domingo, 18 de dezembro de 2011

CIENTISTAS DESCOBREM VIDA EXTRATERRESTRE?




KEPLER 22B - O SONHO DO "TERRENO" PRÓPRIO.

O ano de 2011 termina com uma grande surpresa repleta de novos significados. Na segunda semana de dezembro cientistas da Agência Espacial Americana – NASA anunciaram a descoberta de um planeta com características parecidas com as da Terra. Localizado fora de nossa galáxia, a mais de 600 anos-luz de distancia da Terra, o novo astro foi batizado pelos norte-americanos como Kepler 22b. Segundo estimativas, ele possui dimensões 2,4 vezes maior do que o planeta que habitamos atualmente e tem temperatura aproximada de 22 graus centígrados. Para os cientistas estas evidencias tornam-se bastantes para se pensar as possibilidades de futuras habitações humanas (ISTOÉ 2195, 2011). Sem dúvida alguma essa é talvez a mais importante descoberta de todos os séculos. A notícia coloca não só a sociedade científica em ebulição, mas de modo geral o mundo financeiro. As perspectivas de colonização com certeza elevarão os índices das bolsas de valores, grandes investimentos em pesquisas espaciais serão feitos nos próximos anos e em pouco tempo missões científicas partirão rumo às novas terras. Inicia-se uma nova era para o que já se conhece como corrida espacial. Em 2011 o céu deixou definitivamente de ser o limite para o homem.

Sempre gostei de filmes de ficção científica. Repletos de misteriosos seres alienígenas sempre despertaram entre nós muita tensão e curiosidade. A simples possibilidade de existência dos seres extraterrestre sempre dividiu opiniões. Altos, magros, gelatinosos, com apenas um olho ou repletos de filamentos pegajosos, os ETs a muito tem despertado grandes emoções e elevado as bilheterias dos cinemas em todo o mundo. Violentos ou pacíficos se tornaram personagens clássicos em nossa literatura. Neste sentido, Kepler 22b representa uma grande chance de resposta a uma pergunta que nos persegue e intriga a milhares de anos. Estamos realmente sozinhos no universo? Na minha concepção, não. Na verdade acho que seria um imenso desperdício, além de enorme incoerência, existir vida apenas em um dos nove planetas que formam nossa galáxia. Não haveria sentido a existência de milhões de astros, estrelas e planetas totalmente desabitados. Seriam como grandes bolas flutuando no ar como simples bolhas de sabão soltas ao vento ou simplesmente meros objetos decorativos. Acredito que a questão não é se existe vida fora da Terra, mas que tipo, ou tipos de vida podem existir. É neste sentido que Kepler passa a representar uma concreta possibilidade de respostas a curto e médio prazo. Para os cientistas da NASA e especialistas do mundo inteiro encontrar vida alienígena é só uma questão de tempo.

Em séculos passados dominamos os mares para descobrir novas terras. Nos séculos futuros dominaremos o espaço em busca de novos planetas habitáveis, denominados pelos astrônomos especialistas como superterras. Com a colonização de Kepler, nós, habitantes do continente americano perderemos então o título de novo mundo. Na verdade a Terra se tornará nossa antiga morada. Acho até que com o tempo se tornará uma espécie de colônia do novo planeta. A idéia, por mais absurda que possa parecer nos trará imediatamente a memória terríveis filmes de ficção científica anteriormente considerada fantásticas demais e distante da realidade, onde seres humanos escravizados tornam-se reféns de aliens poderosos e malvados que extraem da Terra os recursos que necessitam. Porém, o enredo que se desenha a nossa frente parece revelar diferentes possibilidades. Não acredito que nos tornaremos reféns dos alienígenas, mas sim, reféns de poderosos homens que governarão Kepler. Neste sentido, acho que a ambição humana assumirá dimensões gigantescas, uma vez que o planeta a ser explorado é quase duas vezes e meia maior que a Terra. Numa dedução lógica, em poucos anos invadiremos o planeta. Então instalaremos hotéis de luxo em Kepler e pagaremos fortunas por um final de semana no outro lado do mundo. Os condomínios residenciais serão uma realidade futura. Verdadeiras cidades serão construídas, deixando os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Porções de terras serão oferecidas em comerciais de televisão. As grandes empresas abrirão suas filias e em pouquíssimo tempo “organizaremos” o planeta ao nosso modo. Abriremos estradas e rodovias, instalaremos shopping center, restaurantes, cinemas e mais uma porção de coisas necessárias ao conforto do homem moderno. As perspectivas de desenvolvimento econômico são imensas. Talvez Kepler apresente melhores condições de vida devido à preservação de suas estruturas originais. Talvez ainda não exista desenvolvimento [partindo do nosso referencial, logicamente falando], e muito menos poluição por não haver ainda o desgaste de suas reservas naturais. Definitivamente Kepler será nosso roteiro preferido. Porém nem todos terão acesso. Apesar de maior não haverá espaço para todos. Numa visão mais pessimista, diria até que Kepler abrirá para alguns, quem sabe, uma nova possibilidade de consolidação da supremacia de uma raça pura. Afinal de contas a eugenia é um sonho humano que se encontra apenas temporariamente adormecido. Não há duvidas que o modelo higienista volte a se impor no novo processo de colonização.

Mas independente disso tudo, Kepler é na verdade uma grande promessa para a perpetuação de nossa espécie. Trás em seu bojo certo alívio para os muitos que receiam o inevitável colapso terrestre, afinal de contas, não estamos mais em um beco sem saída porque já temos para onde nos mudar quando a vida aqui ficar impraticável. Ficção e realidade se misturarão para criarmos uma nova versão da “Arca de Noé”, mais potente e moderna, pela qual transportaremos pequenas quantidades de espécies da nossa fauna e flora. Entre os humanos, logicamente, serão selecionados os mais capacitados intelectualmente e aptos a atender as novas demandas. Não deve ser fácil conquistar um planeta muito maior que o nosso. Assim, será preciso enviar cientistas, filósofos, grandes artistas, empresários influentes e políticos que comporão a nata da nova sociedade. Logicamente que será preciso alocar pessoas operacionais, até porque alguém precisará colocar a mão na massa para consolidar construções concretas. Em curto prazo replicaremos as relações de poder e instalaremos um sistema econômico em Kepler. Talvez uma versão do capitalismo. Talvez algo mais nocivo.

Mas como nem tudo na vida são flores será preciso primeiro pensar [ou talvez repensar] algumas questões de ordem prática. A primeira refere-se diretamente ao direito a descoberta. Kepler será colonizado pelos norte-americanos, pela união européia, pelos japoneses, chineses, ou por quem conseguir chegar lá primeiro? Com certeza nessa corrida não haverá muito espaço para nós brasileiros. A não ser que a união dos países emergentes lance uma nova modalidade de parceria econômica, abrindo espaço para o surgimento de empresa de exploração planetária, do tipo “BRINC no Espaço”. Neste caso, com certeza seria uma nave espacial bem colorida devido a multicromagem das bandeiras brasileira, russa, indiana e chinesa. Talvez nada disso seja preciso e apenas uma tripulação multinacional, no melhor estilo globalização pacífica, inicie o processo de colonização. Além de mais econômico, a ação seria mais democrática. Independentemente disso, uma coisa é certa, será necessária a participação da iniciativa privada porque o montante financeiro exigido para tal empreitada será estratosférico.

Partindo da lógica “todos juntos venceremos”, se fará imprescindível a divisão dos lucros. Ou seja, o planeta terá que ser dividido como um grande bolo fatiado. Quais porções de terras habitáveis caberão a cada país participante da nova missão? Faremos mais uma vez, a replicação de nosso sistema político e econômico, dividindo Kepler em regiões de conflitos. Talvez até façamos uma nova releitura do “Tratado de Tortesilhas”, dividindo o planeta em hemisférios. Não é verdade que a fundamentação da nossa lógica capitalista costuma nos mostrar que as boas práticas devem ser replicadas? Isso poupa tempo para as tomadas de decisões e garante os resultados esperados [alguém duvida?]. Assim, estabeleceremos os mapas geográficos, onde algumas regiões serão inevitavelmente mais desenvolvidas que outras; onde nações ricas explorarão e subordinarão outras menos afortunadas. Será o reinício de uma nova tentativa para velhos problemas. O problema consistirá então em construir novos modelos. O que acho improvável. Porém, acho mais oportuno no momento pensar em coisas mais urgentes.

Segundo os cientistas, a órbita de Kepler é equivalente há 290 dias terrestre. Isso quer dizer que o planeta gira em torno de si mesmo em um tempo menor que a Terra no mesmo movimento [deu pra entender?]. De modo simples, isso significa que o ano Kepliano [ou seria Kepliniano?] é 75 dias mais curto que o ano terrestre. Será que precisaremos [re]pensar as dimensões cronológicas, caso contrário nossa vida em Kepler se tornará mais curta? Se uma década na Terra equivaleria a aproximadamente 3.650 dias, em Kepler esse número cairia para 2.900 dias. Ou seja, passar uma década em Kepler nos custaria 2,05 anos de vida. Será que se morre mais rápido em Kepler? E como ficará nossa ensandecida busca pela eternidade? Fora isso, precisaremos pensar quanto tempo de vida gastaremos para chegar até lá. Neste aspecto, confesso que como sempre fui muito ruim em física, resolvi recorrer à internet para descobrir que ano-luz é uma unidade de comprimento que corresponde ao espaço percorrido por um raio de luz em um ano [simples?]. Fato é que essa é uma medida grande demais para aplicações comuns aqui na Terra. Por isso tal medida destina-se a marcar distancias no espaço cósmico, entre as estrelas de uma mesma galáxia [o que não é o caso de Kepler] ou entre galáxias distintas [o que é o caso de Kepler].

Resumindo, ano-luz parece ser uma medida útil apenas para os astrônomos [o que não é o meu caso], por tanto para nós pobres mortais [o que é o meu caso] torna-se bastante imaginar que um ano-luz equivale a 9,5 trilhões de quilômetros. Isso corresponde a quase 63.240 vezes da distancia média entre a Terra e o Sol [deu para entender agora?]. Num calculo rápido podemos deduzir então que o novo planeta está a mais de 37.944.000 Km [trinta e sete bilhões, novecentos e quarenta e quatro milhões de quilômetros] de distancia. A questão então é a seguinte: se para o homem ainda é impossível se locomover na velocidade da luz, tal distancia se tornará ainda muito mais demorada para ser percorrida com os recursos que dispomos. Alguém consegue responder em dados simples o que significa 600 anos-luz? E ainda, diminuir minha ansiedade respondendo a uma simples pergunta: se hoje, com quarenta e cinco anos, eu saísse rumo a Kepler, com quantos anos de idade eu chegaria? Antes das respostas chegarem prefiro imaginar que com a claustrofobia e aerofobia que tenho morreria no caminho. Ou seja, Kepler está definitivamente fora dos meus planos turísticos. Meu único consolo é que tal situação parece se estender a todos de minha geração.

Devaneios a parte, o bom disso tudo é que fica mais evidente a existência de vida fora da Terra. Ou seja, os aliens podem existir de fato. O que acredito piamente. Isso nos traz outras reflexões bem mais difíceis de maturar porque mexe diretamente com questões mais complexas como religiosidades, sobretudo. Imaginemos por exemplo, que Kepler 22b já seja habitado. Não que isso possa impedir nosso processo de colonização, afinal de constas a história nos tem mostrado cotidianamente o poder de dominação e da violenta força de subjugação da raça humana. E não duvidem que se os Keplenianos se meterem a besta a gente passa por cima. O problema é pensar que se Kepler está em outra galáxia e têm habitantes, não seria provável que estes tenham também um deus, ou algo parecido? No caso da existência de um deus, esse por sua vez, será o mesmo que o nosso? Sim, responderão os mais apressados e convictos da fé cristã. Contudo, se os Keplenianos [ou será Keplianos?] tiverem também sido criados a imagem e semelhança de Deus, a coisa ficará confusa demais. Isso porque, ou eles serão semelhantes a nós, ou Deus nos terá enganado. Pior ainda, será pensar que talvez Deus nunca tenha nos dito isso, o que significaria que os escritos bíblicos se configuram como uma grande farsa. Uma simples criação humana. Numa outra hipótese, se seus habitantes tiverem outro deus, significa que o nosso não é único, onipotente e onipresente. O universo estaria então dividido sobre o domínio de deuses distintos e poderosos, o que nos colocaria em outra grande enrascada. Descobrir quem criou o universo. Além disso, precisamos pensar caso a hipótese se confirme, sobre a quem deveremos obediência cega e irrestrita? Passaremos a adorar dois deuses? Via de dúvida, e para não dá um nó maior em nossa cabeça, talvez seja melhor optarmos pela hipótese de uma possível dupla face de Deus. Acho que assim agradaríamos a gregos e troianos, ou melhor, corrigindo, aos Terráqueos e os Keplenianos.

Caso eles não tenham um deus, ou deuses, não seria problema para nós. Seria até fácil ensiná-los a seguir nossas doutrinas e dogmas. Já fizemos [e continuamos fazendo] isso tantas outras vezes, que de certa forma, já adquirimos a prática da indução. Imagino que não seria diferente do que foi a colonização do Brasil, por exemplo. Até de certo modo, imagino que adotaremos os mesmos procedimentos. Primeiro invadimos as terras do novo planeta. Depois numa ação amistosa e de paz tentamos lhes ensinar o sentido e significado de civilização. Por fim, os ensinaríamos a trabalhar para garantir o progresso do planeta. Com o tempo alienaremos sua cultura. Ensinaremos tudo o que sabemos aos novos camaradas, menos como se institui o poder. Para evitar problemas futuro. Seremos verdadeiros deuses, ou donos, dos inocentes Keplenianos, que a esta altura terão sido classificados como casta inferior. Na verdade o processo, provavelmente será até mais simples, sem os entraves e discursos demagogos do pessoal dos direitos humanos. Talvez nem existam movimentos em prol dos direitos humanos, porque esses provavelmente não serão assim considerados. Mesmo que nos sejam semelhantes, no máximo receberão a alcunha de selvagens, como fizemos com os indios que habitavam o continente americano; ou de sub-raça, como fizemos com os negros africanos, ou mesmo com os judeus. Prática para o estabelecimento das normas é o que não nos falta.

O grande desafio, porém, será a necessidade de refletir nossa soberba supremacia. Isso porque em Kepler talvez exista uma raça mais evoluída. Quem sabe até superiores em inteligência, forças e armas. Será que eles já não nos conhecem? Será que por nos considerem tão desprezíveis e/ou desinteressantes preferem nos ignorar? Talvez não sejam amistosos. Mas independente disso tudo, chegaremos até eles com ou sem autorização [e que ninguém duvide]. Kepler é para nós na verdade não uma escolha, mas uma possibilidade de manutenção da vida humana. Não podemos esquecer que sempre funcionamos dentro de uma lógica parasitária que nos impõe a necessidade de novos recursos para explorar e assim seguir vivendo. Durante os séculos no multiplicamos rapidamente como pestes. Invadimos florestas e mares e mesmo assim não dispomos mais de espaço com condições de habitação. Em suma a Terra se tornou pequena demais para nós humanos. A corrida espacial não difere das grandes navegações. Não estamos fazendo nada de diferente. Seguimos apenas uma lógica considerada “natural”. Kepler ou outro planeta qualquer que por ventura surja a nossa frente será inevitavelmente habitado. É uma questão de sobrevivência. De vida ou de morte. E nesse ponto, a morte sempre nos foi inoportuna. Nossa história é marcada por conquistas. Chegamos a Lua, conhecemos o Sol, chegaremos a Kepler, dominaremos o cosmo. Exploraremos planetas e galáxias distintas porque somos guerreiros. Em pouco tempo a Terra será apenas uma colônia que abastecerá os humanos de Kepler. E na sequencia, Kepler se transformará com o passar dos séculos em colônia de algum novo planeta porque continuaremos predadores. Contra fatos não existem argumentos. E a conquista do espaço é fato concreto.

Essa guerra pela sobrevivência perde espaços terrenos para exigir espaços mais amplos e universais. Não existirão limites para a raça humana. E mesmo as questões de ordem divina serão revistas, novas crenças e filosofias serão [re]criadas e a nova ordem [re]estabelecida. Neste sentido, Kepler torna-se recurso ou meio para se chegar aos fins. Abrirá espaço para questionarmos inclusive a própria existência de um deus único. Com o tempo encontraremos as devidas respostas, preenchendo lacunas seculares. Saberemos por exemplo, se Jesus também visitou Kepler. Isso partindo da crença em um Deus único. Ou ainda, se Ele os teria enviado outro filho? Neste rastro surgirão respostas para perguntas abertas até os dias atuais. Por exemplo, será que a Maria-Kepliniana também era virgem quando concebeu o filho do deus de Kepler? Será que esse também morreu na cruz para salvar seus habitantes? Será que já inventaram o natal em Kepler? E se não tiver carnaval? Se não tiver corrupção a gente envia um bando de políticos. Se os faraônicos templos religiosos desmoronarem diante da verdade absoluta criaremos outra forma de alienação de massa. Se tiverem armados ou tentarem resistir os dizimamos, afinal já fizemos isso antes.

Mas se em Kepler existir miséria, melhor. Aí sim nos sentiremos literalmente em casa. Mostraremos o poder de nossos princípios de caridade despretensiosa. implantaremos nossas políticas de assistencialismo bem sucedidas. Os subjugaremos e os dominaremos através de nossas doenças. Primeiro os infectamos e depois vendemos a cura. Negaremos saúde, como também educação e direitos. Criaremos leis poderosas e depois os manteremos trancafiados por desacato a supremacia humana. Instalaremos o tráfico de drogas em suas comunidades para torná-los dependentes do nosso sistema. Talvez até o nosso crack possa dizimá-los de forma mais rápida e assim economizamos com artilharia, como fazemos atualmente. Aos poucos, lenta e sorrateiramente alienaremos seus bens e seus corpos para nos tornarmos soberanos. Por fim, os chamaremos de povo, estabelecendo seus limites de acesso para garantir a ordem do poder. Nada muito diferente. Nada muito estranho. Nada muito contraditório a nossa natural conduta humana.

Sem dúvidas, o ano de 2011 entrará para nossa história, e dos Keplenianos também, como marco das grandes perspectivas incertas e duvidosas. Com certeza absoluta nossas vidas serão contadas a partir do antes e do depois dessa grande descoberta. Talvez até os tradicionais aC e o dC [antes de Cristo e depois de Cristo] sejam substituídos por aK22b e dK22b. Talvez esse seja apenas o primeiro planeta que invadiremos. Talvez consigamos expandir nosso poder de destruição pelo universo. Talvez nossas bombas e armas de guerra provoquem uma grande explosão futura. Quem sabe assim conseguiremos reproduzir a tão sonhada explosão que originou o big-bem. O problema é que talvez, diferentemente não originemos a vida, mas a morte e o fim da raça humana.

Boas reflexões para todos em 2012. Vamos rumo a Kepler!































quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

UM NATAL REPLETO DE BREGAS BORBOLETAS TENDENCIOSAS






NO RECIFE O NATAL É BREGA.

O natal é uma data extremamente brega! Engraçado como o passar dos tempos nos trás revelações inesperadas. Durante a infância, ou mesmo adolescência, se quer supus questionar antigos ensinamentos. Tão pouco na juventude. Era natal e pronto. O fato em si já referendava a magnitude simbólica. Tempo de paz, amor, solidariedade, e acima de tudo, caridade. Não se falava alto no natal, evitavam-se brigas e desavenças. Espécie de trégua momentânea em respeito aos dogmas do cristianismo. É preciso purificar a alma para se viver o natal porque Jesus morreu na cruz para salvar e redimir a humanidade. Sob esse argumento nos ensinavam a importância de refletir sobre os nossos próprios erros, purgar os pecados e fortalecer as promessas pessoais. Uma espécie de alto flagelo imposto pela cultura, pelo qual se buscava, e muitas vezes até se alcançava uma elevação caricata. Definitivamente não é fácil refletir sobre o natal. Na verdade torna-se extremamente difícil, e porque não dizer impossível, questionar símbolos secularmente fossilizados no imaginário das sociedades ocidentais. Via de dúvidas, prefiro esclarecer que questiono as construções do natal contemporâneo, engolido pelo capitalismo, e assim transformado em negócio rentável.

Talvez a comercialização do natal nem seja um pecado tão grande assim, visto a própria mercantilização da fé, fato que também se mostra secular. Na verdade, o fato me parece mais reflexo do que propósito. Aprendemos a comprar o natal, o que logicamente se diferencia do vivenciar o natal. Para mim um bom exemplo evidencia-se no marketing adotado por um clássico cartão de créditos cujo slogan destaca: “algumas coisas na vida não tem preço! Para o resto...”. Neste sentido, conheço pessoas, que guiadas pela lógica mercantil buscam inclusive obter até o que o cartão sabiamente salienta não poder comprar: sentimentos. Há muito tempo atrás, por exemplo, conheci uma senhora, irmã de um grande amigo, que comprava os presentes natalinos durante o mês de janeiro porque os produtos ficavam pela metade do preço. Ela costumava guardar “presentes” para possíveis necessidades sociais. Em uma destas, durante um natal que não lembro a data, ganhei um par de meias. E confesso que se esqueci a data, o mesmo não ocorreu com o presente. Não pelo valor comercial, mas pelo simbolismo agregado. Nunca conseguir usar as pequeninas meias de cor azul escuro, mas guardei-as por um longo tempo. Poderia mesmo dizer que considerava aquele, um presente inesquecível. Era um exemplo do que não se fazer no natal.

Também já vi pessoas criticarem os presentes solicitados por amigos secretos. Neste ponto, vale salientar que amigo secreto moderno estabelece até preço para as simbólicas lembrançinhas natalinas. Numa lógica do nem tanto e nem tão pouco, estabelece-se piso e teto para valorar a generosidade alheia. O bom do “negócio” é que se evita sempre que possível as decepções e situações constrangedoras. Cá prá nós, não existe coisa pior do ganhar no natal um presente que não tem haver com você. O mais engraçado e divertido desses eventos, no entanto, é poder presenciar a reação dos presenteados. Cara de espanto ou de surpresa é regra geral. Mesmo quando o presente é exatamente um dos três que você registrou na lista previamente organizada. Depois tem os comentários e críticas sobre quem acertou em cheio o que se desejava; sobre o valor que estava abaixo do estabelecido; sobre as más intenções por trás de presentes caros; ou, sobre as possíveis preferências das chefias. Os amigos secretos tornaram-se atravessados inclusive por recortes de classe. Sorte de quem for escolhido pelo diretor da empresa, azar de quem cair nas mãos do auxiliar de serviços gerais. No nosso natal solidamente capitalizado, o presente é o que menos importa, mas sim, o valor e o status que ele representa. É nesse sentido que tenho constantemente pensado no quanto nos tornamos bregas por vivenciar uma festa que parece ter perdido sentido. Ou seja, o que quero dizer é que para mim o natal é uma festa que parece repleta de obrigações costumeiras ultrapassadas.

Dentro da cultura popular nordestina, brega é sinônimo de cafonice e deselegância. Também nos serve como classificação de estilo musical, representado por canções melosas devido ao sentimentalismo empregado as letras. Há quem duvide que o brega tenha alguma qualidade artística devido à falta de refinamento poético. Há quem o classifique como arte menor por considerá-lo empobrecido. Mas penso que se arte representa uma capacidade humana de por em prática uma idéia, valendo-se da faculdade de dominar a matéria; ou ainda, capacidade criadora de expressar ou transmitir sensações ou sentimentos, tendo a acreditar que esta não necessariamente precisa de refinamento. Popularmente costuma-se dizer que viver é uma arte. Logo, acredito que se o brega enquanto estilo musical retrata o cotidiano de um determinado segmento da população, revelando sensações, percepções e sentimentos específicos, automaticamente deve ser entendido enquanto arte. Talvez a questão chave para as divergências se concentre no entendimento relativo ao conceito de estética. De outra estética que representa e configura o estilo de vida de quem não pertence à burguesia. É neste contexto que o termo brega parece também perpassado pelos recortes étnico/racial e de classe social. Assim, o que não é burguês torna-se automaticamente brega, porque na contramão do clássico, tende a quebrar uma tradição pautada na falta de excessos de ornamentações e no culto a simplicidade e a sobriedade. Elementos estes que segundo a tradição cristã prescrevem os fundamentos e as condutas natalinas.

Na prática brasileira, no entanto, o natal não é clássico. Pelo menos, não de forma generalizada. Primeiro, porque a sobriedade é utópica uma vez que a própria tradição incorporou o famoso brinde natalino. Pode parecer exagero, mas basta verificar as estatísticas sobre acidentes no transito, acentuadas pelo consumo de bebida alcoólica. Segundo, porque a simplicidade da festa exige champagne, taças de cristal, peru, presentes caros e roupas novas, entre outras coisas. Pode parecer contraditório, mas nem todo mundo tem acesso. E muito menos cartão de créditos. Terceiro, porque os excessos de ornamentações se tornaram marca de felicidade, seja nas decorações que iluminam as cidades e casas, seja nos acessórios que iluminam os corpos. Se a prática contraria o fundamento, e se o natal não corresponde ao conceito de clássico, evidencia-se sua tendência ao brega. Assim, o natal tem se tornado definitivamente uma festa prá lá de brega.

Uma pessoa mal vestida para os festejos natalinos, por exemplo, torna-se brega pelo desencontro com ultimo grito da moda. Mas na verdade a moda não grita. Ela dita, num sentido mais restrito de imposição e prescrição, as regras e tendências a partir de uma estética considerada como bom gosto. E isso é fundamentalmente necessário ao natal capitalista que incorporamos. E bom gosto significa gosto finalmente adequado às exigências da moda e dos costumes. Por sua vez, se os costumes podem ser entendidos como hábitos e práticas generalizadas pelo senso comum, automaticamente, contrariar as regras estabelecidas para o natal nos torna brega. Não será isso que fazemos a cada final de ano? Neste mesmo caminho, penso que usar brilho demais em terras marcadas por tamanha desigualdade social parece brega, mas não é, e sim status. Dessa forma, só nos resta classificá-lo como prática do pedantismo acintoso. Adotar comportamentos deselegantes durante as refeições é extremamente brega por contrariar a etiqueta gastronômica. Ri alto demais em locais públicos nem se fala. Mas acho que no natal tudo pode. Como pode também demonstrar decepção pelo presente recebido; incomodar a vizinhança, mesmo que para eles o natal não faça sentido; impedir que seus funcionários domésticos vivenciem o natal em família devido ao grande jantar que será oferecido para um grupo seleto de amigos, do qual logicamente, estes só devem, e podem, se aproximar para servir-los; ou ainda, promover festas natalinas que se configuram como espaços de articulação política ou extensão dos negócios.

Vale também que no natal não se olha para baixo, mas para cima. Não que dê azar, mas porque é no alto que se encontra a beleza das luzes que decoram ruas mal cheirosas e repletas de mendicantes. As luzes que iluminam árvores e prédios não se irradiam por becos onde se encontra a escória. Por exemplo, não existem borboletas coloridas na Av. Conde da Boa Vista. Elas também não chegaram às principais praças públicas do centro da cidade. Talvez porque nas praças Maciel Pinheiro, da República e Joaquim Nabuco, apenas para citar algumas, não existam flores. Talvez por que estas já estejam tomadas pelas mariposas, por extensão, prostitutas, que junto às travestis borboleteiam nas noites, independentemente do natal. Talvez, porque clarear tais espaços revele a segregação social e a ausência do poder público, o que não seria bem visto pelos de[votos]. Mas pelo menos, no caso específico de Recife, a Av. Agamenon Magalhães está repleta delas. Azuladas, rosadas, amareladas ou brancas, elas margeiam o canal que finda no Rio Capibaribe, dividindo a cidade velha em ilhas. Assim, suas lindas e criativas asas em material reciclado se limitam a sinalizar interligações entre bairros nobres. Não que o natal recifense seja apenas destes, mas que a queima de fogos fica mais bonita na praia de Boa Viagem ninguém duvida. Afinal de contas, natal nos dias atuais também é sinônimo de competição. Quem sabe um dia não se consegue melhorar a imitação de inspiração carioca. Neste ponto, me questiono se a imitação é um comportamento brega. Será que cabe no natal?

De forma resumida e simples, o que mais me consola é saber que depois do período natalino as bregamente coloridas luzes se apagam e a cidade volta rapidamente a sua rotina desorganizada e frenética. Isso se repete a anos. É tudo igual e nada muda, ou parece que mudará. Mas neste ponto, é realmente uma dádiva saber que tanto a Simone, quanto um séquito de padres cantores, reconhecidamente como legítimos comerciantes nataleiros, serão silenciados novamente por um bom e considerado período de tempo. Bom também saber que a poluição sonora mais uma vez diminuirá consideravelmente, e que o único e original brilho a iluminar a cidade virá do sol e da lua. O que tende a deixar tudo novamente menos desigual e injusto. Pelo menos no sentido da visibilidade das mazelas urbanas. Até porque os astros e satélites não costumam iluminar partes ou áreas, mas a todos, e de forma igualitária. E apesar de também virem de cima, não escondem as sujeiras e as condições subumanas em que vivem milhares de recifenses, para quem, muitas vezes, o natal capitalista que vivemos também não faz sentido, e muito menos trás melhorias.

Assim, que voem as borboletas do Recife. Não as das praças, porque cumprem com seus papeis sociais. Mas as que servem apenas como enfeites passageiros e efêmeros a pequenos e restritivos espaços. Que estas sobrevoem a cidade e irradiem os corações dos homens que verdadeiramente precisam de iluminação política social. Que abram suas asas para lhes ensinar o verdadeiro valor da sobriedade e simplicidade, elementos fundamentais para resoluções de problemas em cidades “classicamente” abandonadas não só durante o natal, como o velho e brega Recife.