sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A DESENFREADA SOLIDÃO URBANA




O CENÁRIO VAZIO DOS GRANDES CENTROS URBANOS

Há muito me sinto dissoluto. Depois de quase seis anos morando sozinho não tenho mais escoras ou amarras. Nada me prende. Muito menos paredes ou grades nas portas. Sinto-me definitivamente solto no tempo e no espaço. Muitos chamam isso de liberdade. A tão almejada possibilidade de sentir-se desatado de tudo e de todos. Por outro lado, alguns argumentam que a liberdade em excesso torna-se prejudicial. Independente das divergências é sabido que sua ausência ou conquista precipitará sempre processos longos e dolorosos. E neste momento é essa dor que me chama a atenção a ponto de traçar algumas linhas reflexivas. A dor da triste liberdade de estar ou sentir-se só. Uma dor que parece se revelar em várias dimensões ou proporções entre os diversos sujeitos urbanos. 

Penso que de certo modo, entre os metropolitanos essa autonomia tem se transmutado em sofrimento que figura estampada em rostos e comportamentos. E isso até certo ponto parece uma verdade meio que generalizada. Não ter que dar satisfações, não ter que pedir licença, não ter que pedir opiniões, não precisar negociar decisões. Neste contexto, o ato de sempre poder decidir por si próprio tem se mostrado um exercício prá lá de desafiador para muitos. Morar num centro urbano, em pleno centro da cidade, diante da avenida mais movimentada, por exemplo, não ameniza a certeza de se está só diante da vida, diante de si, de frente para o infinito. Nestes momentos a responsabilidade para consigo mesmo parece ampliada. Olha-se para os lados e verifica-se que não há quem recorrer. Depois se pára e reflete-se sobre o recorrer? Por fim, não nos resta mais a certeza sobre a quem se deseja realmente recorrer, e principalmente, porque desejar fazê-lo? Percebe-se então que não existem motivos aparentes. Mas descobre-se com o tempo, que a falta de colo é um mal comum a quem habita sozinho, grandes ou pequenos espaços silenciosos que se perdem em meio ao barulho ensurdecedor das grandes cidades. Não ter com quem partilhar, dividir ou comemorar momentos atormenta e em certa proporção adoece. Entende-se então que a dor causada pelo vazio acomete e amolece o mais forte dos fortes, e o mais bravo dos bravos.

As metrópoles são na verdade um grande e vazio cenário cinzento e insensato. Milhares de pessoas sós em si, e de si mesmas, circulam a ermo. Com ou sem destinos certos vagam pelas ruas em busca de algo que parece inatingível e inviável. Algo que não se pode alcançar nunca. Em meio a todas, algumas pessoas mais agitadas revelam tiques nervosos. São populações apressadas, onde todos se mostram atrasados em seus intentos e objetivos imprecisos. Os mais angustiados direcionam repetidamente seus olhares aos pulsos, mas não sentem as vibrações dos próprios corpos. Apenas contam minutos ritimadamente martelados por ponteiros estressados e estressantes. As horas correm e elas aceleram os passos rumos ao nada. Superlotam ônibus, atropelam-se nas calçadas, resmungam e xingam suas condições de sujeitos errantes. Veículos aceleram em sinais fechados e esperam a largada para cantar pneus nos asfaltos. O motor parece substituir seus corações, bombeando monóxido de carbono e alienando seus cérebros. Estão sempre atrapalhados e atrapalhando o resto do mundo em congestionamentos intermináveis e sem motivos. Neste ritmo alucinado e frenético, ruas pequenas e estreitas sufocam e os mantêm reféns de suas próprias armadilhas. Surge o medo que os apavora. Medo de tudo que faz com que janelas e portas se mantenham seguramente trancadas e constantemente vigiadas. O medo do próprio medo que torna necessário que afirmem e reafirmem suas certezas, ainda que as incertezas se mostrem como guias práticos e cotidianos. O medo do nada e do desconhecido ou inesperado que se torna pânico e estabelece comportamentos e condutas neuróticas. Uma espécie de insanidade coletiva que determina as suspeitas que funcionam como alertas aos perigos nem sempre reais.

Presas em seus pequenos mundos e submundos buscam a distancia e privacidade. Mas privacidade é algo que não se compra em grandes cidades. É neste atropelamento de buscas ansiosas que diariamente vejo determinado vizinho, todas as noites, tombar pelo corredor ao lado de uma prostituta. Vejo-os passar diante de minha porta. Ele trôpego, de garrafas nas mãos, a resmungar algo inteligível. Ela, ou elas, atrás, como se fatigadas e sem vidas. Cansadas não pelo ofício, mas pelo sugar de suas atenções em atendimento às carências alheias. No pequeno cubículo, através da parede que nos separa percebo que ele habitualmente canta enquanto dedilha um velho violão. Ao longo da noite sua voz abafada e rouca derrama lamentações e saudades de um tempo outrora vivido. Silenciosamente acompanho sons e ruídos que se intercalam e revelam movimentos e ações. Imagino que depois de algum tempo caia de sono sobre o pequeno estofado listrado encostado a parede da minúscula sala. Minutos depois, ela, ou elas, em silencio se retiram para o vazio e escuro corredor. Com dedos imprecisos acionam o botão do elevador que range até a chegada. A porta reclama o movimento para depois lentamente voltar à posição de repouso. Confinadas no calabouço vertical talvez se avaliem diante do espelho e reflitam sobre quem, nessa relação de amenidades solitárias, compra ou vende companhia momentânea. Talvez até exista mesmo cumplicidade entre ambos. E neste sentido, quem estará mais sozinho entre os dois, o velho homem bigodudo ou a puta, ou putas da praça da independência? E falo destas no plural porque raramente seus rostos se repetem, assim como seus nomes de batalha. Louras, morenas, negras, altas, magras ou obesas, apesar de diferentes se revelam as mesmas em essência e histórias. São mulheres da “vida nada fácil” perdidas em uma cidade sozinha.

Outro vizinho, aos finais de semana, aumenta o som. De Ângela Maria a Padre Fábio. Dos enredos das escolas de samba carioca a Roberto Carlos. Ninguém termina a música, ninguém completa sua triste lamúria. Talvez porque sejam os mesmos velhos e conhecidos lamentos, talvez porque encontrem eco nos prantos do ouvinte. De um modo ou de outro ninguém os escuta. Até porque não é ouvir o que se deseja naqueles momentos, mas falar. Ter a possibilidade de ser acolhido em sua própria lastima. Interpretes e fãs parecem misturados numa espécie de “fossa” catártica onde todos se purgam, se purificam e se limpam.  Todos interrompidos e maltrados pela angustia da solidão. Todos sufocados pelo silêncio que se mostra mais potente e sonoro para quem vivencia o medo de estar e de se sentir sozinho. 

Do andar de baixo, a voz de uma mulher de meia idade parecem gritos de socorro. É a Dalva de Oliveira que cantando impregna de lamentos o prédio inteiro. Sua voz lamenta e chora a falta dos amores perdidos. Ela canta enquanto a mulher grita sua dor na mesma intensidade. A dor do abandono, da rejeição e da falta imposta. Homens e mulheres, sozinhos entre quatro paredes. Acompanhados por fantasmas e assombrações pessoais. Esquecidos no tempo e no espaço. A voz da solidão se espalha e encontra respaldo dois andares acima do meu. Uma senhora chega à janela para reclamar através das músicas suas faltas. É à cidade que ela clama, perdida em brechas entreabertas entre as grades que parecem impedi-la de alçar vôos. E estes, em meio ao nada, se tornam cada vez mais constantes. Dos altos e frios prédios, a cada dia, mais pessoas despencam como folhas mortas. Lançam-se ao sabor do vento para se espatifar como frutas podres entre multidões anestesiadas que, apressadamente observam e se dissipam indiferentes. O frio que sopra do mar invade corpos e congela almas. Não existe tempo para reflexões que possam suscitar ou incentivar o próprio aniquilamento. 

Em busca desse algo desconhecido e aparentemente inatingível, dia desses vi um corpo descontrolado mergulhar de cabeça em sua sarjeta. Pareceu devorado pela boca de lobo que entulhava dejetos urbanos. Despropositadamente a cena pareceu insinuar sua condição humana, revelando um sinistro e funesto problema social que contribui para transformar pessoas em lixo nas esquinas e ruas que cortam a cidade. Corpos varridos para não atrapalhar o trânsito e a rotina dos que ainda vivem na ânsia de suas buscas. No mesmo sentido, também vi os bêbados que caem nas calçadas esburacadas e sujas. Dizem que o “porre” adormece a mente e alivia a dor. E se a noite acoberta os choros, o dia traz o sol que ilumina a vergonha do fracasso e impotência diante do vazio pessoal. Dia após dia, noite após noite, corpos pendem ou caminham trôpegos por ruas desertas e abandonadas. Perambulam ziguezagueando entre as vias duplas. Muitas vezes trombam de frente com a morte e adormecem para sempre no meio das pistas. Outras vezes estendem os ferimentos da alma à carne dilacerada por tropeços solitários. Os que cheiram vagueiam como almas penadas e as alucinações não parecem ameaçar mais que a realidade vivida. E em meio aos desastres urbanos, colas, solventes, álcool, cultos, músicas, ou qualquer outra droga, tendem a se configurar enquanto alternativas para apaziguar ou minimizar o medo do desencontro, ou das impossibilidades de encontros, consigo mesmo. Servem como alento aos prantos e desconfortos individuais.

À noite os invisíveis se arrastam pelas ruas sob o céu prateado. A imagem fantasmagórica refletiva sobre as águas mansas dos rios que cortam a cidade aumentam o ar de mistérios e perigos. Rapazes descem os edifícios e caminham em calçadas encobertas pelas sombras. Alguém encontra o que poderia ser sua alma gêmea e logo se espremem em pilastras sujas de orgasmos ressecados.  Os sarros e azarações se completam em esquinas e abaixo de marquises. É a busca desenfreada pela companhia alheia e desconhecida. Casais sobem escadarias na tentativa de se esconder, mas a privacidade é revelada por janelas repletas de sombrios e vazios vultos que sofrem de insônia ou buscam curtas diversões. Beijos eloquentes acontecem em paradas de ônibus, e do mesmo jeito, e na mesma velocidade com que as bocas se encontram, se separam e desaparecem nos bacuraus que insistem em atrasar. Nas janelas penduradas em paredes escuras, luzes denunciam sôfregas tentativas e insistências por permanências não desejadas. Busca-se além do sexo, o calor do corpo para as noites abafadas. Não demora e os movimentos nas escadarias se mostram invertidos. Meia hora, cinco minutos, desencantos, arrependimentos e incompatibilidades de desejos e preferências separam os pares. Novas buscas, novos encontros e desencontros. A noite se apressa em denunciar as obscuras safadezas que povoam os grandes e antigos centros.

As ruas se transformam em caminhos encantados, e as trilhas secularmente conhecidas e repetidamente refeitas findam em lugares comuns. As boates aglomeram milhares de pessoas que se acotovelam em buscas ansiosas. Não existe novidade. Musicas, decorações e pessoas tornam-se velhas conhecidas. Não existe mais encanto, apenas olhares languidos e nervosos que se cruzam e entrecruzam para revelar intenções. E na maior prova da busca pelo o que não se sabe, ou nem mesmo se deseja em verdade, bocas conhecidas voltam a se reconhecer em beijos frágeis e volúveis que nada representam ou despertam além do vazio de sempre. Quanto mais as horas correm ameaçando acabar a farsa, mas os nervos se afloram na busca por qualquer coisa personificada em qualquer pessoa. O importante parece ser estar, como um troféu que se precisa mostrar para validar competências e habilidades inexistentes e desacreditadas. Estranhamente as casas de shows se transformam em clubes privados onde se compactuam silêncios e vazios inconfessáveis. A felicidade revela-se frágil e enganadora. Todos riem ao mesmo tempo e do mesmo jeito. Estabelece-se um padrão de comportamento onde a falsa autonomia e a confiança compõem personagens que se desmancham a luz do dia seguinte. Coreografias são ensaiadas a exaustão para demonstrar alegrias cuidadosamente programadas e calculadas. Paira no ar um falso contentamento que nunca denotará o verdadeiro êxito do encontro duradouro. Neste cansativo processo de pegação pessoas se revezam em encontros frustrados, sempre na tentativa de uma nova possibilidade.

Na madrugada, as ruas se transformam em mercados onde carnes humanas são exibidas e oferecidas por pequenos valores. Um afago, um olhar embriagado, uma palavra despropositada solta ao vento, e novos encontros e pares se estabelecem no fracasso dos possíveis amores ansiados e ansiosos. Estranhos e estranhamentos despertam juntos, muitas vezes enrolados em corpos nunca desejados. Nada resta, nada sobra, além do vazio que não cessa. As recomposições se estabelecem e se afirmam até a próxima noite. E assim, pessoas buscam e se perdem sucessivamente em novas embalagens demarcadas por etiquetas que insinuam falsos status. São as caças urbanas que findam sempre em esperas prolongadas e monótonas. Talvez seja este o grande e principal motivo das dores que se correlacionam a liberdade dos sozinhos que se aglomeram nos grandes centros urbanos. Daqueles que permanecem ou insistem em permanecer desconhecidos. Dos que se enclausuram em pequenas celas esteticamente espremidas e organizadas em longos corredores, andar por andar, prédio por prédio, rua por rua, cidade por cidade. Os mesmos grandes espaços que juntam e amontoam são os mesmos que separam e isolam pessoas que insensatamente fingem viver liberdades não conquistadas e/ou ainda não entendidas.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

A IMPLACÁVEL LEI DA GRAVIDADE





O TEMPO QUE [RE]CATEGORIZA E TRANSFORMA PAPÉIS SOCIAIS

Hoje acordei sentido que tudo estava fora do lugar. Porém quanto mais observo e analiso, mais percebo que a única coisa fora de foco sou eu. Acho que na verdade estou fugindo de algo, providencias que preciso tomar, mas que por falta de coragem deixei pendentes. Depois de certa idade a vida parece nos exigir reparações. Fica um sentimento de dívida com quem não sabemos. Talvez esteja em plena crise da meia idade. Dizem que é natural. Não sei. Mas é como se não sentisse apenas falta de algo específico, mas ao contrário, falta de tudo. O pior é que é uma falta de um todo que não sei explicar. Talvez falta de mim mesmo, ou de quem tenha planejado ser na idade em que me encontro. É como se tivesse projetado ou planejado tanta coisa importante, coisas quem nem me lembro mais, ou mesmo continuo valorando. Na verdade nem sei do que falo ao certo. Apenas sinto que neste exato momento algo me deixa incompleto. 

Revisar as próprias angustias nunca foi uma tarefa fácil prá ninguém, porém necessária de vez em quando. Preciso por exemplo, retornar a casa dos meus pais. Desde junho que não vou por lá. Minha mãe faleceu em junho. Talvez seja um pouco disso, um sentimento de “soltura” no mundo. Uma espécie de falta de pertencimento ou de abandono. A quebra do elo com as próprias origens. As vezes acho que tenho medo de revelar a saudade que sinto, ou de constatar o vazio deixado pelo vinculo que se rompeu definitivamente. Vez por outra penso que saí de casa muito cedo para conquistar o mundo. Hoje, de certa forma temo o mundo que conquistei, e muito mais o que falto conquistar. A incerteza do alcançar o que presumimos como sucesso atormenta e amedronta. Como dizem, amadurecer dói, não fisicamente porque o corpo espicha lenta e gradativamente com o passar dos anos. O espírito sente a passagem do tempo de outra forma. É como uma contagem regressiva calculada silenciosamente onde cada segundo parece significar uma infinidade de tempo que pode ser produtivo ou desperdiçado. Como uma velha ampulheta que te acompanha e que lentamente derrama a areia da vida. O pior é que diferentemente das histórias infantis que embalavam nossos sonhos, não podemos virá-la de lado e começar nova contagem. O tempo então se mostra implacável diante do inevitável. 

Esse processo se dá sempre de si para si mesmo. Não existe cumplicidade. E por mais que alguém lhe diga que entende sempre se terá a plena certeza de que este é quem menos compreende o que se passa. O envelhecimento é frio e solitário. De repente nos olhamos no espelho e nos estranhamos. Verifica-se uma ruga em algum ponto onde nunca estivera antes. A pele parece dobrar cansada formando vincos que salientam e modificam expressões. Passamos a sorrir de forma diferente. Aparentamos diferenças nos traços que sorrateiramente insistem em redesenhar novas silhuetas. Fios prateado substituem os negros e longos cachos outrora cultivados com tanto esmero. A testa franze de forma mais tenaz e consistente a cada nova contrariedade ou discordância talvez evidenciando a falta de paciência que nos acomete. Tornamos-nos mais impacientes diante do ritmo alheio porque giramos em outra velocidade. Passamos a ter pressa nos resultados. Voltamos duas ou três vezes ao maldito espelho antes de sairmos de casa. Buscamos inutilmente ocultar o que há muito se mostra evidente ao mundo. Nós envelhecemos.

Neste ponto penso que a minha geração sofre certa crise de identidade. Isso se explica porque quando criança, estar diante de alguém com quarenta anos ou mais significava postar-se diante de uma pessoa velha. Hoje tenho quarenta e cinco e não me percebo ou reconheço na figura simbólica introjetada na infância. Lógico que a estimativa de vida e as condições relacionadas a qualidade de vida melhoraram.  Mas o que foi cultivado durante décadas não se apaga de um dia para outro. a velhice é e continua estigmatizada e estigmatizante. Desta forma, é preciso tempo para desconstruir modelos incorporados, automaticamente tomados como únicos e adotados como verdade absoluta. Sei que o processo de envelhecimento não me é privilegio ou castigo. A população brasileira está envelhecendo junto comigo. Meus ídolos envelheceram. Meus amigos me revelam a passagem do tempo estampado em seus rostos. Meus irmãos ficaram diferentes. A família vem se modificando a cada dia e tomando novas configurações. Olho para meus sobrinhos e, muitas vezes, me assusta perceber seus tamanhos e comportamentos. Deixaram de ser crianças rapidamente e com a mesma velocidade seguiram formando e construindo a terceira geração. Os papéis sociais também mudam e se alternam sucessivamente. Deixamos de ser filhos e nos tornamos pais e/ou tios, para logo em seguida assumir a condição de tio-avô.   Olhamos para os lados e as lembranças logo se tornaram passado que não volta. Entramos num ciclo sem retorno. Não existe possibilidade de acordos ou negociações. O tempo é implacável em seu intento e soberano em sabedoria.

Nas relações sociais deixamos de ser tratados por você e passamos a categoria de senhor. Apesar de profissionalmente ter assumido muito cedo tal rotulo devido a cargos e lugares de representação que sempre ocupei e que me conferia poder, a fatídica alcunha hoje me fere os ouvidos. O sentido de respeito empregado denota não mais status social, mas também a idade cronológica e a diferença geracional. E isso logicamente tem suas implicações. Você está sendo [re]categorizado.  E isso logicamente também, trás e tem implicações simbólicas dentro de nossa cultura. Fazer quarenta e cinco é vivenciar a ameaça do presente onde se hiper valoriza a juventude, e consequentemente o corpo. Assim, o mundo moderno nos tem colocado em eternas e frequentes encruzilhadas. Se não acompanhamos as mudanças tecnológicas e lingüísticas, por exemplo, nos mostramos ultrapassados. Se ao contrário, caímos na armadilha de atualizar gírias, tendências e comportamentos, corremos o risco de parecer ridículo. Difícil é encontrar o meio termo, se é que esse existe. 

Nessa nova roupagem, se assim podemos denominar o envelhecer, a gravidade se mostra como grande inimiga feroz. Nada parece se manter mais no lugar devido. As olheiras saltam e torneiam os olhos, a boca arqueia parecendo débil em certos ângulos, os peitos e músculos se mostram flácidos, enquanto a barriga exige maior espaço. É como se estivéssemos cheios de objetos que insistem em cair de nossas mãos. Não dá para segurar ou controlar tudo de uma só vez. E devido a esse despencar desenfreado, tem dias que acordamos tão amassados que verdadeiramente desejamos nos esconder de nós mesmos. Manter-nos debaixo dos lençóis parece evitar o temido reflexo da própria imagem. Da cabeça aos pés descobrem-se fios brancos.  De inicio até começamos a contá-los, mas com o tempo parece não restar algarismos numéricos para a quantificação total. A soma nunca bate e o resultado é sempre insatisfatório e traumático, para não dizer assustador. 

Talvez a crise da meia idade seja apenas uma sábia estratégia natural para demarcar a necessidade de se rever velhos conceitos. Seria o inicio da reparação de nossas dividas, de redirecionar o foco para nós mesmos, de valorizar mais os momentos e possibilidades, pois que essas mudam e transmutam o corpo e a alma. Talvez seja só uma crise, e como todas as outras específicas das idades, tenda a passar do mesmo jeito que chegou: tranquila e silenciosa. Mas de uma coisa tenho certeza absoluta, essa é uma crise que deixa marcas que não mais se apagarão. Marcas que te contarão de tua vida, que evidenciarão tua história e trajetória, como um livro que se escreve por si mesmo, autônomo e altivo como o próprio tempo tem se mostrado para todos.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

PARADA DA DIVERSIDADE SEXUAL 2011 - RECIFE


PARADA DA DIVERSIDADE 2010


PAREI COM A PARADA!!!

Confesso que ainda não entendi direito o que aconteceu no domingo, 18.09.2011, durante  a 10ª Parada da Diversidade Sexual de Pernambuco. Na verdade até agora tenho a nítida impressão de que não vi a Parada. Não que não houvesse muita gente, pelo contrário. Acredito até que essa talvez tenha sido a maior de todas em quantitativo. E aí, talvez esteja o grande problema porque quantidade nunca significou ou revelou qualidade de ação focada. Automaticamente isso me leva a pensar se a parada não se perdeu dentro da própria parada. Evidencia-se assim, que passados dez longos anos ainda não aprendemos a reivindicar direitos.

SHOW DE ABERTURA
Para que entendam do que falo, descreverei resumidamente os fatos, ou falta destes, que contribuíram para a minha perplexidade. Primeiro pelo show de abertura. E neste ponto saliento que não presenciei o início ou início dos trabalhos [eserá que era trabalho?], pois cheguei as 12:20 no Parque Dona Lindu. Wanessa estava cantando, não a da Mata, mas as dos Camargos, que depois de despencar no vazio obscuro do sucesso resolveu investir numa insólita carreira de Musa Gay. Engraçado pensar como o mercado homossexual hoje em dia tem se revelado como o grande e promissor filão para artistas de talentos frágeis e utópicos. Se pensássemos bem, não poderíamos questionar se esse não é o mesmo caminho que muitos outros aspirantes a artistas fizeram em direção ao universo gospel? Mas independente das ideologias ou objetivos da tal cantora [será que ela os tem?], o que penso é sobre sua representação e importância na causa que deveria está em pauta. Qual o engajamento, comprometimento e conhecimento político da Wanessa pessoa na luta pela igualdade de direitos? Qual a sua história?  É neste sentido que acredito que a sua fragilidade não se revelou apenas em sua performance ultra-enlatada nos moldes americanos, mas no vazio de seu discurso [alguém ouviu? ela falou alguma coisa ou foi impedida pelo playback?]. Acho mesmo que o melhor momento do show foi quando ela saiu do palco, inclusive do mesmo jeito que deve ter entrado, sem dizer a que veio. Sensação que pareceu compartilhada por muita gente, pois que o público se dissipou tão rápido quanto a sua participação. 

SAÍDA DA PARADA 2011 - RECIFE
Os trios elétricos foram colocados na avenida a quase meio quilometro de distancia do palco, e por incrível que pareça não estavam prontos para arrastar a multidão ao final do “grande show”. Fiquei realmente em dúvida se era descuido ou falta de cuidado. Talvez os dois, ou um pouco de cada coisa. O abre-alas era formado por um grupo folclórico, tipo qualquer coisa que se junta e manda seguir na frente. A beleza dos maracatus e de palhaços em pernas de pau se perdeu na “minusculosidade” em meio a tanta gente. Acho até que havia umas faixas de abertura, mas essas também sumiram em meio à multidão e passaram despercebidas [mas também que importância pode ter uma simples faixa com palavras de ordem?]. Fato é que os músicos e DJs pareciam fatigados e indispostos. Não havia energia. Não elétrica, claro, mas humana. A única coisa que parecia viva ali era o vento forte que anunciava chuva. 

De um momento para o outro, o trio da frente [aquilo era um trio ou um trem?] começou a tocar. O som estava ruim, abafado e estridente. Era um ruído daqueles que nos faz levar as mãos aos ouvidos. A coisa parecia que ia acontecer quando os veículos finalmente começaram a se movimentar, o que pareceu não acontecer com o público. Para animar mais ainda começou a queima de fogos. Mas isso ninguém viu porque alguém muito inteligente e “entendido” no assunto os colocou do lado contrário ao teatro e ao público. Quem estava na avenida viu apenas fumaça subindo. Mas deu para escutar a suada. Isso deu. E talvez os observadores admirados com tanto “frango” e “sapatão” juntos tenham assistido de suas janelas inatingíveis.

PERNAMBUCO SEM HOMOFOBIA
Procuramos por um trio mais animado e engajado. Não encontramos. Nada acontecia e nada parecia animar uma onda humana que se espalhava pela avenida, invadindo ruas e calçadas. Os trios foram passando, um a um, revelando um mesmismo impressionante. Não havia discursos calorosos, não havia denuncias, não havia compromisso. Era apenas um desfile como outro qualquer. Mas a Metrópole estava lá e como sempre se apresentou como o melhor e mais concorrido trio. Mas era só uma extensão da boate, nada mais. A palavra de ordem era: “pode beijar muito”, como se aquele fosse um dia especial, onde haveria autorizo e permissão social para que gays, lésbicas, travestis e todas as demais categorias e identidades sexuais se beijassem. Mas como, o beijo entre pessoas do mesmo sexo ainda é proibido em espaços públicos? Será que quem estava gritando o tão maravilhoso incentivo nunca andou pela Av. Conde da Boa Vista? Será que nunca fez compras no Shopping Boa Vista? Nunca foi comer crepe na galeria Joana D´arc? No ano em que a parceria civil entre pessoas do mesmo sexo foi reconhecida será que não haveria um bordão menos ultrapassado?

TRIO DO GOVERNO DO ESTADO
Nesse ponto, vale uma reflexão mais aprofundada, inclusive sobre a confusão teórica sobre temas e questões coletivas. Tinha alguém em outro trio pedindo que respeitassem a “opção sexual” das pessoas. Ou seja, estavam pedindo que respeitassem o direito que as pessoas têm de escolher entre ser homossexual ou heterossexual. Isso como se as pessoas em determinado momento de sua vida, se olhassem no espelho e dissessem: Não, hoje eu quero ser gay. Como a gente costuma fazer quando fica indeciso sobre uma ou outra roupa para sair. Orientação sexual se tornou questão de livre escolha? Esses questionamentos realmente já estão até enchendo o saco [de quem tem claro], mas o mais impressionante e estarrecedor é ouvir tais balelas da boca de pessoas que se dizem engajadas e entendidas nas temáticas e questões éticas  relacionadas ao movimento e pelas quais dizem matar e morrer. Para representar uma instituição séria, um coletivo, uma categoria ou segmento da população conhecido por lutar pelo direito as diferenças, sejam elas quais forem, é preciso ter fundamento inclusive acadêmico e científico. As pessoas podem sim fazer opções sobre formas de se comportar, sobre com quem se relacionar, mas escolher a orientação sexual é algo que todo ser humano desejaria. As pessoas podem inclusive escolher e optar, logicamente, em se atualizar ou permanecer hipócritas, a ponto de revelarem uma extremada afetação de uma virtude ou de um sentimento louvável que não tem. E nisso se inclui o conhecimento e fundamentação de causa. E para evitar que as pessoas que se dizem representativas continuem abrindo a boca para falar besteiras, talvez seja importante explicar que orientação sexual não se escolhe, mas se descobre.

TRIO METRÓPOLE
Só sei que para piorar a situação, no trio da frente outra pessoa prá lá de bem informada, bradava: “respeitem a livre opção sexual das pessoas”. E aí, paro para imaginar senhoras e senhores ultraconservadores conversando  com um filho que se revela homossexual: se é opção, porque não escolheu ser um homem de verdade e de respeito como seu pai? Porque você prefere viver na safadeza e na promiscuidade? Ou então, uma velhinha religiosa carismática em pregação: porque você não deixa essa vida viciosa e pecadora e opta pela salvação eterna? E não pensem que ela estaria falando no ato de largar as drogas. Quantos pais e mães ainda correlacionam homossexualidade com pecado, drogas, promiscuidade, violência e safadeza? Não é muito distante de nossa realidade pais afirmrem que prefereriam ter um filho assaltante do que gay. Será que isso é resultado de uma cultura homofóbica construída ao longo dos séculos? Seria papel do movimento atuar nesta instância? Se a confusão de conceitos e entendimentos se revela entre os participantes do próprio movimento de luta, imagina entre a população em geral. Partindo desse princípio, o que se poderia fazer em prol da causa? Não tenho respostas prontas [e muito menos gostos delas], mas sei que antes de se conscientizar alguém é melhor rever as próprias capacidades de reeducação e atualização. 

Neste momento achei que estava quase tudo perdido, porém descobri que as coisas poderiam ficar ainda piores quando ouvi algo que me vez arrepiar sob o sol abafado: “do mesmo jeito que se tem preconceito com os pretos, também se tem com os gays. Por isso estamos aqui, prá dizer prá todo mundo que gay também é gente e merece respeito”. Era digno de aplausos.

DESANIMO TOMOU CONTA DA PARADA
Só não digo que foi a melhor frase porque outras aberrações se sucederam e se mostraram dignas de uma verdadeira Ofélia, que só abre a boca quando tem certeza. Desde quando preto é identidade racial? Preto não é cor? E cor é raça? Considerando o elemento cor isso é preconceito ou preferencia? Logo, cor e raça são sinônimos ou coisas diferentes? Quem tem preconceito contra a cor preta também não pode ter contra a cor vermelha ou contra a azul? E preconceito contra cor é violência? E desde quando a categoria identitária gay abrange toda a diversidade de categorias de identidades homossexuais? Então o preconceito social é segmentado e especificamente direcionado aos gays? Então porque continuam agredindo e matando as lésbicas, as travestis e transexuais em Pernambuco? Estas são gays também? Alguém já ousou chamar uma lésbica, do melhor tipo caminhoneira, de gay? E uma transexual que se submeteu a cirurgia de transgenitalização gostaria de continuar sendo reconhecida como gay, ou preferiria se autodenominar mulher-trans? E a parada continua gay ou passou a ser reconhecida como da diversidade sexual? Melhor deixar a resposta a cargo de cada um, não é verdade? Até porque verdade é uma coisa extremamente pessoal e cada um tem a sua. Mas confesso que naquele momento desisti. Ali, naquele exato momento, em meio aquela multidão, percebi que a parada da diversidade tinha perdido seu objetivo e sentido.

A CULTURA FALOCÊNTRICA
Conversando e refletindo sobre o assunto com uns amigos chegamos a grande encruzilhada que parece se mostrar o X da questão: os/as homossexuais não evoluíram no entendimento relativo a luta por igualdade de direitos? Não saíram do lugar comum? Não conseguem perceber que o tempo mudou e que o discurso agora é outro. Porque continuar insistindo em gritar que gay também é gente? Isso não é uma coisa lógica e redundante? Não está claro para quem, para quem agride ou para quem suplica por um reconhecimento que é constitucional, e logo, legal? Se o objetivo da parada esse ano era exigir a legalização da lei que torna a homofobia crime porque mendigar respeito em discursos acalorados e chorosos? O que se pretende conquistar, direito ou piedade? Talvez seja a hora de se recolher para repensar e reconsiderar velhas questões e sofrimentos pessoais, que de certa forma, parecem se mostrar enquanto coletivos. A única fala coerente que ouvi durante toda a parada foi um protesto feito pela cantora Jaína [que por sinal é muito mais talentosa e engajada que Wanessa]que explicitou a prática homofóbica do Bar da Galinha, localizado em Piedade. A meu ver isso se chama coerência. Entendimento e apropriação de causa. Discernimento pessoal e político que torna o artista um referencial e formador de opiniões, logo merecedor do lugar de destaque que ocupa.

PARADA GAY OU DA DIVERSIDADE SEXUAL?
E lugar é outro assunto que precisa ser revisto na parada. Sendo uma parada da diversidade sexual, porque a diversidade não se faz presente nos lugares de destaques? Porque às travestis cabe apenas o chão e aos boys [ou gogo-boys] os holofotes e aplausos? Porque os carros não trazem mulheres seminuas ao lado dos grandões musculosos que rebolam em tangas minúsculas? A travesti ou transexual para sair em um trio tem que ser famosa [modelo, misse, ou qualquer outra coisa que o valha], enquanto que os boys bastam ter corpo malhado. O que se representa, ou se apresenta ali, modelos de homossexualidades ou possibilidades de sexo comercial? Quem usa quem nessa transação maluca? Os trios para atrair público posteriormente às boates e casa de shows, ou os boys [ou gogo-boys] que buscam se promover? Em plena parada da diversidade o discurso simbólico continua falocêntrico? O masculino [mesmo que estereotipado] continua tendo mais valor e espaço que o feminino? Será que não está na hora de se repensar velhos modelos? Não sou contra os garotões seminus, de corpos apolíneos que dançam como as velhas chacretes, mas sou contra o processo de exclusão as demais categorias quase que invisibilizadas diante da primazia gay masculina [ou masculinizada]. Pelo que me consta, as travestis foram as primeiras a colocar a cara nas ruas e gritar por direitos e respeito. Na primeira parada, que se concentrou no Parque Treze de Maio, só elas estavam lá. Não tinha trios, não tinha aparato comercial, não tinha cantora equivocada evocando hits de boates. Tinha gente. Havia representatividade de classe. Havia causa. E agora, quem puxava o cordão apenas se limita a acompanhar potentes trios repletos de falsos representantes do movimento?

MUITA GENTE E POUCA ANIMAÇÃO
E quanto aos políticos? Esse ano não estiveram na parada por quê? Ah, a eleição é só no ano que vem. Tenho certeza que em 2012 todos estarão lá. Alguém duvida? E duvido menos ainda que os organizadores e [ir]responsáveis pelo evento rejeitem a publicidade e o oportunismo gratuito [será?]. Porque por exemplo, o governador do estado e o prefeito de Recife não vão à parada da diversidade? Em São Paulo não já se faz isso há muito tempo? Se em setembro temos duas paradas – uma da diversidade sexual e outra militar, porque os excelentíssimos representantes do povo vão a uma e a outra não? [Será que é porque não é feriado?]. Então porque não se pensar em um feriado da diversidade sexual? Não levem a sério, afinal de contas, como a parada virou piada não custa fazer mais uma. 

AÇÃO EFICAZ CONTRA OS ARRASTÕES
Por falar nisso, acho que a ida para a Boa Viagem deu outra roupagem a parada. É incrível a quantidade de camarotes armados nos altos e protegidos prédios, repletos de curiosos e admiradores afásicos. Virou um verdadeiro desfile de beldades exóticas diante de uma burguesia que não se mistura. Não deixa de ser positivo no sentido de contra oposição peculiar aos movimentos sociais. Funciona meio que no estilo, você não precisa aceitar, mas saber que existe, para a partir daí respeitar. Pena que não exista uma articulação no sentido de conscientização mais concreta, seja através da panfletagem ou de reuniões, fóruns e ciclos de debate com a comunidade envolvida. Talvez esteja na hora de se pensar nisso também. Quem sabe assim eles conseguem diminuir as distancias e participar de forma ativa [e não que a ativa seja mais importante que a passiva, pois que todas são formas de participação]. E penso que o trabalho de conscientização também deva se estender aos que estão de fato na parada. Esse ano o modelito da onda foi desfilar de cuecas. Não que sejam peças que atentem contra o pudor, mas porque não acredito que se configurem com bandeira de causa. O nudismo pelo nudismo perde seu objetivo e valor. Numa terra de sol quente e de praias belíssimas como a nossa o seminudismo torna-se lugar comum e naturalizado. E isso se traduz em trajes de banhos, ainda que minúsculos. Mas cuecas, não vejo sentido. E não pensem que é falso moralismo. Apenas acredito na apropriação de causa.

FINAL DA PARADA
Outro ponto que chamou a atenção foi a quantidade de arrastões. Só eu presenciei uns cinco. Tornou-se espetáculo a parte. E neste sentido, não se pode deixar de parabenizar a defesa social, que com milhares de policiais capturavam e prendiam rapidamente os que ameaçavam a paz, a “beleza” e a grandiosidade do desfile, como gritavam sucessivamente os locutores em seus microfones histéricos. Juro que em uma determinada situação cheguei a achar graça sobre o fato. A viatura da polícia parecia mais um dos trios que desfilavam cheios de gente. No caso, adolescentes que aproveitavam a multidão para cometer pequenos delitos. Até cheguei a fotografar a “festa dos presos”, que dentro da viatura se divertiam e batiam palmas ao som das músicas. Gostei do exemplo de profissionalismo sem excessos e da inserção involuntária dos sujeitos em questão. E neste ponto, acho importante avisar a quem gritava dos trios que aqueles arrastões não eram atos de homofobia declarada, mas na verdade apenas atos respaldados pelos processos de exclusão social. Arrastões não estão relacionados a homossexualidade, pois que ocorrem em todo e qualquer evento de grandes aglomerações. Assim, é preciso separar [e melhor entender] as coisas para não cair no discurso infundado e vazio. A discussão sobre a homofobia se dá em outro nível e poderia ter ganho a avenida ao se divulgar por exemplo o número de homossexuais assassinados no Estado, ou a inércia dos setores responsáveis pela punição dos assassinou, ou ainda a ausência de políticas públicas mais efetivas e eficazes voltadas ao seu combate e enfrentamento. Mas usar de bode expiatório não é um bom exemplo e muito menos apropriado argumento de luta.
  
FINALIZAÇÃO DA PARADA
Por fim, a meu ver, a 10ª Parada da Diversidade, que deveria inclusive comemorar ou referenciar a data, terminou fria e sem graça como começou. Pena para o movimento. Pena para os que como eu, foi para ver movimento político e não viu, até porque carnaval já nos basta o de fevereiro. E por falar nisso, alguém até me disse que a parada daquele jeito lembrava muito os anos finais do Bloco da Parceria. A única coisa que discordo, é que neste havia organização e agradando ou não cumpria com seu papel e objetivo. O que não acontece mais com a parada da diversidade. E como diz um amigo, não sei se fui eu quem mudei ou se o movimento não evoluiu significativamente a ponto de rever e repensar seus erros. De uma forma ou de outra. Para mim, acho que chega. Parei com a Parada! Talvez seja melhor procurar outro bloco.

2011 - O ANO QUE A PARADA PAROU NO TEMPO