quarta-feira, 29 de agosto de 2012

GUIA ELEITORIAL - O MELHOR PROGRAMA DE HUMOR DA TELEVISÃO BRASILEIRA



FICHA LIMPA:
A HORA DE DECIDIR O NOVO RUMO DA POLÍTICA BRASILEIRA!

Sabiamente diz um amigo meu: “o horário eleitoral é o melhor programa de humor da televisão brasileira”. Dizem que brasileiro é criativo e zombeteiro. Não restam dúvidas. Neste sentido, o guia eleitoral [como sempre] vem se configurando como melhor momento para boas risadas. Fica difícil, ou quase que impossível, decidir em quem votar diante de tanta piada de mau gosto. Se o parâmetro for promessas, talvez seja melhor apostar nos santos, pois quem sabe estes consigam efetivar milagres e transformem em realidade as tantas propostas de mudança. Mas, se o parâmetro for confiabilidade transmitida pelos candidatos a coisa se complica. Não deixam de ser hilárias as performances adotadas por alguns pleiteadores aos cargos da câmara municipal, isso sem falar dos que se propõem a substituir o pior prefeito do Recife, em todos os tempos. O tom farsesco adotado pela maioria revela o embuste dos discursos.

Neste sentido, todos os recortes, tais como etnia/raça, etário, gênero, orientação sexual, classe social, servem como instrumentos às bandeiras das falsas ideologias. Por sua vez, ser pobre, vítimas das exclusões sociais, assalariado, analfabeto funcional, dona de casa, ambulante, ex-mendigo ou da classe operária torna-se mote para solicitação de votos. Do mesmo modo que, mostrar-se bonito, articulado, sóbrio e responsável tornam-se sinônimos de bom caráter, inteligência e seriedade política. Tem ainda os que, sem experiências concretas apelam para os antepassados. Assim, avôs, pais e padrinhos são chamados a endossar candidaturas. A dimensão família só entra no ar se for correspondente ao modelo nuclear burguês, pois que alude a tradição. E tradição é uma coisa séria para uma sociedade conservadora como a nossa. É deste modo que, ser casado com fulana de tal, ter tantos filhos [se tiver algum adotado melhor] e ter ascendido profissionalmente poderá empregar um ar de inquestionável qualificação técnica para os cargos pretendidos. Quanto maior a semelhança visual com o padrinho político - inclusive visual, incluindo corte de cabelos, roupas e trejeitos, melhor, pois que se torna referencia a uma pretensa extensão de competências e carismas. Neste aspecto, vale salientar que a disputa pela prefeitura do Recife, por exemplo, não se dará entre os candidatos propriamente ditos, mais entre as instancias de governo, federal e estadual; e isso, logicamente, inclui a máquina pública. O foco das propagandas restringe-se a convencer o eleitor a escolher entre “quem fez mais pelo Brasil” e “quem fez mais por Pernambuco”. O discurso entre situação e oposição será sempre o mesmo - o da continuidade. E neste caso não interessa se foi o verdadeiro candidato quem fez, mas a aliança que o mesmo estabeleceu com o realizador original. É o velho mote “não fiz, mas estive o tempo todo ao lado de quem fez”, o que por simbiose política me contempla e referenda.

Entre os candidatos a vereadores a coisa se torna mais burlesca ainda. Os slogans utilizados são verdadeiros convites a reflexão. Um por exemplo, diz que a cidade mandou lhe chamar. Resta saber sobre qual segmento representativo da “cidade” se refere, e para que, o mesmo foi convocado. Outro apostou no tradicional ditado popular: “de pai para filho”, como máxima do “filho de peixe, peixinho é”, onde a tradição é revisitada novamente. Neste caso específico, será necessário aos eleitores buscar conhecer os feitos políticos do genitor para referenciar o filho. O fato também salienta a luta pela manutenção do poder, transformando os cargos públicos em vitalícios através das gerações. E neste sentido, basta atentar para a quantidade de sobrenomes de peso político. Aliás, no requisito apadrinhamento, parece que virou moda aparecer no vídeo ao lado de parentes “renomados”, como se política pertencesse ao campo da genética. Se for verdade que filho de bom político, bom político é; também valerá a mesma máxima para os descendentes dos politiqueiros de carteirinha.

Um dia desses presenciei uma cena inusitada. Um determinado candidato fazendo campanha em uma boate, que prega o respeito à diversidade. Sem muita experiência no trato com as categorias excluídas, foi visível seu desconserto quando uma dúzia de travestis e gays começou a cantar proclamando: “vereador, eu sou legal! Eu sou mulher de peito e pau”. É preciso entender que estar em espaços alternativos ou desfilar em trios elétricos durante a parada da diversidade, como na campanha de dois anos atrás, não significa envolvimento com as lutas sociais de determinados segmentos da população. “Simpatia é quase amor”, mas não é amor de verdade a causa política pleiteada por quem é excluído das políticas públicas. Do mesmo jeito, se maquiar de negro não é entender de negritude, e muito menos de seus movimentos. Assim como se utilizar da linguagem de sinais não significa se comunicar com os surdos mudos. Bater fotos abraçados com pobre não é entender de pobreza, mas ao contrário, se utilizar dela para iludir o povo. Esses discursos tendem sempre a cair no vazio por falta de fundamentos, sejam teóricos ou ideológicos. É a mesma coisa que falar para mortas-fomes, de boca cheia. Quem não sente, ou sentiu a dor da exclusão, ou ainda não sofreu as consequência da falta de acesso, não sabe o que é exclusão social ou alienação do direito a cidadania. Logo, não tem autonomia para flamular falsas bandeiras.

Num cenário político como o de Recife, onde oposição e situação perderam as identidades ideológicas, se é que um dia já as tiveram de verdade, é bom pensar e repensar bem antes de depositar o voto na urna. Ao que parece, a tão propagada transformação se dará apenas em corpo físico, pois que o resto será continuação de algo ou de alguém. Pelo dito e/ou não dito, ainda aposto na Ficha Limpa como melhor bandeira para respaldar o voto. E neste caso, é sempre bom lembrar que os interesses pessoais devem ceder espaço aos interesses coletivos.

À todos/as boas e saudáveis reflexões eleitoreiras [ou melhor, eleitorais]!

domingo, 26 de agosto de 2012

RELIGÃO, FUTEBOL E POLÍTICA - FORMAS [ATUAIS] DE ALIENAÇÃO?



VAMOS DISCUTIR RELIGIÃO, POLÍTICA E FUTEBOL

Diz o ditado popular que futebol, política e religião não se discutem. Talvez seja esta uma das mais simples formas de se evitar conflitos ou acaloradas discussões. O processo de “alienar-se” nos coloca em uma zona de conforto. Três horas da tarde, o sol escaldante invade a Avenida Conde da Boa Vista enquanto centenas de pessoas seguem os gritos de um líder religioso. Comemoram-se os cinquenta anos da igreja pentecostal. A histeria torna-se coletiva e os gritos de louvação invadem a cidade. Ao longe ouço o pipocar de fogos de artifícios que prenunciam mais um dia de clássico. São as torcidas organizadas dos times de futebol, que mais uma vez se preparam para sair às ruas. Uma passeata segue alardeando a candidatura de um velho e conhecido politiqueiro. Bandeiras flamulam promessas vazias. O centro da cidade torna-se palco de concentração das tribos. Times, representantes religiosos e candidatos políticos. Torcedores, fies e eleitores. Todos conscientes ou fanáticos?

Concebe-se como fanático aquele que se considera inspirado por uma divindade, iluminado pelo espírito divino; aquele que tem zelo cego, excessivo e intolerante, de caráter religioso; o que adere cegamente a uma doutrina, a um partido; que tem amor, dedicação ou admiração excessiva por alguém ou algo. O fanatismo muitas vezes torna-se, por um processo de confusão mental, sinônimo de paixão ou entusiasmo. Fanatismo e alienação caminham juntos, sejas pelas ruas, nos templos ou nos estádios de futebol. Por sua vez, alienação, ou “alienatione”, do latim, refere-se ao ato de alheação. Para os filósofos é um processo ligado essencialmente à ação, à consciência e a situação dos homens. Processo esse pelo qual se oculta ou falsifica essa ligação para que apareça o processo, e também seus produtos, como indiferente, independente ou superior aos homens, que são em essência seus criadores. Segundo Hegel, o processo de alienação torna-se essencial à consciência, dando ao observador ingênuo a impressão de que o mundo parece constituído de coisas independentes umas das outras. Já Marx dirá que a alienação é uma situação que resulta dos fatores materiais dominantes da sociedade, e por ele caracterizadas, sobretudo, no sistema capitalista, em que o trabalho do homem se processa de modo que produza coisas que imediatamente serão separadas dos interesses e do alcance de quem produziu, para se transformarem indistintamente, em mercadorias. Para a psiquiatria a alienação mental configura-se como qualquer forma de perturbação que incapacita o homem para agir segundo as normas legais e convenções do meio social. A meu ver, a alienação se dará pela falta de consciência dos problemas políticos e sociais.

Para mim, política, religião e futebol nada mais são do que construções sociais. Constrói-se uma modalidade de esporte e seus campeonatos, como forma e sentido de prazer por extensão, assim como se constrói os deuses como forma de apaziguar os fantasmas do instinto humano. Servem como exteriorização permitida à nossa essência animal, a canalização de nossos instintos. Sem um deus não temos referencias para nortear nossas construções sobre o bem e o mal, certo ou errado, e todos os demais binômios conceituais que guiarão nossa vida em sociedade. Sem a divindade superior não realizamos nossa transcendência de animal a humano. Criamos o cristo, o buda, o shiva, os orixás, assim, como os padres, os pastores e guias espirituais, entre outros, como forma de personalizar o divino. Criamos o capeta, o belzebu e todas as entidades consideradas e/ou categorizadas como “inferiores” para nos guiar por patamares de “elevação”. Damos-lhes algo de concretude para nos sentirmos mais próximos da supremacia, menos perecíveis. É preciso se diferenciar do outro, criar os parâmetros para guiar nossos merecimentos. Automaticamente é preciso eleger os que chegarão ao paraíso, e isso se faz classificando e categorizando pessoas e grupos, através das nossas criações “legais”. Não foi assim que definimos as classificações de normalidade e anormalidade? Com a passagem do tempo nos tornamos a imagem e semelhança de uma entidade subjetiva. E já que a criamos, foi preciso também lhe dar forma, um corpo, algo palpável capaz de torná-la real. Esse ser torna-se referencia, definição para onde queremos chegar. Assim, não pode ser apenas corpo, mas também espírito, e por isso, novamente subjetivo. O milagre foi criado para preencher um vácuo de nossa capacidade intelectual, inda frágil para revelar enigmas.

O que nos torna diferentes das demais espécies é a capacidade de criação, a racionalização, pela qual elaboramos sobre falsas razões. O homem sem deus torna-se só, sem os ídolos torna-se incompleto. O ídolo minimiza a dor de nossos fracassos, deficiências e incapacidades, nos permitindo a catarse, pela qual atingiremos a purgação, a purificação e limpeza. Os deuses nos elevam a condição de eternos. Assim, o homem constrói os deuses, e simultaneamente também se constrói. Um costume se torna tradição quando deixa de ser questionado através das gerações. As tradições formam a cultura. A cultura forma, ou “formatiza” os homens. Logo, somos frutos de nossa própria criação. Por esse viés podemos refletir: Deus criou o homem, ou o homem criou Deus; assim como criou o sistema de política atual, que tem se traduzido em politicagem; bem como, o futebol, que se configura, muitas vezes, como espaço de violência permitida? Penso que quando montarmos o grande quebra cabeça, ou seja, conseguirmos responder de onde viemos e para onde vamos, acabar-se-ão os deuses, assim como as formas de alienação. Contudo, não será o fim do mundo, ou fim dos tempos, mas o início de uma nova era onde todas as construções serão reformuladas, talvez com novas concepções mais claras e justas acerca da divindade humana, e por consequência, sistemas políticos mais justos.

É tão verdade que política, religião e futebol não se discutem quanto é verdadeira a existência do papai-noel, do saci pererê e da mula sem cabeça. E neste sentido, vale lembrar que sem cabeça não se pensa. Sem pensar não se vota. Sem voto consciente e não alienado não se transforma, ou se constrói novas formas de vida e sociedade.

domingo, 19 de agosto de 2012

OS PADRES ABUSADORES SEXUAIS DE MENINOS EM PERNAMBUCO



OS PADRES:
SANTOS OU PECADORES, DOENTES OU CRIMINOSOS?

O que é um padre? Um homem santo, livre dos pecados terrenos; ou, um homem comum, que como qualquer outro, vivencia a força dos desejos? Que lugar ocupa um padre no imaginário de uma sociedade que se fundamenta nos princípios cristãos? Que responsabilidades lhe cabem no exercício de suas atribuições? Quem pode julgar um padre?

Esta semana os jornais divulgaram mais um caso de abuso e exploração sexual contra meninos cometidos por um padre. O fato ocorrido na cidade de Cabrobó, sertão pernambucano, reabre a discussão sobre a necessidade e urgência de se implementar políticas públicas voltadas a garantia dos direitos e a proteção de crianças e adolescentes do sexo masculino, em situações de vulnerabilidade e riscos sociais, vítimas do complexo fenômeno da exploração sexual.  Depois de quatro anos de investigações o padre Evandro Bezerra, que assumia suas funções religiosas no pequeno município, foi preso sob a acusação de cometer atos de violência sexual contra meninos que frequentavam sua igreja. “Segundo denuncias do Ministério Público – MPPE, o padre costuma atrair meninos e adolescentes carentes para a casa paroquial, onde praticava todo tipo de abuso contra eles. As vítimas denunciaram o caso ao Conselho Tutelar, que gerou uma investigação policial. Depois de ouvir as vítimas e o padre, a Polícia Civil indiciou o religioso por abuso sexual”, destaca a reportagem do Diário de Pernambuco, assinada pelos jornalistas Raphael Guerra e Wagner Oliveira [Diário de Pernambuco, 16.08.2012]. A comunidade local se diz perplexa diante do fato. O padre se diz inocente diante das acusações. E os meninos, o que podem dizer sobre suas dores?

O que sente uma criança violada em sua intimidade? E quando essa violação é praticada por pessoas de referência, como um pai, um padrasto, avô, tio..., uma mãe? Que sentidos assumirão as relações de poder e, quais os significados de família serão construídos a partir de então? A violação sexual cometida por um padre não se torna mais ou menos nefasta, mas traz outras implicações, que coloca inclusive em cheque o papel da igreja, e consequentemente, da religião. Neste sentido, não se pode negar o papel desta para a manutenção da ordem social. Os princípios doutrinários de qualquer segmento religioso servem, até certo ponto, de base para a consolidação dos valores morais e também sociais de uma determinada cultura, ou grupo de pessoas. Ou não foi a religião que nos ensinou o sagrado dos corpos? Não foi também a religião, junto ao Estado, que instituiu a administração da sexualidade humana, gerando e impondo à sociedade uma concepção do sexo com fins exclusivamente procriativos? Não foi, ainda, ela quem construiu as concepções de divino e pecado? Então como fica a sociedade diante da negação de princípios e dogmas tão sólidos por parte de seus representantes máximos na terra? O que sentirá uma criança violada sexualmente por um padre, um pastor, pai de santo, baba orixá, guia espiritual, curandeiro..., ou qualquer outro que o valha?

Se a heteronormatividade estabelece como máxima o sexo entre homens e mulheres, como fica a representação simbólica de masculinidade para um menino violentado sexualmente por um homem adulto?  A violação não é só corporal, mas moral e psicológica, atingindo o que se tem de “mais sagrado”, a identidade. Na nossa cultura, ser homem ou mulher ainda se mostra fundamental à constituição e à sobrevivência dos sujeitos. Infelizmente a norma não nos revela flexibilidade, ou abre espaços aos novos modelos do que é ser homem ou ser mulher. Assim, uma criança do sexo masculino violada por um homem adulto poderá se deparar com a desconstrução simbólica de um modelo social que lhe servirá para a consolidação de um desenvolvimento psicossexual maduro e saudável. O ato de violência não atinge apenas a dimensão corpórea, mas também a subjetividade, afetando diretamente a autoestima. Neste sentido, culturalmente, ser penetrado ou possuído por outro homem, principalmente adulto, o destitui da condição de macho. O menino será atingido em sua essência, tornando-se inclusive, muitas vezes, motivo de vergonha social. Quem repara os danos? A quem cabe tal reparação? A igreja, ao Estado, a sociedade? Que penalidade mostra-se justa diante do irreparável? Não que o abuso e a exploração sexual contra meninos sejam mais graves do que os cometidos contra meninas, em hipótese alguma. O que questionamos é o porquê da crueldade em mantê-los numa falsa invisibilidade se os prejuízos são tão nefastos para ambos?

O envolvimento de religiosos nos casos de abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes reabre a velha discussão sobre a pedofilia. Seria esta a principal justificativa para a ação, nada santa, dos representantes de Deus? Então porque será que a patologização do ato criminoso torna-se recorrente e senso comum nestes casos? Será que a pedofilia é uma doença contagiosa que acomete especificamente os celibatários? E quanto aos representantes religiosos não celibatários? Será que a pedofilia se desenvolve como uma doença viral que impregna as sólidas paredes de mosteiros e templos religiosos e acomete exclusivamente os frágeis homens da fé? Ou mostrar-se doente perante a sociedade atônita, e muitas vezes incrédula, parecerá menos grave do que assumir-se enquanto criminoso? Um padre “doente” poderá ser julgado e/ou crucificado do mesmo modo que um criminoso qualquer, ou estaremos pecando?  Afinal de contas, estes não são homens de bem? Não se fizeram [ou os fizemos?] representantes do divino, e por isso superiores a nós? Não são estes mesmos homens que elegemos como doutrinadores da moral e dos bons costumes? Não os mantemos, inclusive financeiramente, para atuarem e contribuírem para a prática de uma cultura de paz e consolidação de uma sociedade mais justa?  

Diante de tantas evidencias contra, principalmente a “Santa Igreja”, como fica a imagem das Instituições religiosas e de seus “seres sagrados” que pregam o castigo como recurso para fortalecimento da fé entre os fiéis? Quem nos guiará ao paraíso agora? Neste sentido, me questiono sobre o que é um padre? Homem santo, representante de um Deus imaculado e benevolente? Um ser humano comum, propenso inclusive a ceder às tentações da carne? Um homem em eterno conflito entre os próprios desejos sexuais e os dogmas que lhes outorgam o lugar de representantes sagrados? Representantes religiosos devem ser julgados pelas leis dos homens ou de Deus? Deverá ser perdoado por suas fraquezas ou condenado a pagar por seus erros? Acho que a prisão de um padre mexe com o imaginário popular sobre o “santificado” por colocar em dúvida inclusive sua existência. Terá um homem as qualidades, capacidades e competências necessárias à representação do divino? Afinal de contas, o que é o homem? Penso que se conseguirmos conceituá-lo encontrar-se a resposta para a pergunta chave – o que é um padre?

Um representante religioso que se utiliza de sua influência e importância sobre a sociedade para seduzir e aliciar crianças e adolescentes não se torna diferente dos tantos e tantos homens comuns. Pedofilia é uma doença que se caracteriza pelo deslocamento do objeto de desejo, que na vida adulta deverá estar direcionado para outro adulto, seja do mesmo sexo ou do sexo oposto. É preciso entender que pedofilia é diferente de homossexualidade, pois que nem todos os pedófilos os são, haja vista o grande número de meninas que se tornam vitimas de pedófilos masculinos. Também é diferente de abuso e exploração sexual, pois que os pedófilos só sentem atração e desejo sexual por crianças. Um homem ou uma mulher, adultos, que se relacione e sinta atração, desejo e prazer sexual com outros adultos, sejam estes homens ou mulheres, e comete violência sexual contra crianças e/ou adolescentes do sexo masculino ou feminino, não poderá ser classificado como pedófilo e sim como criminoso/a. Neste aspecto vale salientar que nem todos os representantes religiosos são pedófilos, que digam os profissionais do sexo que, em muitas situações, atendem e acalentam seus espíritos e aliviam seus desejos carnais.

Afastar um padre abusador de sua diocese ou paróquia, prática comum adotada pela Igreja Católica, não ameniza a responsabilidade da instituição que ainda não se desculpou perante a sociedade pelos tantos casos divulgados e comprovados nestes séculos de dominação religiosa. Exercer a doutrina religiosa não pode inocentar ninguém pelos crimes cometidos. Afinal de contas, o paraíso é uma criação humana que permanece distante. Que se faça a justiça dos homens, em nome e em defesa de todas as crianças e adolescentes vítimas de violência. E que assim seja sempre e para sempre! “Amém”!

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

FUTEBOL E ABUSO E EXPLORAÇÃO SEXUAL DE MENINOS





O GRANDE JOGO DA INVISIBILIDADE UTÓPICA

Só mesmo uma paixão nacional como o futebol para retirar do lugar de invisibilidade o fenômeno do abuso e exploração sexual contra meninos. Com a proximidade da Copa de 2014, a ser sediada no Brasil, as situações de vulnerabilidades e riscos em que se encontram milhares de meninos integrados as escolinhas e clubes de futebol vieram à tona através da série de reportagens do jornal Correio Brasiliense/Diário de Pernambuco, intitulada “Quando a Infância Perde o Jogo”. Revelando os dramas de crianças e adolescentes do sexo masculino, vítimas de abuso e exploração sexual, a reportagem revela, pela primeira vez, em nível nacional, os bastidores sinistros dos clubes de futebol e escolinhas de preparação de novos craques, chamando a atenção da sociedade para um fenômeno já anunciado por nós – A Invisibilidade dos Meninos, desde 2009 [ver Souza Neto, 2009a, 2009b; Viana, 2010; e Souza Neto e Viana, 2011].

O abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil é uma realidade conhecida de todos, governo, sociedade civil organizada, órgãos competentes e conselhos de proteção a criança e ao adolescente. Contudo, sempre visto e tratado como específico do feminino, por muito tempo os meninos amargaram a dor e as consequências do silencio imposto por uma cultura machista e heteronormativa. Diante da repercussão das reportagens, iniciadas nesta semana, até a Ministra Maria do Rosário reconheceu a inexistência de campanhas de enfrentamento a violência sexual com foco nas crianças do sexo masculino. Segundo ela, “Sempre tivemos uma dificuldade de enfrentarmos a exploração que envolve meninos. Essa série nos traz elementos muito importantes, até pela dimensão do futebol, para revelarmos a situação” [Diário de Pernambuco, 2012]. Se muito pouco se fez, e ainda se faz na perspectiva da prevenção, no que se refere ao atendimento e tratamento pós-traumático especializados a situação não se mostra muito diferente. No país do futebol, apenas 30% dos municípios possuem Centros de Referência Especializados da Assistência Social – CREAS, equipamento público da assistência social, responsável pelo atendimento e acompanhamento as crianças e adolescentes vítimas desta modalidade de violência. Por sua vez, os Conselhos tutelares, apesar de presentes na maioria dos municípios brasileiros, não possuem estrutura física e humana, necessárias ao atendimento da demanda. Acima de tudo é preciso qualificar e capacitar os profissionais de referência quanto às questões de gênero implicadas na problemática. Neste sentido, destacamos que a tal invisibilidade dos meninos no fenômeno da violência sexual tem se mostrado muito mais como resultado de nossa cultura, do que de fato pela inexistência de evidencias palpáveis e concretas.

De acordo com os dados do Disque 100, equipamento do Governo Federal, que registra e analisa as denúncias em todo o país, 33% dos casos registram o envolvimento dos meninos nas situações de abuso e exploração sexual. Se pouco me engano, esse percentual equivale a um terço do total de denuncias registradas, somente este ano. Pergunta-se então: a que patamares precisará chegar o registro das ocorrências para o Estado [re]ver seus posicionamentos estratégicos e não mais se utilizar de chavões utópicos para justificar sua inércia e ineficiência? Será que um terço de um determinado segmento da população é tão insignificante para se manter invisibilizado? Quando começaremos a mudar o discurso, e principalmente as práticas? Ou vamos esperar a Copa do Mundo chegar com seus impactos sociais? Para um país que já é reconhecido como rota do turismo sexual e do tráfico de seres humanos para fins de prostituição, talvez seja melhor se antecipar para não decepcionar como nossa seleção nas Olimpíadas de Londres.

A circulação de meninos pelas ruas, inseridos no universo da prostituição masculina, não é exclusivo do Recife, mas comum a todos os grandes centros urbanos do Brasil. As práticas sexuais comerciais desenvolvidas por crianças e adolescentes, que caracterizam o abuso e exploração sexual, se revelam e se evidenciam diariamente a olhos nus. É neste sentido que há muito questionamos se a invisibilidade do masculino no mercado do sexo pago é resultante de uma característica intrínseca, ou reflexo de uma falta de compromisso político e social por parte de nossos dirigentes de governo. Em 2007, iniciamos nossas pesquisas de mestrado, evidenciando o universo da prostituição masculina no centro do Recife, destacando a inserção de meninos, crianças e adolescentes, no mercado do sexo local. De lá para cá, publicamos dissertações, artigos e capítulos de livros, salientando a necessidade da efetivação de políticas publicas eficazes no enfrentamento e combate a exploração sexual, com foco na experiência dos meninos. Em 2011, com patrocino da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – Chesf e, parcerias com o Laboratório de Estudos da Sexualidade Humana – Lab-Eshu, da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE; do Centro de Apoio Social e Arte/Educação – C.A.S.A, e do Governo do Estado de Pernambuco, através de sua Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, desenvolvemos o Projeto Histórias de Menino – Panorama da Exploração Sexual de Meninos no Estado de Pernambuco, capacitando e qualificando as equipes técnicas das redes de proteção dos dezenove municípios que compõem a Região de Desenvolvimento da Mata Norte do estado. Os resultados do trabalho foram publicados em livro, distribuídos entre os municípios, órgão vinculados a rede de proteção, universidades e bibliotecas. Porém, apesar de pioneira, a iniciativa mostra-se insipiente diante da falta de estudos acadêmicos e pesquisas científicas que se debrucem sobre as especificidades da sexualidade masculina, bem como sobre os aspectos e fatores relativos às questões de gênero que mantém os meninos nesse cenário de invisibilidade. É preciso maiores investimentos nesta área, possibilitando o desenvolvimento de novas pesquisas, bem como, voltados a qualificação técnica dos profissionais que atuam na ponta, além da reestruturação e fortalecimento da Rede de Proteção. E isso só será possível através da implementação de políticas públicas eficazes, e do emprenho dos gestores públicos.

Como disse a ministra Maria do Rosário, “o Mundial de 2014 é um momento impar para combater as violações contra a intimidade das crianças e reforçar seus direitos, o que significa dar uma atenção especial as cidades onde a Copa acontecerá, nos estádios de futebol, mas também uma atenção especial a tudo que ela move no imaginário nacional, a todos que querem ser os melhores craques do Brasil, até para que eles não fiquem mais vulneráveis em universos essencialmente masculinos que são as escolas de futebol” [Diário de Pernambuco, 2012]. Mas importante que isso é despertar a consciência da sociedade para o fato de que nem todos os meninos em situações de vulnerabilidade e riscos desejam, ou ainda, têm a possibilidade de acessar as escolas e times de futebol. É preciso ampliar o foco, até porque as situações de abuso e exploração sexual contra meninos não estão restritas ao universo do futebol, mas também as outras modalidades de esportes, nas atividades da exploração do trabalho infanto-juvenil, no privado dos lares, nos espaços e segmentos religiosos e acima de tudo, nas ruas dos grandes e pequenos centros urbanos. É necessário que as verbas destinadas às ações de enfrentamento e combate à violência sexual, estimadas em 3,5 milhões para este ano, não se restrinjam as cidades-sedes da Copa, como anunciado pelo Coordenador Geral do Programa de Enfrentamento a Violência de Crianças e Adolescentes da SDH, Joseleno Santos [Diário de Pernambuco, 2012]. Afinal de contas, a Copa é um evento esporádico, com inicio e fim previstos, ao contrário do fenômeno da exploração sexual.

Independente do período de festa futebolística, é sempre bom lembrar que nem sempre o que não se quer ver torna-se invisível aos olhos.

Referências:

DIÁRIO DE PERNAMBUCO. A violência Sexual no Futebol – Reportagem de Juliana Braga e Renata Mariz, Brasil A 8, 14 e 15.08.2012.

SOUZA NETO, Epitácio Nunes. Entre Boys e Frangos – análise das performances de gênero dos homens que se prostituem em Recife. Dissertação de mestrado/Programa de pós-graduação em psicologia – UFPE, 2009a.

SOUZA NETO, Epitacio Nunes. Os Pequenos Boys de Programa – notas etnográficas sobre meninos em situação de exploração sexual. Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes – reflexões sobre condutas, posicionamentos e práticas de enfrentamento / org. Jaileila de Araújo Menezes-Santos, Luis Felipe Rios – Recife, editora Universitária da UFPE, 2009b.

VIANA, Normando José Queiroz. “É tudo psicológico/dinheiro/pruuu e fica logo duro!”: desejo, excitação e prazer entre boys de programa com práticas homossexuais em Recife. Dissertação (mestrado) Universidade Federal de Pernambuco – UFPE/CFCH. Psicologia, 2010

SOUZA NETO, Epitacio Nunes & VIANA, Normando José Queiroz. Histórias de Menino – Panorama da Exploração Sexual de Meninos no Estado de Pernambuco. Relato da experiência na Mata Norte, Recife, 2011.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

LA PROSTITUICIÓN EN LA ARGENTINA


 
Em toda a história da humanidade o sexo sempre funcionou como moeda de troca e foco de tensão das relações de poder. Dentro desses parâmetros a mulher foi dividida em duas grandes subcategorias antagônicas. De um lado, as mulheres da casa, a quem cabiam a preservação e manutenção da família, da moral e dos bons costumes; do outro, as mulheres da rua, “livres” para exercerem e vivenciarem suas sexualidades. Enquanto uma circulava [e circula] pelo espaço do privado, a outra se destina ao espaço do público. No rastro, uma torna-se privada ao assumir o papel de esposa e mãe, enquanto a outra se torna pública ao assumir o papel de puta. Uma santificada, a outra demonizada. Ambas, contudo, presas de uma norma heterossexista que as mantém a serviço dos homens. O sexo assume então duas dimensões, vinculando-se a procriação e ao prazer. A norma estabelece os locais adequados para suas vivências. O prazer é mundano, terrestre, e por isso não cabe no privado inviolável e imaculável dos lares. A procriação assume ares divinos, e por isso não cabem as mulheres luxuriosas. Neste sentido a prostituição tem se estabelecido como uma das atividades comerciais mais antigas do mundo, estando presente em várias culturas e sociedades.

Em Recife o universo das práticas sexuais comerciais tem revelado, e se revelado em novas configurações, definindo parâmetros de atualização que visam sua manutenção dentro da ordem social vigente. Territórios são estabelecidos, demarcando espaços públicos e privados sem, contudo, retirar da clandestinidade milhares de mulheres, homens e travestis, que encontram na venda dos prazeres e fantasias sexuais os meios que viabilizam não apenas suas subsistências, mais também a realização de seus desejos. Especificamente no universo da prostituição feminina, as estratégias adotadas para o exercício das práticas sexuais comerciais definem os meios e canais variados de divulgação, incluindo catálogos de “modelos” e acompanhantes de luxo, sites especializados na internet, anúncios em jornais e revistas, filmes de conteúdo pornográfico e as tradicionais batalhas nas ruas, entre outros. Diferentemente de Recife, em cidades como Florianópolis, Rio de Janeiro, São Paulo ou Londres tornou-se comum a divulgação de serviços sexuais e contatos telefônicos através de pequenos panfletos afixados em orelhões de telefones públicos, instalados em bairros periféricos ou estações de metrôs e rodoviárias.

Em Buenos Aires a mesma estratégia é aplicada por mulheres que exercem a prostituição, que ao que tudo indica não acontece em espaços públicos, mas exclusivamente em espaços privados. Também diferente de todas as cidades que tenho visitado tal estratégia não se limita a territórios demarcados como de prostituição, mas espalhados por todo o centro urbano, o que parece revelar certa institucionalização da atividade. Buenos Aires é uma metrópole, formada por largas e longas avenidas, entrecortadas por ruas, que interligam pontos e bairros distantes. Apesar da existência de uma Lei proibitiva [que não consegui identificar se é municipal, provincial ou federal], seja nas extensões da Avenida Corrientes, Rivadávia ou Cordoba; ou nas das Calle Paraná, Montivideo, Florida, Viamonte ou Marcelo T. de Avelar, entre tantas outras, é possível encontrar uma grande variedade de pequenos panfletos, coloridos ou acromáticos, recheados de fotos sensuais, onde mulheres seminuas divulgam seus serviços e valores, afixados em postes, placas de sinalização, coletores de lixo, orelhões de telefones públicos e paredes e muros de prédios antigos. Muitos destes são entregues pessoalmente por “cafetões e cafetinas”, bem como pelas próprias prostitutas, durante o dia ou a noite, em vários cantos da cidade. É a panfletagem do sexo comercial que ocorre 24 horas por dia, sete dias na semana.

Em vários panfletos constata-se o caráter privado outorgado a prostituição feminina. Também se verifica certa categorização, onde as garotas de programa parecem classificadas entre “agenciadas” e “autônomas”. Na primeira categoria os panfletos seguem a mesma padronização de cores e formatação gráfica. Na segunda categoria, observa-se certa variação em formas, tamanhos, cores e diagramação. Em sua maioria, principalmente nos da categoria agenciadas, a proibição da atividade torna-se evidenciada pela mensagem: “volante entregado em mano, no arrojar em la via publica – ley 250”. Muitos parecem destinados, principalmente aos turistas, onde poderá se ler: “Hot Girls – 24 h.” Em complemento ler-se: Nuevitas em Tribunales. O número do telefone e nome das ruas aparece abaixo. Em outros da mesma categoria, encontra-se fotos de nu frontal, onde se ler frases como: “Flaquitas y Pulposas”, “Lo Mejor del Centro”, “Nível Ejecutívo” ou “La Dama Del Lago”. Em todos estes o referencial de espaço para as práticas sexuais é salientado como: privado/domicilio – ambiente climatizado. Muitos trazem tarja em destaque, ao lado das modelos, com os valores – “Promo $50”. Estas promoções parecem variar entre cinquenta e trinta pesos por programa. Os mais sofisticados são coloridos, com uma foto de nu frontal ao centro, acompanhada de mais três fotos menores, em poses variadas, na lateral direita. No topo do panfleto destaca-se: “Placer extremo”. Os contatos de telefone vêm acompanhados de um endereço virtual. Nestes casos, a tarja em destaque adverte: “fotos reales”.

Na categoria das autônomas verifica-se a adoção dos nomes [sejam reais ou ficticios], talvez, como forma de diferenciação. As informações são variadas, assim como as poses fotográficas, variando entre frontal ou de costas, nu total ou parcial. Entre os que recebi nas ruas do centro, pode-se ler: “Naty – Promo $40 – cumplo todos tu fantasias”; “Carla – dos amigas em su depto. – Hoteles/Domicilio – Frigobar sin Cargo”; apenas “Alison”; e, apenas “Abril”. Em todos desta modalidade o endereço é completo, destacando nome da rua e número do imóvel. Em todos também se destacam o número do telefone fixo em letras garrafais, e um outro acrescido do numeral 15 [provavelmente correspondente ao DDD local]. As fotos são sempre acompanhadas pela legenda “fotos reales” ou “fotos 100% real”. Nestes também se destaca a advertência sobre a Ley 250.


Outra modalidade de material de divulgação poderia se classificada como categoria de panfletos mais discretos. Nesses as fotos das modelos são substituídas por imagens de cunho erótico, incluindo-se: saltos altos, maçãs, taças de champagne e/ou beijos de batom. Enquanto alguns destacam: “Discrecion, Estilo y Buen Nivel – Todo Para Vos”, outros salientam: “Vip – 24 hs.”. Chama ainda atenção a advertência em negrito: “Prohibido Menores de 18 años”. Também são destacados os números de telefones fixos e a advertência da Ley 250. Um dos panfletos da categoria discretos chama a atenção pela frase: “Dulce Masajes...”, acompanhada por tarjetas com valores que variam entre $ 20 a $ 40.

Durante minha incursão pelo mercado do sexo portenho não consegui grande informações sobre como se estabelece a prostituição masculina, ou ainda as estratégias utilizadas pelas travestis. Os poucos dados colhidos, devido principalmente a invisibilidade inerente as duas categorias, constam apenas como sinalizadores de um mercado homoerótico que inclui bares, saunas, boates e casas de shows eróticos, divulgados em guias distribuídos em espaços específicos e na internet. Isso me revela a necessidade da definição de estratégias que nortearão meu campo de pesquisa. É um novo desafio que exige atenção, sensibilidade e cuidados a um pesquisador estranho em terras estranhas. Mas isto é só o início de um novo começo, ou recomeço de um trabalho que exige tempo e perseverança. Agora, é esperar janeiro para cair em campo.