ao passo em que a força humana esteja vinculada as práticas sexuais comerciais. Como bem destaca a consciente [?] “Catarina”, tudo não passa de um negócio. A grande questão encontra-se no fato de se avaliar sobre quem realmente ganha, ou pelo menos, ganha mais, com a negociação. Afinal, todos parecerem lucrar: a própria moça, a família, a produtora do reality show, o canal de televisão, e também, os telespectadores.

Mas devemos refletir que neste contexto, o ganhador, ou comprador do grande prêmio será apenas instrumento de toda uma sociedade que se respalda no consumo desenfreado, ensandecido e inconsequente. Os telespectadores, diretores, produtores e agenciadores (incluindo a família) também consumirão o corpo da “Catarina”. Mas será que ela própria também se consumirá? O que será da jovem catarinense após ser desvirginada em cadeia mundial, ao vivo, sob os olhares capitalistamente desejosos, obscenos e pervertidos do público? Quantos pontos no ibope atingirão os canais de transmissão? Quanto pagará cada patrocinador para vincular suas marcas no horário de exibição? Quanto ganhará os verdadeiros produtores do tal documentário, que pode ter todos os objetivos, menos caráter científico? Quanto, e principalmente, o que ganhará a sociedade? Façam suas apostas! Dou-lhe uma; dou-lhe duas; dou-lhe três!

A insensatez do ato em si não se mostra diferente da que respalda a exploração sexual mundo afora. Quantas crianças e adolescentes são desvirginadas a olhos nus, cotidianamente em nossas cidades? Coisas diferentes? Quanto se paga pelo corpo de uma menina ou menino em Recife, por exemplo? R$ 10,00; R$ 5,00; R$ 2,00: um prato de comida? Um cachorro-quente? Um tênis? Uma roupa nova? Uma noite de sono? Continuem suas postas! O que se consome no mercado do sexo, onde de forma transgressora, crianças e adolescentes de ambos os sexos, são traficadas, aliciadas ou comercializadas livremente, não é a virgindade, mas o sentido ou representação de pureza, de inocência, de inviolabilidade, de intocável, de sagrado, de iniciação, de “lacre”. É a condição ou estado físico que é transformado em mercadoria. O corpo é subjugado e dinheiro torna-se apenas o mediador ao caráter de violação humana. O que importa é infringir a norma, e por isso se paga muito ou pouco, pois que o monetário torna-se instrumento de autorizo. Só existe mercado por que existe consumo. Só se constroem mercadorias porque existem as demandas. E estas, somos nós, sociedade, que estabelecemos, incluindo a definição de seus valores ou valorações. Quanto vale o corpo de uma criança? Quanto custa a inocência dos inocentes? Quanto à sociedade está a fim de pagar, e arcar, pelas consequencias de seus atos? Quanto, realmente, “Catarina” ganhará com tal exposição?

Façam suas apostas! Dou-lhe uma; dou-lhe duas; dou-lhe três! Corram para frente da televisão, pois vai começar o show. Caso prefiram algo mais picante e apimentado direcionem seus olhares às ruas de suas cidades, pois que milhares de “Catarinas” estarão à venda enquanto durar o programa televisivo. E nestes casos, especificamente, os “programas” durarão o tempo da sua inércia, da sua indiferença, da sua inversão de valores, da sua violação. Mas depois, se puder, reflita sobre quais produtos você está criando demanda. Sobre quais corpos está colocando a venda. O mercado está aí para lhe servir. Afinal de contas, o mercado e o capitalismo dos corpos nada são do que criações humanas que satisfazem e se alimentam dos nossos próprios desejos. E você, é humano? Então, boa programação. Quem sabe o próximo corpo a venda não será o seu, o do seu filho[a], do seu sobrinho[a], do seu vizinho[a]...?

Dou-lhe uma; dou-lhe duas; dou-lhe três! Façam suas apostas!

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

ELEIÇÕES 2012 - O RECIFE AMARELOU...

... E O RECIFE ACORDOU AMARELADA EM SUA HISTÓRIA!

... E o Recife amanheceu calmo. Manso como um bêbado de ressaca. O sol parecia encadear suas entranhas, anunciando um dia trôpego, que se arrastaria preguiçoso. Em tuas ruas não havia cores. Não havia bandeiras. Não havia ruídos. Não havia pressa. Eras, uma cidade vazia em si mesma. Desolada, sufocada com um nó na garganta. Tua gente andava cabisbaixa e não se mostrava amistosa. Parecias não querer conversas, nem tão pouco, brincadeiras. Eras o semblante do cansaço. A evidência do fracasso ideológico. Estava no rosto dos abandonados. Na cara dos desiludidos. Na face dos vencidos. Era uma procissão de derrotados.

... E o Recife acordou desbotado. Pálido como quem sangra até a morte. Nas tuas ruas não havia forças. Não havia guerra. Não havia gritos. Não havia resistência. Apenas um lamento tragado lhe cortando a goela. Eras uma cidade vazia de si mesma. Massacrada pela humilhação em sua história de lutas. Arrasada na desolação de mulher traída. Derrotada em seu desamparo. Sozinha e sem forças. Abandonada, entregue a própria sorte.

... E o Recife acovardou a revolta. O sol empalideceu o sangue de teus filhos. Já não tinhas viço. Já não tinhas tino. Já não tinhas cor. Era a sangria desatada em praça pública. Mas já não havia praças, e muito menos público. Ninguém quis ver tua derrocada. E por isso se esconderam na vergonha. Apressaram-se atrás das portas. Vedaram tuas janelas temendo a insolação. Apagou-se a insurreição e por isso os teus se cobriram nas camas. Não havia choros, nem lamentos. Apenas o silencio dos desvalidos.

... E o Recife acomodou a derrota. O sol se fez grande e pisou soberano sobre o vermelho das veias. Teu sangue correu as valas. Inundou os rios para se perder no mar. E o teu mar já não está pra peixes, muito menos pra Lulas, pois que estes foram os primeiros a correr e a abandonar as redes. Deixaram só os pescadores. Abandonaram teus arrecifes, como náufragos em tempestade. Negaram teu passado e traíram acordos.

... E o Recife despencou ressacado. Morreu na praia como um bêbado vazio de lutas e de vida. Como uma velha puta apedrejada no areal. Com batom borrado. Queimada no vermelho que há muito não tinha cor. Não tinha boca. Não tinha voz. Não tinha vez. O sol descamou tua pele, revelou tuas cascas, escarneceu tua crosta. Eras, agora, uma puta sem Costas, e muito menos, lastros. Desamparada e vadia. Vazia de si, de tudo e de todos.

... E o Recife amarelou em um dia em que o sangue correu das veias, percorreu as valas, sujou os risos para se perder no mar. No mesmo mar que agora bate a tua cara e lhe salga a carne, cicatrizando as feridas. O mesmo mar que, agora dourado, quebra em tuas pedras para te trazer a vida. Tua vida que se refaz por si mesma, pois que sempre serás a fênix do Norte. Pois que sempre serás forte, independente dos homens das cores efêmeras e vazias. Pois que sempre serás a grande mãe dos homens de cores puras. A grande deusa dos românticos poetas.

... E o Recife amanheceu amarelo. Que o sol ilumine teus dias, teus filhos, tuas ruas, para fazê-la novamente a cidade luz.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

ELEIÇÕES 2012 - UM SEMÁFORO DE POSSIBILIDADES VIÁVEIS?




VERMELHO, AMARELO OU VERDE? O SINAL ESTÁ FECHADO! A CIDADE ESTÁ PARADA!

Quando criança eu gostava de ver o trem passar, cortando a principal estrada que atravessava minha pequena e suburbana cidade. O bicho mais parecia parti-la ao meio. Era progresso chegando, diziam os moradores locais. As pessoas paravam na rua empoeirada, de um lado e do outro, contando os vagões que rangiam sobre os trilhos. Era preciso esperar para seguir caminho. Aquele trem, que eu nunca sabia de onde vinha e, muito menos para onde ia, era um símbolo de força. Pela janela frontal via um homem com um quepe preto e uma jaqueta azul marinho. Era o maquinista. As autoridades também usavam quepes e jaquetas escuras. Logo, aquele homem era autoridade, pensava eu. Ele era o dono do destino, dono do caminho. Não podia ser interrompido e todos tinham que lhe dar passagem. Quando passava sacolejando e apitando desaforos, o veículo ameaçava atropelar a quem resolvesse desafiá-lo. Às vezes parecia que fumaçava de tanta raiva diante das tentativas de desobediência. A estrada ficava repleta de carros, caminhões e ônibus, todos parados. Dentro deles, milhares de pessoas aguardavam inquietas. Era o progresso interrompendo a vida das pessoas. Por isso, se mostravam pacientes.

No exato momento em que cortava a estrada, os trilhos formavam um cruzamento que desenhava um grande “X”. Aquele era o X da morte para algumas pessoas. O X da espera para tantas outras. Parecia contraditório que o progresso pudesse interromper o próprio progresso. Era o X da questão que não saia de minha cabeça. Lógico que na época não entendia de política, pois isso era coisa para os grandes e letrados; mas acho que já entendia de injustiça social, afinal sofria na pele o desrespeito dos poderosos que atravessavam vidas. Ao lado do cruzamento, em ambos os lados da estrada, havia duas velhas placa onde se podiam ler as advertências: PARE! OLHE! ESCUTE! Era um aviso para aguçar os sentidos diante das ameaças do progresso. Acho que as pessoas do local não estavam preparadas, muitas nem sabiam ler, e muito menos escrever. Por isso, o progresso continuou matando muita gente. Nestes casos, a população se reunia, chorava e até reclamava, mas depois se acalmava e aceitava, pois que era preciso não interromper o “país do futuro”, ainda que algumas vidas precisassem ser sacrificadas. Com o tempo, foi instalado neste cruzamento da morte um semáforo. Uma novidade - Benfeitoria do progresso - pensava os inocentes moradores. Era um sinal de que as coisas iam mudar. Na verdade era apenas um sinal de condicionamento, pelo qual deveríamos respeitar o poder. Quando ele ficava vermelho era preciso parar e esperar o comboio passar. Quando ficava verde a estrada voltava ao normal e as pessoas podiam seguir seus caminhos. Porém, sempre, entre o esperar e o avançar, surgia uma luz amarela solicitando atenção e cuidado. Cada cor era um tempo. Cada cor era um comando. Mas todas tinham o mesmo objetivo: conduzir nossas vidas.

Há muito não volto ao bairro onde cresci. Já nem sei se o tal trem continua cortando a cidade e controlando a vida das pessoas. Mas sei que o progresso ainda não chegou por lá. Na verdade aquele trem nunca parava naquelas terras. Acho que o que se chamava progresso não cabia ali. Era apenas passagem, talvez por isso a vida lá tenha continuado igual. Um monte de gente parada diante de uma estrada empoeirada. Mesmo distante nunca esqueci o cruzamento e sempre relembro a essência da sinalização quando vejo um acidente ou escuto uma freada brusca no cruzamento, que agora visualizo em frente a minha janela. A cidade é outra, o cenário é outro, mas o contexto é o mesmo.

É que no centro do Recife, onde moro atualmente, também tem cruzamentos da morte. São os vários “X”, das várias questões que continuam sacrificando vidas. Aqui tudo é múltiplo, amplo e magnânimo, mas o progresso parece ser tão pequeno quanto o da minha antiga cidade suburbana. Aqui também, quem não respeita os comandos coloridos corre o risco de arcar com as consequencias. Neste sentido, a cidade grande não é diferente das pequenas cidades esquecidas, por onde o progresso apenas passa, mas nunca chega. Aqui não passa trem, mas passa comboio durante as eleições. Por isso nossos caminhos continuam controlados. A cada quatro anos nossas vidas param em nome do progresso que nunca chega.

Como vivemos na era da modernidade, não se dar um passo sem ser visto, acompanhado, monitorado. Agora estão instalando olhos automáticos nos corredores do meu prédio. E tudo se justifica em nome da segurança. Vivemos em uma espécie de cidade sitiada. As pessoas se reúnem, discordam, choram e até reclamam. Mas depois aceitam a ditadura antidemocrática do progresso. Assim é o Recife. Uma cidade com sinal fechado. Paralisada no meio do nada. Entulhada de lixo, repleta de resto de gente desfigurada pelo crack, repleta de problemas e desigualdades sociais, engarrafada e suja. Talvez seja o maior exemplo de que vigiar e monitorar problemas, não significa resoluções eficazes. Eis os “X” das questões.

Neste próximo domingo tem eleições. Vamos escolher o novo prefeito e os vereadores, que terão mandato de quatro anos. Há quatro anos o Recife parou! Há quatro anos se espera mudanças! Há quatro anos a prefeitura deu as Costas para seu povo! Mas neste domingo teremos a chance de mudar a história. O problema, ou o grande X da questão, é a manutenção das velhas cores de comando: vermelho, amarelo e verde. Estamos novamente parados diante do grande semáforo controlador de vidas. Metaforicamente, o Vermelho, desgastado pela inércia de quatro anos de uma gestão ineficiente, tenta renovar seus votos; o Amarelo sugere mudanças faraônicas; e, o Verde, camuflado, proclama inovação. Cada cor representa um homem. Cada cor representa um comando. Mas todos têm o mesmo objetivo, controlar nossas vidas. São todos, homens e partidos, cúmplices e devotos de um progresso que não beneficia a todos. Na verdade acho que não devotos a nada, são apenas homens “De´Votos”. Homens e partidos que se beneficiam de um analfabetismo político, implantado e mantido por eles próprios.

Assim, a eleição de 2012 se apresenta como um novo ponto de partida. Os partidos são as locomotivas, repletas de pessoas “loucas-emotivas” e enfadonhas. Pessoas que cheiram a mofo. Que representam a máquina chamada governo. Que prometem o futuro, mas que representam o regime político do passado. Por isso, é preciso decidir. Porque o futuro já começou! O futuro é agora! E neste sentido, nem sempre futuro será sinônimo de progresso. Dizem os mais velhos que o futuro a Deus pertence; pregam os sábios que o futuro é temerário, incerto e imprevisto. Alardeiam os políticos, de forma pretensiosa e equivocada, que o futuro está em suas mãos. Porém, penso que o futuro é uma questão de escolha pessoal. O futuro pertence ao povo. Será? Indecisões a parte, uma coisa eu sei, uma coisa é certa, dele ninguém escapa! Até porque, mesmo carregado de mistérios, ele sempre se fará presente no exato momento em que este, se fizer passado. São três tempos que regem o mundo. São três dimensões que se interligam, onde um será sempre resultado ou consequência do outro. Em frações de segundos o passado vira história para transformar o presente em realidade e o futuro em destino. Ninguém pára o tempo, ninguém o controla. A mudança dos tempos não respeita as estações, muito menos os ponteiros. O tempo se faz por si. Por isso é urgente. Por isso é preciso!

Segundo Camons, preciso mesmo é navegar, pois que viver nunca o foi ou será. Então a vida não é precisa, o homem não é preciso. Não existe precisão na, e para, a existência humana. Dessa forma, penso então que se não existe precisão no futuro, que ao menos se estabeleça sua previsão. E prever não é coisa de vidência, mas uma capacidade humana. É competência natural. Olhamos para o céu e sabemos se irá chover. Isto é previsão. Não nos tornamos meteorologistas por isso, muito menos mágicos. Prever o futuro é uma das tantas habilidades que nós humanos possuímos. É uma capacidade intrínseca ao homem, pela qual revisitamos o passado para organizar os dias vindouros. Nossas experiências se tornam referencia para a ação presente, e assim, evitamos as intempéries. Assim, aprendemos a calcular, ou no mínimo supor, os resultados e/ou consequencias de nossos atos. Por isso nos fizemos homem. Por isso nos fizemos racionais. Em tempo de eleições a coisa não é diferente, pois que a previsão exige precisão. O resultado de uma eleição não se decide na hora, na boca da urna, na contagem dos votos. Mas se estabelece no ato consciente de se rever o passado, considerar o presente e olhar para o futuro.

Como era o Recife? Como está o Recife? E principalmente, como será o Recife depois do dia sete de outubro? Quais perspectivas e possibilidades se apresentam ou nos restam? Dizem que errar é humano, porém entendo que permanecer no erro é burrice. Sem sombras de dúvidas a escolha não parece nada fácil. Afinal teremos que nos decidir entre um administrador que diz fazer tudo; um médico que diz entender de gente; e, um pretenso ideologista que se diz verde. Se pensarmos bem, o quadro que se apresenta não é verdadeiramente democrático. Estamos diante da manipulação política e midiática mais uma vez. Nada muito diferente dos pleitos passados. Mudaram os atores, mas o cenário, e principalmente os patrocinadores são os mesmos. A história mantém o mesmo enredo dos sucessos eleitoreiros anteriores. Vivemos ainda na era do voto-cabresto. Somos boi de pasto, servindo de guia aos ferozes touros selvagens. Como nas novelas, nunca o “remake” eleitoral esteve tão em moda. Nega-se o espaço a criatividade e ao novo em nome do mesmismo e da manutenção do poder. É uma batalha entre o que se poderia chamar de cultura dominante “X” cultura de massa, ou cultura alienada. Eis um outro e importante X das questões urgentes!

Pensar como era o Recife, talvez não seja exercício fácil, pois que parecemos ter memória curta. Além do mais, não estamos acostumados a enxergar além do nosso próprio umbigo, o que nos leva a votar por interesses pessoais e nunca pautados no bem coletivo. Contudo, analisar como a cidade se encontra atualmente torna-se extremamente possível. Basta uma pequena volta pelo centro para se verificar os danos causados por um governo que deu as Costas para o povo. Depois de seu tão esperado e previsto afastamento das urnas concretizou-se o que já se sabia, o que já se esperava – o covarde abandono total da gestão pública. O Recife transformou-se em um verdadeiro inferno. A cidade se arrastará por mais três meses até que o grande vilão desapareça definitivamente, o que não acontecerá com suas práticas ineficientes que permanecerão impregnadas por muito tempo ainda. São as consequencias das escolhas erradas, fruto das imprecisões, da falta de previsões populares. Resultado do analfabetismo político.

Então, sugiro começarmos agora o exercício da previsão. Já temos um passado onde um bom gestor produziu um súdito que lhe prometia fidelidade. Porém, como na ficção, a criatura se rebelou contra o criador, passando a acreditar que tinha vida própria. No presente momento, o antigo bom gestor volta ancorando um candidato, que por coincidência possui o mesmo sobrenome, do qual se espera não sofrer, futuramente, da mesma síndrome da metamorfose cinematográfica, passando de médico a monstro. De outro lado, apresenta-se o campeão das anedotas e chacotas do Facebook, também produzido por um bom gestor. Um não tem passado político, por isso diz que fez tudo e que fará muito mais. O outro tem passado, mas não tem carisma e nem capacidade de convencimento. No meio desse emaranhado embaçado de possibilidades viáveis, surge um terceiro candidato a De´Voto. Um coelho da cartola mágica, que promete façanhas mirabolantes. A falsa ideologia ecológica é convocada para encobrir o passado do atual partido. Quem promete mais nesse jogo de esconde-esconde? Quem vai para o segundo “round” eleitoreiro? Quem se coligará com quem para derrotar o adversário? Quem é verdadeiramente adversário nessa luta de compadres? Nessa briga de amigos? Será o X da questão?

Continuemos então com as previsões. Se no segundo turno a batalha se der entre PT e PSB, o que parece improvável, para que lado saltará o pequeno roedor ecologicamente camuflado? Será que voltará para a cartola e aguardará o próximo espetáculo; ou fará alianças inimagináveis contrariando a ideologia partidária? Será que nos tempos atuais ainda existe ideologia partidária? Se a briga for entre PSB e PSDB, o mais provável, com quem o PT se aliará? Se for com o primeiro grupo de amigos não justificará tanto barulho causado pela horrível e antiética lavagem de roupa que causou o racha interno; se for com o segundo, aí sim, poderá transformar a eleição em um grande circo. Seria a confirmação do antigo modelo, pão e vinho aos pobres. Nada muito diferente do que já se faz, porém agora de forma declarada publicamente. Penso então, que se as previsões não são boas, a precisão deve ser de mestre. Até porque quem gosta de promessa é santo. E estes não são candidatos. E os homens que se apresentam não são devotos, mas unicamente De´Votos! A dica é analisar os planos de governo e fazer valer o voto. Lembrando que uma eleição não termina na urna, mas se estende por todo o período de gestão do candidato eleito.

A transparência política é a mais forte arma aliada da democracia. Um gestor eleito pelo voto direto precisa e tem a obrigação de trabalhar para o povo. O povo, por sua vez, tem a obrigação de monitorar e acompanhar a aplicação dos recursos públicos. Será que seria o caso de se instalar uma câmera na sala do futuro prefeito? Será que assim poderíamos vigiá-lo, ou melhor, monitorá-lo de perto? Não é isso que prometem fazer com a população caso ganhem a eleição? Então democracia não é para todos? Ou ainda estamos no tempo dos dois pesos e duas medidas? É preciso entender que quem assume cargo público presta serviços à população, pelos quais será devidamente bem remunerado. Desta forma, nós, cidadãos, estamos fazendo um negócio ao aplicar nosso dinheiro na seleção e contratação, por tempo determinado, de um excelente profissional que assumirá a gestão. Político que faz favor não é político de verdade, é politiqueiro. Quem faz de verdade não se vangloria, pois apenas cumpre suas obrigações. Por isso, se a coisa está difícil e você não teve tempo de fazer as devidas previsões, não seja impreciso no ato de votar. Dizem que ajuda muito, quem não atrapalha. Então, escolher entre o candidato menos ruim e o pior não é exercício de cidadania, e muito menos da democracia. Para os indecisos ou desavisados, o voto Nulo também se apresenta como possibilidade, inclusive de registrar seu desagravo diante da situação.

É bom não esquecer, que o verdadeiro X da questão atual é o voto consciente. Até porque, dependendo do resultado o trem do progresso pode continuar desviando o caminho, e logicamente os recursos públicos, e nunca chegar ao Recife. Ou, em pior situação, o único comboio que cortará a cidade pelos próximos quatro anos será o velho trem da alegria! Aquele que transforma a máquina pública em espaço da felicidade de poucos. A eleição de 2012 é um grande semáforo! O sinal continua parado! A cidade continua abandonada! Vermelho, Amarelo ou Verde? Qual sua cor? Qual o seu comando? Quem será seu homem De´Voto? Qual será o seu voto consciente? Se não tem certeza, melhor apagar todas as cores. Não vote neles, vote Nulo. Afinal de contas, quem vive em dúvidas sobre os partidos é a Diana. E eleição não é pastoril. É coisa séria. É precisa! Como nunca será a vida ou o futuro!