segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

VIAGEM AO VELHO MUNDO EM 20 DIAS - Capítulo X


O FRIO DE PARÍS
 O MUSEU DO LOUVRE: OITO SÉCULOS DE HISTÓRIA

No fim do século XII, o rei Felipe Augusto mandou construir um castelo num local já chamado Louvre. Quase dois séculos depois a austera fortaleza é transformada em residência do rei Carlos V. O “palácio gracioso e vivo como um esmalte” enfrenta a guerra dos cem anos e afasta a realeza e passa a abrigar uma prisão. Francisco I decide morar na cidade luz, antiga boa vila, e inicia as reformas que transformarão o Louvre em um verdadeiro palácio da Rensacença. Em 1564, Catarina de Médicis manda edificar o Palácio das Tulherias, a seissentos metros do antigo palácio. A nova obra, ao longe parece unir as duas edificações. No fim do reinado, Henrique IV interliga os dois antigos palácios graças a grande galeria as margens do Sena. O prédio assume a forma de U. O Rei Sol desperta atenção por Versalhes, a vinte quilômetros de Paris. O velho castelo é abandonado mais uma vez e torna-se invadido pela escória, morimbundos e comerciantes. Em 1776, o conde de Angiviller o transforma em museu, porém sua abertura oficial é impedida pela Revolução Francesa. Finalmente, em 1791 é criado oficialmente o Museu Central das Artes, somente inaugurado dois anos depois. Em 1866, Napoleão III realiza o “grande desenho” interligando o Palácio das Tulherias ao Louvre com a construção da ala norte. Porém em 1871 a Comuna incendeia as Tulherias e a obra será definitivamente destruída pela III Repúplica. Com o desaparecimento do histórico prédio, o Louvre finalmente abre seus dois grandes braços em direção ao Jardim das Tulherias, a Place de la Concórdia [onde milhoes de pessoas foram decaptadas no passado na antiga bastilha] e ao Arco do Triunfo. Em 1981, no governo de François Miterrand surgem as pirâmides que atualmente se erguem na frente do maior museu do mundo.

VITÓRIA DE SAMATRACIA - 190 a.C.

Diz-se que é no pátio do Louvre que se inicia o eixo histórico de Paris. Começando pela estátua de Luiz XIV, no pátio principal do Palácio do Louvre até o jardim das Tulherias, Place de la Concórdia, dos Champs-Élysées, para terminar no Arco do Triunfo, em meio a Place Charles de Gaulle. Ao longe a Torres Mantparnasse e a Basílica de Sacré de Coeur, no topo da colina Montmatre, tornam-se referências aos céus parisienses. Visitar o Louvre é antes de um simples paceio, uma prova de resistência e persistência. Uma fila quilométrica se estende por ruas paralelas. O frio corta a pele e parece congelar as pernas. Estamos abixo de zero e a tonelada de roupas se mostra insuficiente. O tempo corre mas a fila não anda. Milhões de sutaques se misturam em vários idiomas. Tem gente de todo o mundo alí. E não estamos falando de centenas, mas de milhões de pessoas que se espremem e se apertam na tentativa de vencer o desafio. Uma hora contada de relógio até atingir a fila principal instalada no pátio externo do museu. O frio aumenta. Não existe onde se esconder. O Sena parece brincar empurrando uma brisa gélida e implacável. Mais uma hora se passa e agora chegamos junto a pirâmide principal. A revista policial é lenta, a fila é lenta. Não existe pressa, porém a fila é longa demais. Mais trinta minutos e estamos na porta de entrada. Já são 12:00 e a fome vence o frio. Sanduiche e café quente tornam-se especiarias preciosas.

DIANTE DA MONALISA
 Acho que o período de um ano seria insuficiente para se conhecer o Louvre. Ansiedade controlada e racionalização facilitam a seleção mínima do que se pode absorver. Mesanino, térreo e mais dois andares para trilhar em poucas e preciosas horas. Impossível perder mais tempo com pensamentos. Um mapa nos serve de guia. No entresol [mezanino]: esculturas, antiguidades egípicias, história do Louvre, Louvre medieval, salas de exposições temporárias; no rez-de-Chaussée [térreo] antiguidades orientais, antiguidades egípicias, antiguidades gregas, etruscas e romanas, artes da África, da Ásia, da Oceania e das Américas; no premier étage [primeiro andar]: objetos de arte, mais antiguidades egípicias, gregas, romanas, etruscas, pinturas, artes gráficas e salas de exposições temporárias; no second étage [segundo andar]: pinturas francesas, artes gráficas, desenhos franceses, pinturas alemãs, flamengas, holandesas, belgas, russas, suíças e escandinavas, mais salas de exposições temporárias. Estávamos diante do mundo. A história da humanidade contada através das artes. Da mais pura e genuina arte a que se pode ter acesso. Destino traçado, seguimos pelas escadarias em mármore branco da ala Sully. No topo da escada encontramos a Vitória de Samotracia, estátua em mármore datada de 190 a.C. Uma mulher alada sem cabeça é representada de forma magistral. Os olhos tentam capitar o máximo da mais pura beleza. A sensilidade e o refinamento se revelam em cada peça, cada obra. Tudo é grandioso.

DAVI EM LUTA
A multidão se apressa. Parece seguir um destino previamente estabelecido. Afinal o Museu do Louvre esconde o sorriso mais famoso e enigmático do mundo. Fazemos o percurso lentamente saboreando cada detalhe. Como é triste ser um tolo ignorante diante de tanta magnitude. Um corredor quilométrico se estende a nossa frente, é um dos braços do Louvre. Entra-se por uma galeria e lá está ela. Triunfal e indiferente aos olhares astuciosos e ávidos por detalhes precisosos. A Gioconda de Leonardo da Vince parece zombar do séquito de admiradores. Os flashes disparam e refletem luminosidade na proteção de vidro que isola o quadro. Cem metros é a distancia máxima de aproximação. As pessoas se aglomeram e é preciso lutar por um espaço mais previlegiado. Nos colocamos diante da obra. O criador aparece em cada pincelada, em cada pigmento que compõe a pintura. É simplesmente magistral. A sutileza se apresenta diante dos tolos mortais. Luz e sombra se misturam de forma harmoniosa. O famoso sfumato se mostra desvanecido nos contornos de uma mulher misteriosa. Não é bela, muito menos feia. Não existe classificação, pois que a beleza está na obra, no todo, e logicamente em seu significado e representação. Diz-se sobre a mesma, que Leonardo não desejou descrever com precisão os contornos da Giocaonda, ao contrário desejou pintar sua alma. Talvez aí se concentre o grandde mistério, a sutileza da alma, de algo que não se faz concreto, algo que não se sabe real. Apenas fantástico. Apenas os iluminados compõem tamanha beleza.

CORREDOR DA ALA SUL
Saímos calados, pensativos. Descemos escadas, entramos em galerias, atravessamos alas intermináveis. As obras parecem exigir o máximo de atenção. Dificil decidir por onde continuar, o que ver primeiro. Descemos ao pavimento térreo. O Louvre é uma obra de arte em si mesmo. Seguimos para a exposição de antiguidades egípicias. A Esfinge mostra-se emblemática. Nos tornamos pequenos diante de tanta genialidade. A noite se anuncia e com ela nossa partida. Seguimos novas escadarias e nos encaminhamos rumo a brisa. As pirâmides agora se estão iluminadas revelando a luz que sai das profundezas da terra. Brincamos em poses fotográficas. Sobe-se em um pdestal de mármore preto e tem-se a idéia de se abraçar a pirâmide maior. Ilusão de ótica milimetricamente calculada e prevista. Nossos olhos se cruzam. Eu e meu amigo de aventura não encontramos palavras para descrever impressões, opiniões. Não se faz necessário. É preciso tempo para absorver, fazer o espírito ruminar cada informação. Olhamos de volta para a entrada do museu. Apesar de italiana a Gioconda pertence a París. Pois que como ela, a cidade nos faz um convite aos mistérios. Um convite ao retorno. Definitivamente não se deve morrer sem conhecer o París – a cidade de sorriso enigmático.


ANTIGUIDADE EGÍPICIAS
Próxima parada: Londres!

GIOCONDA DA LEONARDO DA VINCI


 

VIAGEM AO VELHO MUNDO EM 20 DIAS - Capítulo IX

TORRE EIFFEL DE PARÍS

PARÍS: A CIDADE LUZ.

Segundo um grande e sábio amigo, “ninguém merece morrer sem conhecer París”, a capital francesa que se revela como uma bela e enigmática senhora. Uma espécie de deusa que se mostra sinuosa e cheia de segundas intensões. Sedutora e misteriosa, a cidade brilha e faz brilhar nossos olhos diante de magnifíca beleza. Facilmente nos tornamos presas. Ficamos enamorados, pois que París é magnética, e por isso, enfeitiça como uma velha serpente que preguisoçamente se fecha em forma de caracol para se esquentar. Ninguém conhece verdadeiramente París sem se deixar engolir, pois que suas víceras nos contam histórias. Das suas entranhas emergem os submundos comuns aos excluídos para tornar as margens de París não tão belas quanto as do Rio Sena.


TARDE AS MARGENS DO RIO SENA

Segundo alguns historiadores, o nome da cidade é de origem Celta, de um povo gaulês chamado outrora de Parisii, ou Parísios. Pouco se sabe de sua história antes da invasão romana, mas já no século XVII era considerada a capital da maior potencia política européia, tornando-se no século seguinte o centro cultural de toda Europa. O Iluminismo, caracterizado pela efervecência criativa deu-lhe o título de Cidade Luz. Hoje, a eterna Meca da Belle Époque é a cidade mais visitada do mundo devido ao acervo cultural e artistico. Porém, ainda na Idade Média a cidade torna-se sede do poder real. Inicia-se o Renascimento de París e florecem as artes, as letras, a música e principalmente a arquitetura. O convívio “passifico e hamonioso” entre a privilegiada burguesia e proletariado chega ao fim com a histórica revolução francesa, fazendo emergir das cinzas do império uma nova cidade industrial cheia de problemas sociais e instabilidade política que a caracteriza até os dias atuais. Após vencer a primeira guerra mundial a França vivencia um século de barbárie e o nazismo obscurece a cidade luz até o ano de 1944. Os estudantes voltam as ruas em 1968 provocando nova revolução que reclama soluções imediatas as taxas de desemprego e a marginalização dos imigrantes, atuais desafios da cidade implantada sobre o Sena.

PONTE ALEXANDRE III
Assim como Recife, París é formada por ilhas. Seu centro histórico estende-se pela île de la Cité, ao oeste, e pela île Saint-Louis ao leste. E assim como nosso Capibaribe, o Rio Sena não só divide ilhas mas também classes sociais. Desse modo em ambas, as águas não só separam vidas, mas também histórias. A París intra-muros estabeleceu-se no ano de 1844 e só dezesseis anos depois anexaram-se as comunas e bairros encerrados pela mesma muralha. Uma via expressa urbana com mais de 35 quilometros se estabelece como artificial fronteira. É o bulevar periférico que se interpõe entre a cidade e as comunas limítrofes, que absorvem a expansão demográfica provocada pelo êxodu rural. Como estratégia política a Grande París é subdividida em oito departamentos administrativos e atualmente 80% de sua população é classificada como suburbana.


VISTA DO RIO SENA - CENTRO HISTÓRICO DE PARÍS

Hospedados no Le Franlin Hotel, situado na comuna parisience ou bairro de suburbio chamado Màrie de Montreuil, registramos de perto a segregação étnica e social. O bairro possui boa infraestrutura, com subprefeitura e autonomia administrativa. As ruas são calmas e arrumadas. A população em sua maioria se mostra negra, de origem africana. Imigraram das colônias francesas e se estabeleceram na região. Deferente do Brasil, os negros se mostram empoderados e inseridos no contexto histórico, político e econômico. Apesar das diferenças clássicas entre os bairros que formam a Grand París, existe um refinamento que também é clássico e nobre. Nobreza que só se adquire com cidadania. París na verdade se forma e se estrutura como caracol. No centro emerge o sitio histórico e aristocrático, aos arredores vão surgindo os bairros ou cidades satélites. Quem está no centro se considera mais parisiense do que estar nas margens. A velha divisão de classe também se estabelece nos mesmos moldes entre urbanos e suburbanos, entre ricos e pobres. As mulheres se mostram independentes e altivas. As ruas pacatas parecem revelar certa amistosidade entre os habitantes, contudo, os metrôs e prédios menos modernos evidenciam as grandes diferenças étnicas, religiosas, sociais, econômicas e políticas.

 
TORRES EIFFEL - CENTRO DE PARÍS

A partir de 1855, París iniciou uma série de exposições universais estimulando a edificação de numerosos monumentos. Durante a exposição de 1889 surge então a Tour Eiffel. Idealizada e construida por Gustave Eiffel, com ferro do século XIX, a torre encontra-se localizada no Champ de Mars [Campo de Marte], no centro histórico de París. Possui 324 metros de altura e já foi considerada a estrutura mais alta do mundo. Possui três níveis, sendo o terceiro só acessível através dos elavadores que parecem subir em diagonal em direção ao infinito. No primeiro nível, que se alcança depois de subir 300 degraus, encontram-se as lojas e lanchonetes. No segundo pavimento encontra-se o restaurante Le Jules Verne, um dos mais caros da Europa. A própria história da torre merece capitulo a parte. Admirada ou criticada, manteve-se sob ameaça durante muitas décadas. Contam que um certo crítico renomado solicitou durante anos sua retirada do centro histórico. O mesmo frequentava assiduamente o restaurante da torre, e quando indagado por Gustave Eiffel sobre a incoerência do ato, disparou: “venho sempre porque aqui é o único lugar de Paris de onde não me obrigo a ver tal geringonça”. A torre armada em homenagem ao centenário da revolução francesa foi salva na verdade por abrigar importante antena de transmissão de rádio. Hoje, encorporada a história parisiense revela-se como principal momunento frances. Um dos simbolos mais reconhecidos em todo o mundo.


MUSEU DO LOUVRE
Marcada por belezas e contradições, París, apesar de reconhecida como cidade mais visitada do mundo, é também classificada como a menos acolhedora e mais cara. A avenida Champs-Élysées [ou Campos Elísios] é uma das mais largas e famosas do mundo. Impossível não se deslumbrar com a riquesa que se estampa em cada esquina. Lojas riquissimas e famosas se espalham por toda a estensão da avenida que culmina no Arco do Triunfo, construido por Napoleão Bonaparte, em 1806, para homenagear as vitórias francesas. Antes de tudo, o grandioso munumento se configura como bela obra de arte, que se ergue entre avenidas para homenagear os soldados mortos nos campos de batalha. Ao Museu do Louvre se faz necessário capitulo especial. Visitar o bairro de Montmartre é uma excelente oportunidade para conhecer a Basília de Sacré Coeur, o Moulin Rouge – antigo cabaré francês, além dos famosos cafés parisienses onde é permitido fumar enquanto se admira a cidade. A Catedral de Notre-Dame decepciona ao visitante menos astuto. De certa forma, em nada se parece com a famosa catedral de estilo gótico exibida em filmes. Construida entre os séculos XII e XIII, atualmente é o principal centro simbólico de París, ponto pelo qual se medem as distâncias das rodovias da França. O Hôtel des Invalides impressiona pela riquesa do acervo e destaca-se como importante museu e necrópole militar. Construído no fim de século XVII, pelo rei Luis XIV, serviu inicialmente como hospital para os soldados feridos. Hoje, o charmoso prédio de domo dourado abriga as cinzas e tambpem a sepultura de Napoleão Bonaparte. O L´Hôtel de Ville abriga atualmente a prefeitura de París. Sua arquitetura esbanja luxo e riquesa de forma artisticamente harmoniosa.

AV. CHAMPS-ÉLYSÉES
Um passeio a tarde pelas margens do Rio Sena revelam a cidade mágica. Do Quai d´Orsay, cais instalado a margem esquerda, avista-se os vários monumentos famosos. Os jardins que acompanham a orla, principalmente no trecho entre a Pont de Sully e a Pont de Bir-Hakeim, revelam uma das mais belas paisagens fluviais. Seguindo-se em frente chega-se a Ponte Alexandre III, repleta de esculturas e adornos em ouro. Localizada no coração da cidade, dela pode-se avistar a Notre-Dame, o Louvre, os Invalides, o Grand Palais ao lado do Petit Palais, o Museu do Quai Branly e logicamente a Torre Eiffel que se eleva magestosa sobre arvores frondosas. A bela calma da cidade de brisa cortante é quebrada pela correria inesperada. Sirenes invadem o ar. Alguns negros e mulatos corem apressados, empunhando sacolas improvisadas e repletas de souvenis. Seguem para as margens do Sena e tentam esconder-se nos subterrâneos da cidade. Acuados pela polícia extremamente alva, são empurrados contra as muralhas. Algemados, são escoltados diante de uma população atônita e absmada com tamanha violência. Um certo desencanto me aflora e me faz pensar nas particularidades de Recife. A violência é um fenômeno universal? Ao longe avistamos os imigrantes acuados, cabisbaixos e sem alternativas imediatas. A aparente calma volta e em poucos minutos a cidade segue em sua rotina. Adiante chega-se ao Jardim das Tulheiras, criado sobre a margem direita do rio, no século XVI. Do outro lado desponta o Jardim de Luxemburgo, que em cerca de 1625 figurou como dependência privada do castelo contruído por Marie de Médicis.


VISÃO PANORÂMICA DE PARÍS
 A cidade que deu origem ao expressionismo e ao surrealismo figura agora como uma bela e comportada senhora milenar. Uma espécie de deusa do encantamento que seduz os desavisados e entorpece os eruditos. Aristocrática, revela-se acolhedora e distante ao mesmo tempo. A noite cai e as luzes invadem ruas e praças. O sol se esconde mas não traz as trevas, pois que París torna-se iluminada. Não artificialmente iluminada. Pois que de suas entranhas mais profundas emerge a lume que encandeia e a enche de fulgor e brilho. Essência da beleza. A Torre Eiffel se acende e muda de cor a cada hora exata. No topo um farol estende seus raios pela escuridão. A gurdiã da cidade se revela. París mostra-se assim, acima de tudo, uma cidade viva em si mesma. Altiva e implacável, se mostra indiferente as críticas errôneas e/ou insensatas. Nada a pertuba, nada a incomoda ou altera. Apenas à brisa parece permitido movimentar-se sem licenças, sem rodeios ou cuidados. Aos mortais, apenas a contemplação e o encanto. Nada mais se tira ou se leva dessa cidade, pois que até as mais vivas lembranças serão impróprias diante de tamanho charme, elegãncia, beleza e indiferença. Deusa única e maior. Quieta e misteriosamente linda. Sem dúvida nehuma, “não se deve morrer sem conhecer París”.


PÁTIO EXTERNO DO MUSEU DO LOUVRE

Próxima parada: Museu do Louvre!

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

VIAGEM AO VELHO MUNDO EM 20 DIAS - Capítulo VIII

SUÍÇA – A TERRA DOS ALPES CONGELADOS

ALPES SUÍÇOS

No dia 26 de dezembro deixamos a Itália e seguimos rumo a Suíça, terra tradicionalemnte conhecida pelo queijo, chocolates e pela precisão dos relógios. Dizem que os suíços são impessoais e extremamente reservados. Um dia em Copacabana, no Rio de Janeiro, nos encontramos com uma amiga baiana e seu esposo suíço. Ele se dizia encantado com o Brasil, principalmente devido a nossa diversidade étnica e cultural. No ano seguinte vieram a Recife, que não conheciam, e se hospedaram em meu apartamento. Como bom anfitrião lhes apresentei a cidade e percorremos a região metropolitana. Antes contudo, preparei um roteiro turistico que pudesse lhes apresentar a dimensão e riquesa de nossa gente. Depois de visitar o bairro antigo do Recife, seguimos pelo centro urbano, visitamos o Museu de Ricardo Brenand, a praia de Boa Viagem e o bairro de Casa Forte. O roteiro incluia ainda uma volta pela cidade histórica de Olinda, que logicamente culminou com a tradicional tapioca no Alto da Sé. Depois seguimos rumo a ao Pontal de Maria Farinha, com direito a passeio de barco até a praia de Mangue Seco. No dia seguinte articulei um viagem a João Pessoa, capital da Paraíba. Lá fomos a praia do Conde e Coqueirinho. Passamos pela pedra do amor, não sem antes fazer nossos pedidos de felicidade e sorte no amor. O turismo paraibano terminou com a visita a Tambaba, praia onde se pratica o naturismo. Voltamos dois dias depois e seguimos rumo ao litoral sul de Pernambuco. Passamos por Gaibú; Paraíso, onde lhes contei a história de Vicente Pizon; Calhetas, onde almoçamos no Bar do Israel; e depois, seguimos rumo a Poto de Galinhas, onde os deixei hospedado para um final de semana do tipo segunda lua de mel. Ao retornarem ao Recife estavam estasiados com tanta beleza natural. O suiço se supreendeu com nossa dimensão geográfica e águas claras e mornas. Acima de tudo, supreeendeu-se com nossa cordialidade e hospitalidade, sem contudo deixar de destacar nossas diferenças sociais.

Em uma visita ao Pontal do Cabo de Santo Agostinho, que segundo os geógrafos é o ponto mais próximo entre o Brasil e o continente Africano, Paulo apanhou seis pequenas pedras e disse que eram as provas de que um dia os continentes formaram um único bloco de terras. Como engenheiro marítimo, a serviço da Petrobras, revelava conhecimento de causa. Depois de um tempo a contemplar o horizonte virou-se e me entregou três das seis pedras que apanhara próximo ao precipício. Disse que seriam um simbolo de nossa amizade, e que, sempre que olhássemos para elas saberiamos que do outro lado do oceano Atlântico teríamos um grande amigo. Não tive mais notícias ou contato com o casal, e muito menos sei se ele mantém as pedras consigo. Porém algumas pessoas da Suiça tem esporadicamente acessado meu blog. Quanto as minhas pedras da amizade, mantenho-as no carro até hoje como espécies de talismã. E confesso, que uma vez na Suíça senti saudades do velho amigo, a quem gostaria de encontrar um dia para relatar minhas impressões sobre a sua cidade e cultura de origem. Assim, talvez esses escritos se configurem como uma nova versão das mensagens enfiadas em garrafas, que jogadas ao mar, um dia encontram seu destino. Não posso negar que gosto de pensar na possibilidade!

Seguindo pela costa da Itália atravessamos as fronteiras que separam os dois países. A suíça em si parece uma pequena região formada por altas montanhas geladas. As estradas são aveludadas e em nada lembram nossas rodovias. No inverno a temperatura baixa a cada quilometro percorrido rumo a Zurich. A névoa cobre em tom cinza esbranquiçado os campos que surgem masjestosos ao redor. Belas casas com telhados cobertos de neve vão surgindo a frente. Nosso percurso comprenderia mais de 4.500 metros de altitude, subindo rumo aos famosos alpes suíços. Uma parada para almoço em meio a estrada gelada nos fez tremer. O piso estava congelado e pequenas e finas placas de gelo estralavam a cada passo. Estava vendo a neve pela primeira vez. Para um nordestino enfrentar temperaturas abixo de zero é sem dúvida uma experiencia inesquecível. Nosso posso negar o deslumbramento diante de tão gigantesca beleza. Um tapete branco se estendia a nossa frente deixando os pés úmidos. Estava diante de paisagens somente vistas em postais. E agora tudo era real, e logicamente maior em proporções. Apesar do frio não resistir correr na neve. Como criança brinquei em baixo de velhos e frondosos pinheiros repletos de gotas de cristais. Meus pés afundavam a cada movimento e o gelo chegava quase ao joelho. Era incrível a sensação de bem estar. Eu e meu companheiro de aventura fizemos bolas de neve, que jogadas ao alto voltavam em forma de fina chuva branca. O tempo parecia ter parado. Nada se movia e apenas nós corriamos de lado a outro. Ao redor um enorme paredão de sorvete se elevava aos céus. Era como se estivéssemos dentro de um congelador gigante. E apesar de vontade louca de ficar, o frio parecia nos expulsar para fora de seu campo sagrado. Nas colinas, casas com telhados brancos surgiam de forma isolada. Pensei no quão maravilhoso e solitário deveria ser morar naquelas terras e por isso prometi a mim mesmo que um dia retornaria com mais tempo.


Depois de horas seguidas atravessando montanhas chega-se a capital da Suíça, Zurich. Apesar do grande engarrafamento a cidade cercada por grandes colinas revela que a precisão vai além dos seus tradicionais relógios. Zurich é cortada pelo rio Limmat e possui uma grande lagoa formada pelas águas das frias montanhas que descem em cascatas durante o verão. As margens destacam-se uma bela e organizada mistura de construções modernas e antigas. A noite é extremamente fria e as principais ruas se mostram desertas. Calçadas emendam-se as ruas por onde correm seus famosos bondes. Nas paradas de passageiros a precisão é cronometrada em dispositivo digital. Três minutos de intervalo separam um bonde do outro. No seu interior pessoas confortavelmente acomodadas ocupam o tempo em leituras. A riqueza da cidade se faz claramente estampada em vitrines bem iluminadas, bem como através da estrutura arquitetônica. Ruas estreitas, calçadas em pedras negras parecem conduzir o visitante desavisado a lugares misteriosos e sombrios. Um grupo de gays se concentra em um bar de fachada discreta onde flâmula uma bandeira do arco-íris. Poucas pessoas vagam pelas ruas calmas e extremamente limpas. De um modo geral revela-se um lugar onde tudo funciona de forma previamente planejada.

Hoje  entendo  a grande  a estranhesa de Paulo diante de tanta contradição e desiguladade social que caracteriza a cidade do Recife. Entendo porque a setranhesa também se torna miha. Voltar da Europa é como acordar de um sanho bom e encantado, onde o fantástico e o real se misturam de forma harmoniosa. Pisar mais uma vez as ruas féticas e cheias de miseráveis excluidos torna-se um choque. Mas sem dúvidas nos serve como reflexão sobre como podemos nos acostumar com a naturalização do erro e do indigno.


LAGOA NO CENTRO DE ZURICH
 

Próxima parada, Paris!

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

VIAGEM AO VELHO MUNDO EM 20 DIAS - Capítulo VII

VERONA - ITÁLIA


VERONA: CIDADE DE ROMEU E JULIETA

Posso dizer que cresci ouvindo muitas histórias. Entre estas, uma me chamava a atenção e despertava grande admiração. Como nos bons contos de fada, tudo começava com o clássico “era uma vez...”, onde numa linda e antiga cidade repleta de castelos e cercada por fortes muralhas serviam de cenário a dois jovens de famílias rivais que se apaixonavam perdidamente. Apesar de não lembrar bem dos detalhes, e muitos dos personagens dessa história, sei que entre encontros e desencontros o romance atingia o ápice quando, durante a noite, iluminados apenas pela luz do luar, seus lábios se encontravam para selar promessas de um amor eterno. Mas o destino traiçoeiro e cruel os levaria ao trágico final. Certa noite, ao ver a mulher de sua vida gelidamente estendida sobre o altar, o jovem enamorado num ato de desespero finca uma adaga no próprio peito e morre sobre o corpo da amada. Ao despertar do antídoto oferecido pelo Bispo amigo, cúmplice da pretensa fuga, a jovem manceba chora a amargura e a dor da perda. E com o coração partido repete o ensandecido ato do amado. No dia seguinte o casal é encontrado inerte, abraçados e já sem vida.


CENTRO HISTÓRICO
Depois de muito tempo descobri que a história em si não se tratava de um conto de fadas, mas de um clássico da literatura estrangeira, que agora ganhava vida na televisão, em um especial de final de ano. O belo Romeu agora se chamava Cebolinha Montesquieu, enquanto que a espevitada Julieta atendia pela alcunha de Monica Capuleto. Apesar de fascinado pelo desenho animado, algo me intrigava. Não havia final trágico na história, o que contrariava meu antigo conto de fadas. Aprendi naquele momento uma nova palavra: “versão”. Descobri então que as histórias não precisavam ser contadas na integra e que logicamente poderíamos mudá-las ou adaptá-las ao nosso bel prazer. Comecei então a contar minhas histórias favoritas repletas de novos elementos. Descobri também como seria gostoso brincar de alterar os trágicos finais, misturar personagens e enredá-los em novas aventuras. A brincadeira ganhou força quando comecei a fazer teatro nas escolas por onde passei, inclusive, participando da encenação da livre “versão” do Maurício de Souza. Foi então que finalmente descobri que apesar da famosa história se passar na cidade italiana de Verona, havia sido escrito por um inglês: William Shakespeare.


ANTIGO CASTELO DOS CAPELLOS
Apesar de haver dúvidas quanto à fidedignidade dos fatos, inclusive sobre a real existência de um Romeu e uma Julieta, sabe-se que foi na Itália onde Shakespeare encontrou inspiração para alguns dos seus mais famosos textos. Verona torna-se então palco para uma história que envolvia a rivalidade de duas influentes e poderosas famílias, contada e recontada através das gerações, a qual o autor teve acesso durante período em que se manteve hospedado na cidade. Verdade ou não, isso é o que menos importa quando nos deparamos com as ruínas das muralhas que cercavam a antiga comuna italiana, localizada na região do Vêneto. Verona é sem sombras de dúvidas uma das cidades mais inspiradora e intrigante que já conheci. Banhada pelo Rio Adige, a cidade que em 89 d.C foi incorporada como colônia romana, teria sido fundada pelos antigos Celtas [povos indo-germânicos, saídos de centro-sul da Europa para se espalhar pela Espanha, Itália, Bretanha, Mar Negro e Ásia Menor]. Anexada ao Reino de Itália, em 1866, chegou a ostentar a supremacia artística de toda a Itália e hoje revela estrutura urbanística e arquitetura invejáveis. Considerada patrimônio da humanidade, conserva entre os grandes e históricos monumentos um anfiteatro romano, que lembra o Coliseu de Roma; uma Catedral gótica, construída no século X; a Igreja românica de São Zeno; a Ponte Scaligero, construída em 1354; o Castelo Vecchio; além de vários palácios, entre os quais se destaca o Palazzo Del Consiglio.


A JULIETA DE SHAKESPEARE
Suas ruas de pedras escuras parecem remontar a história, ou as histórias de períodos determinantes para a consolidação européia. De todas, apenas uma, toda em mármore, surge como uma espécie de caminho encantado para nos levar ao antigo Castelo dos Capellos, hoje sabiamente sinalizado como “Casa di Giulietta”. E tudo está lá. E logicamente tudo parece cenograficamente organizado para imortalizar sua mais celebre personalidade [ou melhor, personagem] e a obra. A ficção parece se tornar realidade. E mediante pagamento, em Euros, pode-se inclusive debruçar-se sobre o mais famoso balcão, onde se deu um dos mais célebre e copiados beijo da história da humanidade. Também estão lá as sacadas, as antigas janelas, o saguão e o pequeno jardim de onde Romeu teria convidado sua amada a escutar o canto da cotovia. É também lá, que entre arbustos encontra-se a estátua, em bronze, de Julieta Capulleto. Dizem que alisar os formosos seios da jovem donzela traz sorte no amor. E neste ponto, parece que os itlianos gostam mesmo de um alisado, pois que em Nápoles alisar o fucinho de um grande javali, também em bronze, traz sorte e fortuna. Assim, não é de se admirar que tanto os seios da Julieta quanto o focinho do javali sejam as partes mais lustrosas e brilhantes das referidas estátuas. E assim como em Florença, em Verona também se pode comprar cadeados como forma de prender o amado para sempre. Só que na Casa de Julieta, o mesmo deve ser colocado nas grades de um grande e velho portão que encerra uma das entradas do antigo castelo.


O ANFITEATRO ROMANO DE VERONA
Um dos fatos que mais chama a atenção do visitante é a quantidade de artistas locais que atuam nas ruas da cidade, principalmente em frente aos monumentos históricos. Aliás, é bom que se diga qua a Itália respira arte. De Roma a Pompéia, de Veneza a Florença, de Nápoles a Verona, a Itália é sem dúvida alguma um grande e precioso celeiro de grandes expressões artísitcas. Seja nas áreas de teatro, dança, música, pinturas, cinema, esculturas, arquitetura ou circo, a cidade vive da arte e para a arte. Conhecer as principais cidades italianas é antes de um simples passeio turistico, uma aula de cidadania e respeito pela história e cultura de seus povos. Dificil não se impressionar com nossa falta de visão estratégica, impossível não se chocar com o comprometimento de nossa educação, que nos aliena e nos torna relapsos com nosso próprio patrimonio cultural e artistico. Conhecer o velho continente é por fim, uma execelente oportunidade para perceber que sem arte não existe beleza. E sem beleza não há sentido na existencia de um povo. Sem cultura não existe história, e sem história não existe civilização, mas apenas babárie e selvageria. Pena que para nós brasileiros, 512 anos ainda se configurem como curto perído de tempo, insuficiente para nos depertar tal consciência.


NORMANDO VIANA EM VERONA

Próxima parada, Zurich – Suíça.


ANTIGA MURALHA DA COMUNA ITALIANA

RUINAS DE VERONA


domingo, 22 de janeiro de 2012

VIAGEM AO VELHO MUNDO EM 20 DIAS - Capítulo VI

NATAL EM VENEZA

VENEZA: A MAGESTOSA CIDADE QUE FLUTUA SOBRE AS ÁGUAS

De minha janela vislumbro a ponte que atravessa o rio que separa as principais ilhas que formam o centro da cidade. O sol tinge de dourado as águas calmas que correm rumo ao mar. Do “Catamarã” que navega suas águas vejo na orla antigos casarios que se sobrepõem e erguem-se majestosos aos céus. No outro lado do rio avisto o antigo palácio que serviu de hospedagem a família real. A sua frente um grande jardim, onde reina o mais antigo dos baobás de origem africana, assume ares de independência. Mais uma ponte se ergue para abrir caminhos ao porto que parece se precipitar na boca oceânica onde as grandes embarcações não podem chegar. Estamos no antigo bairro nobre, repleto de prédios históricos que remontam tradições e a arquitetura européia. Estamos em Recife, capital pernambucana. Cidade nordestina encurralada por águas, doces e salgadas, límpidas e poluídas, rasas e profundas, mornas, e por que não dizer majestosamente misteriosas.


CAIS DE VENEZA

Sentado em um banco revestido em veludo vermelho me perco por canais misteriosos. Rios caudalosos empurram a embarcação que parece flutuar sobre águas iluminadas ao sol. Encerrado entre prédios de tijolos descascados, com velhas portas de madeiras, corro olhares ávidos por desvendar mistérios. Uma antiga ponte de tijolinhos da cor de barro sobrevoa minha cabeça. Por ela pessoas transitam de um lado a outro carregando pequenas sacolas de compras. Não existe pressa. Uma jovem aguarda o próximo barco enquanto alguém lhe acena da janela lhe advertindo sobre o frio. Estamos sobre as águas do mar Adriático que alimenta a Lagoa de Veneza, que dá origem a cidade. Estamos na comuna italiana, localizada na Região de Vêneto, ao nordeste da Itália. Igualmente ao Recife, a cidade é cercada pelas águas que apesar de rasas e frias, não se revelam menos majestosamente misteriosas.


OS CANAIS DE VENEZA

São duas cidades cortadas por rios, separadas por continentes banhados por diferentes oceanos. Dois povos, duas histórias e duas culturas que se misturam. Pequenas semelhanças e uma enorme diferença entre ambas. O que diferencia a Recife brasileira da Veneza italiana não é especificamente cênico, mais cultural. Não existem lixeiros em Veneza, mas também não existe lixo ou papéis espalhados pelas ruas. Existe sim o comercio informal, mas não existe desorganização ou alvoroço. Existem sim ruas velhas, como também velhas são suas pontes. Mas não existem buracos, bocas de lobo desprotegidas ou esgotos a céu aberto. Não, não existem marquises oferecendo riscos, pichações e nem mesmo poluição visual devido ao grande número de cartazes de divulgação colados em muros e prédios históricos. Também não existem poças de água e lama, milhares de pessoas desprotegidas que dormem e morrem nas ruas, ou mesmo câmeras que registram assaltos. Parece não existir violência em Veneza. Ah, e não existem garrafas plásticas ou grande quantidade de quinquilharias boiando nos rios. Muito menos esculturas corroídas pela maresia. Isso fica para Recife! O que existe na verdade, e que nos faz falta é certa arrumação que se impõe em uma cidade tradicionalmente turística. Existe acima de tudo educação, respeito e bom senso por parte de seus governantes e também da população.


OS GONDOLEIROS DE VENEZA

Veneza, como Recife, tem milhares de pontes que parecem emendar pequenos bairros ilhados. Mas ao contrário de nossa cidade é suspensa em pilotis fincados nas águas. Não existe transito, sinalizações ou semáforos. Mas existem as gôndolas com seus tradicionais gondoleiros com camisas listradas e chapéus que remam majestosamente por águas calmas. Um dos passeios mais românticos que já fiz em minha vida. Um natal inesquecível que guardarei para sempre na memória. Na Piazza de San Marco uma ebulição de visitantes revela a força do turismo sustentável. São milhares de pessoas, todos os dias, todas as horas, partindo ou chegando dos quatro cantos do mundo. Os flashes se multiplicam evidenciando curiosidades e especificidades de uma cultura que é milenar. De um lado a Torre do Relógio, de outro o Museu Correr. No centro a Basílica de San Marco se posiciona de frente para o mar que separa ilhas repletas de antigos castelos e esplendorosos prédios históricos. As ruas de pedra se perdem em labirintos que desembocam em becos estreitos. Em milhares de lojas as máscaras de Veneza nos lembram nossos saudosos bailes de carnaval. De todos os tamanhos e cores, nos parecem próximas e velhas conhecidas. Representam as expressões de Veneza. Expressões que também aprendemos a representar através da plasticidade de nossas emoções. Tristes, alegres, misteriosas, sarcásticas ou melancólicas, parecem vivas, revelando os mais puros e genuínos sentimentos da Itália.


A CIDADE SOB AS ÁGUAS

Dizem que a cada ano o mar sobe três centímetros, e que por isso, um dia Veneza será completamente engolida pelas águas que apagarão para sempre o seu passado de grandes lutas e vitórias. Assim como Recife, a cidade montada sob ilhas artificiais será finalmente vencida pelo mar. Talvez um dia vire lenda ou mito e sirva de enredo para histórias que serão contadas através das gerações. Talvez se mantenha majestosa sobre as águas frias do mar Adriático, nunca se sabe. Mas independentemente do futuro tenebroso ou fantástico, Veneza será para sempre a mais bela e enigmática “cidade aquática”, onde um dia, em pleno natal, sentei e chorei de frente ao mar ao ver o sol se banhar em águas douradas. Impossível não se emocionar diante de tanta beleza. Impossível não lastimar o descaso com Recife, que pretensiosamente já almejou o título de Veneza Brasileira.


PÔR DO SOL EM VENEZA

PS: neste sentido, lastimo que ainda tenhamos que nos contentar com o título de “Venérea Brasileira”, pelo menos até definitivamente aprendermos a não mais eleger governantes que continuem dando as Costas para o Recife. Ah, e só para lembrar, esse ano tem eleição!

Próxima parada, Verona!


CHEGADA A VENEZA


OS MISTÉRIOS DOS ESTREITOS CANAIS


FIM DE TARDE EM VENEZA


quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

VIAGEM AO VELHO MUNDO EM 20 DIAS - Capítulo V

FLORENÇA - A CIDADE DE DAVI DE MICHELANGELO

Restaurant Le giubbe Rosse na Piazza della Signoria

Dia 24 de dezembro. Véspera de natal e nenhum sinal das festividades que tradicionalmente nos acostumamos a vivenciar. Não tinha como não estranhar a ausência dos seus principais símbolos comemorativos no país onde se encontra instalada a Cidade do Vaticano, base católica do cristianismo. Não havia árvores enfeitadas pelas cidades italianas que passamos. Estávamos em Roma, a caminho de Florença e o dia parecia comum, exceto pela intensa névoa que se espalhava a nossa frente. Mais uma vez o frio atormentaria nossos corpos. A temperatura beirava 0º e nossos pés pareciam molhados. Nosso ônibus agora deslizava cuidadosamente pelas estradas molhadas, mas não havia imprevistos. Aliás, as estradas da velha Europa mantêm-se conservadas e sinalizadas revelando que é possível a adequada aplicação do dinheiro público em benefício da própria sociedade. Do lado de fora os campos pareciam suados, com árvores frondosas gotejando orvalho. Uma breve parada e um café quente nos reanimariam os ânimos. Mas a grama estava endurecida, encoberta por uma camada fina de gelo. Era o primeiro sinal de que a neve estava próxima. Contudo, apesar do cenário belamente bucólico nada evidenciava alegria ou a agitação a que estamos acostumados durante o período natalino. As pessoas pareciam apressadas em suas compras corriqueiras e refeições comuns. Não havia panetones, perus, champagne. Ninguém parecia preocupado em levar para casa presentes ou pequenas lembrancinhas. Neste momento percebi como a diferença cultural causa certo estranhamento e incomodo.

Os Caminhos Gelados de Florença
Mais algum tempo na estrada e finalmente chegamos ao maior município da Região da Toscana, Florença, também conhecida como Firenze em italiano legítimo. A cidade foi durante muito tempo considerada a capital da moda, que tornou-se famosa por ser a terra natal de Dante Alighieri, autor do clássico da literatura universal “Divina Comédia”. Impossível andar pelas ruas de Florença e não se admirar com a arquitetura de seus tradicionais monumentos e casarios históricos. Considerada uma das cidades mais lindas do mundo, se destaca como berço do Renascimento. Sua origem remonta ao antigo povoado etrusco [natural da Etrúria, antiga Itália]. Foi durante séculos governada pelos Médicis, família a que pertenceu Cosme - o velho, que assumiu o poder em 1437. Protetor dos judeus, durante os anos de governo iniciou e estabeleceu longa relação com a comunidade judaica que se instalou na região. Entre os principais monumentos destacam-se a suntuosa Sinagoga de Florença, mais conhecida como Templo Maggiore, considerada uma das mais belas construções da Europa; a Catedral de Florença Santa Maria Del Fiore; o Palácio Velho, conhecido como Palazzo degli Uffizi; o Palácio Pitti; Palazzo Strozzi, a ponte velha, chamada de Ponte Vecchio e a igreja de Santa Maria Novella.


Afresco no Teto da Catedral de Florença

Na Catedral entra-se em silencio absoluto, assim como na Igreja de Santa Maria Novella, prédio histórico onde funcionava o antigo mercado público. No teto pinturas em afresco revela a grandiosidade e genialidade dos famosos pintores italianos. Neste sentido, vale destacar que as pinturas em afrescos são feitas em gesso ainda úmido, possibilitando maior aderência das tintas. Em cada rua, cada beco, canto ou recanto da cidade a arte se faz presente através das grandes obras dos mestres Michelangelo, Leonardo da Vinci, Giotto, Botticelli, Rafael Sanzio, Donatello e muitos outros. De um lado da cidade, uma grande ponte em arco medieval atravessa o Rio Arno, que corta a cidade, interligando um antigo castelo real ao mosteiro histórico. Segundo a tradição local tal estratégia foi utilizada para que a realeza freqüentasse as missas dominicais sem precisar se misturar ao povo. Assim, a famosa ponte Vecchio estende-se elevada sobre parte da cidade. Ao longo do tempo a ponte ficou famosa por possuir grande quantidade de lojas, principalmente as ourivesarias e joalharias, ao longo de todo o tabuleiro. Outra tradição que se consolidou com o tempo foi o ato de se colocar cadeados no gradeamento em torno da Estátua de Benvenutto Cellini e jogar as chaves no rio como forma de ligar o amor dos amantes.



Estátua de Benvenutto Cellini
No pátio do mosteiro esculturas com preciosismo de detalhes se espalham pelos quatro cantos revelando a pompa e influencia da igreja católica sobre a cidade de origem dos papas Leão X, clemente VII, Clemente VIII, Leão XI, Urbano VIII e Clemente XII. Diante dos principais monumentos, a grande Piazza della Signoria [Praça da Senhoria], em frente ao Palazzo Vecchio, abre espaço a esculturas reconhecidas mundialmente pelo alto valor artistico, entre as quais, a famosa Davi, de Michelangelo. A estátua original é confeccionada em mármore e possui 5 metros e 15 centímetros. Escolhida como símbolo máximo da República de Florença, passou três anos, de 1501 a 1504 para ficar pronta. Na obra, Michelangelo se utilizou do realismo do corpo nu e do predomínio das linhas curvas para retratar Davi no momento anterior a batalha com Golias, ou seja, no momento em que se preparava para enfrentar uma força que todos julgavam impossível de ser vencida. A famosa estátua de Davi permaneceu instalada em frente ao Palazzo Vecchio, na Piazza della Signoria até 1873, até ser transferida para a galleria dell´Accademia onde se encontra atualmente.

Davi de Michelangelo

Pelo centro histórico lojas modernas se alinham a arquitetura local evidenciando o respeito à tradição de um povo. O frio parece molhar as velhas ruas em pedra e a densa névoa emprega a cidade um charme que combina perfeitamente com seu estilo. A noite parece mais longa durante o inverno de Florença, espalhando o breu sobre uma cidade cuidadosamente iluminada. Suas ruas são calmas e parece disertas neste período do ano, o que a certo modo provoca medo e hesitação para quem se acostumou com a violência urbana comum as metrópoles brasileiras.



Normando Viana na Ponte Vecchio - Florença


O ônibus nos leva ao hotel nos arredores de Florença. E lá o papai Noel também não apareceu. Nenhum sinal do natal na terra dos antigos e rigorosos Papas. Os sinos das tradicionais e históricas catedrais permaneceram silenciosos. As residências e lojas não estavam iluminadas a rigor. Nos canais de TV não havia grandes referencias e nem programações especiais. Não havia se quer os tradicionais e já manjados filmes de conteúdo bíblico. Apenas um dia como outro qualquer, fantástico e cheio de novidades para os turistas, mas comum aos italianos de modo geral. Confirmo então o que já sabia: o natal não é universal como pensei durante muitos anos. Reflito então sobre o porquê de não nos ensinarem as coisas de forma completa e verdadeira durante a infância. Nossa educação não nos permite escolhas e muito menos incentiva construções a partir de interpretações próprias sobre determinados fatos. Apesar de agradecidos pela possibilidade de me ausentar dos velhos e bregas shows natalinos da TV Globo e companhia, e logicamente, das lamuriosas e ultrapassadas canções dos famigerados e oportunistas cantores meramente capitalistas, pela primeira vez na vida o natal me fez falta. Não pela festa em si, e muito menos por seu significado religioso, mas pela distancia de nossa própria cultura. Acho que na verdade senti falta de um Brasil mais verdadeiro em dignidade e garantia de direitos, coisas comuns e aparentemente fundamentais na Europa, ainda que afundada em grande crise econômica.


O Poder Público a Serviço do Povo nas Ruas de Florença
 
Final de noite. Recepção vazia, restaurante do hotel fechado, silêncio absoluto. Sem sombras de dúvidas o trenó do Papai Noel não sobrevoou os ares de Florença naquela noite. Como todo bom brasileiro, hora de colocar o plano B em ação. Protegidos por casacos sobrepostos, devido à baixíssima temperatura local, apressadamente atravessamos as ruas rumo ao hotel mais próximo. Mesas cobertas por toalhas brancas proporcionavam sobriedade ao restaurante. Uma legítima pasta italiana acompanhada de vinho regional completaria nossa ceia. Conversas animadas sobre as novidades, impressões pessoais e diferenças culturais nos levariam aos risos. Porém, naquela noite de um natal inesquecível descobriria nos olhos do meu companheiro de viagem que a saudade brasileira também se torna luminosamente verde quando estamos longe. Enquanto isso, na mesa ao lado uma família não latina jantava indiferente. Mesmo assim, para não perder o hábito ou para nos sentir mais confortáveis desejamos Feliz Natal aos poucos funcionários dos hotéis e dormimos em paz.



A Saudade Brasileira é Luminosamente verde



Próxima parada, Veneza!


Rio Arno Corta a Cidade de Florença

A Fria Manhã de Florença

Hécules e Caco - Obra de Baccio Bandenelli
Frente do Palazzo Vecchio